Morangos Silvestres

filme de 1957 dirigido por Ingmar Bergman
(Redirecionado de Smultronstället)

Morangos Silvestres[1][2] (título original em sueco: Smultronstället) é um filme sueco de 1957, do gênero drama de estrada com roteiro e direção de Ingmar Bergman. O elenco inclui Victor Sjöström, no que seria sua última aparição em um filme, como o personagem principal, e vários atores que são recorrentes nos filmes de Bergman, como Bibi Andersson, Ingrid Thulin, Gunnar Björnstrand e Max von Sydow. O cineasta escreveu o roteiro logo após a estreia de O Sétimo Selo (1957) enquanto estava hospitalizado em Estocolmo. O título original, em sueco, refere-se ao lugar (stället) onde se encontram morangos silvestres (smultron).

Morangos Silvestres
'Smultronstället'
Morangos Silvestres
Cartaz promocional
 Suécia
1957 •  p&b •  91 min 
Gênero drama
Direção Ingmar Bergman
Produção Allan Ekelund
Roteiro Ingmar Bergman
Elenco Victor Sjöström
Bibi Andersson
Ingrid Thulin
Música Erik Nordgren
Diretor de fotografia Gunnar Fischer
Direção de arte Karl-Arne Bergman
Edição Oscar Rosander
Distribuição AB Svensk Filmindustri
Lançamento 26 de dezembro de 1957
Idioma sueco

A história narra a viagem do idoso Isak Borg de Estocolmo para Lund na companhia de sua nora e de três jovens, e durante a qual ele reflete sobre a vida, a morte e a existência humana. Morangos Silvestres foi aclamado pela crítica especializada onde elogiaram o enredo e a direção de Ingmar Bergman. Ganhou vários prêmios como o Urso de Ouro de Melhor Filme no Festival de Cinema de Berlim e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, além de receber uma indicação ao Oscar na categoria de melhor roteiro original.

Enredo

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O Dr. Isak Borg (Victor Sjöström) é um professor idoso que aos 78 anos deve frequentar a Universidade de Lund para a celebração da sua nomeação com o doutor honoris causa.[1] Na noite anterior à sua partida, o professor sofre um pesadelo em que se perde em um bairro deserto, onde encontra um carro fúnebre puxado a cavalo colidindo com um poste de luz.[3] O veículo carrega um corpo que se parece com o de Isak, que estende a mão para segurar seu sósia, o que causa o fim do sonho. Ao acordar acordado, Borg decide fazer a viagem de carro em vez de avião, como sua governanta, Agda (Jullan Kindahl), havia combinado fazendo ambos brigarem.[4] A esposa de seu filho Evald; Marianne (Ingrid Thulin); morava com ele há algumas semanas, decide acompanhá-lo até Lund.[4]

Durante a viagem, Marianne o repreende por ser um egoísta, preocupado apenas consigo mesmo e diz que na verdade o seu filho o odeia.[4] Depois de ouvi-lá, Borg decide tomar um outro caminho e mostrar-lhe uma casa onde residiu com sua família durante os verões de seus primeiros vinte anos de vida. Lá ele dormi e sonha com lembranças de sua juventude e uma dessas lembranças é sobre á sua prima e noiva Sara (Bibi Andersson), que está colhendo morango-silvestre e é cortejada por Sigfrid (Per Sjöstrand), um dos irmãos de Isak.[5] O sonho continua dessa vez dentro de casa, onde sua família comemora o aniversário do tio Aron (Yngve Nordwall).[6] O protagonista é então despertado de um devaneio por uma jovem chamada Sara (também interpretada por Andersson) que vai para a Itália na companhia de seus dois pretendentes, Anders (Folke Sundquist) e Viktor (Björn Bjelfvenstam) se juntam para a viagem.[4]

Depois de dar uma carona ao casal Almar (Gunnar Sjöberg e Gunnel Broström)[5] e reabastecer o carro no posto de gasolina Henrik Åkerman (Max von Sydow).[3] O grupo para pra um almoço e nesse momento em que Anders e Viktor discutem sobre a existência de Deus. Após o almoço, o professor aproveita para visitar sua mãe (Naima Wifstrand) junto com sua nora.[5] A Sra. Borg reprova Marianne por não ter filhos e não cuidar do marido e mostra ao Isak alguns objetos de sua infância e de seus irmãos, todos já falecidos.[7]

No carro, o protagonista tem outro sonho em que Sara - sua ex-noiva - fala diretamente com ele, o repreende por ser um homem egoísta e anuncia que vai se casar com Sigfrid.[5] Sara sai para buscar um de seus sobrinhos e então entra em uma casa onde Sigfrid a espera. Isak se aproxima e depois de bater na porta é cumprimentado pelo Sr. Alman que o acompanha até uma sala de aula onde o examina.[5] O professor não consegue ver nada através do microscópio, ignora o primeiro dever do médico - pedir perdão -[8] e certifica um paciente vivo como morto.[5] Diante de tais eventos, o Sr. Alman o classifica como incompetente e o leva para a floresta onde ele contempla o adultério de sua esposa Karin (Gertrud Fridh) com um homem (Åke Fridell).[5] Quando questionado sobre seu destino, Alman diz a Isak que ele é o de sempre: Solidão.[9]

Ao acordar, Borg diz a Marianne que há algum tempo ele é assombrado por visões que anunciam que ele já está morto.[7] Ela, por sua vez, confessa que o mesmo acontece com seu marido e relata uma conversa entre eles durante a qual confessa a Evald (Gunnar Björnstrand) que está grávida e que deseja ter o filho.[4] Evald se permanece contrário a isso e lhe dá uma escolha entre ele ou seu filho.[4] Depois de sua história, Marianne diz ao sogro que o motivo de seu retorno para casa é porque ela quer ter o filho dele e acha que pode fazê-lo mudar de ideia.[7]

Os cinco chegam à casa de Evald em Lund e no dia seguinte comparecem à celebração do doutorado de Isak. Na mesma noite os jovens dedicam uma canção ao professor e depois de se despedem e seguem viagem para a Itália.[5] Enquanto dormia, Borg é acordado por Evald e Marianne e ele então decide ter uma conversa com seu filho para discutir o que acontecerá com o casamento. Evald confessa que não pode viver sem ela e que aceitará ter a criança.[5] O casal se despede do velho para sair para jantar, enquanto ele volta para ter outro sonho em que Sara o acompanha até um lago onde seu pai pesca e sua mãe está sentada, o que faz com que o protagonista sorria.[10]

Elenco

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  • Naima Wifstrand como mãe de Isak.[11]
  • Gunnar Sjöberg como Sten Alman.[11]
  • Gunnel Broström como Berit Alman.[11]
  • Per Sjöstrand como Sigfrid Borg.[11]
  • Gunnel Lindblom como Carlota Borg.[11]
  • Gertrud Fridh como Karin Borg.[11]
  • Max von Sydow como Henrik Åkerman.[11]

Produção

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Pré-produção

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A premissa do filme se originou quando Ingmar Bergman passou por sua cidade natal, Uppsala, durante uma viagem de Estocolmo a Dalarna. Quando chegou próximo à casa da avó, imaginou se conseguiria abrir a porta e encontrar tudo dentro como era na infância.[12] O próprio diretor comentaria mais tarde:

"Ocorreu-me: você poderia fazer um filme sobre isso, que você anda de maneira real e que quando abre uma porta você volta à sua infância e que quando abre outra volta à realidade e depois vira uma esquina do rua e chegar a outro período de sua existência? Essa foi realmente a ideia por trás de Smultronstället".[13]

No entanto, em sua autobiografia, Images: My Life in the Film, o cineasta comentou sobre sua declaração anterior: “Isso é mentira. A verdade é que estou sempre vivendo na minha infância".[14]

Desenvolvimento

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Bergman escreveu o roteiro no Hospital Universitário Karolinska em Estocolmo - o local de trabalho do protagonista do filme - na primavera de 1957.[15] O diretor permaneceu no hospital por dois meses para tratar seus problemas gástricos e estresse.[13] Seu médico era seu amigo Sture Helander, que o convidou para assistir a suas palestras sobre psicossomática e que era casado com Gunnel Lindblom, que interpretaria Carlota Borg (irmã de Isak).[16] Na época, a carreira profissional de Bergman passava por um bom momento, já que era o diretor artístico do teatro principal da comuna de Malmö e desfrutava do sucesso de seus filmes Sommarnattens leende (1955) e O Sétimo Selo (1957).[17] No entanto, sua vida pessoal estava em completa desordem, já que seu terceiro casamento estava em crise e seu relacionamento com seus pais, após uma tentativa falha de reconciliação com sua mãe, começava a entrar novamente em declínio.[18]

A seleção do elenco e a fase de pré-produção foram processos muito rápidos. O roteiro foi concluído em 31 de maio e as filmagens ocorreram entre 2 de julho e 27 de agosto de 1957.[13] A filmagem das cenas da casa de verão ocorreram em Saltsjöbaden; um centro turístico no arquipélago de Estocolmo, enquanto a sequência do pesadelo foi filmado na parte antiga da cidade, Gamla Stan;[19] O restante do filme foi rodado nos estúdios do Swedish Film Institute em Råsunda, fora de Estocolmo.[13]

Escolha de elenco

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A escolha imediata do diretor para o personagem-título foi Victor Sjöström, um de seus ídolos do cinema mudo que ele já havia dirigido em Hacia la Felicidad oito anos antes.[15] Na sua autobiografia Bergman on Bergman, o diretor afirmou que pensou em Sjöström depois que o roteiro foi finalizado e que pediu ao produtor Carl Anders Dymling para contatar o ator.[13] Mais tarde, no livro Images: My Life in Film, ele comentou que a sugestão de contratar Sjöström veio do próprio Dymling e ele a considerou "muito difícil antes de aceitar".[20]

Durante as filmagens, a saúde de Sjöström, que tinha 77 anos na época, foi motivo de bastante preocupação.[21] Dymling o persuadiu a assumir o papel com as seguintes palavras: "Tudo o que você precisa fazer é deitar sob uma árvore, comer morangos silvestres e pensar no passado, para que não seja muito difícil." Este comentário não estava correto, já que o ator apareceu em todas as cenas do filme, exceto em uma.[13] Inicialmente, Sjöström teve problemas com sua própria interpretação, algo que o frustrou e enfureceu, levando-o a se encostar em um canto e bater a cabeça contra a parede até se machucar.[22] Para desabafar seu reverenciado mentor, Bergman fez um pacto com a co-estrela Ingrid Thulin para que, se algo desse errado em qualquer sequência, ela assumisse a responsabilidade por si mesma.[13] As coisas mudaram para melhor quando os tempos de filmagem foram alterados para que o ator veterano pudesse chegar em casa a tempo para beber o seu uísque às 17h.[23]

Como de costume, Bergman escolheu para sua equipe atores e técnicos com os quais já havia trabalhado no cinema ou teatro.[21] Bibi Andersson desempenha um papel duplo no filme; Sara, a namorada de infância do protagonista e uma jovem enérgica que o lembra de seu amor perdido.[6] Anderson que apareceu em papéis coadjuvantes em Sommarnattens leende (1955) e O Sétimo Selo (1957), e mais tarde iria estrelar como protagonista em Persona (1966).[24] Por sua vez, Ingrid Thulin, que assumiu o papel de Marianne, nora de Borg, mais tarde participaria de outros longas-metragens do diretor, como Luz de Inverno (1963), O Silêncio (1963) e Viskningar och rop (1972).[25] A primeira esposa de Bergman, Else Fisher, fez um breve discurso não acreditado como a mãe de Borg no flashback final, e sua filha Lena interpretou uma das irmãs gêmeas do protagonista.[26]

Recepção

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Morangos Silvestres recebeu críticas fortemente positivas desde sua época de lançamento; sua atuação, roteiro e fotografia são considerados os "pontos fortes" do filme.[27] Bosley Crowther do The New York Times elogiou as atuações de Andersson apesar de não achar o filme "tão impactante" quanto O Sétimo selo.[26] Derek Malcolm, crítico de cinema do The Guardian, observou que "o que torna o filme excelente é sua proximidade com cada um de nós e sua insistência quase cristã na possibilidade de reconciliação e redenção" e comentou que "ele tem uma visão compassiva da vida que ilustra [O] lado mais otimista de Bergman”.[28]Por sua vez, Hal Erickson da Allmovie ele o chamou de um dos filmes mais acessíveis do cineasta sueco e um dos "filmes europeus mais influentes de sua geração".[29] Tom Dawson da BBC elogiou "a fotografia magistral de Gunnar Fischer e a performance comovente de Sjöström" e observou que "surge como um dos filmes mais elegíacos e humanos do diretor sueco".[30] O Website agregador de críticas; Rotten Tomatoes o filme tem uma aceitação 95%, um total de quarenta comentários e com uma classificação média de 8,9/10. Sob o consenso de que: "Morangos silvestres nunca foram tão agridoces como o olhar lindamente escrito e filmado de Ingmar Bergman sobre a nostálgica jornada de um homem ao passado."[31] No Metacritic, o filme tem 88% de aprovação em uma escala de 0 à 100 baseado em 17 críticas.[32] enquanto no FilmAffinity tem uma classificação de 8.1/10, com base nos votos de mais de 15.000 usuários.[33]

O brasileiro Plano Crítico deu nota máxima de 5 estrelas e afirmar que: "Morangos Silvestres é uma visita ao passado a partir de um olhar maduro, onde a saudade da energia da juventude, das pessoas que partiram e de quando ainda se tinha para viver juntam-se para trazer uma lufada de crescimento pessoal [...] e o peso indescritível da solidão."[34] O único crítico contemporâneo que não se sente entusiasmado com o filme é; Christopher Null do Filmcritic.com que deu 2,5 de 5 estrelas chamando-o de "insuportável" e afirma que o filme só agrada a classe pseudo-intelectual.[35]

Reconhecimento e influências

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Considerado um clássico,[36] Morangos Silvestres é eleito pela crítica e público um dos melhores filmes de 1957,[37][38][39] e um dos melhores filmes do diretor.[40][41] Em uma pesquisa de 2002 pela Sight & Sound, os diretores Ken Loach e Jaco Van Dormael afirmam que o longa ficou entre os seus top 10 melhores filmes de todos os tempos.[42] Enquanto Enquanto isso, o tablóide The Village Voice colocou entre os 250 melhores filmes do século XX.[43] Em 1995, por ocasião do centenário da invenção do cinema, o Vaticano estabeleceu uma lista dos quarenta e cinco melhores filmes. Smultronstället foi um dos incluídos para "a jornada interior de um homem da dor da tristeza e da ansiedade para uma sensação revigorante de paz e reconciliação".[44] Em 2004, foi considerado pelo New York Times como um dos 1000 melhores filmes produzidos.[45] Foi considerado um dos melhores filmes de todos os tempos Total Film[46] e em 2018 o filme foi incluído na lista de 2018 da BBC dos 100 maiores filmes estrangeiros.[47]

Em uma entrevista em 1963, o cineasta Stanley Kubrick mencionou que Morangos Silvestres é o seu segundo filme favorito.[48] Woody Allen também cita o filme como um de seus favoritos[49] e inspirado em Morangos Silvestres Allen dirigiu Another Woman (1988) e Deconstructing Harry (1997).[50] O filme também faz parte no livro 1001 filmes para ver antes de morrer.[51]

Prêmios e indicações

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Recebeu vários prêmios de cinema de prestígio. Em 1958, ganhou o Urso de Ouro de melhor filme no oitavo Festival Internacional de Cinema de Berlim.[52] No mesmo ano, o filme também ganhou um Prêmio Pasinetti no Festival de Cinema de Veneza.[53] No ano seguinte, ele ganhou as indicações de melhor filme e melhor ator estrangeiro por Sjöström no prêmio BAFTA,[54] dois prêmios no Festival Internacional de Cinema de Mar del Platade nas categorias de melhor longa-metragem e melhor ator[55] e um prêmio Bodil de melhor filme europeu.[56] Em 1960, ganhou um Globo de Ouro honorário de melhor filme estrangeiro[57] e uma indicação ao Oscar na categoria de melhor roteiro original.[58]

Referências

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Bibliografia

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