O Balanço

pintura a óleo sobre tela, de Jean-Honoré Fragonard

O Baloiço (em francês: L'Escarpolette; 1766), também conhecido por Os Acidentes Felizes do Baloiço (em francês: Les Hasards Heureux de l'Escarpolette; título original), é uma pintura do século XVIII a óleo sobre tela do pintor francês Jean-Honoré Fragonard. Encontra-se exposta no museu Coleção Wallace, em Londres. É considerada uma das obras-primas do rococó, e trata-se da pintura mais conhecida de Fragonard.

O Balanço
Les Hasards Heureux de l'Escarpolette
O Balanço
Autor Jean-Honoré Fragonard
Data 1766
Técnica Óleo sobre tela
Dimensões 81 × 64,2 
Localização Coleção Wallace, Londres, Reino Unido

Pintura

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A origem do quadro é mencionada no diário do dramaturgo francês Charles Collé,[1] onde consta o caso do pintor Gabriel François Doyen, que teria sido abordado por um barão para pintar a "Madame", a sua amante, num baloiço empurrado por um bispo, no qual o barão deveria ser retratado de tal modo que pudesse ver as pernas da moça. Doyen, contudo recusou a proposta e encaminhou-a para Fragonard (considerado na época como o "querubim da pintura erótica". Fragonard, entretanto, recusou o elemento clerical com medo de que isso pudesse arruinar a sua carreira, e então convenceu o cortesão a trocar o bispo por um marido traído.[2][1][3]

Esse tipo de pintura erótica foi pensado para ser exposto a um público restrito. Porém, tais peças saíram de moda depois da Revolução Francesa em 1789. O seu primeiro proprietário conhecido, o administrador de Pressigny, foi guilhotinado em 1749. Posteriormente, em 1859, o Louvre recusou a pintura e esta foi comprada por um colecionador inglês.[2]

Fragonard notabilizou-se pelo enveredar na pintura de retratos familiares em interiores e pelo seu erotismo. A sua obra mais conhecida, O Balanço, foi desenvolvida em 1767.[4] Nela, Fragonard antecipa técnicas e conceitos fundamentais aos impressionistas: um século à frente das inovações trazidas por Monet, Manet e Renoir, pode-se observar a tentativa de capturar o momento fugidio ("eternizar o efêmero", como diz Claude Monet) da moça que se diverte, a suprema alegria e jovialidade, aliada à ternura e à sensação de acolhimento, que brotam com toda a força do quadro; as pinceladas vivas e libertas do rigor académico; os jogos de luz e de cores apenas possíveis ao ar livre, em contacto com a natureza.[4]

A pintura retrata uma jovem num baloiço na área central do quadro, cercada por roseiras e árvores imensas. Ao fundo um homem está a baloiça-la, e mais à frente um outro homem, o "voyeur", camuflado entre os arbustos que a observa. No retrato, é enfatizado no momento em que o balanço atinge o seu ponto mais alto, permitindo ao espectador vislumbrar o que está por baixo de suas anáguas. São perceptíveis os olhos, tanto da jovem como do voyeur, ela olha para ele e ele olha para o que está oculto sob as anáguas.[5] O jovem pretendente esté aos pés de um monumento de pedra — incidentalmente coroado por Amor, o deus do amor — como se acidentalmente tivesse tropeçado e caído nos arbustos, onde, como por acaso, consegue vislumbrar as saias interiores da bela mulher no baloiço.[6]

A cena mostra mais do que um jogo de namorico entre o voyeurismo e o exibicionismo; os dois cupidos posicionados acima de um golfinho, um dos quais dirige o olhar à jovem.[6] Este quadro se transformou na imagem universal de uma sexualidade feliz e descuidada. O tema é o do amor e o da onda de paixão, sugerido pelo grupo na parte central inferior do quadro: os golfinhos, guiados por Cupido, puxando o carro de Vênus, simbolizando o amor impaciente.[7]

O rosto do jovem deitado entre as rosas é iluminado como se fosse por uma fonte de luz invisível — como um santo perante uma visão celestial. No entanto, não é uma verdade divina que se lhe revela, mas algo muito mais humano: o que ele vislumbra é o paraíso na terra, e as alegrias que promete são de natureza muito mundana.[6]

Inserir o baloiço na natureza garante um ambiente de intimidade, onde o voyeur vê algo que os outros não podem ver. A mulher sabe que está a ser observada, sugerindo o desejo de ser vista. Fragonard, desta forma, expressou no mesmo quadro o desejo de ser vista e o desejo de ver, onde o desvelo calculado do corpo feminino aos olhos do voyeur é o tema central que confirma o carácter sexual do retrato. O sapato a sair do pé demonstra delicadeza e contribui para a acção do quadro e para o erotismo da cena.[5]

Este estilo de pintura "frívola" tornou-se alvo dos filósofos do Iluminismo, que exigia uma arte mais solena que caracterizasse a nobreza do homem.[8] Este retrato pode ser considerado, segundo a autora, uma crítica ou uma ironia sobre o voyeurismo dos olhares masculinos de soslaio.[6]

Referências

  1. a b Collé, Charles. Journal et mémoires de Charles Collé sur les hommes de lettres, les ouvrages dramatiques et les événements les plus mémorables du règne de Louis XV (1748-1772). III. Paris: Firmin Didot Frères, Fils et Cie. pp. 165–166 
  2. a b «O Balanço de Jean-Honoré Fragonard». noticias.universia.com.br. 2012. Consultado em 23 de janeiro de 2015 
  3. * Olivier Deshayes (2010). L'Harmattan, ed. Le désir féminin ou l'impensable de la création (poche). De Fragonard à Bill Viola. Paris: [s.n.] p. 81. 278 páginas. ISBN 978-2-296-11059-5. LCCN 2010379160  Parâmetro desconhecido |numéro d'édition= ignorado (ajuda)
  4. a b Paulo Ricardo de Almeida (27 de setembro de 2007). «O Balanço». Revista Moviola. Consultado em 23 de janeiro de 2015 
  5. a b Eva-Gesine Baur, «El rococó y el neoclasicismo» en Los maestros de la pintura occidental, Taschen, 2005, pág. 360, ISBN 3-8228-4744-5
  6. a b c d «Rococó - Jean Honoré Fragonard - O Balanço» (PDF). histeo.dec.ufms.br. Consultado em 23 de janeiro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 24 de janeiro de 2015 
  7. «68. Hipertextualidade x Hipermidialidade: a viagem de "o balanço"». lerjorgedesena.letras.ufrj.br. Consultado em 23 de janeiro de 2015 
  8. «Fragonard's The Swing». Smarthistory at Khan Academy. Consultado em 21 de janeiro de 2013 

Bibliografia

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Ligações externas

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