Sabiá (canção de Chico Buarque e Tom Jobim)
"Sabiá" é uma canção escrita por Chico Buarque em música de Tom Jobim, realizada em fins de 1968.
No repertório de Chico Buarque, a música aparece no disco Chico Buarque - Não vai Passar, vol. 4, ao lado de outras composições como Retrato em branco e preto, O velho, Ela desatinou, Tema para Morte e Vida Severina, Desencontro, Benvinda, Até Segunda-Feira, Umas e Outras, Onde é Que Você Estava, todas produzidas em 1968 ou em 1969.[1]
Produção
editarA letra de "Sabiá" é inteiramente de Chico Buarque, embora Tom Jobim tenha achado que a composição pedia mais algum verso e que estava muito pequena, repetindo de forma insuficiente alguns trechos e, por isso, produziu um pedaço da letra, mas ela sumiu depois.[2] Chico Buarque, em uma entrevista, declarou que o trecho com a letra de Tom Jobim chegou a ser gravado, e era algo como "Que a nova vida já vai chegar" e/ou "que a solidão vai se acabar".[2]
Mas essa não foi a única discórdia dos dois a compor "Sabiá": quando Chico apresentou a Tom Jobim, ele não gostou do fato de o letrista ter colocado a palavra sabiá no gênero masculino, segundo Chico, protestou:
"É bom 'uma sabiá' ", ele falava, "porque é linguagem de caçador... caçador não fala 'um sabiá', fala 'uma sabiá', 'uma gambá'..." Mas depois ele gravou a música "O Meu sabiá".[3]
Recepção
editarEm 29 de setembro de 1968, a música foi apresentada no Maracanãzinho durante o III Festival Internacional da Canção, mas recebeu vaias quase unânimes que, segundo um repórter da Folha de S.Paulo, "[era] a mais sonora já acontecida em toda a história dos festivais de música popular".[4] Humberto Weneck, em seu Chico Buarque Letra e Música escreve que a recepção foi pior do que a recepção que o público fez da canção É Proibido Proibir, de Caetano Veloso, feita duas semanas antes.[4]
Embora o público cantasse Pra não Dizer que não Falei das Flores (conhecida como Caminhando), de Geraldo Vandré, "Sabiá" acabou sendo premiada, mas criticada por sua "desvinculação da realidade nacional", embora outros a examinassem como uma nova e premonitória Canção do Exílio.[4]
Análise
editar"Sabiá" é vista como um retrato do problema de uma pátria configurada pela carência:[5]
- "Quero deitar à sombra de uma palmeira que já não há
- Colher a flor que já não dá"
Ao contrário da Canção do Exílio, "a flor que já não dá" representa uma nação esvaziada.[5] Segundo alguns críticos, Chico escreveu a letra da música sob influência de um pensamento de seu pai — Sérgio Buarque de Hollanda — que dizia "somos uns desterrados em nossa própria terra", descrição aforista de uma realidade contundente e dolorosa.[5]
Os analisadores também têm chamado a atenção ao fato de que, quando a música foi composta, Chico ainda não estava em exílio e, por isso, usou um eu-lírico imaginário, mas quando isso ocorreu e ele deixou o Brasil partindo para a Itália, pôde passar pela experiência de exílio e, assim, retratou os ocorridos em Samba de Orly, em parceria com Toquinho e Vinicius de Moraes.[5]
Em entrevista concedida cerca de 40 anos[6] após o lançamento da canção, Chico Buarque confirmou que ela foi inspirada na "Canção do Exílio", mas negou que ela tivesse uma conotação política, definindo-a como "lírica". Negou também que ela falasse do ponto de vista de um artista exilado, uma vez que ela foi concebida antes do AI-5, ou seja, num período em que a classe artística ainda não era tão visada pelos militares.[7]
Referências
- ↑ Página Virtual de Chico Buarque: Discografia:Chico Buarque - Não vai Passar, vol. 4
- ↑ a b Notas sobre Sabiá (Entrevista com Chico Buarque), por Luiz Roberto de Oliveira. Acesso: 28 de setembro, 2008
- ↑ Luiz Roberto de Oliveira, na Entrevista na página virtual de Tom Jobim
- ↑ a b c Humberto Werneck, "Gol de letras", em Chico Buarque Letra e Música, Cia da Letras, 1989
- ↑ a b c d Meneses, Adélia Bezerra de. Desenho mágico, Editora Hucitec, 1982
- ↑ Terra, Renato; Calil, Ricardo (2013). «Chico Buarque». Uma Noite em 67: entrevistas completas com os artistas que marcaram a era dos festivais. São Paulo: Planeta. p. 106. 296 páginas. ISBN 978-85-422-0082-9
- ↑ Terra, Renato; Calil, Ricardo (2013). «Chico Buarque». Uma Noite em 67: entrevistas completas com os artistas que marcaram a era dos festivais. São Paulo: Planeta. p. 99. 296 páginas. ISBN 978-85-422-0082-9