Ricardo de Tadeu Ladeia

Ricardo de Tadeu Ladeia (Caetité, 28 de outubro de 1956 - Guanambi, 9 de outubro de 2016) foi um médico, fazendeiro, militar e político brasileiro, que exerceu por duas vezes a prefeitura da cidade baiana de Caetité. Terminava seus discursos políticos com o bordão "Minha gente, o meu abraço", que o identificava segundo o biógrafo, Joelton Pereira de Oliveira.[nota 1][3]

Ricardo de Tadeu Ladeia
Ricardo de Tadeu Ladeia
Nascimento 28 de outubro de 1956
Caetité
Morte 9 de outubro de 2016
Guanambi
Cidadania Brasil
Ocupação médico, político, pecuarista

Vida pessoal

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Ladeia em desfile do 2 de Julho de 2004

Era filho do ex-prefeito de Caetité José Augusto Teixeira Ladeia (1967-1970) e sua prima Evani (Ninita), tendo seis irmãos.[4] Exerceu a medicina como obstetra e ginecologista, tendo servido como Segundo Tenente na Marinha.[5] Tinha três filhos e foi casado com Fabiane Públio.[6] Antes fora casado com Tânia Ladeia.[7]

Em Guanambi Ladeia era dono de uma fazenda onde criava cavalos de raça. Conforme declarou mais tarde sua ex-mulher Tânia Ladeia, “O Haras Maracaibo surgiu em 1990, com a intenção de criar bonitos cavalos para o desfile de 2 de julho em Caetité".[7]

Estava em sua fazenda na cidade de Guanambi quando sofreu uma parada cardio-respiratória, no dia 9 de outubro de 2016. Foi levado ao Hospital Nova Aliança daquela cidade, mas não resistiu, morrendo aos cinquenta e nove anos de idade.[6] Foi sepultado na cidade natal, no dia 10, em cortejo que teve a presença de milhares de pessoas.[8]

Em 2021, por unanimidade, a Câmara de Vereadores alterou o nome do Hospital Municipal (Unacom) para homenageá-lo. A unidade atende a cinquenta municípios da região.[9] No mesmo ano a ex-esposa Tânia e o filho Gustavo lançaram um empreendimento onde transformavam a fazenda no condomínio Residencial Haras Maracaibo, em Guanambi.[7]

Carreira política

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Ladeia foi vereador na cidade natal entre 1989 e 1992, pelo PFL. Militou na corrente carlista, como apoiador de Luís Eduardo Magalhães por duas décadas, até que com a morte deste e o apoio de ACM e o então governador Paulo Souto, também caetiteense, ao seu adversário, migrou para o PSDB e se tornou aliado de Nilo Coelho (liderança da vizinha cidade de Guanambi, ex-governador, na época deputado federal).[5] Como vereador teve importante papel na elaboração da Lei Orgânica da cidade e veio a suceder a liderança do grupo que fora capitaneado pelo também médico, Clarismundo Pontes,[10] que na cidade recebia o nome de "jacus",[11] do qual foi a maior liderança.[12][nota 2]

Em 1996 havia tentado, ainda pelo partido de ACM, a prefeitura de Caetité pela segunda vez. Desfiliou-se, então, do PFL em 1998 e foi eleito no pleito de 2000 pelo PSDB, sendo então oposição do governo estadual da época. Na câmara de vereadores de então, com treze ocupantes, seu grupo fizera sete membros e mais tarde recebeu a adesão de outro.[5] Durante seus dois mandatos Ladeia realizou diversas obras na cidade, sendo a mais importante delas a construção do Hospital Municipal, além de haver iniciado o trabalho de extinção das chamadas escolas multisseriadas. Foi o quinto membro da família a ocupar o cargo de chefe do executivo caetiteense.[13] Por essa obra Ladeia foi considerado, à época, "um visionário",[9] e visando sua conclusão reatou com o carlismo numa reaproximação articulada pelo então deputado estadual, Luiz Augusto, realizando encontro com o governador Paulo Souto em 2006.[14]

Concorreu à chefia do município por seis vezes, vencendo em duas delas.[10] Na eleição de 2012 teve como candidato a vice o ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Genilton Xavier.[11] Disputou pela última vez a eleição de 2016 obtendo 12.172 votos, sendo novamente derrotado, desta vez para a chapa Aldo Gondim e Jaquele Fraga.[6]

Gestão 2001-2008

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Ricardo Ladeia visita obras do Hospital Municipal, setembro 2003.
Discursando na Festa do Dois de Julho, 2005: "minha gente, o meu abraço" era o bordão.
Autógrafo em convite para inauguração de colégio

Em suas duas gestões Ladeia envidou esforços pela construção do hospital municipal, uma obra grandiosa que tivera início em 2003, com a doação do terreno pelo comerciante Francisco Bastos Lima, em 2002.[15][16] No registro feito em livro de suas duas gestões, Joelton Oliveira escreveu: "esgotadas todas as tentativas de conseguir os recursos para a conclusão do Hospital Municipal de Caetité, depois que o governador da Bahia Jacques Wagner (sic) cancelou os restos a pagar e colocou uma pedra em cima do sonho de conclusão da obra, era preciso buscar novos caminhos". Para isso ele se socorreu com a empresa Bahia Mineração (Bamin), celebrando um convênio no montante de um milhão de reais.[17][nota 3] Assim, no dia 30 de dezembro de 2008 ele inaugurou o hospital sem que sua estrutura estivesse munida de equipamentos: "a obrar física estava pronta, para lá seria transferido o Pronto Atendimento que até então funcionava em imóvel alugado".[18]

Outras obras de destaque em suas gestões foram: a urbanização da rua Mem de Sá que, por muitos anos, abria uma voçoroca e foi feita uma estrutura subterrânea para frenar o fluxo pluvial;[19] fez as praças "Cristo Rei" e "da Bíblia" (nas imediações do estação rodoviária), "Nivaldo Oliveira" (Praça da Cadeia), parte da praça Dr. Deocleciano Teixeira (onde ficava a Prefeitura), do "Observatório", "D. Eliseu Maria Gomes" e a "Maria Neves Lobão"; construiu quadras em povoados e distritos, vários PSFs, escolas municipais (no programa de "nucleação", com o fim das "classes multisseriadas") e ainda um parque de comercialização de animais, possibilitou a aquisição dos instrumentos Banda Álvaro Vilares Neves, dentre outros.[20]

Notas e referências

Notas

  1. Conhecido como Jó Oliveira (Candiba, 25 de setembro de 1966), jornalista, ator e escritor, editou por muitos anos em Guanambi o jornal "Folha do Algodão".[1] No teatro Joelton constituiu o grupo GOTA, e também é professor de português. [2]
  2. Com a redemocratização a política caetiteense ficou polarizada entre dois grupos políticos. No dizer de Jairo Nascimento, após o pleito de 2020: "Em Caetité, região Sudoeste da Bahia, os grupos são chamados também por nomes de pássaros, Jacu e Cocá. O primeiro é vinculado à família Ladeia, que teve como representante máximo o médico Ricardo Ladeia. O segundo, à família de Dácio Oliveira. E na eleição mais recente, com a vitória de Valtécio Aguiar (PDT), que rompeu com a alternância de poder entre os dois grupos, candidato independente, seu grupo passou a se chamar de Canarinho. (itálicos originais)[12]
  3. Ladeia foi vítima de suas movimentações políticas, durante essa obra: quando teve início, ele havia rompido com o governo estadual, ligado a ACM, mas tinha apoio "tucano" do governo federal, com Fernando Henrique Cardoso. Logo o PSDB perde o poder para Lula, com o PT. A seguir, numa tentativa de obter o apoio estadual, ele volta à base carlista, fazendo campanha para o também caetiteense Paulo Souto que foi derrotado por Jaques Wagner, perdendo assim qualquer chance de levar a cabo a conclusão da obra a contento.

Referências

  1. Rodrigo Ferraz (1 de julho de 2014). «Nilo Coelho descarta pretensão política em Conquista e diz que será candidato a prefeito de Guanambi em 2016». Blog do Rodrigo Ferraz. Consultado em 9 de janeiro de 2024. Cópia arquivada em 9 de janeiro de 2024 
  2. Caroline Bulhões Nunes Vaz (2016). «Os sertões pelos sertanejos: identidade, representação e regionalização nos Territórios de Identidade Sertão Produtivo e Sertão do São Francisco» (PDF). UFBA. Consultado em 9 de janeiro de 2024. Cópia arquivada (PDF) em 5 de novembro de 2022 
  3. Oliveira 2012.
  4. «Caetité: Morre o ex-prefeito José Ladeia». Folha de Condeúba. 22 de julho de 2017. Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  5. a b c «Entrevista com Dr. Ricardo de Tadeu Ladeia, prefeito municipal». Portal de Caetité. 2001. Consultado em 19 de novembro de 2023. Arquivado do original em 7 de junho de 2002. Essa entrevista e suas informações são a transcrição de matéria publicada originalmente no Jornal do Sudoeste. 
  6. a b c «MORRE ex-prefeito de Caetité, Ricardo Ladeia, de parada cardíaca». Bahia Já. 9 de outubro de 2016. Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  7. a b c «Empreendimento Residencial Haras Maracaibo é lançado em Guanambi». iGuanambi. 14 de julho de 2021. Consultado em 25 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 14 de julho de 2021 
  8. «Caetité: Milhares de pessoas dão último adeus ao ex-prefeito Ricardo Ladeia». Achei Sudoeste. 11 de outubro de 2016. Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  9. a b «Após aprovação de decreto na Câmara, prédio da Unacon em Caetité passa a se chamar Dr. Ricardo de Tadeu Ladeia». Sudoeste Acontece. 8 de setembro de 2021. Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2023 
  10. a b Prefeitura de Caetité (9 de outubro de 2016). «Prefeitura de Caetité emite Nota de Pesar pelo falecimento do ex-prefeito Ricardo Ladeia». Jornal do Sudoeste. Consultado em 20 de novembro de 2020. Cópia arquivada em 20 de novembro de 2020 
  11. a b Suzane de Alencar Vieira (2023). Entre risos e perigos: Artes da resistência e ecologia quilombola no Alto Sertão da Bahia. [S.l.]: 7Letras. 384 páginas. ISBN 9786559056545. Consultado em 20 de novembro de 2023 
  12. a b Jairo Carvalho do Nascimento (2022). Panorama histórico de Antas: Aspectos políticos e culturais. [S.l.]: Paco e Littera. 360 páginas. ISBN 9788546221769. Consultado em 20 de novembro de 2023 
  13. «ENTREVISTA: "Não vou tirar nenhum candidato do bolso" - Ricardo Ladeia». Alô Cidade. 17 de setembro de 2007. Consultado em 20 de novembro de 2023. Cópia arquivada em 21 de maio de 2020 
  14. «Governador sela aliança para concluir hospital de Caetité». Portal de Caetité. Consultado em 20 de novembro de 2023. Arquivado do original em 24 de outubro de 2006 
  15. «Hospital Municipal de Caetité: Um sonho que se materializa». Portal de Caetité. 2004. Consultado em 20 de novembro de 2023. Arquivado do original em 14 de maio de 2004 
  16. Institucional (2002). «Começa a ser construído o Hospital de Caetité». Portal de Caetité. Consultado em 20 de novembro de 2023. Arquivado do original em 10 de fevereiro de 2003 
  17. Oliveira 2002, p. 99.
  18. Oliveira 2012, p. 117.
  19. Oliveira 2012, p. 26.
  20. Oliveira 2012, p. 124-134.

Bibliografia

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  • Oliveira, Joelton (2012). Minha gente, o meu abraço: a trajetória de um vencedor. Guanambi: Gráfica Papel Bom. 134 páginas