Perfuração da membrana do tímpano
Perfuração da membrana do tímpano ou, simplesmente, o tímpano perfurado, é um rompimento do tímpano que ocorre devido a questões como otite média (infecção do ouvido), resultando em um acúmulo de pus na orelha média[1],[2] além de ser ocasionado por traumas (por exemplo, limpar o ouvido com instrumentos cortantes ou o próprio cotonete), explosão, exposição a um barulho muito forte ou erros cirúrgicos (criação acidental de uma ruptura). Além disso, a título de curiosidade, viagens de avião, mergulhos em profundidade e assoar o nariz com muita intensidade são atos que também podem causar perfuração ou alterações na membrana, acontecendo o chamado "barotrauma", por conta da diferença de pressão do meio externo em relação ao ouvido, de modo a bloquear a tuba auditiva.[3]
Perfuração da membrana do tímpano | |
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Especialidade | otorrinolaringologia |
Classificação e recursos externos | |
CID-10 | H72 |
CID-9 | 384.2 |
CID-11 | 194676178 |
DiseasesDB | 13473 |
MedlinePlus | 001038 |
eMedicine | ent/206 |
MeSH | D018058 |
Leia o aviso médico |
A membrana timpânica (MT), localizada na orelha média, é uma estrutura de formato oval com 85 mm² de superfície, 10 mm de diâmetro e 0,1 mm de espessura, e é formada por uma camada de tecido conjuntivo cartilaginoso e translúcido. A MT é composta por duas partes: a flácida, também chamada de membrana de Shrapnell, que é uma porção de formato triangular localizada superiormente ao processo curto do martelo; e a parte tensa, que forma a maior extensão da membrana timpânica e é mais densa na margem externa, de modo a formar o anel timpânico. Além disso, essas duas partes da membrana são constituídas por pele e túnica mucosa, sendo que a camada fibrosa se encontra apenas nessa última. Outrossim, a MT possui 4 quadrantes: posterossuperior, posteroinferior, anterossuperior e anteroinferior. Sendo assim, o anteroinferior é responsável pelo aparecimento de uma zona brilhante, denominada de "cone de luz" ou "triângulo luminoso", observado durante o exame otoscópico, e isso se deve ao fato tanto do arranjo de fibras desse quadrante o tornar menos denso, quanto ao formato da membrana ser côncava.[4][5]
A função dessa membrana é auxiliar na audição, transmitindo as vibrações sonoras (em forma de energia mecânica) para a parte média da orelha. No entanto, quando há a perfuração, esses padrões vibratórios não são produzidos de modo eficiente[6], levando à perda auditiva condutiva, que, nesse caso, normalmente é temporária, sendo fundamental a realização de uma audiometria (quando a MT estiver restaurada) para ser feita a checagem da integridade auditiva.
Sintomas
editarOs sintomas decorrentes das perfurações podem ocorrer isoladamente ou associados, dentre eles têm-se, principalmente, a otorréia (secreção de líquido ou pus pelo canal auditivo) de repetição, a hipoacusia (perda da audição), e a otalgia (dor de ouvido) repentina, quando na presença de infecção. Já nas manifestações menos comuns estão o prurido otológico e a vertigem. Outros sintomas podem incluir zumbido ou secreção de muco amarelado ou sangue, o que indica uma possível infecção viral ou bacteriana, levando em conta que a membrana está perfurada e exposta, de modo a ficar suscetível a infecções.[7]
Cicatrização
editarÉ possível ter um bom prognóstico e recuperação espontânea, mesmo sem tratamento, a depender do trauma. São citadas na literatura dois tipos de perfuração da membrana timpânica conforme o tempo de recuperação: a crônica e a aguda. A crônica é atribuída às perfurações que se mantêm por 3 meses, pela não cicatrização espontânea e não regeneração das camadas histológicas de tecido epitelial externo, seguido da lâmina própria e da camada mucosa. Sendo assim, é necessário, na maioria dos casos, a realização de cirurgia (timpanoplastia). Por isso, o tipo crônico geralmente diz respeito a perfurações que acarretam na inflamação duradoura na orelha média e, por consequência, em otite média supurativa. Em contrapartida, no tipo agudo, a regeneração ocorre em média de 7 a 10 dias e é eficiente, podendo acontecer episódios de otorréia, mas estes podem ser tratados por meio de medicamentos.[8]
Avaliação
editarA princípio, é importante frisar que o diagnóstico e, por conseguinte, o tratamento da perfuração deve ser realizado o mais breve possível, de modo a prevenir complicações associadas, como: perda auditiva, colesteatoma, paralisia de musculatura facial e infecções no sistema nervoso central (meningite).[9]
Na avaliação, o diagnóstico só pode ser dado pelo médico, e em alguns casos, não é possível ser estabelecida uma conclusão tão evidente de ruptura da MT pelo exame, por isso, utiliza-se a otoscopia pneumática, em que o profissional analisa o movimento da membrana por meio da variação de pressão do equipamento. Além disso, também utiliza-se a meatoscopia, que pode ser realizada por fonoaudiólogos ou por médicos, a fim de verificar se há a presença de perfuração e a situação da membrana.[10]
Determinados estudos mostram que o embaçamento do otoscópio pode ajudar na avaliação, pois o ar umidificado e quente passa da nasofaringe para orelha média, e pela abertura, para o meato acústico externo, podendo levar à condensação da lente do otoscópio, de modo a indicar perfuração da membrana timpânica.[11]
Uma informação a ser salientada é a de que exames como audiometria, timpanometria e pesquisa de reflexos acústicos não podem ser realizados em pacientes com a membrana perfurada, já que são procedimentos que necessitam da integridade dessa estrutura, por isso a importância de ser feita pelo profissional fonoaudiólogo uma boa meatoscopia.
Achados Audiológicos
editarSabe-se que, como a membrana timpânica está localizada na orelha média, a perfuração dela pode levar inicialmente a uma perda auditiva condutiva ou mista, acometendo principalmente as frequências baixas (ou seja, dificuldade de ouvir sons graves, com frequências iguais ou inferiores a 2000 Hz)[12]. E devido a diminuição da área vibratória de membrana e de transmissão de energia sonora, o tamanho da perfuração está relacionado com uma limitação da percepção sonora, ou seja, piora nos limiares auditivos. Dessa forma, o grau da perda varia quanto ao tamanho e a localização da lesão. Além disso, perfurações que cobrem de 0 a 25% da área podem ocasionar uma perda auditiva de até 12dB, já as que ocupam de 26 a 50% podem resultar em perdas de até 22dB, enquanto perfurações que abrangem de 50 a 95% da área vibratória podem causar perda de até 28dB.[13]
Tratamento
editarA perfuração pode ser reparada em poucas semanas ou até em alguns meses, cicatrizando-se espontaneamente nos casos mais leves (em cerca de 70 a 90% dos acometidos), fazendo com que as manifestações clínicas sejam amenizadas ou até desapareçam. Porém, algumas perfurações necessitam de intervenção, sendo um exemplo disso os casos mais agravados, nos quais a perfuração pode durar vários anos e não é capaz de cicatrizar de modo espontâneo, pois podem ser consequência de erros em cirurgias feitas nas regiões que acometem a orelha interna, a média ou a externa, sendo, nesses casos, imprescindível o uso de medicamentos receitados pelo médico especialista ou a realização de cirurgia, a timpanoplastia, reparando a membrana de forma mais invasiva.[14]
A timpanoplastia é a realização da reparação da MT do paciente por meio do uso de enxerto de pele do próprio indivíduo, que pode ser a fáscia do músculo temporal ou o pericôndrio da cartilagem do pavilhão da orelha. Como foi dito, esse procedimento é indicado para casos em que há a perfuração da membrana timpânica de modo permanente (otite média crônica) associada à perda auditiva. Desse modo, a cirurgia pode ou não envolver uma reconstrução ossicular, sendo realizada apenas quando há prejudicação da cadeia ossicular do ouvido (bigorna, martelo e estribo) associada à perfuração da membrana, mas sempre envolvendo uma exploração do ouvido médio.[15]
Nesse procedimento, o médico cirurgião faz um corte na parte posterior da orelha ou no conduto auditivo, colocando, em seguida, o enxerto para reconstruir a membrana. Além disso, após a cirurgia, em pacientes com rupturas mais graves é preciso fazer uso de tampão de ouvido para evitar o contato entre a água com a membrana do tímpano. Na maioria dos casos, a audição é recuperada totalmente, mas a ocorrência de infecção crônica por um longo período pode levar à perda permanente da audição.[16]
O pós-operatório, em geral, ocorre de forma rápida e sem episódios de fortes dores, porém, nas primeiras semanas de recuperação, o indivíduo pode se queixar de perda de equilíbrio, além de zumbido, boca ressecada e xerostomia, considerando a manipulação de áreas vizinhas ao nervo glossofaríngeo durante a cirurgia.[16]
Outro tratamento existente para as perfurações timpânicas é a aplicação de fragmento de película de celulose bacteriana sobre perfurações timpânicas, que podem acarretar em uma recuperação ágil e eficaz.[14]
Referências
- ↑ Silva, Michelle Alves da. «Tímpano - Anatomia da membrana do tímpano - Audição». InfoEscola. Consultado em 10 de novembro de 2023
- ↑ CURRENT: Medicina (Lange) Diagnóstico e Tratamento 51ª Edição 51 ed. [S.l.]: McGraw-Hill. 2013
- ↑ Gessinger, Rosirene Pantaleäo; Linden, Arnaldo (1991). «Barotrauma de ouvido médio em mergulhadores: estudo analítico». Rev. bras. otorrinolaringol: 111–4. Consultado em 10 de novembro de 2023
- ↑ «Membrana timpânica». Kenhub. Consultado em 10 de novembro de 2023
- ↑ Tratado de audiologia 2ª ed. [S.l.]: ed. São Paulo: Grupo Gen - Livraria Santos Editora. 2015. p. 35
- ↑ Dolhi, Nicole; Weimer, Abram D. (2023). «Tympanic Membrane Perforations». Treasure Island (FL): StatPearls Publishing. PMID 32491810. Consultado em 10 de novembro de 2023
- ↑ «Saiba o que fazer em caso de tímpano perfurado». A&R - Aparelhos auditivos. 17 de maio de 2021. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ Seonwoo, Hoon (2013). «Regeneration of Chronic Tympanic Membrane Perforation Using an EGF-Releasing Chitosan Patch». Consultado em 10 de novembro de 2023
- ↑ «Mitos e verdades sobre o tímpano perfurado». Hospital Paulista - Ouvido, Nariz e Garganta. 16 de março de 2021. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ Feniman, Mariza Ribeiro; Souza, Adriana Guerta de; Jorge, José Carlos; Lauris, José Roberto Pereira (abril de 2008). «Achados otoscópicos e timpanométricos em lactentes com fissura labiopalatina». Revista Brasileira de Otorrinolaringologia: 248–252. ISSN 0034-7299. doi:10.1590/S0034-72992008000200015. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ Naylor, Jason F. (30 de maio de 2014). «Otoscope fogging: examination finding for perforated tympanic membrane». BMJ case reports: bcr2013200707. ISSN 1757-790X. PMC 4039779 . PMID 24879720. doi:10.1136/bcr-2013-200707. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ «Análise quantitativa de patologias da membrana timpânica: uma técnica computacional semi-automática para acompanhamento e mensuração». oldfiles.bjorl.org. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ Viana Pereira, Corintho (31 de janeiro de 2009). «Influência da migração epitelial na cicatrização da perfuração timpânica em Chinchilla laniger». repositorio.ufpe.br. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ a b Pinho, Ana Mariana de Moraes Rebello; Kencis, Carolina Christofani Sian; Miranda, Dino Rafael Pérez; Sousa Neto, Osmar Mesquita de (11 de dezembro de 2020). «Perfurações traumáticas da membrana timpânica: recuperação clínica imediata com o uso de fragmento de celulose bacteriana». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology: 727–733. ISSN 1808-8694. doi:10.1016/j.bjorl.2019.05.001. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ Makibara, Renata Rumy; Fukunaga, Jackeline Yumi; Gil, Daniela (junho de 2010). «Função da tuba auditiva em adultos com membrana timpânica íntegra». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology: 340–346. ISSN 1808-8694. doi:10.1590/S1808-86942010000300012. Consultado em 11 de novembro de 2023
- ↑ a b CDO (30 de maio de 2022). «Timpanoplastia: o que é e para quais casos é indicada?». CDO. Consultado em 11 de novembro de 2023