Quinta do Cadeado
A Quinta do Cadeado, também conhecida como Quinta do Bento e Quinta do Sebastião, é um complexo histórico junto à povoação de Arnelas, na freguesia de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, no Município de Vila Nova de Gaia, em Portugal.
Quinta do Cadeado | |
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Quinta do Cadeado, vista do rio Douro | |
Informações gerais | |
Inauguração | Século XVII |
Geografia | |
País | ![]() |
Localização | Vila Nova de Gaia |
Coordenadas | 41° 05′ 02,18″ N, 8° 31′ 24,43″ O |
Localização do edifício em mapa dinâmico |
Descrição
editarO complexo da Quinta do Cadeado ocupa uma área com 8,75 Ha, estando localizada entre as Quintas de Campinhas e do Ferraz, a Norte da povoação de Arnelas, nas margens do Rio Douro.[1] Tem acesso pela Alameda Praia de Arnelas.[2]
Os edifícios da quinta em si situam-se numa plataforma suportada por um muro em xisto, de grandes dimensões, sendo compostos pela casa principal, de três pisos, e por uma capela, dedicada a Nossa Senhora do Bom Sucesso,[1] ou a Nossa Senhora da Conceição.[3] Na quinta destacam-se igualmente as árvores decorativas, que incluem japoneiras.[1]
História
editarHá referências documentais a esta propriedade, foreira aos Condes de Avintes, desde princípios do século XVII.[4]
O mais antigo senhor desta quinta de que há notícia é um Domingos do Couto, casado com Mariana de Barros e Rocha, que em Junho de 1633 aí residia. Sucedeu-lhe a mulher na posse da quinta, a qual veio a contrair novo matrimónio com Jerónimo da Cunha. A esta sucedeu a mais velha das filhas do seu segundo matrimónio, Maria da Cunha da Rocha, nascida na mesma quinta, poucos dias antes de 7 de Fevereiro de 1638, data em que foi baptizada. Esta Maria foi casada com Manuel Pereira, natural de Ovar, com o qual se iniciou um novo ciclo na história desta propriedade. Este Manuel era filho de um rico contratador de sal, que também foi feitor do Conde da Feira. Tal como o pai, Manuel Pereira foi contratador de sal, e também de vinhos, transformando a Quinta do Cadeado num entreposto comercial desses dois produtos. O sal, proveniente de Aveiro e Ovar, era transportado por terra até Arnelas, sendo aí embarcado com destino ao Alto Douro e Trás-os-Montes. O vinho, proveniente do Douro, fazia o percurso inverso. A rentabilidade do negócio permitiu a Manuel Pereira e à mulher viveram com abastança, tratando-se com escravos, que vivam com eles nas casas da quinta. Ele faleceu nesta sua quinta, a 25 de Dezembro de 1697, e ela, no mesmo local, a 11 de Janeiro de 1714. É a esta Maria da Cunha da Rocha que se deve a construção da capela da quinta, com invocação de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Foi ela que pediu, em 1709, autorização para a sua construção, alegando que tinha consigo "huma netta de 13 anos muito recolhida" (D. Antónia Lourença Chamorro de Queirós), pelo que se justificava a construção da capela, já que a quinta pertencia à freguesia de Avintes, ficando, por isso, bastante distante da igreja paroquial.[4]
Anos mais tarde a quinta era pertença do Dr. José Pedro da Fonseca e Silva Queirós Castelo Branco, bisneto de Maria da Cunha da Rocha, formado em leis pela Universidade de Coimbra e advogado da Relação do Porto. A este sucederam, na posse da quinta, os filhos Padre Dr. José Pedro Carlos de Queirós, D. Teresa Luísa de Queirós e D. Ana Joaquina de Queirós, sendo que apenas a última casou e deixou descendência.[4]
Por morte de D. Ana Joaquina de Queirós, a quinta passou à posse da mais velha das duas filhas, D. Maria Joaquina de Queirós, casada com Bento Alves de Sousa. Falecida esta, sucedeu-lhe o marido, que viria a falecer na Quinta do Cadeado em 25 de Março de 1853, tendo sido sepultado na capela da quinta, como os seus antecessores.[4]
Anos mais tarde, a quinta foi vendida pelos herdeiros de Bento Alves de Sousa a Sebastião Alves de Freitas, comerciante do Porto.
A Quinta surge num desenho de Arnelas, produzido por Cesário Augusto Pinto em 1849.[5]
A capela da quinta é mencionada na obra Memórias Paroquiais de 1758, na descrição de Avintes:
“ | Tem esta freguezia as Hermidas da Senhora do bom Sucêsso na Quinta de Jose Pedro da Afonseca Queyrôs no Lugar de Arnellas [...] | ” |
Em 1986, o Gabinete de História e Arqueologia do município de Vila Nova de Gaia enviou uma proposta ao Instituto Português do Património Cultural, no sentido de classificar a povoação de Arnelas, em conjunto com vários imóveis em seu redor, como a Quinta do Cadeado, como Imóveis de Interesse Público.[6] Em 1992, o processo foi enviado para a Direcção Regional do IPPC no Porto, mas não chegou a ter seguimento.[6] No regulamento do Plano Director Municipal da Câmara Municipal de Gaia, publicado em Julho de 2009, a Quinta do Cadeado e a sua capela surgem como elementos com nível de protecção integral.[7]
Ver também
editarReferências
- ↑ a b c «O Património das Encostas do Douro por Unidades de Paisagem» (PDF). Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia. 30 de Junho de 2011. p. 80. Consultado em 25 de Novembro de 2020
- ↑ SOUSA, Lúcia Cardoso de (2014). Património como estratégia de desenvolvimento local: o caso de Arnelas, Crestuma e Lever (PDF) (Tese de Mestrado). Universidade do Minho: Instituto de Ciências Sociais. p. 149. Consultado em 26 de Novembro de 2020
- ↑ «Localização». Capela de Arnelas. Consultado em 25 de Novembro de 2020 – via Weebly
- ↑ a b c d SOUSA, Daniel A. Oliveira de, "A Quinta do Cadeado, em Arnelas (1633-1853)", in Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia, Vol. 12, n.º 75 (dez. 2012), 2012.
- ↑ CONDE, António Adérito Alves (2016). «A melhor colecção oitocentista de "vistas" de Gaia, da autoria de Cesário Augusto Pinto». p. 10. Consultado em 26 de Novembro de 2020 – via Issuu
- ↑ a b «Capela de São Mateus de Ornelas, sita no lugar de Arnelas, união das freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma, concelho de Vila Nova de Gaia: proposta de abertura do procedimento administrativo de classificação» (PDF). Direcção Regional de Cultura do Norte. 9 de Maio de 2018. p. 1. Consultado em 27 de Novembro de 2020 – via Direcção Regional do Património Cultural
- ↑ «Plano Director Municipal de Gaia» (PDF). Gaiurb e Câmara Municipal de Gaia. Julho de 2009. p. 65. Consultado em 26 de Novembro de 2020
Bibliografia
editar- Memórias Paroquiais na Divisão Administrativa do Porto em 1758 – Freguesia de São Pedro de Avintes da Comarca Eclesiástica da Feira. Col: Memórias Paroquiais, n.º 60. Vol. 5. Lisboa: Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo. p. 905 a 914
- GONDIM, Inocêncio Osório Lopes. Avintes e as suas antiguidades. [S.l.: s.n.]
- Barbosa da Costa, José Vaz e Paulo Costa (ed.). De Abientes a Avintes: História Local. [S.l.]: Edições Audientis
- SOUSA, Daniel O. (2023) «A Linhagem Clerical dos Fonsecas de Monte de Lobos, no Termo de Mortágua – da freguesia de São Martinho das Chãs às freguesias de Pala, Avintes, Moita e Arcos», Raízes & Memórias, n.º 40, Dezembro de 2023.
- SOUSA, Daniel O. (2012) «A Quinta do Cadeado, em Arnelas (1633-1853)», Boletim da Associação Cultural Amigos de Gaia, Vol. 12, n.º 75, Dezembro de 2012.