Petare
Petare é uma cidade venezuelana e capital do município de Sucre, no noroeste do estado de Miranda. Está localizada no norte da Venezuela, na Região Metropolitana de Caracas (RMC). Possui a maior favela da América e do Ocidente.[1][2][3][4][5][6][7]
Petare
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Cidade | |
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Gentílico | petariano |
Localização | |
País | Venezuela |
Estado | Miranda |
Município | Sucre |
História | |
Fundação | 17 de fevereiro de 1621 |
Características geográficas | |
População total (2008) | 1,000,000 hab. |
A favela de Petare tem uma área de cerca de 40 quilômetros quadrados e abrange um território aproximadamente três vezes maior que o da Rocinha, considerada a maior favela do Brasil. Sua população é estimada entre 360 mil e 600 mil habitantes. Na Venezuela, as favelas são denominadas de "barrios", palavra que, em espanhol, significa "bairros".[8][9][10][11]
A vida dos Marginales (forma preconceituosa venezuelana de se chamar os moradores de barrios) de Petare e da maioria das favelas venezuelanas vivem pior que os favelados do Brasil. Diferente do Brasil, onde um traficante manda na favela e forma um espécie de "segurança" para os moradores que são seus amigos, Na Venezuela os 'barrios' não são dominadas por traficantes, e a violência é muito grande em seu interior. A violência é gerada por gangues internas que brigam frequentemente.[12]
A gigantesca Petare é cercada por altos prédios residenciais e comerciais, o que mostra um contraste. Alguns dos melhores hotéis da Venezuela tem uma vista para Petare.
Já aconteceu de os moradores de Petare, revoltados com o descaso do governo, invadirem os prédios.
O povo petariano é muito infeliz com sua vida e com poucas esperanças de mudança, mesmo assim tentam melhorar a comunidade limpando os becos e dando uma boa aparência. Outra coisa que piora a vida na favela é o fato de, diferentemente do Brasil, não existirem ONGs a promoverem ações sociais.[13]
História
editarEtimologia e fundação de Petare
editarAs origens de Petare remontam ao 17 de fevereiro de 1621, quando os conquistadores espanhóis,o capitão Pedro Gutiérrez de Lugo e o padre Gabriel de Mendoza fundaram a aldeia denominada “Dulce Nombre de Jesús de Petare”, sobre uma pequena colina contornada pela quebrada El Oro e pelos rios Caurimare e Guaire. Ela foi organizada segundo o modelo urbanístico colonial conhecido como “damero de indias”, com a praça principal no centro, rodeada pela igreja, os principais edifícios públicos, o mercado e as casas pertencentes à nobreza. Estabelecida sobre uma pequena colina em uma localização estratégica próxima a Caracas, era cercada por terras férteis adequadas ao cultivo e apresentava condições hidrográficas vantajosas; ao sul o rio Guaire, ao leste o córrego El Oro e ao oeste o rio Caurimare. O nome “Petare” tem origem nas palavras “pet” e “are” do idioma caribe falado pelos indígenas Mariche, habitantes pré-colombianos da região leste de Caracas, e significa “frente ao rio”, em clara alusão à localização geográfica do núcleo fundador junto aos corpos d'água mencionados.[14]
No fértil vale dos mariches, proliferaram plantações de café, cacau, milho e cana-de-açúcar, sendo esta última processada em engenhos próximos para extrair a doce rapadura e o amargo aguardente. Tais culturas abasteciam não só os moradores do Dulce Nombre de Jesús, mas também os vizinhos de Caracas. Entre as mais importantes destacam-se La Bolea, Los Marrones, La Urbina, Los Ruices, El Marqués, Macaracuay e Güere-Güere (atualmente, urbanização La California Norte). A aldeia tornou-se um ponto dinâmico de troca de produtos agrícolas e mercadorias por estar atravessada por um importante sistema de estradas reais, o que a transformou em uma parada obrigatória para viajantes e comerciantes, impulsionando a economia local. Originalmente uma comunidade independente, sua proximidade com Caracas fez com que a expansão urbana da capital encontrasse no Distrito Sucre um caminho de crescimento, o que levou a indústria da construção, o comércio e as atividades industriais a ocupar terras antes destinadas à agricultura.[14]
Período Colonial
editarOs mariches, grupo indígena da família linguística Caribe, habitaram a região até 1573, quando seu principal cacique, Tamanaco, foi morto pelas mãos do conquistador espanhol Pedro Alonso Galeas. A partir desse fato, iniciou-se a subjugação dos aborígenes e a distribuição das primeiras encomiendas por Diego de Losada, Juan Gallegos, Sebastián Díaz Alfaro e Francisco Fajardo.[15]
Conforme os costumes da época, os colonizadores – em sua maioria canários – edificaram a vila seguindo o traçado quadricular da praça central, ao redor da qual foram localizados a igreja, os primeiros edifícios públicos, o mercado e as residências das famílias mais notáveis.
Destacadas personalidades caraqueñas, como Andrés Bello, José Félix Ribas, José Antonio Rodríguez Domínguez, Manuel de Clemente e Francisco de Berroterán (marquês do Valle de Santiago), adquiriram propriedades na região para cultivo e descanso.
Os Caminhos Reais contribuíram para o desenvolvimento econômico local, transformando Petare em um entroncamento estratégico para viajantes e comerciantes que transitavam de Caracas, Baruta e El Hatillo rumo a Guarenas e Mariches. No local, ocorria um dinâmico intercâmbio de produtos agrícolas e mercadorias, e o povoado passou a ser conhecido como Los Portales. Entre esses caminhos, destacava-se aquele que ligava Caracas a Petare e, a partir da quebrada de Santa Rosa, passava por Sabana Grande (pela Calle Real de Sabana Grande [Chacao]), Los Dos Caminos, Boleita e o próprio Petare – ou seja, o centro colonial da cidade. Quase sem alterações, esse Camino Real foi, por volta do século XX, transformado na avenida Francisco de Miranda, com curvas suaves e sem trechos retilíneos.[16]
Formação e expansão das favelas
editarNo início da década de 1960, as favelas de Petare começaram a se consolidar como assentamentos informais localizados nas colinas do nordeste e sudeste desta paróquia de Caracas, Estabelecendo o início de um processo de urbanização espontânea impulsionado pela migração interna de zonas rurais da Venezuela. As famílias recém-chegadas, sem acesso à moradia na cidade, ocuparam terrenos em encostas íngremes e construíram suas casas com materiais de descarte, enfrentando condições precárias como ruas de terra que se transformavam em lamaçais durante as chuvas.[17]
Esse processo gerou um choque cultural entre os valores rurais trazidos pelos migrantes e a vida urbana, dando origem a um imaginário geográfico que interpretava Petare como um território de exclusão e marginalização. A expansão do habitat informal estendeu-se de San Isidro até a Vuelta del Águila, formando um contínuo urbano de aproximadamente 126 quilômetros quadrados, caracterizado por uma alta densidade populacional, consolidando-se como a maior e mais superlotada favela da América Latina. A paisagem física de Petare amostra essa condição, com colinas, barrancos, planícies, cursos d’água e uma rede intrincada de vielas, becos e escadarias por onde correm águas residuais. As moradias apresentam diferentes níveis de consolidação, desde estruturas relativamente estáveis até construções improvisadas, e nas áreas mais empobrecidas percebe-se o odor ácido característico da miséria extrema.[17]
Referências
- ↑ «Petare | Caracas Suburb, Urbanization, Favela | Britannica». www.britannica.com (em inglês). Consultado em 26 de março de 2025
- ↑ «Las villas miseria, visibles pero ignoradas en Latinoamérica – DW – 10/06/2020». dw.com (em espanhol). Consultado em 26 de março de 2025
- ↑ Portugal, Rádio e Televisão de (25 de outubro de 2017). «Petare: onde não se vive mas sobrevive». Petare: onde não se vive mas sobrevive. Consultado em 26 de março de 2025
- ↑ NTN24. «Petare, el barrio más grande de América Latina, celebra 400 años | NTN24.COM». NTN24 (em espanhol). Consultado em 23 de março de 2025
- ↑ Márquez, Humberto (31 de outubro de 2017). «Barriadas grandes, servicios pequeños en urbes latinoamericanas». IPS Agencia de Noticias (em espanhol). Consultado em 23 de março de 2025
- ↑ de Alcántara, Tina (22 de maio de 2022). «Los 5 barrios más peligrosos del mundo, el tercero te sorprenderá». El Periódico Extremadura (em espanhol). Consultado em 23 de março de 2025
- ↑ «Bienvenidos al barrio más grande, hacinado y peligroso de América Latina (fotos) — idealista/news». www.idealista.com (em espanhol). 19 de novembro de 2014. Consultado em 23 de março de 2025
- ↑ Portugal, Rádio e Televisão de (25 de outubro de 2017). «Petare: onde não se vive mas sobrevive». Petare: onde não se vive mas sobrevive. Consultado em 26 de março de 2025
- ↑ «Projeto venezuelano usa ex-delinquentes contra a violência». BBC News Brasil. 9 de julho de 2013. Consultado em 26 de março de 2025
- ↑ ROJAS, Oscar (2000). Novo Minidicionário Escolar Espanhol. São Paulo: Difusão Cultural do Livro (DCL). p. 70. ISBN 85-7338-349-6
- ↑ Infopédia. «barrio | Tradução de barrio no Dicionário Infopédia de Espanhol - Português». Dicionários infopédia da Porto Editora. Consultado em 26 de março de 2025
- ↑ «Proyección de población INE por parroquias». Consultado em 7 de março de 2021. Arquivado do original em 24 de março de 2018
- ↑ Portugal, Rádio e Televisão de (25 de outubro de 2017). «Petare: onde não se vive mas sobrevive». Petare: onde não se vive mas sobrevive. Consultado em 17 de março de 2025
- ↑ a b Carvallo, Anastasia. Tutor: Armando, Alessandro; Sanchez Taffur Victor. «DISPELLING THE G A P: An urban focus for the integration of North Petare» (PDF) Tese ed. Consultado em 26 de março de 2025. Cópia arquivada em 26 de março de 2025
- ↑ petaorg (2 de agosto de 2024). «Historia de Petare: Desde su fundación hasta hoy». Petare.org (em espanhol). Consultado em 17 de março de 2025
- ↑ Piñero, Jesús. «Petare: de pueblo a barrio, una breve historia». Cinco8 (em espanhol). Consultado em 17 de março de 2025
- ↑ a b Aché Aché, Daniel (2020). Email: acheachedb@gmail.com; Twitter: @ache_daniel. «Geografía relatada: Petare lugar central y geografía del realismo mágico.» (PDF) Primera ición ed. Caracas: 215–216. Consultado em 26 de março de 2025. Cópia arquivada (PDF) em 26 de março de 2025