Ocupação estadunidense da República Dominicana (1916–1924)

Os Estados Unidos ocuparam a República Dominicana de 1916 a 1924; foi uma das muitas intervenções na América Latina empreendidas pelas forças militares estadunidenses.

Ocupação estadunidense da República Dominicana (1916–1924)
Guerras das Bananas

Marines durante a ocupação
Data 19161924
Local República Dominicana
Desfecho Vitória estadunidense, ocupação do território dominicano
Beligerantes
 Estados Unidos
República Dominicana Guarda Nacional Dominicana (a partir de 1917)
República Dominicana
Comandantes
Estados Unidos William B. Caperton
Estados Unidos Harry Shepard Knapp
República Dominicana Desiderio Arias
Forças
1 800 fuzileiros
1 cruzador blindado
2 cruzador protegido
1 cruzador auxiliar
1 canhoneira
(1916)
1 000 milicianos (1916)
Baixas
7 fuzileiros mortos, 15 feridos
40 marinheiros mortos, 33 desaparecidos
1 cruzador afundado
(1916)

144 fuzileiros mortos, 67+ feridos
(1916–24)
100–300 mortos ou feridos (1916)

950 mortos ou feridos (1916–24)
O USS Tennessee (ACR-10) destruído em Santo Domingo, República Dominicana

Antecedentes

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A situação econômica da República Dominicana no início do século XX era desastrosa, tanto que em janeiro de 1905, seguindo a Doutrina Monroe, os Estados Unidos assumiram o controle dos serviços aduaneiros do país. Em 1906, o presidente Carlos Morales renunciou, e nos anos seguintes a República Dominicana assistiu a uma série de revoltas e golpes de Estado que levaram o país à beira da guerra civil. Em 1914, o Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, deu um ultimato para as facções em guerra, declarando que caso não chegassem a um acordo seriam os próprios estadunidenses a impor um novo governo. Em seguida, conseguiram chegar a um consenso para a realização de novas eleições em outubro, da qual saiu vitorioso Juan Isidro Jimenes Pereyra.

Pereya propôs a nomeação de figuras dos Estados Unidos para os cargos de diretor de obras públicas e conselheiro financeiro do país, e a criação de uma nova força militar sob os comandos de autoridades norte-americanas. O Congresso dominicano rejeitou a proposta de Pereya, e abriu um processo de impeachment contra ele. Em abril de 1916, Desiderio Arias, Secretário de Guerra da República Dominicana, tomou o poder em um golpe de Estado, forçando a renúncia de Pereya e dando aos Estados Unidos um pretexto para ocupar o país. Em 13 de maio,[1] o contra-almirante William B. Caperton obrigou Arias a deixar Santo Domingo, ameaçando a cidade com bombardeio naval.[1]

Ocupação

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Três dias depois que Arias deixou a República Dominicana,[1] os fuzileiros navais estadunidenses desembarcaram e assumiram o controle do país dentro de dois meses;[1] e em novembro os Estados Unidos impuseram um governo militar sob o contra-almirante Harry Shepard Knapp.[1] Os fuzileiros navais restauraram a ordem em quase toda a república, com exceção da região leste; o orçamento do país foi equilibrado, sua dívida foi diminuída, e o crescimento econômico retomado; projetos de infra-estrutura produziram novas estradas que ligavam todas as regiões do país pela primeira vez em sua história; uma organização militar profissional, a Policía de la Guardia Dominicana ou Guardia Nacional, substituiu as forças partidárias que tinham travado uma luta aparentemente interminável pelo poder.[2]

A maioria dos dominicanos, no entanto, muito se ressentiam da perda de sua soberania para os estrangeiros, alguns dos quais falavam espanhol ou apresentavam grande preocupação pelo bem-estar da República Dominicana. Um movimento de guerrilha, conhecido como o gavilleros,[1] contou com o apoio considerável da população nas províncias do leste de El Seibo e San Pedro de Macorís.[1] Tendo conhecimento do território local, lutaram contra a ocupação dos Estados Unidos de 1917 a 1921.[2] As forças navais estadunidenses mantiveram a ordem durante o período crônico e ameaçador de insurreição[RL30172][2] Em 1921, os gavilleros foram esmagados devido à força aérea superior, ataques constantes e métodos de contra-insurreição do Exército dos Estados Unidos.[1]

Retirada

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Após a Primeira Guerra Mundial, a opinião pública nos Estados Unidos começou manifestar-se contra a ocupação.[1] Warren G. Harding, que sucedeu Woodrow Wilson em março de 1921, fez campanha contra as ocupações do Haiti e da República Dominicana.[1] Em Junho de 1921, os representantes estadunidenses apresentaram uma proposta de retirada, conhecida como Plano Harding, que pedia a ratificação dominicana de todos os atos do governo militar, a aprovação de um empréstimo de US$ 2,5 milhões para obras públicas e outras despesas, a aceitação de oficiais estadunidenses para a força policial - então conhecida como a Guarda Nacional (Guardia Nacional) - e a realização de eleições sob supervisão dos Estados Unidos. A reação popular ao plano foi extremamente negativa.[1] Alguns dirigentes moderados dominicanos, no entanto, usaram o plano como base para futuras negociações que resultaram em um acordo entre o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Charles Evans Hughes, e o embaixador dominicano nos Estados Unidos Francisco J. Peynado em 30 de junho de 1922,[3] que permitia a escolha de um presidente provisório para governar até que as eleições pudessem ser organizadas.[1] Sob a supervisão do Alto Comissário Sumner Welles, Juan Bautista Vicini Burgos assumiu a presidência provisória em 21 de outubro de 1922.[1] Na eleição presidencial de 15 de março de 1924, Horacio Vásquez Lajara, um aliado estadunidense que colaborou com o governo dos Estados Unidos, derrotou facilmente Peynado. O Partido Aliança (Partido Alianza) de Vásquez também obteve uma confortável maioria nas duas câmaras do Congresso.[1] Com a sua ascensão ao poder em 13 de julho, o controle do país voltou para as mãos dominicanas.[1]

Consequências

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Apesar da retirada, ainda havia preocupações em relação à recolha e aplicação das receitas aduaneiras do país. Para resolver este problema, os representantes dos Estados Unidos e o governo da República Dominicana se reuniram em uma convenção e assinaram um tratado, em 27 de dezembro de 1924, que deram aos Estados Unidos o controle sobre as receitas aduaneiras dominicanas.[4] Em 1941, o tratado foi oficialmente revogado e o controle sobre receitas aduaneiras do país retornaram novamente ao governo dominicano.[4] No entanto, este tratado criou um ressentimento duradouro dos Estados Unidos entre o povo da República Dominicana.[5]

Uma das principais consequências da ocupação foi a ascensão de Rafael Trujillo.[5] Trujillo recebeu uma incumbência como segundo-tenente da Guarda Nacional - criada no início de 1919 pelos estadunidenses.[5] Trujillo, outrora um ladrão, falsificador e cafetão,[5] recebeu altas indicações dos oficiais militares dos Estados Unidos e, finalmente, tornou-se chefe do Exército do país em 1928.[5] Com uma eleição fraudada de 1930, Trujillo tornou-se presidente da República Dominicana.[5] Embora o Departamento de Estado dos Estados Unidos considerou-o "uma espécie de Frankenstein, trazido à vida pelos marines dos Estados Unidos" que, provavelmente, geraria novas insurreições,[5] o governo estadunidense apoiava suas táticas de mão de ferro, pois evitava a necessidade de uma intervenção militar.[5] Graças ao benevolente controle aduaneiro do país pelos estadunidenses,[5] Trujillo pode desviar fundos para o seu exército para a supressão da dissidência interna.[5] A corrupção política, a força militar, a tortura, os assassinatos, o nepotismo, os monopólios comerciais e os ataques ao Tesouro Nacional no país permitiram a Trujillo silenciar seus oponentes e acumular uma fortuna de US$ 800 milhões.[5]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o OnWar.com - Wars of the World: Dominican Resistance to US Occupation 1917-1921
  2. a b c U.S. Library of Congress, Country Studies, Occupation by the United States, 1916-24
  3. Calder, Bruce J. (1984). The impact of intervention: the Dominican Republic during the U.S. occupation of 1916-1924. [S.l.]: Markus Wiener Publishers. p. 223. ISBN 978-1-55876-386-9. Consultado em 22 de Setembro de 2011 
  4. a b The American Journal of International Law
  5. a b c d e f g h i j k Thomas G. Paterson; J. Garry Clifford;Kenneth J. Hagan;Deborah Kisatsky;Shane J. Maddock (2004). Houghton Mifflin, ed. American Foreign Relations: A History, Vol. 2: Since 1895 (em inglês) 6 ed. [S.l.: s.n.] p. 163. ISBN 978-0618370733 
 
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