Sanfins de Ferreira
Sanfins de Ferreira, também conhecida simplesmente como São Pedro Fins de Ferreira ou apenas Sanfins, é uma povoação portuguesa do Município de Paços de Ferreira que foi sede da extinta Freguesia de Sanfins de Ferreira, freguesia que tinha 6,53 km² de área e 3 139 habitantes (2011), e, por isso, uma densidade populacional de 480,7 hab/km².
Sanfins de Ferreira
| |
---|---|
Freguesia portuguesa extinta | |
![]() | |
Localização | |
Localização de Sanfins de Ferreira em | |
Mapa de Sanfins de Ferreira | |
Coordenadas | 41° 19′ 39″ N, 8° 22′ 57″ O |
Município primitivo | Paços de Ferreira |
Município (s) atual (is) | Paços de Ferreira |
Freguesia (s) atual (is) | Sanfins Lamoso Codessos |
História | |
Extinção | 2013 |
Características geográficas | |
Área total | 6,53 km² |
População total (2011) | 3 139 hab. |
Densidade | 480,7 hab./km² |
![](http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d1/Citania_de_Sanfins_Portugal_04.jpg/337px-Citania_de_Sanfins_Portugal_04.jpg)
A Freguesia de Sanfins de Ferreira foi extinta em 2013, no âmbito de uma reforma administrativa nacional, tendo sido agregada às Freguesias de Lamoso e de Codessos para formar uma nova freguesia denominada Sanfins Lamoso Codessos.[1]
No território da Freguesia de Sanfins de Ferreira situava-se um povoado castrejo a Citânia de Sanfins, o Mosteiro e couto e Comenda da Ordem de Cristo de S. Fins de Ferreira, a Casa de Vila Cova, a Casa da Igreja e Solar dos Brandões, onde hoje se encontra instalado o Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins
História
editarA história de Sanfins de Ferreira[2] brota dos seus castros, das suas moedas e aras romanas, das suas sepulturas suévicas, dos seus topónimos e das suas lendas mouras, dos seus registos desde o século X no Livro de Mumadona Dias, [3], das suas Vila Colina e Vila Cova, do seu Couto e do seu Mosteiro[4], dos conflitos entre as Dioceses (Braga e Porto), das suas referências na 1ª inquirição régia (1220), dos seus fidalgos e cavaleiros, da sua Igreja (S. Félix), no Termo de Ferreira e Terra de Ferreira[5], da sua Honra de Nuno Álvares Pereira[6] da sua Comenda (Ordem de Cristo), do seu 1º comendatário (D. Miguel da Silva, Cardeal da Santa Sé), dos seus afrescos renascentistas[7], do seu Tombo no Foral da Honra de Sobrosa, do Tombo da sua Igreja e Comenda[8], das suas casas e dos seus solares brasonados, das Revoluções Liberais[9].
Sam Fins ou Sam Félix é orago de igreja no antigo Termo de Ferreira. O culto a Sam Félix de Girona (festa a 1 de agosto) é anterior à entrada dos mouros na Península Ibérica e desse tempo Suévico/Visigótico (século VII) há registos da existência de sepulturas escavadas na rocha[10], nas imediações da antiga Igreja de Sanfins de Ferreira.
Ainda antes da fundação de Portugal, nos tempos dos condes (datado de 976) temos a certeza da existência de frades da Ordem de S. Paulo e as referências documentais do” Mosteiro de Santa Maria de Cacães” (território que se situa nos fins de Eiriz, junto à Trindade – S. Salvador de Meixomil), onde fala do bispo São Cibrão[11]. S. Cibrão é ainda hoje topónimo de Sanfins de Ferreira e de sua capela restam ruínas. Situado na encosta do Castro, entre Sanfins de Ferreira, Portela (Codessos) e São Mamede de Negrelos, S. Cibrão foi marcante na vida destas terras: foi doado por Mumadona (séc. X), aparece como sendo Reguengo (Inquirições de 1258), pertence à Terra de Ferreira e (Foral, 1514) e integra a Comenda de S. Pedro Fins de Ferreira e de sua anexa Santa Maria de Lamoso Sanfins de Ferreira, que em 1777 pertencia Francisco de Abreu Pereira Cirne Peixoto, fidalgo da Casa Real[12].
Da Idade Média temos também o cemitério capela de S. Romão, lá no alto da colina (Citânia), assim como a existência de pratos e bilhas, encontrados recentemente, na bouça da Freiria. Destes tempos e desta Freiria temos o registo documental da existência do Mosteiro[13] de renda “Francisquo Saam Fyns de Ferreira”.
Ainda antes da Nacionalidade, este território (“Vila Colina” e “Vila Cova”), é várias vezes referido no Livro a Mumadona (ano de 1059), é afirmado como sendo “em Ferreira”, e que Ferreira é o nome dado a toda esta Chã onde brota o rio Ferreira[14].
No período da reconquista, foi restaurada a Diocese de Braga (1070) e Ferreira ficou a pertencer-lhe. Há registos que afirmam que, no ano de 1111, o cavaleiro Soeiro Viegas é senhor do “Couto de Fins de Ferreira” e que aqui fundou um mosteiro. O título nobiliárquico de “senhor do Couto de Fins de Ferreira” consta no século XII[15] e pertencia a Rui Peres Ferreira.
Em 1113, quatro décadas depois do restauro da Diocese de Braga, é restaurada a Diocese do Porto e desde logo começou a luta pelos domínios desta Chã Ferreira e pelo seu Couto. Este território e Couto foi então dividido. A Diocese do Porto fica com os domínios que integravam o Termo de Aguiar e o seu “novo” Mosteiro de S. Pedro de Ferreira[16]. Arquidiocese de Braga acaba por assegurar os domínios correspondentes ao Termo de Ferreira e à sua antiga Igreja de S. Fins de Ferreira.
O que ficou a dividir as dioceses (Braga e Porto) foi a bacia hidrográfica do rio que hoje é conhecido como “Rio Carvalhosa” mas que nas Inquirições é referenciado como o "Rio de Ferreira"[17] e que tem a sua nascente mais distante da foz nas Terra de Ferreira, situada já em Santiago de Lustosa.
O nome da Igreja de Sanfins de Ferreira aparece já nas Inquirições Régias (1220) como pertencendo à Braga. Por este documento régio, ficamos a saber que esta terra é no “Termo de Ferreira” e que o seu orago é S. Félix (“Sancto Felici”), Igreja bastante rica, possuindo “sesnarias”, “casais (viiij)”, “um campo” em Cacães e “meia ermida”.
O Termo de Ferreira tinha por centro a Honra da Quintã de Ferreira. O Termo de Ferreira era uma divisão administrativa, similar aos atuais concelhos, e abrangia o território que, até 1882, pertenceu à Arquidiocese de Braga e que corresponde a: Santa Cruz (Cacães); S. João de Eiriz; S. Fins; S. Tiago de Carvalhosa; S. João de Portela (Codessos); S. Tiago de Lustosa e S. João de Souselas . Note-se que a antiga igreja de S. Pedro da Raimonda (Godosende) integrava S. Tiago de Lustosa e que Santa Maria de Lamoso integrava S. Fins de Ferreira, como se pode verificar nas Inquirições de 1258, sendo que "quintã velha" de Ferreira, "era de fidalgos e pertencera ao conde D. Mendo de Souza"[18]
A Cruz Templária encontrava-se (até 1979) em Sanfins de Ferreira e consta no seu brasão[19] mas Sobre a presença ou posses da Ordem do Templo ou de Cavaleiros Templários, tal como nas outras freguesias que constituem o concelho de Paços de Ferreira, não há qualquer registo. .
O nome desta terra é tão importante que acabaria por ser adoptado pelos senhores que a possuíam e os Ferreira foram distintos cavaleiros. Os Ferreira foram senhores da “Igreja de S. Fins de Ferreira”, da “Honra de Ferreira”, da “Terra de Ferreira”, e guardam o seu brasão cravado – ainda hoje – na Casa do Paço (em Ferreira, na atual paróquia de S. João de Eiriz) e na Solar dos Brandões (em Igreja, na atual paróquia de S. Pedro e Sanfins de Ferreira[20]).
Em 1258 (Inquirições Régias) Sanfins de Ferreira mantém as suas possessões e afirma-se que Santa Maria de Lamoso era anexa à Igreja de Sanfins de Ferreira.
Nos tempos da fundação da Dinastia de Avis, (séc. XIV), S. Fins de Ferreira continuou a ser distinta e foi Honra do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, tendo passado para o seu sobrinho, o cavaleiro D. João Rodrigues Pereira. Ainda hoje, junto ao lugar da Torre, há o lugar e Casa da Pereira e a secular Calçada da Pereira, que leva à Citânia.
O rei D. Manuel confirma a importância estratégica de Sanfins de Ferreira e, nos inícios dos anos 1500, transforma esta Igreja e Mosteiro em “Igreja e Comenda de Samfynz de Ferreira”, da Ordem de Cristo[21], cujo primeiro comendatário foi o humanista D. Miguel da Silva (Bispo de Viseu, Escrivão da Puridade de D. João III e Cardeal da Santa Sé).
Os Forais, por ordem do mesmo rei D. Manuel I, confirmam a importância, a autonomia e a extensão de Sam Fins de Ferreira. O Foral da “Terra de Ferreira” (1514), dos territórios de Sanfins de Ferreira, refere apenas uma renda de S. Cibrão. O Foral da “Honra de Sobrosa” (1519), integra no “T. da Freguesia de Sam Fins de Ferreira” um conjunto de terras que se alonga pelo vale: dois casais da Lavandeira, um casal da Fervença; dois casais de Bairros; dois casais de Cavaleiros; Pardelhas; casal e paredes de S. João da Portela; um casal de Várzea.
De 1512 chega também o registo do Mosteiro medieval de renda “Francisquo Saam Fyns de Ferreira”. Deste Mosteiro pouco se sabe. Será de admitir a hipótese do Mosteiro, inicialmente existente na encosta da Freiria (onde foram encontrados pratos e bilhas em barro e cujo espaço religioso medieval é já referido no ano de 976, no testamento de Trastina), ter sido integrado na paróquia e, por isso, transferido para o terreno junto da Igreja, onde (depois de 1836) viria a ser colocado o cemitério paroquial. Deste cemitério ainda nos resta a sepultura de Francisco Ferreira Coelho, bacharel em medicina, 2º marido de Maria da Conceição de Brandão Barbosa e Silva, do Solar dos Brandões.
É ainda no decorrer dos meados deste século XVI que esta Igreja (de “São Pedro Fijz de terra de Ferreira”) foi objeto de grandes obras, tendo-se realizados notáveis afrescos, dos quais ainda restam alguns fragmentos (S. Brás), no “arco triunfal do lado da Epístola e do lado do Evangelho”.
Em 1569, no Livro das Visitações, o arcebispado diz ao comendador que “mande consertar o forro da capela, mais uma caixa para os paramentos”, e fala-se então da Igreja, da Casa da Igreja e da Capela, que será da Nossa Senhora da Guia.
O ano de1617 é de uma importância vital para o processo de identificação do orago desta freguesia. Neste ano, o visitador dá ordem para se colocar “uma imagem de vulto de S. Pedro no nicho do Altar-mor, feita por mão de bom oficial”. É esta a origem, por ordem do Arcebispo e não pela religiosidade do povo, da imagem de São Pedro ad Vincula, pintado no painel que identifica o orago da Paróquia e que se encontra no auditório do Centro Social e Paroquial de Sanfins de Ferreira.
Esta Igreja e “Comenda de S. Pedro de Fins de Ferreira”, pertenceu sempre a grandes senhores da Igreja e fidalgos do Reino. O 1º foi o Cardeal da Santa Sé e o último foi o Conde de Almada.
Na Torre do Tombo, há ainda uma carta enviada pelo do Pároco António Marcelino Martins Machado à Rainha D. Maria, datada de 27/05/1850, sobre assuntos da “Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira.”[22] Este período da História de Portugal foi muito tumultuoso: época de revoluções, de guerra civil, de reformas administrativas, de extinção das ordens religiosas e das Comenda. Os estragos por esta terra foram de tal modo que a “Igreja de S. Pedro Fins de Ferreira”, como se vê na padieira da porta central, teve que ser reedificada em 1865.
Em 1882, a Diocese do Porto (700 anos depois da sua restauração) recupera os seus antigos limites (até ao Rio Ave) e a Paróquia de S. Pedro Fins de Ferreira deixa de pertencer à Arquidiocese de Braga para integrar a Diocese do Porto.
População
editarPopulação da freguesia de Sanfins de Ferreira [23] | ||||||||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
1864 | 1878 | 1890 | 1900 | 1911 | 1920 | 1930 | 1940 | 1950 | 1960 | 1970 | 1981 | 1991 | 2001 | 2011 |
572 | 519 | 539 | 551 | 574 | 620 | 706 | 861 | 1 123 | 1 389 | 1 779 | 2 257 | 2 629 | 3 005 | 3 139 |
Distribuição da População por Grupos Etários | |||||||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Ano | 0-14 Anos | 15-24 Anos | 25-64 Anos | > 65 Anos | 0-14 Anos | 15-24 Anos | 25-64 Anos | > 65 Anos | |
2001 | 700 | 510 | 1 566 | 229 | 23,3% | 17,0% | 52,1% | 7,6% | |
2011 | 639 | 438 | 1 763 | 299 | 20,4% | 14,0% | 56,2% | 9,5% |
Média do País no censo de 2001: 0/14 Anos-16,0%; 15/24 Anos-14,3%; 25/64 Anos-53,4%; 65 e mais Anos-16,4%
Média do País no censo de 2011: 0/14 Anos-14,9%; 15/24 Anos-10,9%; 25/64 Anos-55,2%; 65 e mais Anos-19,0%
Associações
editar- Rancho Folclórico da Citânia de Sanfins
Fundação: 1980 Deslocações: Portugal, Espanha, França e Alemanha
- Grupo Cultural e Desportivo Leões da Citânia
Fundação: 1980 Divisão: 1ª Distrital (Porto)
- Grupo de Bombos Amigos da Borga
Fundação:1999 Deslocações: Portugal
- Clube de Caça e Pesca da Citânia de Sanfins
- APDS: Associação para o Desenvolvimento de Sanfins
Fundação: 1998
- Associação Folclórica Independente de Sanfins de Ferreira
Fundação: 1982 Deslocações: Portugal
Património
editar- Citânia de Sanfins
- Penedo das Ninfas (inscrição gravada em penedo na Bouça de Fervenças)
- Solar dos Brandões
- Cruzeiro dos Templários
Ver também
editarReferências
- ↑ Diário da República, 1.ª Série, n.º 19, Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro (Reorganização administrativa do território das freguesias). Acedido a 21 de junho de 2016.
- ↑ «O Santo de uma Terra: Sanfins de Ferreira»
- ↑ https://archive.org/stream/vimaranismonumen01guim/vimaranismonumen01guim_djvu.txt
- ↑ «Do Mosteiro de S. Pedro Fins de Ferreira inscrição sepulcral Museu Martins Sarmento»
- ↑ «Terra de Ferreira»
- ↑ «Pedatura Lusitana - Tomo II volume 1» (PDF)
- ↑ «Igreja de São Pedro de Sanfins de Ferreira»
- ↑ «Traslado do tombo da comenda de São Pedro Fins de Ferreira e de sua anexa Santa Maria de Lamoso»
- ↑ «Paços de Ferreira-História»
- ↑ «Portugália. NOVA SÉRIE, VOLUME XXXI-XXXII» (PDF)
- ↑ «Mosteiro de Santa Maria de Cacanes»
- ↑ «TRASLADO DO TOMBO DA COMENDA DE SÃO PEDRO FINS DE FERREIRA E DE SUA ANEXA SANTA MARIA DE LAMOSO»
- ↑ «História de Portugal na Provincia Dantre Douro he Minho copillada, do Séc. XVI» (PDF)
- ↑ «Rio Ferreira»
- ↑ «Généalogie de Carné. Pages de données»
- ↑ «Mosteiro de São Pedro de Ferreira»
- ↑ «Ensaio sobre a origem dos Ferreira»
- ↑ «Ensaio sobre a origem dos Ferreira. Manuel Abranches de Soveral.»
- ↑ «Heráldica - Freguesias do concelho de Paços de Ferreira»
- ↑ «Solar dos Brandões – Paços de Ferreira»
- ↑ «Tomos de Comendas»
- ↑ «Carta. Pároco da Igreja de São Pedro Fins de Ferreira.»
- ↑ Instituto Nacional de Estatística (Recenseamentos Gerais da População) - https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes