Primeira Batalha de Dongola
A Primeira Batalha de Dongola foi uma batalha entre as forças árabe-muçulmanas do Califado Ortodoxo e as forças Núbio-Cristãs do Reino de Macúria em 642. A batalha, que resultou na vitória de Macúria, interrompeu temporariamente as incursões árabes na Núbia e deu o tom para uma atmosfera de hostilidade entre as duas culturas que resultou na Segunda Batalha de Dongola em 652.
Primeira Batalha de Dongola | |||
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Expansão islâmica | |||
Arqueiro Núbio segundo o Códice Casanatense (século XVI).
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Data | Verão de 642 [1] | ||
Local | Norte da Núbia, atual Sudão | ||
Desfecho | Vitória da Macúria | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Forças | |||
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Baixas | |||
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Antecedentes
editarNo século VI, a área que antes estava sob o domínio do reino de Cuxe se converteu ao cristianismo. Incluindo os reinos de Alódia, Macúria e Nobácia, que ficavam na fronteira sul do Egito. Mais de um século depois, o islamismo unificou as tribos nômades árabes que formaram uma força militar e política em expansão em 632. Em 640, o líder militar e sahaba Anre ibne Alas conquistou o Egito do Império Bizantino e se tornou o primeiro governador califal do Egito. Para consolidar o controle muçulmano sobre o Egito, era inevitável assegurar as fronteiras a oeste e ao sul. Anre então enviou expedições para atacar os bizantinos do norte da África e os núbios de Macúria.
A batalha
editarEm 642, Anre ibne Alas enviou um exército composto por vinte mil cavaleiros sob comando de seu seu primo Uqueba ibne Nafi contra a Macúria. Uqueba e seu exército conseguiram chegar até as portas de Dongola, a capital da Macúria. No entanto, em uma rara reviravolta, as forças árabes foram derrotadas.[4]
Segundo o historiador Al-Baladuri, os muçulmanos descobriram que os núbios lutavam bravamente e os enfrentaram com chuvas de flechas. A maioria das forças árabes voltou com os olhos feridos e cegos. Foi assim que os núbios ganharam o apelido de "eliminadores de pupilas".[7] Baladuri também declara, que foi para a Núbia duas vezes durante o reinado do califa Omar.[6]
- Um dia eles saíram contra nós e formaram uma linha; nós queríamos usar espadas, mas não pudemos, eles atiraram em nós e colocaram suas flechas em nossos olhos em número de cento e cinquenta. [8]
A vitória núbia em Dongola foi uma das poucas derrotas do Califado Ortodoxo em meados do século VII. Com a precisão mortal de seus arqueiros, e suas próprias forças de cavalaria, Macúria conseguiu sacudir a confiança de Anre a ponto que retirasse suas forças da Núbia.[5]
Retirada árabe da Núbia
editarSob o ponto de vista dos muçulmanos da época a expedição à Núbia não foi uma derrota muçulmana e, ao mesmo tempo, reconheceu que não foi um sucesso. A expedição à Núbia, assim como a bem-sucedida expedição ao norte bizantino da África, foram realizadas por Anre ibne Alas por sua própria conta. Anre acreditou que seriam vitórias fáceis e que as informariam ao califa Omar após obter as conquistas.[1]Jay Spaulding[9]
Estas fontes deixaram claro que não ocorreram batalhas campais na Núbia. No entanto, mencionam um encontro entre Uqueba ibne Nafi e suas forças com uma concentração de núbios que prontamente lhes deram batalha antes que os muçulmanos pudessem reagir. Neste engajamento alegam que 150 muçulmanos perderam um olho.[8]
Eles dão mais crédito às táticas de guerrilha núbia do que a uma única batalha decisiva. Afirmam que os núbios visualizavam seus adversários muçulmanos de longe, e atacavam com suas flechas. Essa afirmação, junto com a alegação de que os cavaleiros núbios eram superiores à cavalaria muçulmana em táticas de carga e fuga, foi usada para sustentar sua posição de que os núbios os estavam vencendo em escaramuças e não em batalhas.[10]
Independentemente da situação, Uqueba ibne Nafi foi incapaz de obter sucesso em sua expedição e escreveu de volta à seu primo que não poderia ganhar contra tais táticas e que a Núbia era uma terra muito pobre, sem nenhum tesouro pelo qual valha a pena lutar. Uqueba pode não ter exagerado, já que a Núbia está cercada por desertos impiedosos. Ao receber esta notícia, Anre ordenou que seu primo se retirasse, o que ele fez. [11]
Consequências
editarAl-Baladuri declara que Anre decidiu retirar suas forças por duas razões principais: que havia pouco tesouro a ser obtido e que as forças armadas núbias provaram ser consideráveis. Assim, pensou-se melhor em fazer a paz. Contudo; ele não estava disposto a parar de fazer campanhas em outros lugares, e a paz entre o Egito muçulmano e a Macúria cristã só se materializou realmente na sucessão de Abedalá ibne Sade em 645.[6] Esta paz duraria até a Segunda Batalha de Dongola, cujo resultado se tornou um dos mais longos tratados de paz da história registrada.
Referências
- ↑ a b c Ashraf, Shahid (2004). Encyclopaedia Of Holy Prophet And Companion (Set Of 15 Vols.) (em inglês). [S.l.]: Anmol Publications Pvt. Limited, pp. 180-181. ISBN 9788126119400
- ↑ Fage, John Donnelly; Fage, J. D.; Clark, John Desmond; Oliver, Roland Anthony; Gray, Richard; Flint, John E.; Roberts, A. D. (1975). The Cambridge History of Africa (em inglês). [S.l.]: Cambridge University Press, p. 564. ISBN 9780521215923
- ↑ Hrbek, Ivan; El Fasi, M. (1992). UNESCO General History of Africa, Vol. III Africa from the Seventh to the Eleventh Century (em inglês). [S.l.]: University of California Press, p. 103. ISBN 9780520066984
- ↑ a b Jennings, Anne M. (1995). The Nubians of West Aswan:. Village Women in the Midst of Change (em inglês). [S.l.]: Lynne Rienner Publishers, p. 25. ISBN 9781555875923
- ↑ a b Jr, Richard A. Lobban (2003). Historical Dictionary of Ancient and Medieval Nubia (em inglês). [S.l.]: Scarecrow Press, pp.147-148. ISBN 9780810865785
- ↑ a b c Cambridge History of Africa, p. 565
- ↑ Byfield, Ted; Stanway, Paul (2004). The Sword of Islam:. A.D. 565 to 740 : the Muslim Onslaught All But Destroys Christendom (em inglês). [S.l.]: Christian History Project, p. 69. ISBN 9780968987346
- ↑ a b Shinnie, Peter (2013). Ancient Nubia (em inglês). [S.l.]: Routledge, p. 123. ISBN 9781136164651
- ↑ Medieval Christian Nubia and the Islamic World: A Reconsideration of the Baqt Treaty in The International Journal of African Historical Studies Vol. 28, No. 3 (1995), pp. 577-594 doi:10.2307/221175
- ↑ Morgan, Robert (2016). History of the Coptic Orthodox People and the Church of Egypt (em inglês). [S.l.]: FriesenPress, p. 258. ISBN 9781460280287
- ↑ Morgan. History of the Coptic Orthodox ... [S.l.]: p. 259