Perozes (vitaxa)
Perozes (em grego: Περόζης; romaniz.: Perózēs; em persa médio: 𐭯𐭩𐭫𐭥𐭰; romaniz.: Pērōz) foi vitaxa de Gogarena e Gardamana no século IV. Foi o fundador da dinastia mirrânida, um desdobramento da Casa de Mirranes, um dos sete clãs partas do Império Sassânida.
Perozes | |
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Vitaxa de Gogarena | |
Reinado | século IV |
Antecessor(a) | Guxáridas |
Sucessor(a) | Incerto |
Morte | século IV |
Cônjuge | Filha de Meribanes III |
Descendência | Bacúrio I |
Dinastia | mirrânida |
Religião |
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Nome
editarPerozes (Περόζης / Περώζης, Perózēs / Perṓzēs) é a forma grega[1][2] do persa médio Peroz (𐭯𐭩𐭫𐭥𐭰, Pērōz), "Vitorioso",[3] que derivou do persa antigo Pariauja (*Pariaujah; de *pari, "em torno", e *aujah, "força, poder").[4] Foi registrado em parta como Peroze (Pērōž), em persa novo como Piruz (پیروز, Pīrūz), em árabe Firuz (فَيْرُوز, Fīrūz), em georgiano como Peroze / Peroz (em georgiano: პეროჟ / პეროზ; romaniz.: Pʼerož / Pʼeroz)[5] e em armênio como Peroz (Պերոզ).[2][6]
Vida
editarPerozes nasceu em data incerta ao longo do século IV e alegou descender da dinastia reinante no Império Sassânida.[7] Segundo Leôncio de Ruissi, era parente do rei da Ibéria Meribanes III (r. 284–361), um convertido ao cristianismo, que pertencia à dinastia cosroida, que também era um ramo da Casa de Mirranes.[8] Leôncio afirmou que Meribanes lhe entregou sua filha como esposa e o território de Cunani, com sua capital Partava, e o nomeou duque. Partava, além de capital de Cunani, era capital do Albânia, o que pode indicar uma confusão do autor e/ou uma simplificação do evento descrito na tradição histórica que Leôncio incorporou.[9] Mais tarde, Aspacures II (r. 361–363) o convenceu a devolver a Albânia em troca dos territórios que flanqueavam a linha do Ducado de Sanxevilde até o início de Asócia e Perozes se converteu ao cristianismo.[10] Tanto Leôncio como as demais fontes que citam Perozes não usam o título vitaxa para indicar a posição que ocupou, preferindo chamá-lo eristavi (governador e/ou governador-general) e metavari (príncipe). Haja vista o ofício de vitaxa ser funcionalmente ambos, Stephen Rapp propôs que foi a forma indireta como as fontes medievais aludiram à sua posição.[11] Perozes morreu mais tarde e foi sucedido por seu filho Bacúrio I, cuja filha casar-se-ia com Aspacures II.[12]
De acordo com Cyril Toumanoff, o relato de Leôncio não pode ser assumido como preciso, necessitando alguns ajustes para fazer sentido dentro do contexto que descreve.[13] Alegou que é mais plausível que a narrativa em questão esteja indiretamente se referindo à secessão dos vitaxas guxáridas de Gogarena do Reino da Armênia ao Reino da Ibéria após a Paz de Nísibis de 363 assinada pelo Império Romano e o Império Sassânida.[14][15] Fausto, o Bizantino menciona que, em 371, os territórios perdidos pela Armênia nessa época foram atacados sob ordens do rei Papa (r. 370–374) e é provável que os guxáridas possam ter sido exterminados no processo como consequência.[16] No interim, os mirrânidas de Perozes foram empossados em Gogarena pelo rei ibero, explicando o relato tardio de Leôncio da concessão de territórios.[13] Por sua vez, a menção a Cunani e Partava pode ser uma referência indireta à ascensão de outro ramo mirrânida em Gardamana, um antigo cantão de Otena que seria incorporado pela Albânia à época, por algum parente de Perozes por ocasião de sua ascensão em Gogarena.[17] Stephen Rapp, optando por uma reconstituição ligeiramente diferente, assumiu que Perozes foi empossado por Meribanes III muito tempo antes, em cerca de 330, e que ele teria falecido cerca de 361, antes dos eventos utilizados por Toumanoff como suas balizas cronológicas.[18]
Referências
- ↑ Justi 1895, p. 248.
- ↑ a b Ačaṙyan 1942–1962, p. 262.
- ↑ Rezakhani 2017, p. 78.
- ↑ Gignoux 1986, p. 147.
- ↑ Chkeidze 2001, p. 486–490.
- ↑ Schmitt & Bailey 1986, p. 445–465.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 478, nota 174.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 188, 473.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 473, nota 158.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 187, 191, 473, nota 159.
- ↑ Rapp 2014, p. 67.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 262.
- ↑ a b Toumanoff 1963, p. 474.
- ↑ Fausto, o Bizantino 1989, p. 167 (IV.l.166).
- ↑ Toumanoff 1963, p. 474-475.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 474, nota 161.
- ↑ Toumanoff 1963, p. 479, 484.
- ↑ Rapp 2014, p. 89.
Bibliografia
editar- Ačaṙyan, Hračʻya (1942–1962). «Պերոզ». Hayocʻ anjnanunneri baṙaran [Dictionary of Personal Names of Armenians]. Erevã: Imprensa da Universidade de Erevã
- Chkeidze, Thea (2001). «Georgia v. Linguistic Contacts with Iranian Languages». In: Yarshater, Ehsan. Enciclopédia Irânica Vol. X, Fasc. 5. Londres e Nova Iorque: Routledge & Kegan Paul. ISBN 978-0-933273-53-5
- Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachusetts: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvard
- Gignoux, Philippe (1986). «Faszikel 2: Noms propres sassanides en moyen-perse épigraphique». In: Schmitt, Rudiger; Mayrhofer, Manfred. Iranisches Personennamenbuch. Iranische namen in nebenüberlieferungen indogermanischer sprachen. Viena: Academia Austríaca de Ciências
- Justi, Ferdinand (1895). Iranisches Namenbuch. Marburgo: N. G. Elwertsche Verlagsbuchhandlung
- Rapp, Stephen H. Jr. (2014). The Sasanian World through Georgian Eyes: Caucasia and the Iranian Commonwealth in Late Antique Georgian Literature. Farnham: Ashgate Publishing, Ltd. ISBN 1472425529
- Rezakhani, Khodadad (2017). ReOrienting the Sasanians: East Iran in Late Antiquity. Edimburgo: Imprensa da Universidade de Edimburgo
- Schmitt, R.; Bailey, H. W. (1986). «ARMENIA AND IRAN iv. Iranian influences in Armenian Language». Enciclopédia Irânica Vol. II, Fasc. 4-5. Nova Iorque: Editora da Universidade de Colúmbia
- Toumanoff, Cyril (1963). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Georgetown University Press