O Inferno É Fogo
O Inferno É Fogo é o sexto disco de estúdio do cantor Lobão, lançado em 1991[1]. Foi também o último álbum lançado sob o contrato pela BMG, encerrando nove anos de parceria com a companhia.
O Inferno É Fogo | |||||||
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Álbum de estúdio de Lobão | |||||||
Lançamento | 24 de setembro de 1991 | ||||||
Gravação | 20 de maio a 20 de agosto de 1991, no Estúdio Nelson Gonçalves/BMG Ariola (RJ) | ||||||
Gênero(s) | Pop rock MPB Hard rock | ||||||
Formato(s) | LP, K7 e CD | ||||||
Gravadora(s) | BMG/RCA | ||||||
Produção | Lobão | ||||||
Cronologia de Lobão | |||||||
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Contexto e Gravação
editarDiferentemente do que aconteceu com outros álbuns, que foram registrados pelo cantor em situações adversas (como prazos curtos de gravação ou problemas com a Justiça), O Inferno é Fogo foi produzido em circunstâncias tranquilas para Lobão, a despeito do artista ter se envolvido em pelo menos dois incidentes ocorridos no início de 1991: o conturbado episódio vivido na segunda edição do festival Rock In Rio (quando foi alvejado por diversos objetos atirados pelo público) em janeiro e um acidente de trânsito que veio a sofrer pouco tempo depois. Quando entrou em estúdio para a gravação do sétimo disco, em maio, o cantor ainda sentia dores oriundas das lesões provocadas pelo acidente.
O disco a princípio se chamaria Sangue, Suor e Esperma, porém Lobão acabou descartando tal título, justificando que o mesmo era "exagerado, falsamente polêmico", em depoimento aos repórteres do Segundo Caderno do jornal O Globo, em 18 de Julho de 1991[2]. Na mesma reportagem, o cantor revelou que estava se autoproduzindo: "Resolvi produzir o disco eu mesmo porque produtor é sempre um chato. Veja o caso do Liminha (produtor do álbum anterior do músico, Sob o Sol de Parador, de 1989), por exemplo, que é um cara que ninguém aguenta. Eles sempre querem ser mais artistas que o artista, mas são poucos os que têm alguma sensibilidade."[2] Nem todo o repertório do LP estava pronto quando as gravações se iniciaram. "Foi o maior pau da minha vida. Fiz cerca de 15 shows por mês enquanto gravava o disco", disse à Folha de S. Paulo, em setembro do mesmo ano[3].
O disco teve participações do cantor e amigo Nelson Gonçalves, que gravou os versos da introdução da faixa-título, e de Jacques Morelenbaum, que elaborou os arranjos de cordas de "Perversa Distração" e de "Viver ou Não". Esta última canção também marcou o fim da parceria de Lobão com o poeta Bernardo Vilhena, autor das letras de vários sucessos do cantor na década de 1980.
Sucessos
editarO Inferno é Fogo teve como principais sucessos a balada "Sem Você Não Dá", o rock "Presidente Mauricinho" (canção direcionada ao então Presidente da República Fernando Collor de Mello) e o funk-rock "Jesus não Tem Drogas no País dos Caretas", cujo título alude ao nome do quarto álbum dos Titãs, Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas, e com uma letra que sugere ser uma versão mais sarcástica de "O papa é pop", hit da banda gaúcha Engenheiros do Hawaii (vide versos aliterativos como "e se o pop é pop mesmo/o pop te pega"). Na letra da mesma música há referências a três clássicos do rock: "Hit the Road Jack", sucesso na voz do cantor norte-americano Ray Charles, "(I Can't Get No) Satisfaction", dos Rolling Stones, e "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin.
Capa
editarA pintura que estampa a capa do álbum é do quadro Pecado original, do holandês Hugo van der Goes (c. 1475)[4].
Lançamento, recepção e shows
editarO Inferno é Fogo foi originalmente programado para ser lançado em 25 de agosto de 1991[2], no entanto o disco só pôde ser terminado naquele mês por atrasos na produção. Somente no final de setembro o álbum chegou às lojas. Na primeira tiragem, com quarenta mil exemplares prensados, a capa do LP veio apenas com o nome do cantor impresso sobre a pintura de van der Goes, sem o título[5].
No que diz respeito à recepção, o álbum despertou menor interesse de público e mídia que os lançamentos anteriores de Lobão. Seu próprio autor o elogiou naquele período: "Fiz o disco mesmo com o braço todo arrebentado. Tem arranjos de cordas, música flamenca, castanholas, rock pesado, é bem diversificado", disse à Folha de S. Paulo em janeiro de 1992, quando todos os seus álbuns pela BMG ganharam edições em CD[6]. A crítica se dividiu em sua recepção. "O pessimismo de Lobão - rebelde cuja causa é a nadificação - torna-se exemplar no novo trabalho. Não finge. Corrói, envuduza o que encontra pela frente. [...] É um consolo em meio aos lançamentos medíocres de rock nacional das últimas semanas", elogiou Luís Antônio Giron na Folha[7]. Em O Globo, Mauro Ferreira considerou o LP apenas mediano: "Traz bons rocks e algumas baladas agradáveis, mas indica que a fórmula 'rebeldia + energia = boas músicas' já não faz efeito como antes. [...] Dias (ainda) melhores deverão vir para o talentoso 'Lobo'."[8]
No entanto, a turnê do disco - cujos shows traziam em seu cenário diversas tochas espalhadas, em alusão à Idade Média - foi dando lugar a apresentações acústicas ainda no primeiro semestre de 1992. Àquela altura, Lobão completava 10 anos de carreira discográfica, estudava violão clássico e raramente tocava canções do lançamento mais recente. "[...], canções como 'Presidente Mauricinho' não me dizem mais nada. [...] Estava fazendo um protesto burro. Criticar por criticar, até Hebe Camargo faz", disse ao jornal O Globo em matéria de abril daquele ano[9].
Faixas
editar- "O Inferno É Fogo"
- "Bangu 1 X 0 Polícia"
- "Matou a Família e Foi ao Cinema"
- "Perversa Distração"
- "Presidente Mauricinho"
- "Que Língua Falo Eu"
- "Jesus Não Tem Drogas no País dos Caretas"
- "Bem Mal"
- "Sem Você Não Dá"
- "Lua Cheia"
- "Viver ou Não"
Referências
- ↑ Lobão Elétrico. «Lobão - O Inferno é Fogo». Consultado em 29 de agosto de 2013. Arquivado do original em 20 de dezembro de 2013
- ↑ a b c DUMAR, Deborah; NORONHA, Luiz. O selvagem em versão "diet". O Globo, Rio de Janeiro, 18 jul. 1991. Segundo Caderno, p. 1.
- ↑ CARVALHO, Mario César. Lobão volta com velhas piadas e uma nova para manter sua fama de mau. Folha de S. Paulo, São Paulo, 6 set. 1991. Ilustrada, p. 1.
- ↑ WikiPaintings. «The Fall». Consultado em 30 de agosto de 2013
- ↑ AZEVEDO, Ticiana. Canto do Rio: Lobão. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 28 set. 1991. Cidade, p. 4.
- ↑ JOORY, Eva. Sai em CD discografia completa de Lobão. Folha de S. Paulo, São Paulo, 10 jan. 1992. Ilustrada, p. 3.
- ↑ GIRON, Luís Antônio. Lobão inverte teorema de Magri e faz profissão de ódio ao homem. Folha de S. Paulo, São Paulo, 02 out. 1991. Ilustrada, p. 3.
- ↑ FERREIRA, Mauro. Lobo de garras pouco afiadas. O Globo, Rio de Janeiro, 07 out. 1991. Segundo Caderno, p. 3.
- ↑ ROMANHOLLI, Luiz Henrique. Rock na idade da razão. O Globo, Rio de Janeiro, 23 abr. 1992. Segundo Caderno, p. 3.