Silio Boccanera Júnior
Silio Boccanera Júnior (Salvador, 3 de fevereiro de 1863 - Salvador, 31 de agosto de 1938) foi um engenheiro, teatrólogo, historiador e jornalista brasileiro, considerado um dos principais autores sobre teatro no país.
Silio Boccanera Júnior | |
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Nascimento | 1863 Salvador |
Morte | 31 de agosto de 1938 |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | engenheiro, jornalista, historiador, dramaturgo |
Foi, no dizer de Consuelo Pondé de Sena, um "brilhante jornalista" que "é, e continuará sendo, pelos tempos fora, fonte obrigatória de consulta para tantos quantos se dediquem ao conhecimento da trajetória histórica da Bahia e da sua gente." [1] Registrou Fernanda Villela Bastos Bispo, da Universidade Federal Fluminense que foi "Considerado pelo seu biógrafo, Cândido Costa, o maior propugnador, na Bahia, do teatro nobre, edificante e utilitário, defendia-o como verdadeira escola de moral, de costumes, de educação e de civismo de um povo" e ainda que "intelectual destacado na época, Silio Boccanera Jr. foi membro de diversas sociedades ligadas à cultura, escreveu livros que contam a história do teatro na Bahia e no Brasil, foi redator de importantes periódicos baianos e escreveu também para o teatro em parceria com o poeta Alexandre Fernandes".[2]
Biografia
editarFilho do vice-cônsul da Espanha na Bahia o comendador Silio Boccanera, cavaleiro da Real Ordem de Isabel a Católica, com a natural desse estado Emília Rodrigues Vaz, fez os estudos iniciais na cidade natal, vindo mais tarde a se formar engenheiro pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro, profissão que iniciou na cidade de Cachoeira, onde além de trabalhar na Estrada de Ferro Central da Bahia, escrevia para um jornal local (de 1880 a cerca de 1885).[3]
Casado em 1883 em primeiras núpcias com Maria Leonor de Freitas, da família do Visconde de Caravelas, com ela teve dez filhos; dez anos depois tornou-se diretor do Teatro São João e em 1903 voltou a se casar com a viúva do pintor Augusto Rodrigues Duarte, a atriz, escritora e compositora Luísa Leonardo de quem viria a se desquitar em 1913.[3]
Raul de Freitas Boccanera, seu filho nascido em 1884, formou-se em Direito na Bahia e exerceu a magistratura em Bagé; outro deles, Silio Boccanera Neto, formado em Medicina, foi membro fundador da Academia de Letras da Bahia e depois radicou-se no Rio de Janeiro, onde exerceu com sucesso a clínica médica.[3]
Entre 1908 e 1911 assumiu a função diplomática que fora do pai, com a morte deste, sendo nomeado cônsul honorário espanhol; o rei Afonso XIII de Espanha o condecorou com a Cruz da Ordem Militar do Mérito Naval, primeira classe, por serviços prestados à marinha espanhola.[3]
Boccanera integrou diversas agremiações literárias e culturais da Bahia, do Brasil e do exterior, foi membro fundador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e honorário da Academia Pernambucana de Letras, sendo considerado um dos maiores biógrafos do músico Carlos Gomes.[3]
Crítica
editar“ | Antes do mais: condenando, como condeno, in limine, as peças de gênero livre, por considerar o Teatro uma escola edificadora, de elevados ensinamentos, onde a linguagem e os costumes devem exemplificar, para a superioridade espiritual e nunca para sua degradação; onde se deve respirar a atmosfera que oxigena a vida social, e não a perniciosa e mefítica, que, além de tudo, avilta,envenena e desonra a Arte | ” |
— Silio Boccanera Jr.[4] |
Conservador, Boccanera Jr. foi defensor da censura no teatro, sendo um dos críticos da presença do maxixe nas peças teatrais e ainda da revista, embora ele mesmo tenha sido autor de peças neste último estilo, manifestando em artigos que "as artes e as letras dramáticas foram sendo relegadas ao abandono e ao desprezo, pois já não havia mais espaço para romances, poesias, amores ou sentimentalismos, mas apenas para peculatos e impunidades" sendo um dos autores que viam "o cinema como principal inimigo do teatro, grande responsável por dar o “tiro de misericórdia” na arte falada, já em processo de decadência", como registrou a pesquisadora Fernanda Villela Bastos Bispo.[2]
Essa postura do autor é reforçada por Daniel Rebouças Carvalho, para quem Boccanera "via apenas decadência artística diante da popularidade do teatro ligeiro no país, marcado pelas musicalidades afro-brasileiras".[4]
Bibliografia
editarBocannera Júnior publicou diversos trabalhos em jornais e revistas, além de monografias; dentre suas obras destacam-se:[3][2]
- História
- A Guerra Civil no Chile (1892).
- O Maestro Carlos Gomes, (conferência, 1901).
- A Bahia a Carlos Gomes (1904).
- O Teatro Brasileiro, (conferência, 1906).
- Letras na Bahia, (conferência, 1908)
- Artes na Bahia, (conferência, 1908).
- Um Artista Brasileiro (1913, sobre Carlos Gomes).
- O Teatro na Bahia (1812-1912), centenário do Teatro São João.
- Os Cinemas da Bahia: 1897-1918. (download da reedição da obra, pela UFBA, 2007)
- Castro Alves na Vida e na Morte (1915).
- O Poeta Alexandre Fernandes, sua vida e sua obra (1916).
- Bahia Histórica (1549-1920).
- Teatro Nacional, Autores e Atores Dramáticos (1923).
- O Teatro na Bahia: da Colônia à República (1800-1923) (download da reedição da obra, pela UFBA, 2007).
- Bahia Cívica e Religiosa: subsídios para a história (1926).
- Bahia Epigráfica e Iconográfica (1928).
- Teatro
- O Diabo na Beócia, revista cômica em 4 atos, em colaboração com o poeta Alexandre Fernandes, 1895.
- O Grito da Consciência, drama em cinco atos, em colaboração com A. Fernandes, (1895-98).
- A Flor da Arta Sociedade, revista cômica em 4 atos, em colaboração com A. Fernandes, 1896.
- O Meio do Mundo, revista cômica em 4 atos, em colaboração com A. Fernandes, 1897.
- O Reino do Bicho, revista cômica em 4 atos, em colaboração com A. Fernandes, 1899.
- O Violão na Ponta, comédia de costumes, em colaboração com A. Fernandes, 1900.
- Escritores em penca: comédia em um ato, ornada de quatro números de música. Salvador: Imprensa econômica, 1900
- Adelia Carré, drama em três atos, em colaboração com A. Fernandes, 1902. Traduzida para o espanhol, em 1903.
- Mirem-se Neste Espelho, comédia de costumes, 1909.
- A Segunda Mulher, drama em cinco atos.
- Como se fabrica um Deputado. Comédia em dois atos, precedida de prólogo e do programa político de um candidato a deputado (1912).
- O Brado do Ypiranga, drama, 1915.
Referências
- ↑ Consuelo Pondé de Sena (29 de março de 2007). «Prefácio». UFBA. Consultado em 2 de janeiro de 2025. Cópia arquivada em 2 de janeiro de 2025
- ↑ a b c Fernanda Villela Bastos Bispo (2024). «Um "Templo em Ruína" e um grupo de jovens amadores em busca de uma arte "genuína": o Grêmio Dramático Carlos Gomes e sua atuação em Salvador nos anos de 1897 e 1898» (PDF). ANPUH. Consultado em 2 de janeiro de 2025. Cópia arquivada (PDF) em 2 de janeiro de 2025
- ↑ a b c d e f «Silio Boccanera Júnior (1863 - 1928)». Cultura Arte. Consultado em 22 de janeiro de 2019. Cópia arquivada em 22 de janeiro de 2019
- ↑ a b Daniel Rebouças Carvalho (2021). «A liberdade em cena: teatro, humor e racismo no templo da abolição e além (Salvador,Bahia, 1884-1906)». UFBA. Consultado em 2 de janeiro de 2025. Cópia arquivada em 3 de fevereiro de 2024