Relações entre Afeganistão e Estados Unidos
As relações entre Afeganistão e Estados Unidos podem ser traçadas até 1921,[1] porém o primeiro contato entre os dois países ocorreu mais atrás na década de 1830, quando a primeira pessoa registrada dos Estados Unidos visitou o Afeganistão.[2] Na última década, as relações afegãs-estadunidenses tornaram-se mais forte do que nunca. O Afeganistão e os Estados Unidos têm uma parceria estratégica muito forte e amigável. Em 2012, as relações ficaram ainda mais próximas quando o presidente dos Estados Unidos Barack Obama declarou o Afeganistão como um aliado importante extra-OTAN.
História
editarO primeiro contato registrado entre o Afeganistão e os Estados Unidos ocorreu na década de 1830 quando Josiah Harlan, um aventureiro e ativista político estadunidense da área de Filadélfia da Pensilvânia, viajou para o subcontinente indiano com intenções de se tornar o rei do Afeganistão. Isto ocorreu quando o exército britânico indiano invadiu o Afeganistão, durante a Primeira Guerra Anglo-Afegã (1838-1842), quando os reis afegãos Xujá Xá Durrani e Doste Maomé Cã estavam lutando pelo trono do Império Durrani. Harlan tornou-se envolvido na política afegã e nas ações militares das facções, ganhando posteriormente o título de príncipe de Ghor em troca de ajuda militar.[2] As forças britânico-indianas foram derrotadas e forçadas a fazer uma retirada completa alguns anos mais tarde, com cerca de 16.500 deles sendo mortos e capturados em 1842. Não há evidências claras sobre o que aconteceu porque a reivindicação é feita por William Brydon, o único sobrevivente. Acredita-se que Harlan tenha deixado o Afeganistão em torno do mesmo período, retornando aos Estados Unidos.
Em 1911, A.C. Jewett chegou ao Afeganistão para construir uma usina hidrelétrica perto de Cabul. Tornou-se engenheiro-chefe para o rei Habibullah Khan. Anteriormente um empregado da General Electric (GE), se tornaria o segundo estadunidense conhecido por viver e trabalhar no Afeganistão.[3]
Relações diplomáticas oficiais
editarEm janeiro de 1921, após a assinatura do Tratado de Raualpindi entre o Afeganistão e a Índia colonial britânica, a missão afegã visitou os Estados Unidos para estabelecer relações diplomáticas.[1] Quando retornaram a Cabul, os enviados trouxeram uma carta de saudação do presidente dos Estados Unidos Warren G. Harding. Após o estabelecimento de relações diplomáticas, a política dos Estados Unidos de ajudar os países em desenvolvimento a elevar seu nível de vida foi um fator importante para manter e melhorar os laços dos Estados Unidos com o Afeganistão.[4] Residindo em Teerã, William Harrison Hornibrook atuou como enviado não-residente dos Estados Unidos (Ministro Plenipotenciário) ao Afeganistão de 1935 a 1936. Louis Goethe Dreyfus serviu de 1940 a 1942, altura em que a legação de Cabul foi aberta em junho de 1942. O Major Gordon Enders do exército dos Estados Unidos foi nomeado primeiro adido militar para Cabul e Cornelius Van Hemert Engert representou a legação dos Estados Unidos de 1942 a 1945, seguido por Ely Eliot Palmer de 1945 a 1948.[5] Embora o Afeganistão tivesse relações estreitas com a Alemanha nazista, manteve-se neutro e não participou na Segunda Guerra Mundial.
Guerra Fria
editarAs relações afegãs-estadunidenses tornaram-se importantes durante o início da Guerra Fria, entre os Estados Unidos e a União Soviética. O príncipe Mohammed Naim, primo do rei Zahir Shah, tornou-se encarregado de negócios em Washington, D.C. Naquela época, o presidente dos Estados Unidos Harry S. Truman, comentou que a amizade entre os dois países seria "preservada e fortalecida" pela presença de altos diplomatas em cada capital. O primeiro embaixador oficial do Afeganistão nos Estados Unidos foi Habibullah Khan Tarzi, que atuou até 1953. A legação estadunidense em Cabul foi elevada à embaixada dos Estados Unidos em Cabul, em 6 de maio de 1948. Louis Goethe Dreyfus, que anteriormente serviu como Ministro Plenipotenciário, tornou-se embaixador dos Estados Unidos no Afeganistão de 1949 a 1951. [5] A primeira expedição estadunidense ao Afeganistão foi liderada por Louis Dupree, Walter Fairservis e Henry Hart. [6] Em 1953, Richard Nixon, que estava atundo como vice-presidente dos Estados Unidos no momento fez uma visita diplomática oficial a Cabul. Ele também fez um curto passeio pela cidade e se reuniu com os afegãos locais.
Em 1958, o primeiro-ministro Daoud Khan se tornou o primeiro afegão a discursar perante o Congresso dos Estados Unidos em Washington, D.C.. Sua apresentação centrou-se em uma série de questões, porém a mais importante sublinhou a importância das relações Estados Unidos-Afeganistão. Na capital dos Estados Unidos, Daoud se encontrou com o presidente Dwight Eisenhower, assinou um importante acordo de intercâmbio cultural e reafirmou as relações pessoais com o vice-presidente Nixon, que começaram durante a viagem para Cabul em 1953. O primeiro-ministro também viajou pelos Estados Unidos visitando a New York Stock Exchange, o Empire State Building, as instalações hidroelétricas na Tennessee Valley Authority (TVA) e outros locais.
Naquela época, os Estados Unidos recusaram o pedido do Afeganistão para a cooperação de defesa, mas alargaram um programa de assistência econômica centrado no desenvolvimento da infra-estrutura física do Afeganistão — estradas, represas e usinas de energia. Mais tarde, a ajuda estadunidense mudou de projetos de infra-estrutura para programas de assistência técnica para ajudar a desenvolver as habilidades necessárias para construir uma economia moderna. Os contatos entre os Estados Unidos e o Afeganistão aumentaram durante a década de 1950, especialmente durante a Revolução Cubana entre 1953 e 1959. Enquanto a União Soviética apoiava Fidel Castro, os Estados Unidos concentravam-se no Afeganistão para os seus objetivos estratégicos. Isto ocorreu principalmente para combater a expansão do comunismo e a força da União Soviética no Sul da Ásia, particularmente no Golfo Pérsico.
O presidente Eisenhower fez uma visita de Estado ao Afeganistão em dezembro de 1959 para se reunir com seus líderes. Desembarcou no aeródromo de Bagram e depois dirigiu-se de lá para Cabul em uma caravana. [7] Encontrou-se com o rei Zahir Shah, com o primeiro-ministro Daoud e com vários altos funcionários do governo. Ele também realizou um passeio por Cabul. Depois desta importante visita, os Estados Unidos começaram a sentir que o Afeganistão estava a salvo de se tornar um Estado satélite soviético. Entre os anos 1950 e 1979, a assistência externa estadunidense proporcionou ao Afeganistão mais de US $ 500 milhões em empréstimos, subsídios e commodities agrícolas para desenvolver instalações de transporte, aumentar a produção agrícola, expandir o sistema educacional, estimular a indústria e melhorar a administração pública.[4]
Em 1963, o Rei Zahir Shah do Afeganistão fez uma visita de Estado especial aos Estados Unidos, onde foi recebido por John F. Kennedy e Eunice Kennedy Shriver. Zahir Shah também fez um passeio especial nos Estados Unidos, visitando a Disneyland, na Califórnia, Nova York e outros lugares. Habibullah Karzai, tio de Hamid Karzai, que serviu como representante do Afeganistão nas Nações Unidas, teria acompanhado Zahir Shah no curso da visita de estado do Rei. [8] Durante esse período, os soviéticos começaram a sentir que os Estados Unidos estavam transformando o Afeganistão em um Estado satélite.
O vice-presidente Spiro Agnew, acompanhado pelos astronautas da Apollo 10 Thomas Stafford e Eugene Cernan, visitou Cabul durante uma viagem a onze nações da Ásia. Em um jantar formal oferecido pela Família Real, a delegação estadunidense apresentou ao rei um pedaço de rocha lunar, uma pequena bandeira afegã carregada no voo Apollo 11 para a lua e fotografias do Afeganistão tiradas do espaço. Na década de 1970, numerosos professores, engenheiros, médicos, estudiosos, diplomatas e exploradores estadunidenses haviam atravessado a paisagem acidentada do Afeganistão onde viviam e trabalhavam. O Corpo da Paz esteve ativo no Afeganistão entre 1962 e 1979. Muitos outros programas estadunidenses estavam sendo executados no país, como CARE, escoteiros americanos no exterior (Associação de Escoteiros do Afeganistão), USAID e outros.
Invasão soviética e guerra civil
editarApós a Revolução de Saur, em abril de 1978, as relações entre as duas nações se deterioraram. Em fevereiro de 1979, o embaixador dos Estados Unidos, Adolph "Spike" Dubs, foi assassinado em Cabul depois que as forças de segurança afegãs atacaram seus sequestradores. Os Estados Unidos reduziram então a assistência bilateral e terminaram um pequeno programa de treinamento militar. Todos os demais acordos de assistência foram encerrados após a invasão soviética do Afeganistão.
Após a invasão soviética, os Estados Unidos apoiaram os esforços diplomáticos para obter uma retirada soviética. Além disso, contribuições generosas dos estadunidenses para o programa de refugiados no Paquistão desempenharam um papel importante nos esforços para ajudar os refugiados afegãos. Os esforços dos Estados Unidos também incluíam ajudar a população do Afeganistão. Este programa de ajuda humanitária transfronteiriça visava aumentar a auto-suficiência afegã e ajudar a resistir às tentativas soviéticas de expulsar civis do campo dominado pelos rebeldes. Durante o período da ocupação soviética do Afeganistão, os Estados Unidos forneceram cerca de 3 bilhões de dólares americanos em assistência militar e econômica aos grupos mujahideen estacionados no lado paquistanês da fronteira afegã-paquistanesa. A Embaixada dos Estados Unidos em Cabul seria fechada em janeiro de 1989 por razões de segurança.
Presença da OTAN e administração Karzai
editarApós os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos, orquestrados por Osama bin Laden, que residia no Afeganistão sob asilo na época, a Operação Liberdade Duradoura, liderada pelos Estados Unidos, foi lançada. Esta grande operação militar tinha como objetivo remover o regime talibã do poder e capturar ou matar membros da Al Qaeda, incluindo Osama bin Laden. Após o derrubada do Talibã, os Estados Unidos apoiaram o novo governo do presidente afegão Hamid Karzai, mantendo um alto nível de tropas para estabelecer a autoridade de seu governo, bem como combater a insurgência talibã. Tanto o Afeganistão como os Estados Unidos retomaram as relações diplomáticas no final de 2001.
Os Estados Unidos assumiram o papel de liderança na reconstrução geral do Afeganistão, fornecendo bilhões de dólares para as Forças de Segurança Nacional do Afeganistão, construção de estradas nacionais, instituições governamentais e educacionais. Em 2005, os Estados Unidos e o Afeganistão assinaram um acordo de parceria estratégica que comprometeu ambas as nações a um relacionamento de longo prazo. [4] Em 1 de março de 2006, o presidente dos Estados Unidos George W. Bush e sua esposa Laura Bush fizeram uma visita ao Afeganistão, onde cumprimentaram soldados estadunidenses, se reuniram com autoridades afegãs e mais tarde compareceram em uma cerimônia de inauguração especial na embaixada dos Estados Unidos. Embora muitos políticos estadunidenses tenham elogiado a liderança do presidente afegão Hamid Karzai[9], seria criticado em 2009 pelo governo Obama por sua falta de disposição para reprimir a corrupção do governo. [10] Depois de vencer a eleição presidencial de 2009, Karzai prometeu enfrentar o problema. Ele afirmou que "os indivíduos envolvidos em corrupção não terão lugar no governo". [11]
A Embaixada dos Estados Unidos em Cabul iniciou a renovação no final de 2001 e foi ampliada vários anos mais tarde. Muitos políticos, oficiais militares, celebridades e jornalistas estadunidenses de alto nível começaram a visitar o Afeganistão nos últimos nove anos.
Acordo de Parceria Estratégica Duradoura
editarEm 2 de maio de 2012, o presidente afegão, Hamid Karzai, e o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinaram um acordo de parceria estratégica entre os dois países depois que o presidente dos Estados Unidos chegou a Cabul como parte de uma viagem sem aviso prévio ao Afeganistão no primeiro aniversário da morte de Osama bin Laden. [12] O Acordo de Parceria Estratégica Estados Unidos-Afeganistão, oficialmente intitulado "Acordo de Parceria Estratégica Duradoura entre a República Islâmica do Afeganistão e os Estados Unidos da América" [13], estabelece a estrutura a longo prazo para a relação entre o Afeganistão e os Estados Unidos após a retirada das forças estadunidenses da guerra no Afeganistão. [14] O Acordo de Parceria Estratégica entrou em vigor em 4 de julho de 2012, como afirmado pela Secretária de Estado dos Estados Unidos Hillary Clinton, que declarou em 8 de julho de 2012 na Conferência de Tóquio sobre o Afeganistão: "Como vários países aqui representados, um Acordo de Parceria Estratégica que entrou em vigor há quatro dias".[15]
Em 7 de julho de 2012, como parte do Acordo de Parceria Estratégica Duradoura, os Estados Unidos designaram o Afeganistão como um aliado importante extra-OTAN depois que a Secretária de Estado Hillary Clinton chegou a Cabul para se encontrar com o presidente Karzai. Ela disse: "Há uma série de benefícios que resultam aos países que possuem essa designação... Eles estão aptos a ter acesso ao suprimentos de defesa excedentes, por exemplo, e podem fazer parte de certos tipos de treinamento e capacitação". [16]
Referências
- ↑ a b «Afghanistan 1919–1928: Sources in the India Office Records». British Library. Janeiro de 1921.
Afghan mission visits Europe and USA to establish diplomatic relations
- ↑ a b Biography of Josia Harlan - The Pennsylvania Center for the Book
- ↑ «In Small Things Remembered». Meridian International Center
- ↑ a b c «U.S.-AFGHAN RELATIONS». United States Department of State
- ↑ a b «About the Embassy». U.S. Embassy in Kabul. Consultado em 29 de abril de 2017. Arquivado do original em 15 de outubro de 2011
- ↑ «In Small Things Remembered » The first American expedition to Afghanistan.». Meridian International Center
- ↑ «In Small Things Remembered » President Dwight D. Eisenhower inspects the honor guard upon arrival at Bagram Airport.». Meridian International Center
- ↑ Jere Van Dyck (21 de dezembro de 1981). «THE AFGHAN RULERS: FIERCELY TRADITIONAL TRIBES». The New York Times
- ↑ Pajhwok Afghan News, US lawmakers laud Afghan progress under Karzai (6 de dezembro de 2007)
- ↑ Pleming, Sue. "Karzai faces wall of U.S. pressure to govern better." Reuters, 2 de novembro de 2009.
- ↑ Karzai vows to tackle corruption Arquivado em 2011-07-23 no Wayback Machine
- ↑ Landler, Mark (1 de Maio de 2012). «Obama Signs Pact in Kabul, Turning Page in Afghan War». The New York Times
- ↑ «Enduring Strategic Partnership Agreement between the Islamic Republic of Afghanistan and the United States of America». Scribd
- ↑ Sweet, Lynn (1 de Maio de 2012). «U.S.-Afgan strategic agreement: Roadmap to Chicago NATO Summit. Briefing transcript». Chicago Sun-Times
- ↑ Clinton, Hillary (8 de Julho de 2012). «Press Releases: Intervention at the Tokyo Conference on Afghanistan». NewsRoomAmerica.com. Consultado em 29 de abril de 2017. Arquivado do original em 5 de novembro de 2012
- ↑ «U.S. designates Afghanistan a major ally, creates defense ties». CNN. 7 de Julho de 2012
Ligações externas
editar- The Early Years of U.S.-Afghan Relations
- Afghan-US relations—sleeping with enemy –again and again
- History of Afghanistan - U.S. relations
- Embassy of the United States in Kabul
- U.S. Department of State - Background Note: Afghanistan
- Embassy of Afghanistan in Washington D.C
- Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Afghanistan–United States relations».