Solenopsinas

composto químico

Solenopsinas são alcalóides piperidínicos encontrados no veneno das formigas lava-pés (Solenopsis). São as toxinas principais do veneno[1] e causam a sensação de queimação e inflamação local seguido de uma pústula surgindo no local da ferroada.[2] Estruturalmente, as solenopsinas apresentam um anel de piperidina lateralmente ligado a um grupo metila (na posição 2) e uma cadeia longa lateral de hidrocarboneto linear na posição 6 do anel. Estes compostos apresentam pico de absorção por espectrofotometria UV entre 232 e 234 nanômetros.[3] Como o veneno das formigas contém uma mistura complexa de piperidinas quimicamente análogas torna-se difícil a purificação de solenopsinas específicas.[4] Portanto, as solenopsinas e compostos relacionados têm sido alvo de sínteses orgânicas para investigação de prospecção biotecnológica.[5] Originalmente sintetizadas nos anos 70,[6] diversos grupos tem tentado desenvolver novos métodos de sintetizar solenopsinas enantiomericamente puras e compostos análogos. Mais recentemente, alguns pesquisadores têm sugerido formas mais eficientes de extração,[7] purificação[8] e análise[3] destes compostos.

Solenopsin

Atividades biológicas

editar

Além de pronunciada toxicidade contra células animais, as solenopsinas possuem diversas atividades biológicas.[9] Um resumo destas atividades pode ser encontrado em artigos científicos recentes.[10][4] A mais estudada solenopsina descrita na literatura tem sido a solenopsina A, de fórmula molecular C17H35N. Este composto é conhecido por inibir a angiogênese in vitro por meio da via de sinalização fosfoinositídeo 3-quinase (PI3K),[11] que o torna um grande candidato quimioterápico contra tumores.[12] Solenopsina A também inibe uma sintase de óxido nítrico neuronal (nNOS) de forma não competitiva com L-arginina[13] e interfere na sinalização quorum-sensing em algumas bactérias,[14] inibindo ou mesmo impedindo a formação de biofilmes.[15] Análogos sintéticos da solenopsina estão sendo estudados para o potencial tratamento da psoríase.[16] Aparentemente, o composto isosolenopsina A possui um papel fundamental na biologia de formigas de fogo invasoras.[17]

Recentemente, uma nova via simplificada de síntese orgânica das solenopsinas foi descrita por pesquisadores da Unicamp.[18]

Existem diversas patentes recentes depositadas com usos de solenopsinas e compostos relacionados. As mais curiosas envolvem a administração de capsulas contendo solenopsinas para animais domésticos para combater parasitas,[19] e a administração para idosos como tentativa de atenuar a degeneração motora e mental.[20] Uma patente afirma que formigas lava-pés alimentadas com derivados de solenopsinas interrompem a produção de veneno, significando que o formigueiro ficaria menos perigoso.[21]

Existem diversas linhas de pesquisa propondo novos usos biotecnológicos e aplicações biomédicas dos alcaloides solenopsinas. Por exemplo, um grupo de pesquisadores brasileiros propôs a utilização de um extrato de solenopsinas no combate à doença de Chagas.[22]

Referências

  1. Baer, Harold; Liu, T.-Y.; Anderson, Martha C.; Blum, Murray; Schmid, William H.; James, Frank J. (janeiro de 1979). «Protein components of fire ant venom (Solenopsis invicta)». Toxicon. 17 (4): 397–405. ISSN 0041-0101. doi:10.1016/0041-0101(79)90267-8 
  2. MacConnell, J.G.; Blum, M.S.; Fales, H.M. (janeiro de 1971). «The chemistry of fire ant venom». Tetrahedron. 27 (6): 1129–1139. ISSN 0040-4020. doi:10.1016/s0040-4020(01)90860-9 
  3. a b Fox, Eduardo G.P.; Xu, Meng; Wang, Lei; Chen, Li; Lu, Yong-Yue (junho de 2018). «Gas-chromatography and UV-spectroscopy of Hymenoptera venoms obtained by trivial centrifugation». Data in Brief. 18: 992–998. ISSN 2352-3409. PMC 5996826 . PMID 29900266. doi:10.1016/j.dib.2018.03.101 
  4. a b Fox E.G.P. (2014) Venom Toxins of Fire Ants. In: Gopalakrishnakone P., Calvete J. (eds) Venom Genomics and Proteomics. Springer, Dordrecht
  5. Pianaro, Adriana; Fox, Eduardo G.P.; Bueno, Odair C.; Marsaioli, Anita J. (maio de 2012). «Rapid configuration analysis of the solenopsins». Tetrahedron: Asymmetry. 23 (9): 635–642. ISSN 0957-4166. doi:10.1016/j.tetasy.2012.05.005 
  6. Leclercq, Sabine; Daloze, Désiré; Braekman, Jean-Claude (outubro de 1996). «SYNTHESIS OF THE FIRE ANT ALKALOIDS, SOLENOPSINS. A REVIEW». Organic Preparations and Procedures International (em inglês). 28 (5): 499–543. ISSN 0030-4948. doi:10.1080/00304949609458571 
  7. Fox, Eduardo G.P.; Xu, Meng; Wang, Lei; Chen, Li; Lu, Yong-Yue (maio de 2018). «Speedy milking of fresh venom from aculeate hymenopterans». Toxicon. 146: 120–123. ISSN 0041-0101. doi:10.1016/j.toxicon.2018.02.050 
  8. Gonçalves Paterson Fox, Eduardo; Russ Solis, Daniel; Delazari dos Santos, Lucilene; Aparecido dos Santos Pinto, Jose Roberto; Ribeiro da Silva Menegasso, Anally; Cardoso Maciel Costa Silva, Rafael; Sergio Palma, Mario; Correa Bueno, Odair; de Alcântara Machado, Ednildo (abril de 2013). «A simple, rapid method for the extraction of whole fire ant venom (Insecta: Formicidae: Solenopsis)». Toxicon. 65: 5–8. ISSN 0041-0101. doi:10.1016/j.toxicon.2012.12.009 
  9. Moreau, Sébastien J.M. (fevereiro de 2013). «"It stings a bit but it cleans well": Venoms of Hymenoptera and their antimicrobial potential». Journal of Insect Physiology. 59 (2): 186–204. ISSN 0022-1910. doi:10.1016/j.jinsphys.2012.10.005 
  10. Chen, Jian; Shang, Hanwu (2011). «Advances in Research on the Venom Chemistry of Imported Fire Ants». Berlin, Heidelberg: Springer Berlin Heidelberg (em inglês): 417–433. ISBN 9783642178146. doi:10.1007/978-3-642-17815-3_24 
  11. Arbiser, Jack L.; Kau, Tweeny; Konar, Martha; Narra, Krishna; Ramchandran, Ramani; Summers, Scott A.; Vlahos, Chris J.; Ye, Keqiang; Perry, Betsy N. (15 de janeiro de 2007). «Solenopsin, the alkaloidal component of the fire ant (Solenopsis invicta), is a naturally occurring inhibitor of phosphatidylinositol-3-kinase signaling and angiogenesis». Blood (em inglês). 109 (2): 560–565. ISSN 0006-4971. PMC 1785094 . PMID 16990598. doi:10.1182/blood-2006-06-029934 
  12. Karlsson, Isabella; Zhou, Xin; Thomas, Raquela; Smith, Allorie T.; Bonner, Michael Y.; Bakshi, Pooja; Banga, Ajay K.; Bowen, J. Phillip; Qabaja, Ghassan (8 de maio de 2015). «Solenopsin A and analogs exhibit ceramide-like biological activity». Vascular Cell (em inglês). 7 (1). 5 páginas. ISSN 2045-824X. PMC 4443652 . PMID 26015865. doi:10.1186/s13221-015-0030-2 
  13. Yi, G. B.; Mc Clendon, D.; Desaiah, D.; Goddard, J.; Lister, A.; Moffitt, J.; Vander Meer, R. K.; de Shazo, R.; Lee, K. S. (março de 2003). «Fire Ant Venom Alkaloid, Isosolenopsin A, a Potent and Selective Inhibitor of Neuronal Nitric Oxide Synthase». International Journal of Toxicology (em inglês). 22 (2): 81–86. ISSN 1091-5818. doi:10.1080/10915810305090 
  14. Park, Junguk; Kaufmann, Gunnar F.; Bowen, J. Phillip; Arbiser, Jack L.; Janda, Kim D. (15 de outubro de 2008). «Solenopsin A, a Venom Alkaloid from the Fire AntSolenopsis invicta,Inhibits Quorum‐Sensing Signaling inPseudomonas aeruginosa». The Journal of Infectious Diseases (em inglês). 198 (8): 1198–1201. ISSN 0022-1899. doi:10.1086/591916 
  15. Machado, Ednildo de Alcântara; Castilho, Livia Vieira Araujo de; Domont, Gilberto B.; Nogueira, Fabio C. S.; Freire, Denise Maria Guimarães; Sousa, Joab Sampaio de; Santos, Diogo Gama dos; Fox, Eduardo Gonçalves Paterson; Carvalho, Danielle Bruno de (julho de 2019). «Fire Ant Venom Alkaloids Inhibit Biofilm Formation». Toxins (em inglês). 11 (7). 420 páginas. doi:10.3390/toxins11070420 
  16. Arbiser, Jack L.; Nowak, Ron; Michaels, Kellie; Skabytska, Yuliya; Biedermann, Tilo; Lewis, Monica J.; Bonner, Michael Y.; Rao, Shikha; Gilbert, Linda C. (11 de setembro de 2017). «Evidence for biochemical barrier restoration: Topical solenopsin analogs improve inflammation and acanthosis in the KC-Tie2 mouse model of psoriasis». Scientific Reports (em inglês). 7 (1). ISSN 2045-2322. PMC 5593857 . PMID 28894119. doi:10.1038/s41598-017-10580-y 
  17. Fox, Eduardo G.P.; Wu, Xiaoqing; Wang, Lei; Chen, Li; Lu, Yong-Yue; Xu, Yijuan (fevereiro de 2019). «Queen venom isosolenopsin A delivers rapid incapacitation of fire ant competitors». Toxicon (em inglês). 158: 77–83. doi:10.1016/j.toxicon.2018.11.428 
  18. Pianaro, Adriana; Fox, Eduardo G.P.; Bueno, Odair C.; Marsaioli, Anita J. (maio de 2012). «Rapid configuration analysis of the solenopsins». Tetrahedron: Asymmetry (em inglês). 23 (9): 635–642. doi:10.1016/j.tetasy.2012.05.005 
  19. Method and composition for treating parasitic infestation in animals, 3 de janeiro de 1990, consultado em 24 de junho de 2019 
  20. Compositions and methods relating to solenopsins and their uses in treating neurological disorders and enhancing cognitive and physical performance, 9 de julho de 2007, consultado em 24 de junho de 2019 
  21. Solenopsin derivatives and analogues as fire ant suppressants, 29 de agosto de 2000, consultado em 24 de junho de 2019 
  22. Silva, Rafael C. M. Costa; Fox, Eduardo G. P.; Gomes, Fabio M.; Feijó, Daniel F.; Ramos, Isabela; Koeller, Carolina M.; Costa, Tatiana F. R.; Rodrigues, Nathalia S.; Lima, Ana P. (dezembro de 2020). «Venom alkaloids against Chagas disease parasite: search for effective therapies». Scientific Reports (em inglês). 10 (1). 10642 páginas. ISSN 2045-2322. doi:10.1038/s41598-020-67324-8 
  Este artigo sobre Bioquímica é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.