Parque Leite Monteiro

O Parque Leite Monteiro, também conhecido como Parque do Monte, Parque Municipal e Jardim Municipal do Monte, é um parque de ambiente romântico, arborizado e ajardinado situado na freguesia do Monte, no Funchal, em Portugal.

Parque Leite Monteiro
Parque Leite Monteiro
Espaço do parque sobranceiro ao Largo da Fonte.
Localização Monte, Funchal,  Madeira
País Portugal Portugal
Tipo parque urbano
Área 26 000 m²[1]
Inauguração 1899 (1.ª fase)[1]

História

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Até o fim do século XIX, o espaço hoje ocupado pelo Parque Leite Monteiro constituía-se do pequeno ribeiro de Santa Maria ou de Nossa Senhora, correndo aos pés de um outeiro semeado de seculares castanheiros e carvalhos, encimado pela Igreja Paroquial, em cuja margem esquerda se encontrava a Fonte da Virgem, "engraçada e pitoresca" construção em pedra tosca de cantaria mole.[2]

Dias antes da chegada do Caminho de Ferro do Monte à nova estação do Atalhinho, no Monte, e com o número de turistas e visitantes que então procuravam a freguesia a crescer continuamente, a Câmara Municipal do Funchal deliberou, em sessão camarária de 2 de agosto de 1894, a aquisição de um terreno no outeiro adjacente à Igreja de Nossa Senhora do Monte pelo preço de 1640$000 réis, pertença de João Baptista de Sousa, com a finalidade de aí construir um parque para embelezamento local. Os trabalhos de construção do parque tiveram início nesse mesmo ano, assim que a compra do espaço se consumou,[3] ficando concluídos em 1899, data inscrita nas muralhas da escadaria de acesso à igreja.[4]

A Fonte da Virgem viria a ser destruída em 1896 pela queda de um castanheiro que lhe ficava sobranceiro, sendo logo reconstruída em mármore pela Câmara Municipal no ano seguinte, com o aspeto atual.[3][5]

Em sessão de 15 de dezembro de 1898, a Câmara Municipal acordou com a fábrica da igreja do Monte o prolongamento do parque em terrenos que então pertenciam ao passal, tendo a Câmara entregue em troca a madeira de quatro castanheiros, usada em obras de reparação do templo, obrigando-se ainda a entregar à igreja, coproprietária daquela parcela de terreno, "os rendimentos em lenhas, madeiras e frutos", e ainda a importância de 22$000 pelo "rendimento das barracas da Fonte". A igreja fornecia ainda a água necessária à irrigação do parque, pela renda anual de 200 escudos.[6]

Outras parcelas de terreno foram adquiridas aos herdeiros dos morgados Cristóvão Esmeraldo de Carvalhal e Henrique Félix de Freitas. Finalmente, em 1956, a Câmara Municipal entrou novamente em acordo com a fábrica da igreja do Monte, adquirindo os terrenos por detrás do Largo da Fonte, e aquém do ribeiro e da antiga ponte ferroviária, ficando de posse da totalidade da área que hoje integra o Parque Leite Monteiro, procedendo à colocação de marcos cadastrais.[6]

Após a Revolução de 25 de Abril o parque caiu no abandono, sofrendo com a acumulação de matagais e lixos. Entre 1997 e 1999, passou por importantes obras de requalificação, sobretudo na parte mais baixa, junto ao ribeiro, a sul, procedendo-se à limpeza dos matagais e à erradicação de espécies infestantes, consertados os caminhos pedonais, construídos muros de suporte de terras, e plantadas árvores, arbustos e plantas herbáceas, com particular destaque para as espécies endémicas. Foram ainda instalados sistemas de rega automática, e recuperados dois miradouros.[5]

A atual designação foi atribuída em sessão camarária de 22 de agosto de 1895, tendo-se deliberado atribuir o nome do então presidente, Dr. José Leite Monteiro, ao novo parque municipal. Esta deliberação viria a ser anulada a 27 de outubro de 1910, logo após a Implantação da República, sendo novamente restabelecida a 13 de fevereiro de 1913, por deliberação da Comissão Administrativa Municipal, então presidida pelo Dr. Manuel Gregório Pestana Júnior,[3] resolução muito bem recebida pela população.[7]

Características

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Aspecto do lago dos cisnes.

O parque tem a forma de leque ou livro aberto, integrando uma pequena encosta em declive, sendo atravessado pelo ribeiro de Santa Maria ou de Nossa Senhora. Confronta a leste com o adro paroquial, escadaria exterior, e ilharga lateral da igreja, e a oeste com o Largo da Fonte,[8] que constitui o seu principal acesso.[5]

Os jardins incorporam o ambiente romântico do período em que foi construído, concebido à moda dos jardins selváticos, vinda de Inglaterra, que com os declives do terreno compõe uma paisagem que emula a informalidade dos espaços naturais. Os caminhos pedonais percorrem de forma discreta toda a encosta desde o templo até ao fundo do ribeiro de Santa Maria, por entre a vegetação que cresce livremente,[9] desenvolvendo-se desde o Largo da Fonte, em direção à Igreja Paroquial e às Babosas.A les-sueste encontra-se um lago de cisnes, tendo ao centro uma miniatura da Ilha da Madeira, constituída por pequenos blocos rochosos.[6]

O espaço nas margens do ribeiro de Santa Maria, sob a ponte por onde o comboio circulou entre 1894 e 1943, encontra-se preenchido por pequenos canteiros de formas geométricas que, sendo aquilo que primeiro chama a atenção do visitante, não constitui, no entanto, a tipologia dominante.[9]

Ocupa uma área total de 25 mil metros quadrados, com 130 metros quadrados de espaço edificado, correspondendo a instalações de apoio aos jardineiros, sanitários, um pequeno chalé debaixo da ponte, coreto e fontanário, 7720 metros quadrados de passeios, e 19070 metros quadrados de área ajardinada, com exposição predominante a sudoeste e a sul.[9]

Distribui-se entre os 508 e os 589 metros de altitude, num desnível de 81 metros. A cota mínima situa-se no talvegue do ribeiro de Santa Maria, no extremo sul, situando-se a cota máxima a norte da Igreja. Apresenta um declive médio de 27%, tratando-se de um parque com declive acentuado. Os declives mais suaves, inferiores a 10%, estão circunscritos ao Largo da Fonte. Os declives moderados, entre os 10 e os 20%, localizam-se numa parte dos canteiros abaixo do Largo da Fonte, e na área da lagoa.[9] Os declives mais acentuados, entre 20 e 30%, correspondem à maior parte da área entre o Largo da Fonte e a Igreja, assim como aos taludes entre a lagoa e o Caminho de Ferro, e entre este e o miradouro sobre a queda de água. Os declives mais acentuados, acima de 30%, localiza-se numa pequena área na extremidade norte, assim como em grande parte do talude entre o Caminho de Ferro e o talvegue do ribeiro de Santa Maria. A sua posição em altitude corresponde ao Segundo Andar Fitoclimático da Ilha da Madeira, e a uma formação vegetal de floresta de transição entre a vegetação xerófila do litoral, e a laurissilva, sendo quase certo que o vale do pequeno ribeiro de Santa Maria, mais húmido, foi em tempos povoado por laurissilva.[10]

O solo é autóctone em todo o espaço ocupado pelo parque, resultante da alteração do substrato constituído por materiais piroclásticos e basaltos alcalinos, com valores de pH entre 6 e 7,5, correspondendo a uma reacção entre ligeiramente ácida e neutra.[10]

Características fitogeográficas

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A flora existente no parque integra representantes de 109 famílias, 254 géneros, 294 espécies, 6 subespécies, 3 variedades e 16 híbridos. A família Compositae é a que apresenta maior riqueza taxonómica, com 26 géneros, 27 espécies, 1 subespécie e 1 híbrido.[11]

Estão identificadas pelo menos oitenta e nove espécies de árvores e plantas arborescentes, 24% das quais constituídas pelo único indivíduo da sua espécie. A Cyathea cooperi é a espécie com maior número de indivíduos, 85, seguindo-se a Camellia japonica com 62 exemplares. Quatro árvores integram a classe Abundante: Duas indígenas – Ocotea foetens (47 indivíduos) e Clethra arborea (44) – e outras duas exóticas – Platanus x acerifolia (43) e Acacia mearnsii (27).[12]

No parque predominam as plantas herbáceas, com 125 taxa, correspondendo a 39,2% do total. Os arbustos ocupam o segundo lugar, com 105 taxa (32,9%), e as árvores correspondem a 27,9% (89 taxa).[13]

Referências

  1. a b «Parque Municipal do Monte». Câmara Municipal do Funchal. Consultado em 15 de outubro de 2017. Arquivado do original em 15 de outubro de 2017 
  2. Pio 1965, p. 75.
  3. a b c Pio 1965, p. 76.
  4. Pio 1965, p. 80.
  5. a b c Quintal 2007, p. 79.
  6. a b c Pio 1965, p. 77.
  7. Silva & Menezes 1965.
  8. Pio 1965, p. 79.
  9. a b c d Quintal 2007, p. 81.
  10. a b Quintal 2007, p. 82.
  11. Quintal 2007, p. 83.
  12. Quintal 2007, p. 85.
  13. Quintal 2007, p. 87.

Bibliografia

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