Rua das Trincheiras
A Rua das Trincheiras é um histórico logradouro de João Pessoa, capital do estado da Paraíba, no Brasil, que possui aproximadamente 1 km de extensão, localizando-se no bairro Trincheiras e interligando o Centro com os bairros de Jaguaribe e Cruz das Armas, zona oeste da urbe.[1]
História
editarEm torno de 1710, durante a Guerra dos Mascates, em Pernambuco, ocorreu a construção de entrincheiramentos na região, no qual, atualmente se localiza a rua; complementando as atividades de defesa do Forte Balmarte. Por se encontrar em uma localidade periférica, o espaço tinha importância como interligação entre a capital paraibana e Pernambuco, assim como de outros centros urbanos nas proximidades.[1]
O povoamento da área teve início nas décadas finais do século XVIII por classes mais empobrecidas que mantiveram atividades econômicas, principalmente, ligadas ao abate de animais e comércio com viajantes. Aproximadamente na época, iniciou-se a construção da Igreja de Nossa Senhora de Lourdes - antes denominada como Igreja do Senhor Bom Jesus dos Martírios e assentada no começo da Rua das Trincheiras - pelo governo regional a fim de desenvolver uma sede da Irmandade do Senhor Jesus do Bonfim, porém, devido à localização estratégica e os entrincheiramentos próximos, houve a vontade de se erguer um assentamento militar. No entanto, o terreno da igreja foi finalmente repassado para uma irmandade católica (Irmandade Senhor do Bom Jesus dos Martírios) em 1829.[2]
Em meados do século XIX, com o acúmulo de capital desencadeado pela grande produção de algodão na província paraibana, a área passou a abrigar moradias de famílias mais ricas em sítios e chácaras que possibilitavam um intermédio rural-urbano e uma expansão a partir do Centro da infraestrutura urbana na localidade. Porém, foi no início do século XX, após um período ainda mais forte na produção do algodão, de investimentos empresariais ingleses e reflexos econômicos positivos na região e no país, que a cidade conquistou importante modernização de sua infraestrutura. Na última década do século XIX, foi instalado na Rua das Trincheiras um sistema de bondes movidos a tração animal (burros) que percorriam diferentes pontos da cidade. Com isso, demonstra-se que a antiga área periférica de João Pessoa passou a obter importante finalidade para o setor econômico da urbe, já que foi morada de grandes comerciantes e empresários ao longo dos terrenos que sobravam na rua.[1]
Assim, as famílias mais ricas que se estabeleceram nas imediações da Rua das Trincheiras ergueram residências alinhadas às distintas composições arquitetônicos europeias, mas com preocupações voltadas ao conforto, higiene e o espaçamento de jardins e fachadas. Um desses estilos foi, por exemplo, o da Art Nouveau, que teve bastante relevância no final do século XIX e início do XX, no que é mencionado como Belle Époque.[1]
Em 1918, uma balaustrada em estilo neoclássico foi construída ao longo de parte da rua, margeando o topo de um precipício, oferecendo visão à várzea paraibana e à Ilha do Bispo. Durante a prefeitura de Oswaldo Pessoa, entre os anos de 1947 e 1951, um busto de Francisco Camilo de Holanda produzido pelo artista pernambucano Bibiano Silva foi implantado na balaustrada. Camilo de Holanda foi governador da Paraíba entre os anos de 1916 e 1920 durante forte modernização da capital.[3][4]
No entanto, a modernização na capital promoveu uma expansão urbana também para à zona leste, compreendendo o bairro de Tambiá. Nas décadas seguintes, esse processo foi responsável por uma desvalorização dos imóveis pertencentes ao logradouro, ocasionando no crescente abandono das residências.[1]
Atualidade
editarA Rua das Trincheiras ainda permanece como importante logradouro da região, porém, imóveis em antigo estilo arquitetônico ainda sofrem com o abandono mesmo inseridas no perímetro de conservação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba (IPHAEP).[1] Com isso, programas governamentais têm discutido desapropriações a fim de gerar a funcionalidade habitacional, turística e de prestação de serviços públicos pelas entidades civis, educacionais, instituições filantrópicas, assistenciais, etc. As ruínas e os imóveis abandonados são visadas pelas famílias de baixa renda para ocupação.[5]
A partir do Centro de João Pessoa, a Rua das Trincheiras é um seguimento da Rua Duque de Caxias e precede a Rua João da Mata, antiga Rua São Paulo, que, por sua vez, é seguimento para a Avenida Cruz das Armas.[4]
Referências
- ↑ a b c d e f Oliveira, Marina Goldfarb de (2009). «A Presença do Art Nouveau na Rua das Trincheiras» (PDF). Universidade Federal da Paraíba. Consultado em 30 de outubro de 2018
- ↑ «Igreja Nossa Senhora de Lourdes» (PDF). Memória João Pessoa. Consultado em 30 de outubro de 2018
- ↑ Biserra, Ingrid Karla Cruz (2015). «Educação na Primeira República Parahybana: legislação, imprensa e sujeitos no governo de Camillo de Hollanda (1916-1920)» (PDF). Universidade Federal da Paraíba. Consultado em 30 de outubro de 2018
- ↑ a b «Balaustrada da Avenida João da Mata» (PDF). Memória João Pessoa. Consultado em 30 de outubro de 2018
- ↑ Business, EW3 Internet. «Prédios abandonados podem ser desapropriados em João Pessoa; confira - PB Agora». www2.pbagora.com.br. Consultado em 31 de outubro de 2018