Perda auditiva mínima

alterações auditivas leves que podem impactar linguagem, aprendizado e qualidade de vida, muitas vezes subdiagnosticadas

A perda auditiva mínima refere-se a um quadro de alterações auditivas que, embora apresente impacto funcional relativamente discreto, pode interferir significativamente no desenvolvimento da linguagem, no desempenho acadêmico e na qualidade de vida, especialmente em crianças. Esse termo abrange diferentes tipos de perda auditiva, com limiares auditivos levemente comprometidos e muitas vezes subdiagnosticados devido à dificuldade em identificá-los em triagens auditivas convencionais.[1]

Definição e Classificação

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Perda auditiva mínima é frequentemente definida como a alteração auditiva com limiares auditivos entre 16 e 25 dB em ambos os ouvidos, podendo incluir casos específicos que apresentam dificuldades auditivas, mesmo quando os limiares encontram-se dentro de faixas consideradas normais.[2] Essa condição pode ser subdividida em:

1. Perda Auditiva Leve: Limiar entre 16 e 25 dB HL.

2. Perda Auditiva Unilateral: Perda significativa em apenas um dos ouvidos, e audição normal no outro.

3. Perda Auditiva em Altas Frequências: Afeta principalmente frequências superiores a 2.000 Hz, essenciais para a compreensão da fala.

4. Dificuldades no Processamento Auditivo: Embora o limiar auditivo esteja dentro da normalidade, há dificuldades na interpretação de sons complexos, como a fala em ambientes ruidosos.

Causas

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As perdas auditivas mínimas podem ter diversas origens, incluindo: infecções de ouvido médio (Otite Média com Efusão), comum em crianças, podem causar perdas temporárias ou flutuantes; exposição a ruídos prolongada, ou em volumes elevados, pode danificar as células ciliadas do ouvido interno; anomalias anatômicas ou genéticas, incluindo disfunções da tuba auditiva e alterações cocleares; infecções congênitas como Citomegalovírus (CMV) e toxoplasmose podem causar perdas auditivas leves; fatores neurológicos, como dificuldades no processamento auditivo, podem coexistir com outras alterações do desenvolvimento neurológico.

Impactos no Desenvolvimento

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Embora consideradas mínimas, essas perdas podem ter consequências desproporcionais em relação à gravidade aparente.[3] Entre os principais impactos, destacam-se:

1. Dificuldades Acadêmicas:

  • Crianças com perdas auditivas mínimas têm maior probabilidade de apresentar dificuldades de leitura, de escrita e de compreensão oral, especialmente em ambientes ruidosos.
  • Estudos apontam que até 37% dessas crianças apresenta desempenho abaixo da média em avaliações escolares[4]

2. Atrasos no Desenvolvimento da Linguagem

  • As perdas auditivas mínimas podem dificultar a discriminação de sons da fala, prejudicando a aquisição de vocabulário e a clareza da fala.

3. Impactos Psicossociais

  • Crianças com essas perdas podem apresentar baixa autoestima, isolamento social e dificuldades com interações interpessoais.

4. Problemas Cognitivos

  • A carga cognitiva necessária para compensar a dificuldade auditiva pode levar à fadiga e à dificuldade de atenção.

Diagnóstico

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O diagnóstico de perdas auditivas mínimas pode ser desafiador, pois os métodos convencionais de triagem, assim como os limiares auditivos padrão, muitas vezes não identificam essas condições. Estratégias recomendadas incluem:

  • Audiometria Completa: Avaliação detalhada dos limiares auditivos, especialmente em altas frequências.
  • Imitanciometria: Para avaliar a função do ouvido médio e identificar alterações como disfunção da tuba auditiva.
  • Avaliação do Processamento Auditivo Central: Testes específicos para avaliar habilidades como discriminação de fala em ruído e localização sonora.
  • Monitoramento Regular: Em casos de otite média recorrente, ou condições de risco, recomenda-se a realização de exames frequentes.

Intervenções e Tratamento

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As intervenções para perdas auditivas mínimas variam de acordo com a causa e o impacto funcional. Opções incluem:

Aparelhos Auditivos[5] : embora não sejam comumente prescritos para perdas leves, em alguns casos podem ser úteis, especialmente em ambientes escolares ruidosos.

Dispositivos de Amplificação Individual: amplificadores de som podem ser utilizados em sala de aula para melhorar a relação sinal-ruído e facilitar a compreensão da fala.

Intervenções educacionais: adaptações no ambiente escolar, tais como redução de ruído e uso de estratégias de ensino multimodal, podem ser benéficas.

Terapia fonoaudiológica: pode auxiliar no desenvolvimento de habilidades de comunicação e estratégias compensatórias.

Tratamento médico ou cirúrgico: indicado em casos de otite média crônica e outras condições tratáveis do ouvido médio.

Prevenção e Monitoramento

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Triagem Auditiva Ampliada[4] : programas de triagem auditiva neonatal devem incluir a identificação de perdas mínimas e triagens escolares regulares podem ajudar a identificar casos que se desenvolvem ao longo da infância.

Educação e conscientização: pais e educadores devem ser instruídos sobre sinais de dificuldades auditivas, como problemas de atenção ou atraso na fala.

Controle de infecções e ruídos: o tratamento adequado de infecções do ouvido e a redução da exposição a ruídos são estratégias fundamentais.

Desafios e Perspectivas

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A subvalorização das perdas auditivas mínimas é um desafio significativo, especialmente em contextos onde o acesso a diagnósticos especializados é limitado. Estudos recentes indicam a necessidade de políticas públicas que ampliem a cobertura da triagem auditiva e do acompanhamento longitudinal de crianças com fatores de risco auditivo.[6]

Referências

  1. «Effects of Hearing Loss on Development» (PDF). ASHA. 2019 
  2. DOBIE, Robert A. (2004). Hearing Loss: Determining Eligibility for Social Security Benefits (PDF). [S.l.: s.n.] 
  3. Kós, Maria Isabel; Almeida, Kátia de; Frota, Silvana; Hoshino, Ana Cristina Hiromi (setembro de 2009). «Emissões otoacústicas produto de distorção em normo ouvintes e em perdas auditivas neurossensoriais leve e moderada com os protocolos 65/55 dB NPS E 70/70 dB NPS». Revista CEFAC (3): 465–472. ISSN 1516-1846. doi:10.1590/S1516-18462009000300014. Consultado em 20 de novembro de 2024 
  4. a b Turton, Laura; Souza, Pamela; Thibodeau, Linda; Hickson, Louise; Gifford, René; Bird, Judith; Stropahl, Maren; Gailey, Lorraine; Fulton, Bernadette (agosto de 2020). «Guidelines for Best Practice in the Audiological Management of Adults with Severe and Profound Hearing Loss». Seminars in Hearing (3): 141–246. ISSN 0734-0451. PMC 7744249 . PMID 33364673. doi:10.1055/s-0040-1714744. Consultado em 19 de novembro de 2024 
  5. Carmo, Luana Rodrigues do; Silva, Raquel Elpidio Pinheiro da; Zampronio, Cláudia Daniele Pelanda; Oliveira, Jerusa Roberta Massola de; Mondelli, Maria Fernanda Capoani Garcia (2023). «Desempenho auditivo de indivíduos com perda auditiva mínima em experiências complexas e realistas de comunicação». CoDAS (4). ISSN 2317-1782. doi:10.1590/2317-1782/20232022034pt. Consultado em 20 de novembro de 2024 
  6. Ganesan, Purushothaman; Schmiedge, Jason; Manchaiah, Vinaya; Swapna, Simham; Dhandayutham, Subhashini; Kothandaraman, Purushothaman Pavanjur (10 de abril de 2018). «Ototoxicity: A Challenge in Diagnosis and Treatment». Journal of Audiology and Otology (em inglês) (2): 59–68. ISSN 2384-1621. PMC PMC5894487  Verifique |pmc= (ajuda). PMID 29471610. doi:10.7874/jao.2017.00360. Consultado em 20 de novembro de 2024 
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