Talassa (política)
Talassa era, em Portugal, um apoiante do governo de João Franco[1], no reinado de D. Carlos I; após a Implantação da República em 1910, passou a ser todo o opositor à Primeira República Portuguesa, sobretudo monárquicos. Mais tarde foi fundado um jornal humorístico, dessa mesma linha política, designado O Thalassa.
Origem do termo
editarA expressão "Talassa" (do grego antigo θάλασσα [thálassa], "mar") surgiu no contexto político português em 1907, quando a comunidade portuguesa no Brasil enviou uma grandiosa mensagem de apoio a João Franco, cujo governo ditatorial tentava estabilizar o país em meio à crise governativa da época. Na carta, assinada por 30 mil portugueses[2] e entregue num estojo luxuoso, os autores exaltaram a chegada do governo Franco como uma espécie de salvação, utilizando a expressão "Talassa! Talassa! O mar! O mar!", em referência ao grito de vitória dos soldados de Xenofonte ao avistarem o mar, que simbolizava a segurança após uma longa e perigosa jornada.[3] A mensagem, após alongados elogios à obra redentora do presidente do conselho, terminava assim:
“ | Talassa! Talassa! O mar! O mar! Eis o grito de entusiasmo com que os de Xenofonte saudaram, no ponto Euxino, a redenção. Um governo! Um governo! Eis o brado uníssono com que Portugal […] saúda, felicitando-se com V. Exa. a redenção no governo de Franco Castelo Branco[4] | ” |
A linguagem exagerada e alegórica da mensagem foi amplamente ridicularizada pela imprensa e pelos opositores do regime, que viam nela um símbolo da grandiloquência vazia e do conservadorismo dos apoiantes de Franco. Desde então, "Talassa" passou a designar ironicamente um apoiante do governo franquista. Com a instauração da República em 1910, o termo foi pejorativamente associado aos opositores da república[5], sobretudo a monárquicos, permanecendo no vocabulário político português como uma expressão de crítica ao tradicionalismo político.
Referências
- ↑ «talassa». Infopédia. Consultado em 10 de novembro de 2024
- ↑ SILVA 2015, p. 19
- ↑ XENOFONTE 2014, p. 150
- ↑ SILVA 2015, pp. 19-20, n. 11
- ↑ SILVA 2015, p. 20, n. 11 (cont.)
Bibliografia
editar- ROLLO, Maria Fernanda (coord.); SANTOS, Yvette (coord.); SILVA, Isabel Corrêa da (2015). Ecos das Migrações: Memórias e Representações dos Migrantes, Séculos XIX-XX (PDF). Coimbra: Almedina. "A disputa entre monárquicos e republicanos pela afeição política da colónia portuguesa no Brasil (1889-1914)", pp. 15-37
- XENOFONTE; RIBEIRO, Aquilino (Tradução e Prefácio); CARVALHO, Mário de (Introdução) (2014). A Retirada dos Dez Mil. Lisboa: Bertrand Editora. ISBN 978-972-25-2897-9