Nossa Senhora mãe de Deus
A Padroeira da Cidade de Porto Alegre é Nossa Senhora Mãe de Deus, também padroeira da Arquidiocese de Porto Alegre e da Catedral de Porto Alegre. O título dado a Virgem Maria, como sendo Mãe de Deus, é um dos mais antigos dogmas da Igreja Católica firmado no ano 431 no Primeiro Concílio de Éfeso.
Histórico
editarQuando o missionário jesuíta, Padre Roque Gonzáles, em 1626, ingressou no atual território do Rio Grande do Sul, batizou esta terra com o nome indígena de Tupanciretan, que em nossa língua significa Terra da Mãe de Deus.
A região da futura metrópole gaúcha começou a ser povoada por açorianos por volta de 1742. Esses imigrantes portugueses encontravam-se provisoriamente às margens do Guaíba, pois tinham vindo para repovoarem as missões jesuíticas da margem esquerda do Rio Uruguai, no atual território gaúcho, e isso após a retirada dos índios espanhóis. Como eram muito religiosos, em 1769 trataram de erguer uma capela, dedicando-a a São Francisco das Chagas (devoção muito difundida na Ilha Terceira dos Açores). Essa modesta capela, coberta de palha, localizava-se em frente à "praia" do Guaíba, na rua ainda hoje popularmente conhecida por Rua da Praia (Rua dos Andradas), nas proximidades do número 1049. A 26 de março de 1772, o bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Antônio do Desterro Malheiros, elevou esta capela à condição de freguesia (paróquia) e nomeou o primeiro pároco, não concursado, o Padre José Gomes de Farias. Este ato marca a data da fundação de Porto Alegre. Naquele período histórico, quando todo o povoado era católico, e a religião era oficialmente promovida pelo governo, era muito mais importante que atualmente, sob o ponto de vista social, a criação de uma freguesia. O documento eclesiástico era o documento oficial não só reconhecido, mas até pedido pelo governo para instituir uma nova povoação.
Em muitos lugares do Brasil, e o Rio Grande do Sul não foge a regra histórica, as povoações surgiram com uma capela ou freguesia. Em geral se doava uma grande área de terras ao Santo Padroeiro, construia-se a capela, as terras eram aforadas, formando-se o povoado ao redor da igreja. É este mais um dos motivos pelos quais a data da criação de uma freguesia costuma ser adotada como a da fundação do povoado (futura cidade).
Em Porto Alegre aconteceu algo semelhante. Ao mesmo tempo em que se instalava a freguesia, o Capitão Alexandre José Montanha recebeu ordens do Governador para desapropriar a antiga fazenda de Jerônimo de Ornelas, então em mãos de Inácio Francisco de Melo, e de distribuí-la a 60 casais açorianos, deixando lugar para a igreja, praça e edifícios públicos. Com a colaboração mútua entre as duas autoridades organizou-se dessa maneira, jurídica e efetivamente, a povoação de São Francisco do Porto dos Casais, cujo nome em 18 de janeiro de 1773 foi mudado para o de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre de Viamão.
O Marquês Vice-Rei de Portugal, residente no Rio de Janeiro, era grande devoto de Nossa Senhora Mãe de Deus. Sabendo disso, o presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, Coronel José Marcelino de Figueiredo, o mesmo que transferiu a capital de Viamão para o Porto dos Casais, planejando obter sempre as boas graças do marquês; pediu-lhe para que intercedesse junto ao bispo Dom Frei Antônio do Desterro Malheiros, para que trocasse o orago São Francisco das Chagas para o de Mãe de Deus. Isso aconteceu a 18 de janeiro de 1773, dez meses após s criação da freguesia de Porto Alegre, e foram criadas mais 3 novas freguesias no Rio Grande do Sul: Santo Amaro, Nossa Senhora da Conceição do Arroio e São Luís do Norte.
Outro motivo pelo qual foi mudado o padroeiro foi devido a grande devoção à Nossa Senhora Mãe de Deus, típica de Portugal, introduzida aí por iniciativa de Dom José I, que em Roma registrou o pedido ao Papa Bento XIV, para que se introduzisse uma festa em honra à Mãe de Deus em terras portuguesas. O Coronel José Marcelino de Figueiredo sabedor desta história, ao decretar como padroeira da capital, Nossa Senhora Mãe de Deus, estava também homenageando a Princesa Maria, filha de Dom José I. Foi ela que assumiu o trono português, na morte do pai, com o nome de Dona Maria I, tornando-se a mãe de Dom João VI que viria ao Brasil em 1808.
Edital
editarO motivo da mudança do orago de São Francisco das Chagas, para Nossa Senhora Madre de Deus, consta no edital de 18 de janeiro de 1773, que efetuou a mudança:
- "Porquanto nos consta ser muito do agrado do Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês Vice-Rei que a Igreja Matriz da dita nova Vila de Porto Alegre tenha a invocação de Nossa Senhora Madre de Deus, pela especial devoção, que tributa a esta Senhora, como sua madrinha: Desejando Nós conformar-nos com a pia, e devota intenção do dito Ilmo. e Exmo. Sr. Marquês Vice-Rei na ereção deste novo Orago, e satisfazer, quanto Nos é possível, a sua vontade: Havemos por bem de mudar, como pelo presente Nosso Edital mudamos, a Invocação de São Francisco, que até agora tinha a referida nova Freguesia erigida no lugar do Porto dos Casais do distrito de Viamão, que ora fica sendo Vila de Porto Alegre para a de N. Sª. Madre de Deus, cuja Imagem mandamos seja colocada no Altar-mor da dita Igreja Matriz da dita nova Vila e Freguesia, como Orago e titular dela, que fica sendo, tirada a de São Francisco, no caso de já se ter colocado: E que os moradores da dita nova Vila e Freguesia de Porto Alegre reconheçam, e invoquem somente aquela Senhora por sua Titular, e Padroeira, e como a tal recorram nas suas necessidades: E que nos assentos, termos, e mais papéis, que daqui em diante se fizerem no referido Lugar por pessoas da nossa Jurisdição se ponha o título de Vila, ou Freguesia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre de Viamão".
Ver também
editarFontes de referência
editar- NEIS, Rubem. Porto dos Casais: Criação da Freguesia-Fundação de Porto Alegre. (Discurso de 25 de maio de 1972).
- Portarias e Ordens Episcopais, Lº 2, fls. 190 v., CÚRIA METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO.