Ruderal (do latim: ruderis; "entulho") é a designação dada em ecologia às comunidades vegetais que se desenvolvem em ambientes fortemente perturbados pela acção humana, como seja cascalheiras, depósitos de entulho, aterros, bermas de caminhos e espaços similares. Por extensão, designam-se por "plantas ruderais", ou por "vegetação ruderal", as espécies e as comunidades vegetais típicas desses ambientes.

Muitas plantas ruderais aparecem nas listas de espécies daninhas devido ao fato de apresentarem crescimento vegetativo rápido, produção rápida de sementes e/ou propágulos com diversificados mecanismos de dormência, sendo altamente prolíficas e, portanto, priorizam a reprodução e a formação de banco de propágulos (sementes), além disso como são favorecidas em ambientes perturbados, propagam-se em campos agrícolas.[1]

As espécies que ocorrem nessas comunidades podem incluir nativas e exóticas. Um estudo realizado em uma área de pastagem abandonada às margens da Represa de Itupararanga, Votorantim (São Paulo, Brasil) encontrou 25 espécies, as quais foram identificadas e separadas em dois grupos: as tóxicas (5 espécies) e as não tóxicas para o gado e/ou o ser humano. Dentre as não-tóxicas, várias delas são reportadas como de uso medicinal pela população local.[2] Em outro estudo realizado na cidade de Cuiabá (Mato Grosso, Brasil) foram identificadas 109 espécies de 81 gêneros. distribuídos por 35 famílias botânicas, indicando uma elevada diversidade. A família Poaceae apresentou o maior número de espécies (14), seguida de Asteraceae (13), Fabaceae (11), Euphorbiaceae (10) e outras com menor número. Dentre as espécies levantadas, menciona-se uso medicinal para 48 delas.[3] A comunidade de plantas ruderais da cidade de Curitiba (Paraná, Brasil) inclui 141 espécies, em 34 famílias botânicas e as famílias com maior número de espécies também foram Asteraceae (28) e Poaceae (15).[4] Um Unaí (Minas Gerais, Brasil), observou-se 21 espécies pertencentes a 10 famílias botânicas, com maior número em Convolvulaceae (5 espécies) e Fabaceae (4 espécies).[5]

Na comparação entre os levantamentos, verificou-se que poucas espécies simultaneamente ocorrem nos diferentes locais, como por exemplo Asclepias curassavica L. (Asclepiadaceae) e Solidago chilensis Meyen (Asteraceae) ocorrem no levantamento em Votorantim e Curitiba;[2][4] Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze e Bidens pilosa L. (Asteraceae) e Ipomea purpurea Lam. (Convolvulaceae) foram citadas em Curitiba e Cuiabá;[3][4] Sida rhombifolia L. (Malvaceae) foi observada nos quatro locais.[2][3][4][5]

Conclui-se que o clima, a flora original e outros fatores intervém na diversidade e similaridade das comunidades ruderais. Na comparação da flora ruderal da cidade de João Pessoa (Paraíba, Brasil), observou-se maior similaridade com as foras ruderais do Sul e Sudeste do Brasil e menor similaridade com as floras da região Norte.[6]

Dentre as plantas ruderais não tóxicas, diversas tem potencial alimentício, que tem sido estimulado a partir do estudo das plantas alimentícias não convencionais (PANCs). Um estudo menciona oito espécies, destacando os aspectos nutricionais e receitas para o preparo.[7] Destaca-se ainda que tais plantas podem ser relevantes para a sustentabilidade dos sistemas de produção de base ecológica, com citação para as seguintes espécies: o caruru (Amaranthus sp. Amaranthaceae), a beldroega (Portulaca oleracea Portulacaceae) e a serralha (Sonchus oleraceus Asteraceae).[8]

Conclui-se que as plantas ruderais merecem mais atenção de estudos com diferentes abordagens.

Referências

  1. CARVALHO, Leonardo (2013). Plantas Daninhas (PDF). Lages, SC: do Autor. 92 páginas. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  2. a b c Cattani, Sílvia (2009). «Levantamento de espécies ruderais em uma área de pastagem abandonada na Represa de Itupararanga, Votorantim-SP.». Revista Eletrônica de Biologia. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  3. a b c Pedrotti, Débora (1998). «FLORA RUDERAL DA CIDADE DE CUIABÁ, MATO GROSSO, BRASIL». ACta Botanica Brasilica. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  4. a b c d Cervi, Armando (1988). «Catálogo das plantas ruderais da cidade de Curitiba, Brasil. Estudos preliminares III». Acta Biologica Paranaense. Consultado em 18 de outubro de 2019 
  5. a b Silva, Breenda Ribeiro (2018). LEVANTAMENTO DE PLANTAS RUDERAIS DO BAIRRO CACHOEIRA EM UNAÍ (MINAS GERAIS, BRASIL). Unaí: UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI. 25 páginas 
  6. Sousa, Viviane (2012). «SIMILARIDADE DE VEGETAÇÃO RUDERAL ENTRE REGIÕES DO BRASIL». REVISTA GEONORTE, Edição Especial, V. 1, N.4, p. 274 - 283 , 2012 
  7. Paleari, Lúcia Maria. Guia Alimentar: Plantas Ruderais. sem local: Rede de Defesa e Promoção da Alimentação Saudável Adeauda e Solidária. 32 páginas 
  8. Fonseca, Cristine (2017). «A importância das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCS) para a sustentabilidade dos sistemas de produção de base ecológica.». Agroecologia 2017 


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