Ruínas romanas de Troia
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As ruínas romanas de Tróia são um sítio arqueológico situado na margem esquerda do rio Sado, na face noroeste da península de Troia, em frente a Setúbal, no município de Grândola, freguesia do Carvalhal, em Portugal. As ruínas, que abrangem várias construções do período entre os séculos I ao VI, estão classificadas como Monumento Nacional desde 1910.[1][2]
Ruínas romanas de Troia | |
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Vista das ruínas | |
Informações gerais | |
Tipo | Complexo industrial romano de salga de peixe |
Início da construção | século I |
Proprietário inicial | Império Romano |
Função inicial | Civil |
Proprietário atual | República Portuguesa |
Função atual | Cultural |
Património de Portugal | |
DGPC | 69755 |
SIPA | 3454 |
Geografia | |
País | Portugal |
Cidade | Troia (Grândola), Grândola |
Coordenadas | 38° 29′ 10,75″ N, 8° 53′ 05,96″ O |
Geolocalização no mapa: Portugal Continental |
História
editarNeste local existiu um agregado populacional dedicado à pesca e ao fabrico e exportação de conservas de peixe (garum), ativo desde o século I até o século VI[3][4][5].[2] É provável que a península onde se localizava o povoado fosse, naquela época, uma ilha, que alguns identificam com a ilha de Ácala referida na obra Ora Maritima, de Avieno, um escritor latino do século IV. Não existem, no entanto, dados arqueológicos que o comprovem.[6] Foi parte do território da cidade de Salácia (atual Alcácer do Sal).[6]
No século XVI, os humanistas Gaspar Barreiros e André de Resende referem-se às ruínas, mas parecem te-las confundido com Cetóbriga (Setúbal).[7][8] Vários autores as mencionam nos séculos seguintes, e na segunda metade do século XVIII foram realizadas as primeiras escavações arqueológicas conhecidas, patrocinadas pela infanta (e futura rainha) Dona Maria I.[2][8] Nestes trabalhos foram escavadas umas casas romanas na zona hoje chamada "Rua das Casas da Princesa", em homenagem à infanta.[9]
Em 1850 as escavações ganharam novo ímpeto com a criação da Sociedade Arqueológica Lusitana, que realizou trabalhos nas "Casas da Princesa", onde encontram paredes com pinturas e pisos com mosaicos, entretanto desaparecidos.[9] Mais recentemente foram levadas a cabo várias campanhas entre 1948 e 1967, nas quais foram escavados os banhos, as casas de salga, as necrópoles e a basílica paleocristã.[8]
Indústria e ruínas
editarAs estruturas mais características de Troia são as muitas oficinas de salga de peixe. Além destas, as ruínas abrangem ainda um núcleo habitacional com casas de rés-do-chão e primeiro andar (as chamadas "Casas da Princesa"), várias necrópoles, um columbário, termas, uma roda de água (rota aquaria) e os restos de uma basílica paleocristã.[2][6][8]
Oficinas de salga
editarA atividade industrial de Tróia estava centrada na pesca e fabrico de peixe em conserva, que era exportado para o resto do Império Romano e esteve ativo entre os séculos I e VI d.C.[6] A localização numa ilha, a abundante pesca, a excelência do sal da região e a disponibilidade de ânforas foram condições ideais para a atividade.[6][8] As ânforas utilizadas como envase eram provenientes de olarias situadas na margem direita do rio Sado, como Abul, antiga feitoria fenícia.[10]
As oficinas de salga eram constituídas por uma série de tanques (cetárias) organizados ao redor de um pátio central.[11] Um total de vinte oficinas foram identificadas, com dimensões variadas: a maior tinha mais de 1000 m2 e agrupava 19 tanques, enquanto que a menor tinha 135 m2 e 9 tanques.[11] Pela grande densidade de tanques, acredita-se que era produzida uma considerável quantidade de peixe para exportação, ainda que os volumes sejam hoje desconhecidos.[8]
Termas
editarOs restos das termas, escavados em 1956,[8] ocupam uma área de 450 m2.[12] Incluíam apoditério (vestíbulo), frigidário (tanque de água fria), tepidário (água morna), caldário (água quente), com sistema de aquecimento subterrâneo (hipocausto), além de piscinas diversas e sala de ginástica.[12] Numa das piscinas há restos de mosaicos.[2]
Produção de garum em 2021
editarEm 2021, a equipa de arqueologia das Ruínas Romanas de Tróia e o restaurante CAN THE CAN realizaram, pela primeira vez em mais de quinze séculos, uma produção de Garum num dos tanques de salga de peixe deste complexo arqueológico.
A produção resultante de Garum (prevista entre os 200 e os 300 litros) será posteriormente comercializada. Esta é também uma oportunidade para promover e revitalizar a história e património conservados nas Ruínas Romanas de Tróia.[13]
Ver também
editarBibliografia
editar- Alarcão, Jorge de (1988). O domínio romano em Portugal 2 ed. Mem-Martins: Publicações Europa-América
- Costa, António Inácio Marques da (1923–1924). Estudos sobre algumas estações da época luso-romana nos arredores de Setúbal (PDF). 26. in O Archeologo Português, Série 1. [S.l.: s.n.] p. 314-328. Consultado em 23 de junho de 2012
- Costa, António Inácio Marques da (1925–1926). Estudos sobre algumas estações da época luso-romana nos arredores de Setúbal (PDF). 27. in O Archeologo Português, Série 1. [S.l.: s.n.] p. 165-181. Consultado em 23 de junho de 2012
- Diogo, A. M. Dias; Paixão, A. Cavaleiro (2001). Ânforas de escavações no povoado industrial romano de Troia, Setúbal (PDF). 4. in Revista Portuguesa de Arqueologia, n.º 1. [S.l.: s.n.] Consultado em 23 de junho de 2012
- Etienne, Robert; Makaroun, Yasmine; Mayet, Françoise (1994). Un grand complexe industrial a Troia (Portugal). Paris: Diffusion E. de Boccard
- Silva, Carlos Manuel Lindo Tavares da; Cabrita, Mateus Goncalves (1966). O problema da destruição da povoação romana de Troia de Setúbal (PDF). in Revista de Guimarães (Janeiro-Junho) n.º 76 / 1-2. Guimarães: [s.n.] p. 147-156. Consultado em 23 de junho de 2012
Referências
- ↑ [1] no sítio do IGESPAR
- ↑ a b c d e Ruínas de Troia na base de dados SIPA do DGPC
- ↑ Etienne 1994, p. 30.
- ↑ Etienne 1994, p. 39.
- ↑ Silva 1966, p. 147.
- ↑ a b c d e As ruínas no sítio Troiaresort
- ↑ História no sítio Troiaresort
- ↑ a b c d e f g Ana Patrícia Miranda Magalhães da Silva A terra sigillata da oficia de salga I de Troia: Contextos de escavações antigas e recentes. Tese de Mestrado, Universidade de Lisboa. págs 5 a 11. 2010.
- ↑ a b Casa da Rua da Princesa no sítio Troiaresort
- ↑ Mayet Françoise; Silva, Carlos Tavares da; Makaroun Yasmine. L'établissement phénicien d'Abul (Portugal). In Comptes-rendus des séances de l'année... - Académie des inscriptions et belles-lettres, 138e année, N. 1, 1994. pp. 171-188.
- ↑ a b Oficinas de Salga no sítio Troiaresort
- ↑ a b Termas no sítio Troiaresort
- ↑ «Pela primeira vez em quinze séculos, Ruínas Romanas de Tróia voltaram a produzir Garum»
Ligações externas
editar- [2] (página oficial)
- Ruínas romanas de Troia no sítio do IGESPAR
- Ruínas de Troia na base de dados (SIPA/DGPC)
- Tróia na base de dados Portal do Arqueólogo da Direção-Geral do Património Cultural