Rio Vermelho (Salvador)
O Rio Vermelho é um bairro localizado na orla marítima da cidade de Salvador, na Bahia, no Brasil.[1] Pelo plano diretor de 2007, o bairro estava situado na região administrativa denominada Região Rio Vermelho, RA VII,[2] até que, em 2016, passou a vigorar um outro plano, e o bairro passou a fazer parte da Prefeitura-Bairro VI, Barra-Pituba.[3]
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Bairro do Brasil | ||
Vista da praia do Rio Vermelho. | ||
Localização | ||
Mapa de Salvador detalhado no entorno do Rio Vermelho. | ||
Coordenadas | ||
Unidade federativa | Bahia | |
Região administrativa | Prefeitura-Bairro VI, Barra/Pituba | |
Município | Salvador |
Toponímia
editarA origem do nome Rio Vermelho está na palavra tupi camarajipe, que ganhou diferentes grafias - Camaragipe, Camarujipe, Camaragibe, Camurujipe ou Camarujipe, sendo que esta última prevaleceu.
Segundo o historiador Cid Teixeira, 'camarajibe' significa 'rio dos camarás': camará é "uma florzinha vermelha, abundantíssima, antigamente tinha demais aí, na cidade. Rio das florzinhas vermelhas, rio vermelho, daí nasce o nome do rio [...] Propriedade de Manuel Inácio da Cunha e Meneses (1779-1850), o visconde do Rio Vermelho, que ganhou, como sesmaria, a terra que vai dali, da Mariquita, até a sede de praia do Bahia [...] Foi durante muito tempo sede do Aeroclube da Bahia, depois foi demolida e agora fizeram lá, aquela coisa. Ali estava a sesmaria de Manoel Inácio da Cunha e Menezes, no Rio Vermelho." [4]
Entretanto, mais tarde, o rio acabou por tornar-se um esgoto a céu aberto e passou a ser conhecido como rio das Tripas.[5]
História
editarA história do Rio Vermelho tem início no século XVI, com o naufrágio de Diogo Álvares Correia, o Caramuru (1510). O episódio ocorreu no principal largo do Rio Vermelho, o Largo da Mariquita, denominação derivada do tupi mairaquiquiig, que significa 'lugar que dá peixe miúdo'. O peixe miúdo em questão é a petitinga.[5] Ali viviam os tupinambás, e Caramuru foi o elo de comunicação entre os nativos e os europeus.
Quando o primeiro governador-geral chegou a Salvador, as terras a uma légua para o norte e duas léguas para o sertão do Rio Camarajipe foram doadas a Antônio de Ataíde. E assim nasceu o Rio Vermelho. Inicialmente a região tinha poucos habitantes, com uma paisagem de currais, armação de pesca e jesuítas.
Com a invasão holandesa de 1624, muito moradores vieram para o Rio Vermelho, que era distante do local invadido. Aproveitando o clima tenso e a desorganização geral, alguns escravos fugiram para as matas frondosas, formando, em 1629, um quilombo no Rio Vermelho. Esse quilombo foi esmagado três anos depois, por Francisco Dias de Ávila[6] e João Barbosa Almeida.[7]
Ao longo do século XVIII, após uma sucessão de herdeiros, a maior parte das terras ao longo do rio Camarajipe foi parar, já no início do século XIX, nas mãos dos marqueses de Niza, [8] incluindo a fazenda da Paciência, na sesmaria que se estendia desde a foz do rio, na praia da Mariquita.
Em 1839, após a extinção do regime de morgadio, que existira no Brasil desde o século XVII até 1835,[9] a Marquesa de Nisa (viúva e herdeira do 8º marquês de Nisa), dona Eugênia Maria José Xavier Teles de Castro Gama Athaíde Noronha Silveira e Souza - que jamais viera ao Brasil -, vende suas terras do Cabula e do Rio Vermelho ao português Tomaz da Silva Paranhos,[10][11] até então procurador da Casa de Nisa, no país. Todavia, Manuel Inácio da Cunha e Meneses, que na época recebera do Império o título de Visconde do Rio Vermelho, já tinha-se tornado foreiro da maioria das terras do local e lá vivia, em sua fazenda, a explorar contratos de pesca da baleia e o monopólio da comercialização do óleo.
Pescadores, que ali têm presença marcante até hoje, já dominavam o lugar no século XVII. Nas palavras do negociante francês Tollenare, que esteve na Bahia por volta de 1817:[7] [8]
É um povoado de pescadores, de umas 100 cabanas, na foz de um pequeno rio que se lança no mar a uma légua a leste do Cabo de Santo Antônio. Os arredores são encantadores e um forte muito arruinado contribui para o pitoresco da paisagem
Em meados do século XIX, o Rio Vermelho tinha três núcleos de povoamento definidos: Paciência, Mariquita e Sant'Anna. Nesse último, foi erigida a Capela (1852) e depois a Igreja Matriz de Senhora de Sant’Ana,[12]onde, a partir de 1870, passou a realizar-se a Festa de Senhora Sant'Ana, que acontece anualmente, até os dias atuais.[13][14]
Localização e descrição
editarLocalizado entre os bairros de Ondina e Amaralina, tendo ao norte o Engenho Velho da Federação, Santa Cruz e o Nordeste de Amaralina.
No bairro estão situados luxuosos hotéis e pousadas, sendo intensa sua vida noturna. Uma pesquisa feita pelo jornal Correio, em 2016, indicou que o Rio Vermelho tem o quinto menor preço de aluguel de imóvel em Salvador.[15]
Conhecido pelo clima boêmio, pelos acarajés de Cira, de Regina e de Dinha, e pela colônia de pescadores, que, desde 1923, realiza anualmente, no dia 2 de fevereiro, a Festa de Iemanjá, rainha do mar, quando se realiza um cortejo de embarcações e são oferecidos presentes à divindade das águas. Originalmente, as oferendas teriam como finalidade resolver o problema da escassez de peixes, verificada no início da década de 1920. A partir de 1967, a festa de Iemanjá ganha a força e popularidade, até se tornar a maior celebração da cultura afro-brasileira na Bahia. Em 2022, foi reconhecida como patrimônio cultural de Salvador. [16]
Confluindo para o Largo de Santana — onde a antiga capela dedicada a Sant'Ana situa-se bem no meio do caminho -, a Rua da Paciência, que recebe o intenso tráfego da Avenida Oceânica), a Avenida Cardeal da Silva e a Rua João Gomes, o trânsito sofre um afunilamento e, em certos horários, fica praticamente estagnado. Em razão das vias estreitas, mesmo as principais (ruas Oswaldo Cruz e Odilon Santos) possuem tráfego de veículos difícil.
O Rio Vermelho, que dá nome ao bairro mas também é conhecido como Rio Lucaia, margeia a Avenida Juracy Magalhães Júnior. Próximo a sua foz, existe uma estação de condicionamento prévio de esgotos domésticos, onde resíduos sólidos e partículas em suspensão são separadas do efluente final, que é lançado a 2,7 quilômetros da costa pelo emissário submarino do Rio Vermelho, evitando a contaminação da praia.
Apesar do grande crescimento vertical verificado noutras áreas da capital, o Rio Vermelho ainda conserva-se um bairro essencialmente de casas. As estreitas vias mais antigas receberam nomes que homenageiam importantes cidades baianas, como Caetité, Itabuna, Ilhéus, etc.
Na rua Alagoinhas está a casa que foi a residência do falecido escritor Jorge Amado e de sua esposa Zélia Gattai, e onde estão guardadas as cinzas do imortal.
Outro importante logradouro do bairro é o Largo da Mariquita, onde está situado o Mercado do Rio Vermelho (também conhecido como Mercado do Peixe), antiga e tradicional feira livre.
Cultura e religiosidade
editarO bairro é referido em algumas canções, tais como:
E agora estamos aqui
Do outro lado do espelho
Com o coração na mão
Pensando em Jamelão no Rio Vermelho— Onde o Rio é mais baiano, de Caetano Veloso
Havia rosas no mar
Havia ondas na areia
Vá brincar no Rio Vermelho
A festa de Iemanjá
O bairro concentrou as festas de devoção a Sant'Anna e, com a mística da religiosidade afrodescendente, também reuniu o culto a Iemanjá, divindade protetora dos pescadores, ambas com festejos anuais bastante populares na Capital.
A festa de Iemanjá fará o bairro ser retratado no enredo da escola de samba carioca Renascer de Jacarepaguá, no carnaval de 2019.
Demografia
editarO bairro do Rio Vermelho foi listado como um dos menos violentos de Salvador, segundo dados do IBGE e da Secretaria de Segurança Pública divulgados, pelo jornal Correio, no mapa da violência nos bairros da cidade, em 2012.[18] O bairro ficou entre os mais tranquilos em consequência da taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes por ano (com referência da ONU) ter sido "1-30", o segundo menor nível.[18]
Ver também
editar- Arraial do rio Vermelho, núcleo original de povoamento do bairro
- Forte de São Gonçalo do rio Vermelho
- Praia do Rio Vermelho, praia famosa pelo culto a Iemanjá
- Reduto do rio Vermelho, fortim que originalmente ali se situava
- Rio Vermelho, rio que passa pelo bairro e lhe dá nome
- Mercado do Rio Vermelho
Referências
- ↑ G1 Bahia (17 de abril de 2012). «Artistas baianos realizam mostra coletiva no bairro do Rio Vermelho». G1
- ↑ «PDDU 2007». www.cms.ba.gov.br. Consultado em 13 de agosto de 2016
- ↑ «Prefeitura implanta Conselhos Comunitários nos bairros de Salvador». G1 Bahia. 5 de agosto de 2013. Consultado em 24 de agosto de 2015
- ↑ Salvador - Cultura Todo Dia. Rio Vermelho
- ↑ a b Rio Vermelho. Histórico. Curiosidades facom.ufba.br
- ↑ Biografia de Francisco Dias d'Ávila. Por Dilva Frazão. ebiografia.com
- ↑ a b Rio Vermelho - Histórico facom.ufba.br
- ↑ a b Rio Vermelho. Projeto Memória dos Bairros de Salvador. Salvador:Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1988.
- ↑ Bacelar, Jonildo. Amaralina salvador-turismo.com
- ↑ Vasconcelos, Pedro de Almeida Salvador: transformações e permanências (1549-1999). SciELO - Edufba, 2016, p. 212 doi:10.7476/9788523217365 ISBN 9788523217365
- ↑ Cabula vira destino turístico correio24horas.com.br, 10 de abril de 2018.
- ↑ Igreja da Senhora de Sant’Ana do Rio Vermelho salvador-turismo.com
- ↑ Avó de Jesus, Senhora Sant’Ana será homenageada por fiéis no Rio Vermelho arquidiocesesalvador.org.br, 13 de julho de 2022.
- ↑ 100 Anos da Paroquia do Rio Vermelho
- ↑ Eduardo Bittencourt (15 de dezembro de 2016). «Pesquisa indica os bairros mais baratos para alugar um imóvel; veja lista». Correio (jornal). Consultado em 27 de abril de 2019
- ↑ Braga, Josy. Conheça a história da festa do Presente a Iemanjá, que faz cem anos agenciabrasil.ebc.com.br, 2 de fevereiro de 2023.
- ↑ Hornhardt, Nathalie (2 de fevereiro de 2012). «Rosas ao mar». cmais+. Consultado em 1 de abril de 2015
- ↑ a b Juan Torres e Rafael Rodrigues (22 de maio de 2012). «Mapa deixa clara a concentração de homicídios em bairros pobres». Correio (jornal). Consultado em 28 de abril de 2019
Ligações externas
editar- Teixeira, Cid (24 de abril de 1990). «Assim eu vi o Rio Vermelho» (PDF). Salvador. A TARDE
- Seixas, Thaís (27 de março de 2015). «Salvador em bairros: boemia e tradição do Rio Vermelho». Salvador. A TARDE
- Rodrigues, Danutta (29 de julho de 2017). «Ruínas de maternidade no Rio Vermelho recontam parte da história e de figuras ilustres do bairro mais boêmio de Salvador». G1
- Academia dos Imortais do Rio Vermelho
- Associação dos Moradores da rua Barro Vermelho
- Associação dos Moradores e Amigos do Rio Vermelho (AMARV) no Facebook