Reino de Judá

reino localizado na região meridional israelita; 930–586 a.C.
(Redirecionado de Povo de Judá)


O Reino de Judá (em hebraico: מַמְלֶכֶת יְהוּדָה; romaniz.: Mamlekhet Yehuda), antiga região no atual Oriente Médio que limitava-se ao norte com o antigo Reino de Israel, a oeste com a região costeira da Filístia, ao sul com o deserto de Negueve, e a leste com o rio Jordão e o mar Morto e o Reino de Moabe. Era uma região alta, geograficamente isolada por colinas de montanhas ao oeste, o mar Morto a leste e pelo deserto de Negueve ao sul. Sua capital era Jerusalém, onde encontrava-se o Templo de Jerusalém, o qual segundo a Bíblia, teria sido erigido por ordem do rei Salomão para abrigar a Arca da Aliança (ou Arca do Pacto). Segundo a Estela de Tel Dã ("House of David", estela do século IX a.C. da região de ), o Reino de Judá realmente existiu, em alguma forma, pelo menos em meados do século IX a.C.,[1][2][3] mas faz pouco para mostrar até que ponto.

Reino de Judá

931 a.C. – 587 a.C.
Localização de Judá
Localização de Judá
Mapa da região no século IX a.C.
Continente Ásia
Região Oriente Médio
Capital Jerusalém
Língua oficial hebraico
Religião Judaísmo e politeísmo cananeu
Governo Monarquia
Período histórico Idade do Ferro Levantina
 • 931 a.C. Revolta de Jeroboão
 • 587 a.C. Cerco de Jerusalém (587 a.C.)
Atualmente parte de  Israel

Após a divisão do reino, no quinto ano do reinado do rei Roboão, o faraó Sisaque I invadiu o território dos hebreus e transformou o Reino de Judá num estado tributário. Esse fato evidenciado no relato bíblico (II Crônicas 12.2) e comprovado por inscrições egípcias. (Inscrição mural sobre Sisaque I no Templo de Carnaque e a estela de Megido). Devido à sua posição estratégica às portas da península do Sinai e acesso ao Baixo Egito, foi utilizada pelo faraó como um Estado tampão, o que lhe pouparia de usar seus próprios exércitos para defender esta fronteira.

O Reino de Judá entrou em conflitos com os reinos de Moabe, Amom e os filisteus. A Bíblia afirma que o Reino de Judá permaneceu, de maneira geral, fiel à sua fé em Deus (Javé ou Jeová), enquanto que Israel setentrional tornara-se fortemente influenciado pela cultura cananeia e pela religião fenícia. O culto a Hashem e preservação da linhagem real davídica do qual deveria vir o prometido Messias, de acordo com os profetas do Antigo Testamento, a justificativa para a misericórdia de Deus sobre o Reino de Judá, ao passo que o politeísmo do Reino de Israel teria sido responsável por sua ira sobre seus governantes (enquanto o Reino de Judá permaneceu sob a dinastia dos descendentes do rei David, o Reino de Israel passou por várias dinastias e golpes de Estado).

A arqueologia vem demonstrando que, durante os séculos IX e VIII a.C., Judá não passava de uma região atrasada, predominantemente rural, prejudicado pelo isolamento geográfico e com uma população politeísta formada principalmente por pastores nômades e mencionado por fontes estrangeiras pela primeira vez apenas em 750 a.C., dois séculos após a formação do Reino de Israel. Este, por outro lado, localizado numa região mais privilegiada para a agricultura e rota de comércio entre os portos fenícios e os estados mesopotâmicos, gozou de grande desenvolvimento anterior, durante os séculos IX e VIII a.C., estendendo suas fronteiras entre os territórios arameus ao norte da Galileia, instalando palácios em diversas partes do reino e formando um poderoso exército.[4]

O Reino de Judá viu o perigo das potências estrangeiras emergentes quando a capital de Israel, Samaria foi tomada pelo rei assírio Sargão II, em 722 a.C., o que o levou a buscar prestar vassalagem junto à Assíria. Ironicamente, a destruição do reino do norte pelos assírios causou um grande florescimento do reino de Judá, ao sul. A população cresceu enormemente, alimentada pelos refugiados hebreus do norte e Jerusalém, antes uma pequena cidade de um reino pobre e isolado no sul, tornou-se o grande centro de influência entre todos os hebreus. Mais tarde, devido à recusa do rei Ezequias em continuar pagando tributos à Assíria, o rei Senaqueribe invadiu o Reino de Judá e sitiou Jerusalém, mas sem a conquistar. Segundo a Bíblia, o seu exército foi "subitamente destruído por obra de Deus". Os registros assírios em Nínive e os trabalhos arqueológicos realizados na região apontam para uma situação diferente. Embora Jerusalém tenha sido apenas saqueada e poupada da devastação e do terrorismo de estado praticados pelos assírios contra populações rebeldes, outras cidades do reino de Judá, como a rica Laquis, na região oeste do reino, não contaram com a mesma sorte e foram pilhadas, com seus moradores assassinados ou escravizados.[5] O rei Senaqueribe, ao encerrar sua campanha na Filistia, concedeu ao reino de Judá um saldo considerado como desastroso, incluindo a redução de um terço da população do reino e a perda da rica região do Sefelá, produtora de cereais, transferida pelos assírios aos seus vassalos filisteus.

Lista dos reis

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Para esta época, a maioria dos historiadores segue as cronologias estabelecidas por William Foxwell Albright ou Edwin R. Thiele, ou a nova cronologia de Gershon Galil. Além destas tem também a cronologia de Steve Rudd.[6] Todas elas são indicadas no quadro. Todas as datas são a.C. (Antes de Cristo).

Datas de Steve Rudd Datas de Albright Datas de Thiele Datas de Galil Nome comum/ Nome biblico Tradução alternativa Nome Hebraico Notas
931-914 a.C. 922–915 a.C. 931–913 a.C. 931–914 a.C. Roboão Reoboão רחבעם בן-שלמה מלך יהודה
Rehav’am ben Shlomoh
 
914-911 a.C. 915–913 a.C. 913–911 a.C. 914–911 a.C. Abias Abião
Abiam
אבים בן-רחבעם מלך יהודה
’Aviyam ben Rehav’am
 
911-870 a.C. 913–873 a.C. 911–870 a.C. 911–870 a.C. Asa   אסא בן-אבים מלך יהודה
’Asa ben ’Aviyam
 
872-848 a.C. 873–849 a.C. 870–848 a.C. 870–845 a.C. Josafá Josafat
Jeosafá
יהושפט בן-אסא מלך יהודה
Yehoshafat ben ’Asa
Co-Reinou com Asa por dois anos
853-841 a.C. 849–842 a.C. 848–841 a.C. 851–843 a.C. Jorão Jeorão יהורם בן-יהושפט מלך יהודה
Yehoram ben Yehoshafat
Co-Reinou com Josafá por cinco anos, foi assassinado
841 a.C. 842–842 a.C. 841–841 a.C. 843–842 a.C. Acazias Ocozias אחזיהו בן-יהורם מלך יהודה
’Ahazyahu ben Yehoram
Morto por Jeú, Rei de Israel
841-835 a.C. 842–837 a.C. 841–835 a.C. 842–835 a.C. Atália   עתליה בת-עמרי מלכת יהודה
‘Atalyah bat ‘Omri
Assassinada
835-796 a.C. 837–800 a.C. 835–796 a.C. 842–802 a.C. Joás Jeoás יהואש בן-אחזיהו מלך יהודה
Yehoash ben ’Ahazyahu
Assassinado
796-767 a.C. 800–783 a.C. 796–767 a.C. 805–776 a.C. Amassias Amazias אמציה בן-יהואש מלך יהודה
’Amatzyah ben Yehoash
Assassinado
790-739 a.C. 783–742 a.C. 767–740 a.C. 788–736 a.C. Uzias Ozias
Azarias
עזיה בן-אמציה מלך יהודה
‘Uziyah ben ’Amatzyah


עזריה בן-אמציה מלך יהודה
‘Azaryah ben ’Amatzyah

 
750-735 a.C. 742–735 a.C. 740–732 a.C. 758–742 a.C. Jotão Jotam יותם בן-עזיה מלך יהודה
Yotam ben ‘Uziyah
 
735-715 a.C. 735–715 a.C. 732–716 a.C. 742–726 a.C. Acaz   אחז בן-יותם מלך יהודה
’Ahaz ben Yotam
 
728-686 a.C. 715–687 a.C. 716–687 a.C. 726–697 a.C. Ezequias   חזקיה בן-אחז מלך יהודה
Hizqiyah ben ’Ahaz
 
696-642 a.C. 687–642 a.C. 687–643 a.C. 697–642 a.C. Manassés   מנשה בן-חזקיה מלך יהודה
Menasheh ben Hizqiyah
 
642-640 a.C. 642–640 a.C. 643–641 a.C. 642–640 a.C. Amom Amon אמון בן-מנשה מלך יהודה
’Amon ben Menasheh
Assassinado
640-609 a.C. 640–609 a.C. 641–609 a.C. 640–609 a.C. Josias   יאשיהו בן-אמון מלך יהודה
Yo’shiyahu ben ’Amon
Morreu em batalha
609-609 a.C. 609 a.C. 609 a.C. 609 a.C. Joacaz Jeoacaz יהואחז בן-יאשיהו מלך יהודה
Yeho’ahaz ben Yo’shiyahu
אחז בן-יאשיהו מלך יהודה
’Ahaz ben Yo’shiyahu
Deposto pelo faraó Neco II.
609-598 a.C. 609–598 a.C. 609–598 a.C. 609–598 a.C. Joaquim Jeoaquim יהויקים בן-יאשיהו מלך יהודה
Yehoyaqim ben Yo’shiyahu
 
598-597 a.C. 598 598 598–597 a.C. Jeconias Jeoaquin יהויכין בן-יהויקים מלך יהודה
Yehoyakhin ben Yehoyaqim
יכניהו בן-יהויקים מלך יהודה
Yekhonyahu ben Yehoyaqim
Deposto pelos Babilónios.
597-587 a.C. 597–587 a.C. 597–586 a.C. 597–586 a.C. Zedequias Sedecias
Matanias
צדקיהו בן-יהויכין מלך יהודה
Tzidqiyahu ben Yo’shiyahu
Ultimo Rei de Judá. Deposto e levado para o exílio.

A queda do Reino de Judá

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Levante ca. 830 a.C.

De acordo com o Antigo Testamento, Manassés, rei de Judá, teria feito o que é mau aos olhos de Deus, e por causa de suas obras, todo o Reino de Judá estava condenado ao exílio e à escravidão. Isso deve-se ao fato de Manassés ter permitido o culto politeísta das populações rurais do reino, o que não foi visto com bons olhos pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém, os quais defendiam um culto único a Hashem e a extinção completa dos cultos a outras divindades. Segundo registros assírios e achados arqueológicos, Manassés herdou de Ezequias um reino bastante combalido devido à campanha militar do rei Senaqueribe da Assíria, então a maior potência econômica e militar do Oriente Médio, empreendida contra aquele pequeno reino durante o reinado anterior, o que tornou extremamente árdua a tarefa em converter e destruir imagens. Manassés, sabendo das consequências e da impossibilidade em enfrentar de frente a potência assíria, buscou estreitar relações com essa nação, entrando de vez na rota do comércio árabe fomentado pelos assírios.

Durante o reinado de Josias, Rei de Judá, o faraó Necao II, aliado do já decadente Império Assírio, empreendendo uma guerra contra os exércitos de Babilônia chega até a região. Assim, em 609 a.C., trava-se a Batalha de Megido. O Rei de Judá entra em batalha para deter o exército egípcio do faraó Necao II, mas acaba por ser morto. Seu filho Joacaz é levado prisioneiro após três meses de reinado, e o Reino de Judá se torna tributário do Egito. Necao II impôs a coroação do irmão de Joacaz, Eliaquim, e mudou-lhe o nome para Joaquim. Em 605 a.C., trava-se a Batalha de Carquemis com a derrota definitiva de Necao II.

A leste, a Assíria sofreu um rápido declínio, e em poucos anos seu território foi absorvido pela Babilônia. [[[Nabucodonosor II, Rei da Babilônia, empreendeu uma campanha militar contra Judá. Enfrentando pouca resistência, conseguiu entrar em Jerusalém, em 597 a.C., e levou consigo utensílios do templo e o próprio rei Joaquim como prisioneiro. Em seu lugar, estabeleceu o filho de Joaquim, como Rei de Judá. Jeconias, com 18 anos de idade, teve o mesmo destino de seu pai três meses e 10 dias depois de sua coroação. Nabucodonosor então colocou sobre o trono o irmão de Joaquim, Zedequias.

Governando como vassalo da Babilônia, o Rei Zedequias manteve-se no poder por 11 anos, quando então rebelou-se contra Nabucodonosor, provavelmente ao recusar-se pagar tributo. Foi o suficiente para que invadisse Jerusalém, matasse seus habitantes, despojasse o templo de todos os seus bens de valor e ateasse fogo a ele. O Reino de Judá deixou assim de existir.

O destino de Judá

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No território de Judá permaneceram apenas os mais pobres. Todo o restante do povo que sobreviveu ao ataque de Nabucodonosor II foi levado às cidades do reino da Babilônia. O período do Cativeiro Babilônico estimulou entre o povo de Judá um sentimento de identidade racial e religiosa indissolúvel. O relato bíblico deste período entre a conquista de Jerusalém e a conquista da Babilônia por Ciro II é onde inicialmente se utiliza de forma consistente o termo "judeu" identificando o povo de Judá, ou aqueles da mesma etnia e seguidores da mesma religião deste povo. A nação judaica sobreviveu para retornar à Palestina e repovoar a província persa de Judá (Yehud), mais tarde denominada Judeia pelos romanos.

A história de Judá após o Cativeiro Babilônico passou a ser a mesma do próprio povo judeu, até os dias de hoje.

Ver também

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Referências

  1. Grabbe, Lester L. (28 de abril de 2007). Ahab Agonistes: The Rise and Fall of the Omri Dynasty. [S.l.]: Bloomsbury Publishing USA. ISBN 9780567251718 
  2. Cline, Eric H. (28 de setembro de 2009). Biblical Archaeology: A Very Short Introduction. [S.l.]: Oxford University Press. ISBN 9780199711628 
  3. Mykytiuk, Lawrence J. (1 de janeiro de 2004). Identifying Biblical Persons in Northwest Semitic Inscriptions of 1200-539 B.C.E. [S.l.]: Society of Biblical Lit. ISBN 9781589830622 
  4. Finkelstein, Israel; Silberman, Neil Asher (2001). The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts
  5. Finkelstein & Silberman 2001, The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts.
  6. «Bible Chronology of Kings of Judah, Israel Solved! divided kingdom 931 - 587 BC». www.bible.ca. Consultado em 2 de julho de 2022 

Bibliografia

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  • Finkelstein, Israel; Silberman, Neil A. The Bible Unearthed: Archaeology's New Vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts.
  • Friedman, Richard Elliott. Who Wrote The Bible
 
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