Dez pragas do Egito
Na tradição judaico-cristã, as pragas do Egito (em hebraico: מכות מצרים; romaniz.: Makot Mitzrayim), por vezes referidas como as dez pragas do Egito, foram dez calamidades que, de acordo com o livro bíblico do Êxodo (7-11), o Deus de Israel infligiu no Egito para convencer o faraó a libertar os hebreus (ou israelitas), maltratados pela escravidão. O faraó aceitou as condições de libertação de Deus (ou seja, desistiu) após a décima praga, provocando o êxodo do povo hebreu, que seguiram pelo deserto a caminho da terra de Canaã.
Os estudiosos concordam amplamente que o Êxodo não é um relato histórico. As tentativas de encontrar explicações naturais para as pragas foram rejeitadas pelos estudiosos bíblicos com base em que seu padrão, tempo, rápida sucessão e, acima de tudo, o controle por Moisés as tornam sobrenaturais.[1][2][3]
Motivação das Pragas
editarNo âmbito natural, algumas tentativas de explicação propuseram a hipótese de que as pragas são catástrofes ecológicas, motivadas principalmente pela explosão do vulcão na ilha grega de Santorini.[4]
No âmbito religioso, a Bíblia diz que as pragas serviram para contrastar o poder do Deus de Israel com os deuses egípcios, invalidando-os. Associação de várias das pragas com julgamento sobre deuses específicos, associados ao rio Nilo, fertilidade e fenômenos naturais.[5] De acordo com Êxodo 12:12, todos os deuses do Egito seriam julgados até à décima e última praga: "Naquela mesma noite Eu passarei pela terra do Egito e matarei todos os primogênitos, tanto dos homens como dos animais, e executarei Juízo sobre todos os deuses do Egito."
Pragas
editar- As águas do Rio Nilo tingem-se de sangue: Toda a água do Egito foi transformada em sangue e até mesmo os rios foram contaminados, vindo a morrer todos os peixes;
- Rãs cobrem a terra: Esta praga surgiu após Aarão (irmão de Moisés, que o acompanhou durante todo o processo) estender a mão sobre o Egito e, sob intercessão do Deus dos hebreus, fez surgir rãs de todos os lugares;
- Piolhos (ou mosquitos) atormentam homens e animais: Da mesma forma que o Egito foi infestado por rãs, desta vez vieram piolhos (ou mosquitos) a encobrir a população e todos os animais. Desencadeada também após Aarão estender as mãos sobre o Egito;
- Moscas escurecem o ar e atacam homens e animais: Bem semelhante às anteriores, a quarta praga deixou o Egito infestado de moscas. O Faraó concordou em libertar o povo e o Senhor retirou a praga, mas assim que percebeu que a praga havia cessado, o faraó voltou atrás na sua decisão, aprisionando o povo hebreu;
- A morte dos animais: Desta vez Moisés estendeu a mão sobre o Egito e por ordem do Senhor surgiu uma praga nos animais em que muitos morreram e grande foi a perda para os egípcios;
- Pústulas cobrem homens e animais: Diante da resistência do faraó, que a cada praga aceitava libertar o povo, mas assim que elas cessavam voltava a reter os hebreus como escravos, o Senhor ordenou a Moisés e a Aarão que enchessem suas mãos de cinzas e as jogassem para os céus. Assim o fizeram e as cinzas se transformaram em úlceras em todo o Egito, tanto nos animais como nas pessoas;
- Chuva de granizo destrói plantações: A resistência por parte do faraó se repetiu e assim, o Senhor pediu a Moisés para estender seu cajado por todo o Egito (exceto a região onde vivia o povo escolhido, o povo a ser liberto), e foi assim que uma chuva de pedras destruiu toda a plantação;
- Nuvem de gafanhotos ataca plantações: Nesta praga, pela oitava vez o Senhor tocou no povo egípcio a fim de fazer justiça e libertar seu povo; enviou um vento que passou seguido de inúmeros gafanhotos devorando muito do que possuía o faraó. Mais uma vez ele cedeu, mas somente até a praga cessar;
- Escuridão encobre o Sol por três dias: Desta vez, todo o céu do Egito se tornou trevas e passaram dias na escuridão (menos onde estavam os filhos de Israel). O que também não foi suficiente para convencer o faraó a libertar o povo de vez, dado que era o Senhor que fazia com que o faraó não cedesse.
- Os primogênitos de homens e animais morrem: Esta foi a última praga, em que todos os primogênitos foram mortos, desde os animais até os servos, inclusive o filho do próprio faraó. Houve grande comoção no Egito quando por fim, após muita insistência, o faraó concordou em deixar o povo sair. De acordo com as escrituras, o faraó chegou a arrepender-se, indo atrás do povo, tentando capturá-lo de novo, porém sem sucesso, sendo que os soldados morrem afogados. Essa passagem bíblica ficou popularmente conhecida como “Deus abriu o mar vermelho”.
Associação das Pragas e o Julgamento dos deuses
editar- No âmbito religioso, a Bíblia diz que as pragas serviram para subjugar deuses egípcios específicos:
- As águas do Rio Nilo tingem-se de sangue: Humilhação do deus-Nilo, Hápi. A morte dos peixes foi também um golpe contra a religião egípcia, pois certas espécies de peixes eram veneradas (Êx 7:19-21).[6]
- Rãs cobrem a terra: Humilhação da deusa-rã, Heqt. A rã é o símbolo da fertilidade e da ressurreição no conceito egípcio (Êx 8:5-14).[6]
- Piolhos (ou mosquitos) atormentam homens e animais: Humilhação ao deus Tot. Referente à invenção da magia ou das artes secretas. A praga resultou em os sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram incapazes de transformar o pó em piolhos (ou mosquitos), por meio da magia (Êx 8:16-19).[6]
- Moscas atacam homens e animais: Humilhação do deus Ptah, criador do universo, novamente Tot, senhor da magia (Êx 8:23,24).[6]
- A morte dos animais: Humilhação de vários deuses, tais como: Seráfis (Ápis) — deus sagrado de Mênfis do gado —, a deusa-vaca, Hator e a deusa-céu, Nut, imaginada como uma vaca, com as estrelas afixadas na sua barriga (Êx 9:4 e 7).[6]
- Pústulas cobrem homens e animais: Humilhação da deusa-rainha do céu do Egito, Neite (Êx 9:11).[6]
- Chuva de granizo destrói plantações: Humilhação dos deuses que controlam os elementos naturais; tais como: deus da água, Íris e deus de fogo, Osíris (Êx 9:13-35).[6]
- Nuvem de gafanhotos ataca plantações: Humilhação dos deuses responsáveis pela abundante colheita. O deus do ar, Xu e deus-inseto, Sebeque (Êx 10:12-15).[6]
- Escuridão encobre o Sol por três dias: Humilhação do deus principal do Egito, Rá, o deus-sol que foi escondido por trevas (Êx 10:23).[6]
- Os primogênitos de homens e animais morrem: Resultou na maior humilhação para os deuses egípcios, os governantes do Egito — que chamavam a si mesmos de deuses, filhos de Rá ou Amom-Rá (Êx 12:12).[6]
Ver também
editarReferências
- ↑ Moore, Megan Bishop, 1972-. Biblical history and Israel's past : the changing study of the Bible and history. Grand Rapids, Mich.: [s.n.] OCLC 693560718
- ↑ Meyers, Carol L. (2005). Exodus. Cambridge: Cambridge University Press. OCLC 252512778
- ↑ Berlin, Adele; Brettler, Marc Zvi; Fishbane, Michael A.; Jewish Publication Society (2004). The Jewish study Bible : Jewish Publication Society Tanakh translation. [S.l.]: Oxford ; New York : Oxford University Press
- ↑ Gray, Richard (27 de março de 2010). «Biblical plagues really happened say scientists» (em inglês). The Telegraph. Consultado em 18 de setembro de 2015
- ↑ Commentary on Exodus 7, The Jewish Study Bible, 2004. Berlin A and Brettler M, eds., Oxford University Press. ISBN 0-19-529751-2
- ↑ a b c d e f g h i j «O que representavam as 10 pragas do Egito e quais são os deuses que estão relacionados com elas?». Portal Biblia. Consultado em 23 de fevereiro de 2016
Bibliografia
editar- Collins, John J. (2005). The Bible After Babel: Historical Criticism in a Postmodern Age. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802828927
- Enmarch, Roland (2011). «The Reception of a Middle Egyptian Poem: The Dialogue of Ipuwer and the Lord of All». In: Collier, M.; Snape, S. Ramesside Studies in Honour of K. A. Kitchen (PDF). [S.l.]: Rutherford. Consultado em 28 de novembro de 2020. Cópia arquivada (PDF) em 3 de março de 2016
- Faust, Avraham (2015). «The Emergence of Iron Age Israel: On Origins and Habitus». In: Thomas E. Levy; Thomas Schneider; William H.C. Propp. Israel's Exodus in Transdisciplinary Perspective: Text, Archaeology, Culture, and Geoscience. [S.l.]: Springer. ISBN 978-3-319-04768-3
- Greifenhagen, F.V. (2000). «Plagues of Egypt». In: Freedman, David Noel; Myers, Allen C. Eerdmans Dictionary of the Bible. [S.l.]: Amsterdam University Press. ISBN 9789053565032
- Herzog, Ze'ev (29 de outubro de 1999). «Deconstructing the walls of Jericho». lib1.library.cornell.edu. Ha'aretz. Consultado em 9 de fevereiro de 2019. Arquivado do original em 10 de novembro de 2001
- Johnstone, William D. (2003). «Exodus». In: Dunn, James D. G.; Rogerson, John William. Eerdmans Commentary on the Bible. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802837110
- Leon, Donna (2011). Handel's Bestiary: In Search of Animals in Handel's Operas. [S.l.]: Grove Press. ISBN 978-0802195616
- Meyers, Carol (2005). Exodus. [S.l.]: Cambridge University Press. ISBN 9780521002912
- Moore, Megan Bishop; Kelle, Brad E. (2011). Biblical History and Israel's Past. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802862600
- Redmount, Carol A. (2001) [1998]. «Bitter Lives: Israel In And Out of Egypt». In: Coogan, Michael D. The Oxford History of the Biblical World. [S.l.]: OUP. ISBN 9780199881482
- Rogerson, John W. (2003b). «Deuteronomy». In: Dunn, James D. G.; Rogerson, John William. Eerdmans Commentary on the Bible. [S.l.]: Eerdmans. ISBN 9780802837110
- Tigay, Jeffrey H. (2004). «Exodus». In: Berlin, Adele; Brettler, Marc Zvi. The Jewish Study Bible. [S.l.]: Oxford University Press
- Van Seters, John (2015). The Pentateuch: A Social Science Commentary. [S.l.]: Bloomsbury. ISBN 9780567658807