Paulo Lukamba Gato
Armindo Lucas Paulo Lukamba "Gato" (Bailundo, 13 de maio de 1954) é um político, diplomata, internacionalista e general do Exército Angolano, uma das mais importantes lideranças da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). Ingressou no parlamento angolano em 2006,[1] permanecendo como deputado até 2022.[2]
Classificado entre os "homens fortes da UNITA", foi considerado um "savimbista sólido" — tal como António Dembo e Abel Chivukuvuku —, parte do parte do círculo de confiança de Jonas Savimbi,[3] um dos poucos referenciais do pensamento nacionalista de esquerda após a adoção integral da retórica anticomunista pelo partido durante a década de 1980.[4]
Participou da Guerra Civil Angolana como general do braço armado da UNITA, as Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA).[5] Tornou-se líder da UNITA em 2002, desempenhando um papel central nas negociações de paz com as autoridades angolanas para acabar com a guerra e legalizar a UNITA.[6]
Biografia
editarArmindo Lucas Paulo Lukamba[7] nasceu no Bailundo em 13 de maio de 1954. Seu pai era Zacarias Sanjolomba Paulo Lukamba e sua mãe Luísa Lussinga Lukamba.[8][9] Fez seus estudos primários e secundários na cidade do Huambo.[9]
Lukamba Gato juntou-se à UNITA em 1974 durante o processo da revolução dos Cravos que ocorria em Portugal. Sua primeira função no partido foi como vice-chefe do Depertamento de Pessoal da Base Central de Massivi, em 1975.[9]
Em agosto de 1975 foi enviado para Cambândua para chefiar uma unidade especial das FALA que lutou nas etapas finais da independência angolana, participando também dos embates da guerra civil subsequente.[9] Em 1978 foi nomeado vice-comandante para a inteligência militar na Frente Central.[9]
Em 1979 foi designado para trabalhar como secretário da informação na ala jovem do partido, a Juventude Unida Revolucionária de Angola (JURA).[9] Em seguida foi eleito secretário-geral da JURA e membro do Comité Central da UNITA.[9] Em 1980 foi nomeado diretor do gabinete do presidente da UNITA, Jonas Savimbi.[9]
No V Congresso do partido, em 1982, foi eleito membro do bureau político e chefe da Diretoria-Geral de Pessoal do Comando Operacional Estratégico (COPE).[9] Foi graduado como coronel das FALA na ocasião.[9]
Foi nomeado por Savimbi para servir, de 1983 a 1991, em Paris, na França, como representante-geral da UNITA para a Europa e vice-secretário dos negócios estrangeiros.[9]
Foi designado um dos diplomatas do partido a participar nas negociações sobre a implementação do acordo de paz alcançado em 1994 em Lusaca,[5][10] negociado em Luanda com os representantes do Estado angolano.[11]
De 1995 até a morte de Jonas Savimbi, em fevereiro de 2002, Lukamba Gato serviu como secretário-geral da UNITA.[6][12] Após a morte de Savimbi e a subsequente morte do vice-presidente António Dembo apenas alguns dias depois de diabetes e ferimentos de batalha, Lukamba Gato assumiu o controle do partido.[6][13] Lukamba Gato liderou a UNITA nas negociações que puseram fim à Guerra Civil Angolana a partir de abril de 2002,[14][13] culminando no Memorando de Entendimento do Luena — complemento aos acordos de paz de Bicesse e Lusaca.[6][15] Seu feito deu-lhe o epíteto de "co-arquiteto da paz" (com José Eduardo dos Santos) ou "o arquiteto discreto da paz".[16][5]
Lukamba Gato liderou o partido político UNITA até o 9º Congresso em Viana, Angola, de 24 a 27 de junho de 2003.[17] Disputou as eleições para a presidência partidária com Dinho Chingunji e Isaías Samakuva.[7] Terminou as eleições em segundo lugar, sendo derrotado por Isaías Samakuva.[18][6][19] Sua derrota seria atribída a uma persistente noção tribal ainda vigente no seio da UNITA em 2003, dado que era um ovimbundo proveniente do Huambo e não do Bié.[7]
Após deixar o comando da UNITA, passou a ser integrado como general nas Forças Armadas Angolanas, em 2004.[5] Em 2005, por críticas à nova liderança partidária por falta de compromissos democráticos, chegou a ser suspenso (juntamente com Jorge Valentim) da UNITA por 30 dias.[20] Em 2006 passou a ocupar uma cadeira de deputado da UNITA da Assembleia Nacional na condição de suplente, como parte do Memorando de Entendimento do Luena.[1]
Lukamba Gato foi o quinto candidato na lista da UNITA para o círculo nacional nas eleições parlamentares de setembro de 2008.[6] Foi um dos 16 candidatos da UNITA a ganhar assentos nas eleições. Foi reeleito em 2012[6] e 2017.[6]
Ao final da década de 2010 formou-se em relações internacionais pela Universidade Internacional Atlântica, em Honolulu, Havaí.[21]
Não foi inscrito na lista da UNITA para as eleições gerais de Angola de 2022,[22] sendo designado coordenador-geral da campanha do partido e da plataforma eleitoral Frente Patriótica Unida.[2] Assim, após muitos anos no parlamento, Lukamba Gato ficou sem titularidade de uma cadeira legislativa.[23]
Referências
- ↑ a b «Entrada de Gato no parlamento não levanta problemas». VOA Português. 3 de fevereiro de 2006
- ↑ a b «Frente Patriótica Unida: Paulo Lukamba Gato vai dirigir campanha eleitoral». Deutsche Welle. 9 de maio de 2022
- ↑ «O grande problema com vista à pacificação é que a «UNITA savimbista» nunca aceitou os acordos de Lusaka». Revista Expresso. 2 de março de 2002. Consultado em 16 de novembro de 2006. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2006
- ↑ Jofre Justino (2006). «A actual UNITA traiu o espírito de Muangai». Maputo: Macua - Moçambique para todos
- ↑ a b c d Guus Meijer (2004). «Da paz militar à justiça social? O processo de paz angolano» (PDF). Londres: Conciliation Resources. Accord
- ↑ a b c d e f g h «General Lukamba Paulo "Gato": "Angola ainda tem uma longa caminhada a fazer"». Jornal de Angola. 4 de abril de 2021
- ↑ a b c Patrício Batsîkama (Agosto de 2013). «Leitura antropológica sobre Angolanidade». Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana. VI (XI): 65
- ↑ «Paulo Lukamba Gato». UNITA. 2008
- ↑ a b c d e f g h i j k UNITA (1990). The UNITA Leadership. Jamba: União Nacional para a Independência Total de Angola. p. 111-112
- ↑ Fernando Sousa (2 de novembro de 1994). «Reacção da UNITA no Huambo: Saudação e Advertência» (PDF). Público. p. 2
- ↑ «Angola: Peace Monitor». Universidade da Pensilvânia. The Africa Center. III (8). 30 de abril de 1997. Consultado em 18 de dezembro de 2013. Cópia arquivada em 8 de junho de 2011
- ↑ «Angola - UNITA ataca oleodutos» 42 ed. Notícias de Moçambique. 6 de novembro de 2000
- ↑ a b «Unita e governo devem assinar trégua hoje». Folha de S. Paulo. 4 de abril de 2002
- ↑ «Angola: Interview with General Paulo Lukamba "Gato"». TNH. 24 de maio de 2002
- ↑ Agência Lusa (2 de agosto de 2002). «Angola tem um Exército único». Público
- ↑ Dalas Maximus (27 de março de 2012). «Paulo Lukamba Gato um Heroi do nosso Tempo?». Club-K
- ↑ Brittain, Victoria (1998). Death of Dignity: Angola's Civil War. [S.l.: s.n.] pp. 18–19
- ↑ «Membros da Unita escolhem novo líder em Angola». BBC Brasil. 2003
- ↑ «"A paz tem um preço… É preciso pagá-lo"». Macua - Moçambique para todos. 19 de outubro de 2004
- ↑ Agência Lusa (22 de junho de 2005). «Prioridade da UNITA é transparência das contas públicas». RTP
- ↑ «Angola Fala Só: Bilhete Identidade Lukamba Gato». VOA Português. 24 de novembro de 2015
- ↑ «Lista de Candidatos - UNITA» (PDF). Tribunal Constitucional de Angola. 2022
- ↑ «Resultados 2022: Eleições Gerais». Comissão Nacional Eleitoral. 2022