Suicídio forçado
Suicídio forçado é uma forma de execução que envolve a prática do suicídio pela vítima, como alternativa a algo percebido como sendo muito pior, como torturas ou punições dos mais variados graus a familiares e amigos.
Grécia e Roma antigas
editarO suicídio forçado era uma forma comum de execução na Grécia e na Roma antiga. Como forma de respeito, era geralmente reservada aos membros da aristocracia sentenciados à morte: as vítimas podiam escolher entre beber cicuta ou cair sobre suas espadas. As dificuldades econômicas motivaram parte desses suicídios no Império Romano: uma pessoa condenada à morte teria sua propriedade passada ao governo, mas se viesse a se suicidar antes da prisão, a propriedade passaria aos herdeiro. O suicídio forçado mais conhecido foi o do filósofo Sócrates, que bebeu cicuta após o julgamento que o condenou pela corrupção da juventude de Atenas. O filósofo estoico Sêneca também se matou em reação à ordem de um ex-aluno, o imperador romano Nero, ele próprio mais tarde forçado a cometer suicídio. Outros casos conhecidos da Antiguidade foram os de Bruto, Marco Antônio, de Otão e o do general romano Córbulo.
Ásia
editarA prática muito antiga do sati, na qual uma mulher recentemente enviuvada imola-se na pira funerária do marido,[1][2][3] não é geralmente considerada um tipo de crime de honra.[4][5] Entretanto, a extensão pela qual o sati representa um ato puramente voluntário ou no qual existe coerção é algo fortemente debatido. Em casos acontecidos no final do século XX e no início do século XXI tais como o de Roop Kanwar, suspeita-se que o suicídio foi forçado.[6] Outros casos estiveram sob investigação,[7] ainda que não se tenham encontrado evidências de suicídio forçado.[8][9][10] O seppuku japonês (também conhecido como harakiri) também entra nessa categoria. A cultura samurai esperava que se seus membros se matassem a qualquer mostra de deslealdade, poupando o daimyō ou o shogun da desonra e da indignidade de ter que executar um seguidor.
Europa Moderna
editarOutro caso conhecido é o suicídio forçado de Erwin Rommel,[11] um marechal-de-campo do Exército Alemão durante a II Guerra Mundial. Após Rommel ter perdido a esperança na capacidade de a Alemanha nazista ganhar a guerra e ao se tornar suspeito de tomar parte no atentado de 20 de julho de 1944 - que tinha o objetivo de assassinar Adolf Hitler - Rommel foi forçado a cometer suicídio. Em função da popularidade de Rommel com o povo alemão, Hitler deu-lhe a opção de cometer suicídio com cianureto ou encarar a desonra pessoal e retaliações contra sua família e seus subordinados. Uma vez que o veredicto de culpa já fora dado, a opção de encarar um julgamento justo era fútil (a execução era uma certeza), o marechal optou por salvar sua família e sua honra tomando a cápsula de cianureto.
Durante a II Guerra Mundial houve vários suicídios forçados em várias organizações militares e paramilitares. Há evidências de que fracassos militares foram punidos dessa forma como alternativa à corte marcial, como na Guerra de Inverno e na Batalha de Stalingrado. Além de Erwin Rommel, vários militares alemães também suicidaram-se forçadamente. Uma exceção foi Friedrich Paulus, que foi promovido ao marechalato, na esperança de Hitler que se matasse em batalha ou fora dela com o insucesso de Stalingrado, mas que se rendeu ao Exército Vermelho[12] e foi poupado, sobrevivendo à guerra.
Como alternativa aos crimes de honra
editarOs suicídios forçados são tidos como alternativa a um crime de honra nos casos de mulheres que se considerem ter violado o código de honra conhecido como namus nas sociedades socialmente conservadoras e patriarcais do Oriente Médio. Em 2006, as Nações Unidas investigaram relatos de suicídios forçados de mulheres curdas na Turquia.[13]
Referências
editar- ↑ Hawley, John C. (1994). Sati, the blessing and the curse: the burning of wives in India. Oxford [Oxfordshire]: Oxford University Press. pp. 102, 166. ISBN 0-19-507774-1
- ↑ Smith, Bonnie G. (2004). Women's history in global perspective. Urbana: University of Illinois Press. p. 103. ISBN 0-252-02997-6
- ↑ Jörg Fisch (2005). Immolating Women: A Global History from Ancient Times to the Present. [S.l.]: Orient Longman. p. 320. ISBN 81-7824-134-X
- ↑ Rajeswari Sunder Rajan, Real and Imagined Women, Routledge, 1993.
- ↑ Lata Mani: Contentious Traditions: The Debate on Sati in Colonial India. Berkeley & Los Angeles, 1998
- ↑ Douglas James Davies and Lewis H. Mates (eds.), Encyclopedia of Cremation, p371, Ashgate Publishing, 2005.
- ↑ Mani, Lata (2003). Kim, Seung-Kyung; McCann, Carole R., eds. "Multiple Mediations" in Feminist theory reader: local and global perspectives. New York: Routledge. pp. 373–4. ISBN 0-415-93152-5
- ↑ «Woman commits Sati in Uttar Pradesh». rediff.com. Consultado em 8 de fevereiro de 2008
- ↑ «Woman dies after jumping into husband's funeral pyre». rediff.com. Consultado em 22 de agosto de 2006
- ↑ «Visitors flock to 'sati' village». bbc.co.uk. 23 de agosto de 2006. Consultado em 8 de fevereiro de 2008
- ↑ André Luiz (24 de novembro de 2008). «O Suicídio Obrigado de Rommel». Ecos da Segunda Guerra
- ↑ André Luiz (10 de fevereiro de 2013). «Georgi Kireev, Ex-Combatente da Segunda Guerra que Visita seu Próprio Túmulo há 70 anos!». Ecos da Segunda Guerra. Consultado em 8 de dezembro de 2013
- ↑ "UN probes Turkey 'forced suicide", BBC News, 2006-05-24.