Manuel Antunes

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Manuel Antunes SJ, GOSEGCIH (Sertã, 3 de novembro de 1918Lisboa, 18 de janeiro de 1985) foi um padre jesuíta, professor universitário e ensaísta português. Destacou-se pela sua erudição e capacidade de comunicação e pedagogia. Há uma biblioteca com o seu nome na Sertã.[1]

Padre Manuel Antunes

Estátua do Padre Manuel Antunes, na Alameda da Carvalha, Sertã.
Nascimento 3 de novembro de 1918
Sertã, Portugal
Morte 18 de janeiro de 1985 (66 anos)
Lisboa, Portugal
Nacionalidade Portugal Português
Ocupação Professor universitário e ensaísta
Magnum opus Legómena

Biografia

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Filho de uma família deveras humilde, ao que se dizia uma das mais pobre famílias das redondezas. O pai, José Agostinho Antunes, dedicava-se à agricultura como assalariado jornaleiro, e a mãe, Maria de Jesus, era doméstica, ambos analfabetos. Apesar disso, tanto o primogénito Manuel, como o segundo filho, José Antunes (1921-1997), tiveram estudos superiores por via da Companhia de Jesus.[2][3]

Aos 14 anos, deu entrada num Seminário Menor da Companhia de Jesus, em Guimarães. Com 18 anos tornou-se jesuíta; mais tarde doutora-se em Filosofia e Teologia, com a tese "Panorama da Filosofia Existencial de Kierkegaard a Heidegger", na Faculdade de Teologia de Granada, em Espanha.[4]

“O padre Manuel Antunes era uma pessoa extraordinária (...) a sua existência entre a vida de jesuíta e a de investigador, professor e escritor, davam-lhe uma espécie de visão abstracta da realidade.(...)
E lembro-me dos momentos de entusiasmo em que dizia de determinado vocábulo: "Esta palavra fala grego." E desfiava uma etimologia interminável.
Era um homem extremamente escrupuloso. Quando o meu pai lhe emprestou um livro, ele telefonou a perguntar se podia ler as notas que o meu pai escrevera nas margens.”

Eduardo Prado Coelho, Público, 1 de Dezembro de 2005

Em 1949, com 31 anos, torna-se sacerdote e professor de História da Literatura Grega e de História da Literatura Latina na Sociedade de Jesus. Em 1957, a convite de Vitorino Nemésio, torna-se professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde leccionou várias disciplinas do curso de Filologia Clássica, com realce para a História da Cultura Clássica, onde se manteve até 1983. Em 1981 foi-lhe conferido, pela Faculdade de Letras de Lisboa, o grau de doutor honoris causa.

Os seus primeiros escritos são publicados na revista Brotéria - Revista de Cristianismo e Cultura, de cuja redacção passa a fazer parte em 1955, e cuja direcção assumirá mais tarde, durante cerca de 20 anos. A sua obra escrita abrange temas literários, filosóficos e culturais, muito deles publicados com 124 pseudónimos. Colaborou igualmente na Revista Portuguesa de Filosofia e na Enciclopédia Luso Brasileira de Cultura. Era um grande amigo de António Sérgio, Vitorino Nemésio, José Régio, de Jorge de Sena e Almada Negreiros. Dele, terá Almada Negreiros dito um dia: "Este homem é só espírito".

Foi um mestre excepcional que marcou para a vida toda milhares de estudantes que, ao longo de mais de um quarto de século, passaram pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa desde 1957. A sua memória continuou viva a iluminar o caminho de muitos. O professor, cuja competência, sentido humanista e abertura à actualidade atraíram o interesse e admiração dos alunos, também estendeu a mais vastos públicos o seu magistério, graças aos inúmeros artigos que foi publicando.

Mais tarde, foi conselheiro do presidente da República, António Ramalho Eanes.

“(...) poderá talvez aplicar-se o que ele próprio disse um dia de Kierkegaard: "Um ser que nunca foi criança, nunca foi adolescente, nunca foi jovem, mas adulto, sempre adulto".”

João Bénard da Costa, Público, 18 de Dezembro de 2005.

A 3 de agosto de 1983, foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[5]

Manuel Antunes está imortalizado numa estátua na Sertã, da autoria de Vasco Berardo, inaugurada em 24 de junho de 2005.

A 6 de novembro de 2018, foi agraciado, a título póstumo, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique no encerramento do Congresso que assinalou o centenário do nascimento do “professor íntegro profundo”[6][5].

O seu irmão, José Antunes foi um ilustre advogado especialista em direito canônico, que foi presidente da Câmara Municipal da Sertã até 1974.

Congresso Internacional

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No 20° aniversário da sua morte, em 2005, realiza-se um Congresso Internacional subordinado ao tema Padre Manuel Antunes: Interfaces da Cultura Portuguesa e Europeia. Este evento científico terá lugar em três palcos diferentes: na Fundação Calouste Gulbenkian, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e na Casa da Cultura da Sertã, distribuídos pelos seguintes painéis temáticos: Cultura e Civilização, Crítica Literária e Estética, Educação/ Pedagogia/ Ensino, Religião/Teologia/ Espiritualidade, Política/Construção da Democracia, Filosofia e Ciência.

Bibliografia principal

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(a re-editar em 2005)

  • Do Espírito e do Tempo, 1960
  • Ao Encontro da Palavra, 1960
  • O mundo de hoje e a religião, 1964
  • Indicadores de Civilização, 1972
  • Grandes Derivas da História Contemporânea, 1973
  • Educação e Sociedade, 1973
  • Grandes Contemporâneos, 1973
  • Repensar Portugal, 1979
  • Occasionália-Homens e Ideias de Ontem e de Hoje
  • Legómena, 1987 (póstumo)
  • Ensaios Filosóficos
  • Educação e Sociedade
  • Estudos de Cultura Clássica
  • Teoria da Cultura, re-editado em 1999, com revisão e notas de Maria Ivone de Ornellas de Andrade.

Notas e referências

  1. LOPES, Rui Pedro (2018), ‘As raízes de P. Manuel Antunes na Sertã,’ ‘.Brotéria: Cristianismo e cultura’’, ISSN 0870-7618, Vol. 187, Nº. 5, 2018, págs. 571-580.
  2. Ana Luísa Paz. «ANTUNES, Manuel» (PDF). Dicionário de Historiadores Portugueses. Biblioteca Nacional de Portugal e Centro de História da Universidade de Lisboa. Consultado em 11 de dezembro de 2024 [ ]
  3. José Gaio (28 de outubro de 2022). «Município da Sertã homenageia Padre Manuel Antunes». mediotejo.net. Consultado em 11 de dezembro de 2024 
  4. Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Vol. IV, Lisboa, 1997.
  5. a b «Entidades Nacionais Agraciadas com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Manuel Antunes". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 6 de janeiro de 2019 
  6. «Cultura: Presidente da República condecorou o padre Manuel Antunes no centenário do seu nascimento». Ecclesia. 6 de novembro de 2018. Consultado em 11 de dezembro de 2024 

Ligações externas

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www.manuelantunes-sj.com

 
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