Protestos no Mali em 2020
Os protestos de 2020 no Mali começaram em 5 de junho de 2020, quando manifestantes se reuniram nas ruas de Bamako, Mali, pedindo que Ibrahim Boubacar Keïta renunciasse ao cargo de presidente do país. A crise politica agravou-se com advertências sobre um possível motim. Em 18 de agosto, ocorreram tiroteios nas ruas de Kati que conduziram a um golpe de Estado no mesmo dia. O presidente e o primeiro-ministro foram detidos à tarde e os soldados amotinados anunciaram eleições e governo civil. À meia-noite de 18 de agosto, o presidente anunciou que deixará o poder e se demitirá, o que provocou comemorações nas ruas do Mali a partir de 20 de agosto. [2][3][4][5][6]
Protestos no Mali em 2020 | |||||||||||||
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Participantes do conflito | |||||||||||||
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Líderes | |||||||||||||
(sem liderança centralizada)
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Ibrahim Boubacar Keïta (Presidente do Mali) Boubou Cissé (Primeiro-ministro do Mali) Tiéna Coulibaly (Ministro da Defesa) Moussa Timbiné (Presidente da Assembleia Nacional) | ||||||||||||
Baixas: 11 mortes e 124 feridos |
Histórico
editarAntecedentes
editarAs razões que espoletaram os protestos e a crise política estão a instabilidade de segurança no centro e norte do país devido a violência intercomunitária e jihadista, a estagnação econômica, a corrupção, o sequestro de Soumaila Cissé - um líder da oposição - e a disputa pelos resultados das eleições legislativas de março-abril de 2020. [7][8]
A tensão estava fervilhando desde que irregularidades foram relatadas durante as eleições presidenciais de 2018. [9]
A Guerra do Mali em curso também agravava a situação do país. Os relatórios da Human Rights Watch (HRW) documentaram abusos do exército contra civis nas regiões centrais de Mopti e Ségou,[10] dezenas de ataques por grupos armados em 2019 que resultaram em 456 civis mortos e centenas de feridos. [11] Outras doze pessoas foram mortas devido aos ataques de dissidentes fulas em Mopti em abril. [12]
Os opositores também questionaram a forma como o governo lidou com a pandemia de COVID-19.[13] Os dois primeiros casos foram notificados em 25 de março de 2020, [14] e no final de maio havia 1.265 casos e 77 mortes. [15]
Primeiro turno das eleições de 2020
editarApós repetidos adiamentos, [16][17][18] o primeiro turno das eleições parlamentares de 2020 foi finalmente realizado em 29 de março de 2020.
O líder da oposição Soumaïla Cissé e membros de sua equipe eleitoral foram sequestrados por jihadistas três dias antes da eleição; seu paradeiro é desconhecido. [19]
As assembleias de voto foram saqueadas, os líderes de aldeias foram sequestrados e uma bomba à beira da estrada matou nove pessoas, incluindo três soldados, no dia das eleições, 29 de março. [20] A participação eleitoral foi mantida em apenas 12% em Bamako. [21]
Segundo turno das eleições de 2020 e crise pós-eleitoral
editarPreocupações relacionadas com a violência dominaram o segundo turno das eleições. [9] Pelo menos 25 soldados foram mortos em um ataque a uma base militar na cidade de Bamba, região de Gao, no norte do país, em 6 de abril [22]
Os incidentes de 19 de abril impediram que algumas pessoas votassem e, em 30 de abril, o Tribunal Constitucional anulou os resultados em 31 distritos, dando ao Rassemblement pour le Mali, liderado pelo presidente Ibrahim Boubacar Keita, dez assentos a mais do que o esperado. [9] Os partidos de oposição liderados pelo Imame Mahmoud Dicko estabeleceram o Movimento 5 de Junho - Reunião das Forças Patrióticas (Mouvement du 5 juin - Rassemblement des forces patriotiques, em francês) em 30 de maio, e milhares foram às ruas em protesto em 5 de junho. [9]
Boubou Cissé foi reconduzido ao cargo de primeiro-ministro em 11 de junho, quando foi instruído a formar um novo governo.[9]
Dezenas de milhares de malineses protestaram novamente em 19 de junho, exigindo a renúncia do presidente Keita. [23]
Em 20 de junho, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) solicitou a realização de novas eleições. [23]
O presidente Ibrahim Boubacar Keïta e o imame Mahmoud Dicko se reuniram em 5 de julho, [24] mas a oposição continuou a apelar à desobediência civil para forçar a renúncia de Keïta e a dissolução do Parlamento. [9]
Os protestos se tornaram violentos em 10 de julho. [9] Nos três dias seguintes, os manifestantes em Bamako entraram em confronto com as forças de segurança, [25] que teriam disparado munição real contra os manifestantes, matando pelo menos 11 e ferindo 124. [26]
Em 23 de julho, os presidentes Muhammadu Buhari (Nigéria), Mahamadou Issoufou (Níger), Nana Akufo-Addo (Gana), Alassane Ouattara (Costa do Marfim) e Macky Sall (Senegal) chegaram a Bamako para se reunirem com o presidente Keita e os líderes da oposição após uma missão de mediação da CEDEAO fracassada. [27]
Em 27 de julho, a CEDEAO solicitou a criação de um governo de unidade e advertiu sobre sanções. [9]
Nove novos juízes, considerados apoiantes de Keita, foram nomeados para o Tribunal Constitucional a 10 de agosto, em resposta aos pedidos de reforma da CEDEAO. [9]
Milhares se reuniram na Praça da Independência em Bamako em 11 de agosto, onde foram recebidos com gás lacrimogêneo e canhões de água. [28]
A oposição anunciou protestos diários a partir de 17 de agosto. [9]
Consequências: Golpe de Estado
editarSoldados amotinados prenderam o presidente Ibrahim Boubacar Keïta e o primeiro-ministro Boubou Cissé após assumirem um acampamento militar perto de Bamako na manhã de 18 de agosto. [29]
No início da manhã de 19 de agosto, o presidente Ibrahim Boubacar Keïta anunciou sua renúncia e dissolveu o parlamento. [30] Mahmoud Dicko anunciou que estava deixando a política. [31] O coronel Assimi Goïta é nomeado para chefiar o novo governo, o Comitê Nacional para a Salvação do Povo (em francês: Comité national pour le salut du peuple, CNSP). [32][33]
Referências
- ↑ «Líder dos protestos no Mali apela para calma». Deutsche Welle. 12 de julho de 2020
- ↑ Maclean, Ruth (16 Julho 2020). «Anger at Mali's President Rises After Security Forces Kill Protesters». The New York Times. ISSN 0362-4331
- ↑ «Mali PM apologises for security force 'excesses' during protests». Reuters. 17 de Julho de 2020
- ↑ «Mali opposition leaders freed after days of anti-gov't protests». www.aljazeera.com
- ↑ «Calls for calm as Mali gov't criticised for response to protests». www.aljazeera.com
- ↑ «Mali president dissolves top court amid unrest». BBC News. 12 de Julho de 2020
- ↑ União Africana preocupada com grave crise no Mali - Jornal de Angola
- ↑ Missão mediadora deixa Mali sem resolver crise política - ANGOP
- ↑ a b c d e f g h i j Mali crisis: From disputed election to president’s resignation Al Jazeera, 18 de agosto de 2020
- ↑ Mali: Unchecked Abuses in Military Operations Human Rights Watch, 8 de setembro de 2017
- ↑ Mali: Militias, Armed Islamists Ravage Central Mali HRW, 10 de fevereiro de 2020
- ↑ Suspected Fulani attack kills at least a dozen in central Mali France 24, 24 de abril de 2020
- ↑ Mali: crise entre protestos, pandemia e grupos armados - Vatican News
- ↑ Mali reports first 2 confirmed cases of COVID-19 Xinhua News, 25 de março de 2020
- ↑ «Coronavirus disease (COVID-19) situation report 133» (PDF). World Health Organization. 1 de junho de 2020. p. 6
- ↑ Mali: les élections législatives reportées d'un mois Le Figuero e AFP, 13 de setembro de 2018
- ↑ Mali: Legislative elections postponed to June 2019 Gardaworld News Alerts, 16 de outubro de 2018
- ↑ Mali : adoption d’un projet de loi prolongeant le mandat des députés jusqu’en 2020 Jeune Afrique, 8 de Junho de 2018
- ↑ Mali opposition leader taken hostage with six others: party Reuters, 26 de março de 2020
- ↑ «Malian parliamentary elections marred by kidnappings, attacks». Al Jazeera. 31 de Março de 2020
- ↑ «Elections Continue in Mali Despite Virus, Violence Fears». Voice of America News. 19 de abril de 2020
- ↑ «Dozens of Malian soldiers killed in attack on military base». Al Jazeera. 6 de abril de 2020
- ↑ a b Diallo, Tiemoko; McAllister, Edward (20 de Junho de 2020). Fincher, Christina; Harrison, Mike, eds. «West African bloc urges Mali to re-run disputed elections amid mass protests». Reuters
- ↑ «Mali: President Keita meets protest leader Mahmoud Dicko». Al Jazeera English.
A video posted on the presidency's Twitter account showed the meeting between President Ibrahim Boubacar Keita and Mahmoud Dicko, an imam and leading figure of the so-called June 5 movement, in the capital, Bamako, on Saturday.
- ↑ «Anti-gov't protests resume in Mali after weeks-long pause». Al Jazeera. 11 de agosto de 2020
- ↑ «Calls for calm as Mali gov't criticised for response to protests». Al Jazeera English. 13 de Julho de 2020.
Bloody protests broke out in the capital, Bamako, on Friday and Saturday, with reports saying security forces fired live rounds during clashes with demonstrators, some of whom had occupied state buildings. [...] A senior official at an emergency department of a major hospital in Bamako was quoted by AFP news agency as saying 11 people died and 124 were injured since Friday.
- ↑ Mbah, Fidelis. «West African leaders on high-stakes mission to end Mali standoff»
- ↑ «Mali police use tear gas to disperse anti-gov't protesters». Al Jazeera. 12 de agosto de 2020
- ↑ «Soldiers seize Mali President Ibrahim Boubacar Keïta»
- ↑ Mali’s president announces resignation after soldiers mutiny AP News
- ↑ Staff, Reuters (19 de agosto de 2020). «After meeting Mali mutineers, protest leader Dicko to step back from politics». Reuters (em inglês). Reuters
- ↑ «El coronel Assimi Goita, designado nuevo hombre fuerte de Mali tras el golpe». www.efe.com (em espanhol). EFE. 19 de agosto de 2020
- ↑ Postmaster (23 de agosto de 2020). «Qui est Assimi Goïta, le chef de la junte au Mali – MALI CANAL» (em francês). MaliCanal