Princípios de Filosofia

(Redirecionado de Princípios de filosofia)

Princípios da Filosofia (em latim: Principia Philosophiae) é um livro de René Descartes. Em essência, trata-se de uma síntese do Discourse on Method e das Meditations on First Philosophy. Escrito em Latim, foi publicado em 1644 e dedicado a Isabel da Boêmia (Elisabeth of Bohemia), com quem Descartes manteve longa amizade. Uma versão em francês (Les Principes de la Philosophie) apareceu em 1647.[1]

Principia Philosophiae, de René Descartes, impresso em 1656. Este exemplar pertence à coleção de livros raros de Tom Slick, na biblioteca do Southwest Research Institute, em San Antonio, Texas.

O livro expõe os princípios da natureza — as Leis da Física — segundo a visão de Descartes. Em especial, apresenta o princípio de que, na ausência de forças externas, o movimento de um objeto será uniforme e em linha reta. Newton apropriou-se desse princípio de Descartes e o incluiu em seus próprios Principia; até hoje, costuma ser referido como Primeira Lei de Newton.[2] O livro destinava-se, sobretudo, a substituir o currículo aristotélico então adotado nas universidades francesas e britânicas. A obra fornece uma exposição sistemática de sua metafísica e filosofia natural, representando o primeiro relato verdadeiramente mecanicista do universo.[3]

Conteúdo

editar

Prefácio à edição francesa

editar

Descartes solicitou ao abade Claude Picot que traduzisse seu Principia Philosophiae em latim para o francês. Para essa edição, escreveu um prefácio disfarçado em forma de carta ao tradutor, com o título “Carta do autor ao tradutor do livro, que pode servir de prefácio”. Foi publicado em 1647, quando Descartes estava com 51 anos, já no período maduro e final de sua vida. Nesse texto, Descartes oferece reflexões sobre suas ideias de sabedoria e filosofia. Seu conteúdo pode ser resumido assim:[4]

 
Ilustração do movimento de objetos em Princípios, 316x316px
Conceito de filosofia

Filosofia é o estudo da sabedoria, entendida como a habilidade de conduzir as atividades humanas; e também como o conhecimento perfeito de todas as coisas que o homem pode saber para orientar sua vida, manter sua saúde e conhecer as artes. Apenas Deus é perfeitamente sábio, e o homem é mais ou menos sábio conforme o conhecimento que tenha das verdades mais importantes.[5]

Os graus de conhecimento

Descartes identifica quatro graus de conhecimento, que chama de comuns, e um quinto grau que denomina superior. O primeiro grau consiste em noções claras e evidentes que podem ser adquiridas sem necessidade de meditação. O segundo grau é tudo aquilo que se aprende por meio dos sentidos. O terceiro reúne o que aprendemos conversando com os outros. O quarto consiste no que podemos aprender nos escritos daqueles capazes de fornecer bons ensinamentos.[5]

Sabedoria superior

Ao longo da história, houve grandes pessoas que buscaram uma sabedoria melhor e mais segura, um “quinto grau” de conhecimento. Isso envolveu a busca pelas primeiras causas, e aqueles que seguiram esse caminho receberam o nome de filósofos, mas Descartes acredita que nenhum tenha alcançado êxito até então.[5]

Dúvida e certeza

Desde Platão e Aristóteles, discute-se dúvida e certeza. Os que defendiam a dúvida chegavam ao extremo de duvidar mesmo das coisas mais evidentes, enquanto os que procuravam a certeza confiavam excessivamente nos sentidos. Embora se aceitasse que os sentidos pudessem enganar-nos, segundo Descartes, ninguém havia afirmado ainda que a verdade não pode basear-se nos sentidos, mas no entendimento, quando este se apoia em percepções evidentes.[5]

Meditações sobre a filosofia primeira

A busca pelas primeiras causas, ou verdades fundamentais, empreendida por Descartes, encontra-se nesta obra, que esclarece os princípios metafísicos sobre os quais se constrói o restante do conhecimento.[5]

A árvore da filosofia

Descartes descreve a filosofia como uma árvore, cujas raízes são a metafísica, o tronco é a física, e os ramos são as demais ciências — principalmente a medicina, a mecânica e a moral, que constituem o último grau da sabedoria. Do mesmo modo que os frutos se encontram nas partes externas da árvore, a utilidade da filosofia também está nas áreas que derivam de sua base.[5]

Corpo da obra

editar

Há quatro partes:[5]

  • Parte I – Sobre os Princípios do Conhecimento Humano
  • Parte II – Sobre os Princípios das Coisas Materiais
  • Parte III – Sobre o Mundo Visível
  • Parte IV – Sobre a Terra.[6]

Exemplares e edições modernas

editar

Um exemplar do Principia Philosophiae datado de 1656 pertence à coleção de livros raros de Tom Slick no Southwest Research Institute (Texas). Em 1722, foi traduzido para o italiano por it. (cf. C. Landolfi, Giuseppa Eleonora Barbapiccola: Opere scelte, Mirista-moderna, Salerno, 2024)

Em 1983, a editora holandesa D. Reidel publicou uma edição em inglês do Principia Philosophiae (ISBN 90-277-1451-7), traduzida por Valentine Rodger e Reese P. Miller, com notas explicativas. Embora seja a tradução da obra latina original de 1644, essa edição inclui material adicional da tradução francesa de 1647.

Ver também

editar
Obras relacionadas
  1. Guy Durandin, Les Principes de la Philosophie. Introduction et notes, Librairie Philosophique J. Vrin, Paris, 1970.
  2. D. T. Whiteside, "The prehistory of the Principia", Notes Rec. R. Soc. Lond. 45/13 (1991).
  3. Watson, Richard A. (1998). «René Descartes». Britânica Online 
  4. René Descartes. «Letter of the Author to the French Translator of the Principles of Philosophy serving for a preface». John Veitch (trans.). Consultado em 7 de fevereiro de 2025 
  5. a b c d e f g Principia philosophiae (livro digital gratuito no Google Books, edição de 1644)
  6. René Descartes. «Selections from the Principles of Philosophy of Rene Decartes (1596-1650)». John Veitch (trans.). Consultado em 7 de fevereiro de 2025 

Ligações externas

editar