Pau-jacaré
Pau-jacaré (Piptadenia gonoacantha) ou monjoleiro, também chamado icarapé na Bahia, jacaré no Sul do Brasil e Sudeste, jacarazeiro no Paraná, casco-de-jacaré em Santa Catarina caniveteiro e monjolo em Minas Gerais, angico no Distrito Federal e angico-branco, camboeteiro, camoeteiro e serreiro em São Paulo, é uma árvore semicadufólia endêmica do Brasil.O nome popular se dá pela aspereza do tronco, semelhante ao couro de jacaré.[1][2]
Pau-jacaré | |||||||||||||||||
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Classificação científica | |||||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||||
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J. F. Macbr. |
A Piptadenia gonoacantha também é conhecida popularmente como pau-jacaré, angico-branco, monjolo, caniveteiro, casco-de-jacaré, camboeteiro, serreiro, icarapé, jacarezeiro e monjoleiro[3]
Foi classificada em 1919 por J. F. Macbride (Martius) como Piptadenia gonoacantha.[4] Piptadenia vem do grego piptein (cair) e aden (abundantemente), assim como o termo gonoacantha vem do grego gonia (ângulo) e acanha (acúleo), mencionando os acúleos sobre as arestas da casca e fazendo referência à caducidade das folhas [5].
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Ela ocorre naturalmente nos Estados do Rio de Janeiro, de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e até Santa Catarina, principalmente em florestas pluviais da encosta atlântica. É uma árvore de característica espinhenta, que pode atingir cerca de 10-20 metros de altura, com um tronco de cerca de 30–40 cm de diâmetro. Sua madeira é o destaque na perspectiva comercial, sendo utilizada para acabamento internos, painéis e embalagens. Se destaca também por ter uma madeira excelente para lenha e carvão [3].
O gênero (Piptadenia) dessa espécie tem cerca de 80 espécies tropicais e subtropicais da América [6]. Esta planta é evidenciada por ser uma espécie do tipo pioneira com crescimento acelerado e assim, é comumente utilizada nos reflorestamentos mistos, que são destinados à recomposição de áreas degradadas, além de áreas de preservação permanente, sendo uma espécie muito importante para a conservação do meio ambiente [3].
Distribuição geográfica
editarA espécie ocorre principalmente na Floresta Pluvial da encosta Atlântica [7]. Apresenta ampla distribuição ao longo de oito estados brasileiros, desde áreas ao nível do mar, nos litorais das regiões Sul e Sudeste, até áreas com 1.300 metros de altitude na região serrana de Minas Gerais. O padrão de distribuição espacial dessa espécie é agregado, com maior densidade de indivíduos nas clareiras, onde ocorre maior incidência de luz no ambiente. A espécie apresenta distribuição natural predominantemente em áreas do bioma da mata atlântica no estado de São Paulo. Nesta região, o seu florescimento ocorre no período de outubro a janeiro e a frutificação entre junho e dezembro[3]
Sistemática
editarA subfamília Mimosoideae, a qual a espécie Piptadenia gonoacantha está inserida, concebe cerca de 65 gêneros, que inclui cerca de 2.950 espécies [8] distribuída pelas regiões tropicais, subtropicais e cálido-temperadas do globo [9]. O gênero Piptadenia abrange em torno de 80 espécies tropicais em sua maioria americanas. A sua ocorrência no Brasil é nos estados de Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.[10][11]
O gênero das Piptadenias no Brasil são conhecidas como angico, angico branco, angico do campo, angico roxo, angico vermelho, angico bravo, angico preto angico rajado, angico de cerrado e na Argentina e Paraguai são conhecidas como cebil, cebil colorado e cebil ita [10][12].
O gênero das Piptadenias sempre culminou interesse nos pesquisadores, desde o período de Cristóvão Colombo, no novo mundo, quando Ramón Pane mencionou a inalação de um rapé narcóticos pelos nativas das Ilhas do Caribe, feito de espécies de Piptadenias. O rapé era utilizado em cerimônias que, quando inalado, permitia visões e possibilitam a interação com os espíritos [13][14]
Aspectos culturais
editarA utilização da lenha do pau-jacaré é de uso popular por ser uma madeira muito energética, sendo considerada uma das melhores no Brasil, devido a sua facilidade em queimar e a durabilidade da combustão [3]. Também possui utilidade para a fabricação de produtos em madeira, tal como fabricação de brinquedos, embalagens, construção civil e acabamentos internos [15]. A P. gonoacantha além destes usos também serve para a produção de papel e celulose; forragem para alimentação animal [16]; utilização dos recursos florais por polinizadores como abelhas, produzindo néctar e pólen em suas flores melíferas [17] ;[18] uso paisagístico por possuir atributos ornamentais [11] e seu uso como planta medicinal por conta das suas propriedades contra infecções pulmonares causadas por Mycobacterium kansasii [19].
Conservação
editarDe acordo com União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) o estado de conservação da Piptadenia gonoacantha é pouco preocupante do ponto de vista global [20]. Em adição, conforme o SIBBr, a espécie se encontra na mesma perspectiva nacionalmente, isto é, não está em risco de extinção. Além de seu status de conservação ser pouco preocupante, ela é muito utilizada para a restauração de áreas degradadas. Esta espécie se destaca em restaurações de matas ciliares, com solos que não estão sujeitos a inundação [21][22] e também são usufruídas para a recuperação de terrenos que sofreram erosão e com baixa fertilidade, uma vez que seus sistemas radiculares são profundos, o que permite sobreviver em solos degradados [22]. Estas, exercem função secundária inicial no processo sucessional [23], sendo utilizada tanto para sombreamento em sistemas agroflorestais ou como cercas vivas e arborização de culturas [24][25]
Descrição
editarO pau-jacaré se caracteriza por ser uma espécie pioneira, ou seja, uma espécie de rápido crescimento que coloniza o meio ambiente [26], além do mais exerce a função de espécie secundária no processo inicial de colonização, por apresentar sistema radicular profundo é muito utilizada no reflorestamento e restauração de áreas degradadas [27]. Se caracteriza por ser uma árvore pouco espinhenta semicaducifólia que pode chegar a 30 m de altura na fase adulta, e até 90 cm de DAP (diâmetro à altura do peito, a 1,30 m do solo)[28]. Sua casca tem espessura aproximada de 5 mm, com tronco pode ser reto ou tortuoso, apresenta cristas transversais e longitudinais que se assemelham a um couro de jacaré. Suas ramificações são dicotômicas e cimosas, com corpo irregular, umbeliforme e com acúleos.
Sua morfologia é caracterizada em folhas paripinadas com cerca de 5 a 9 pares e 26 a 46 folíolos por pina, possui também, pecíolo caniculado com glândula verruciforme. Já as flores do pau-jacaré, tem coloração amarelada/ bege, com inflorescências axilares, com cerca de 5 a 9 cm de comprimento. Suas flores podem ser solitárias, bem como ser reunidas em grupos de 2 a 3 axilas superiores. Por fim, seu fruto se caracteriza por ser um legume não moniliforme e coriáceo, seco com uma margem reta e sua coloração é parda, visto que não há a necessidade de ser atrativo a animais uma vez que sua disseminação ocorre por meio do vento. Seu comprimento é de cerca de 8 a 15 cm e entre 1,7 a 2,5 de largura e cada fruto tem cerca de 4 a 10 sementes. Tais sementes não apresentam endosperma, e não são aladas tem uma medida média de 9 mm de comprimento por 8 mm de largura[27].
Já sua floração e frutificação, ocorre de acordo com as características de cada estado, apresentado variações conforme a sua distribuição geográfica. No estado de São Paulo sua floração ocorre de outubro a janeiro e frutificação de junho a dezembro, no Distrito Federal sua floração ocorre de agosto a janeiro e frutificação de julho a agosto, no Rio Grande do Sul sua floração ocorre de agosto a fevereiro, no Paraná apresenta floração de setembro a janeiro e frutificação de maio a setembro, em Minas Gerais sua floração ocorre em novembro a janeiro e frutificação de maio a outubro, já no estado do Rio de Janeiro apresenta floração de dezembro a março e frutificação de junho a novembro[27].
Biologia reprodutiva
editarO pau-jacaré é uma planta hermafrodita e logo aos três anos de idade já pode iniciar seu processo reprodutivo, que se inicia a partir de plantios em solos férteis. A dispersão do pau-jacaré pode ocorrer de diversas formas, sendo através do vento o principal meio, anemocórica, através da espalhamento das sementes após choque mecânico da caída do fruto, barocórica, ou autocórica, sendo essa se dispersando por mecanismos próprios e particulares da planta. Por sua vez, a grande ameaça a dispersão de sementes de pau-jacaré é a entomofilia, ou seja, a herbivoria realizada por insetos[27].
Referências
- ↑ Carvalho, P.E.R. (2004). «Pau-Jacaré - Piptadenia gonoacantha» (PDF). Embrapa. Colombo. pp. 1–2. ISSN 1517-5278
- ↑ Reyes, A.E.L. «Pau-Jacaré». ESALQ. Consultado em 31 de agosto de 2019
- ↑ a b c d e CARVALHO, P. E. R. Pau-jacaré-Piptadenia gonoacantha. Embrapa Florestas. Circular técnica, 2004.
- ↑ Macbride, J.F. (1919). «Notes on certain Leguminosae». Contributions from the Gray Herbarium of Harvard University (1959). p. 27. JSTOR 41763984
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- ↑ Catalogue of the library of the Royal Botanic Gardens, Kew. London :: HMSO,. 1899
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