A Rótula,[1][2] é uma espécie de janela feita de madeira entrelaçada que também poderia emoldurar portas com o objetivo de amenizar a entrada da luz solar e ventanias.[3]Também tinha o propósito de resguardar as mulheres, que realizavam os serviços domésticos, dos olhares de transeuntes, durante o período colonial.[4]

A medieval Casa das Rótulas na cidade de Guimarães.

Origem

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Proveniente da arquitetura árabe, o muxarabi se popularizou durante a ocupação moura na Península Ibérica. Era um tipo de balcão fechado confeccionado com tiras de madeira entrelaçadas de modo diagonal colocadas sobre varandas e sacadas.[3] A pintura que recebiam era predominantemente nas cores azul celeste ou verde oliva. Os orientais as utilizavam para reduzir a entrada de luz nos templos religiosos.[5]

Família real portuguesa no século XIX

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O Muxarabi foi o precursor das rótulas de madeira.

No período do Barroco, as janelas traziam vidro e possuíam também a gelosia com rótula[6], como elemento de corte da ventilação e proteção do interior da visualização interna estrutura causou desgosto à família real, que em 1808 com a vinda da corte a colônia brasileira, proibiu a utilização desse elemento arquitetônico na capital carioca.

Cariocas de 1809, com a empolgação do sopro europeizado do Art Noveau e das estruturas parisienses tragos pela corte com a vinda da família real no ano anterior, consideraram as rótulas estruturas primitivas e bárbaras, removendo-as rapidamente, embora alguns gostassem da privacidade da estrutura e ainda mantivessem suas janelas vedadas pelas ripas de madeira.[5]

A percepção negativa do uso da estrutura foi citado pelo escritor Joaquim Manuel de Macedo em “Memórias da Rua do Ouvidor” em 1878, ao escrever que a estrutura eram parte de um costume quase bárbaro, de raiz mourisca” e lamentando que muitas casas coloniais tenham resistido à reforma decretada pela civilização”.[7]

Macedo ainda considerou a remoção de rotulas uma medida de higiene na capital carioca, promovendo a destruição das “malignas e feias gaiolas” que escondiam à força e o belo sexo (mulheres) do convívio social, defendendo sua tese de que as moças cariocas tinham de se tornar por excelência expostas para que a sociedade colonial visse a elegância das “honestíssimas senhoras” que não precisavam serem contidas pela estrutura primitiva.[8]

Janelas com Rótulas em Minas Gerais

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Apesar da exigência real de retiradas das rótulas na capital da colônia, um estado passaria a utilizá-la com maior frequência. Devido ao Ciclo do ouro, era necessário preservar as casas para evitar roubos ou invasões, com a migração intensa de mineiros esperançosos com a terra rica na fortuna dourada, a proteção de esposas e famílias era influenciada pela igreja católica e o estilo barroco fortemente fundido no estado. É possível encontrar estruturas coloniais de rótulas em cidades como Ouro Preto.[6]

 
Janela Veneziana

Janelas Venezianas e a modernização das Rótulas

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As janelas com rótulas foram modernizadas em estruturas metálicas, feitas horizontalmente para conter a entrada de luz e proteger a privacidade de residências brasileiras. São uma releitura das feitas nos séculos anteriores e popularizadas no Brasil por serem estruturas baratas e de fácil acesso comercial.[6]

Referências

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  1. «Rótula». Dicio. Consultado em 15 de abril de 2021 
  2. S.A, Priberam Informática. «Dicionário Priberam da Língua Portuguesa». Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Consultado em 14 de janeiro de 2025 
  3. a b «Técnicas construtivas do período colonial – III». Coisas da Arquitetura. 2010. Consultado em 18 de março de 2021 
  4. Bruno, Ernani Silva (2000). Equipamentos, usos e costumes da casa brasileira: Costumes. [S.l.]: EdUSP 
  5. a b NICO-RODRIGUES, Edna Aparecida; ALVAREZ, Cristina Engel de; PIDERIT, Maria Beatriz; RODRIGUES, Artur Moreira. «A evolução da janela e sua interferência em ambiente de edificações multifamiliares.». Dep. De Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal do Espírito Santo; Universidad del Bío Bío; Faculdadee Multivix;. Euro Elects 2015 
  6. a b c RODRIGUES, José Wasth (1979). Documentário Arquitetônico relativo a construção civil no Brasil 5ª ed. ed. Belo Horizonte 5ª edição ed. Belo Horizonte: Itatiaia. pp. 163/165 
  7. CASTRO, Alex (11 de julho de 2011). «gelosias e grades». Consultado em 12 de abril de 2021 
  8. MACEDO, Joaquim Manoel de (1878). Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: [s.n.]