Thiago Braz

atleta brasileiro de salto à vara

Thiago Braz da Silva (Marília, 16 de dezembro de 1993) é um atleta e campeão olímpico brasileiro, especializado no salto com vara. Detentor de duas medalhas olímpicas e atual recordista sul-americano da modalidade, é um dos nove atletas no mundo que saltaram acima dos seis metros de altura. Desde 2016 era recordista olímpico do salto com vara, mas Armand Duplantis da Suécia bateu essa marca em Paris 2024. O atleta está preventivamente suspenso por doping desde julho de 2023.[1][2]

Thiago Braz
campeão olímpico
Thiago Braz
Thiago Braz em 2021
Atletismo
Nome completo Thiago Braz da Silva
Modalidade salto com vara
Nascimento 16 de dezembro de 1993 (30 anos)
Marília, SP
Nacionalidade Brasil brasileiro
Compleição Peso: 75 kg • Altura: 1,83 m
Medalhas
Jogos Olímpicos
Ouro Rio 2016 salto com vara
Bronze Tóquio 2020 salto com vara
Campeonatos Mundiais – Indoor
Prata Belgrado 2022 salto com vara
Jogos Olímpicos da Juventude
Prata Singapura 2010 salto com vara
Campeonato Mundial Júnior
Ouro Barcelona 2012 salto com vara

Carreira

editar

Thiago começou no atletismo aos quatorze anos, treinando e competindo pelo Clube dos Bancários de Marília, transferindo-se depois para cidade de Bragança Paulista, meses depois vencendo o Campeonato Brasileiro de Menores e o Juvenil, além do Estadual de Menores e o Estadual Juvenil. Em sua primeira competição internacional, em 2009, foi medalha de bronze do Campeonato Sul-Americano Juvenil, ano em que também foi campeão brasileiro juvenil. Em seguida, começou a competir no Clube de Atletismo BMF&BOVESPA, embora só tenha se tornado contratado da equipe em 2010, dependendo antes do apoio financeiro da campeã mundial da modalidade Fabiana Murer. No mesmo ano, conseguiu seu melhor resultado internacional a medalha de prata nos I Jogos Olímpicos da Juventude em Singapura.[3] Em 2011, aos 17 anos, foi vice-campeão do Troféu Brasil de Atletismo.[4][5]

Foi campeão mundial júnior no Campeonato Mundial Júnior de Atletismo realizado em julho de 2012 em Barcelona, Espanha. Thiago ganhou a medalha de ouro com a marca de 5m55, novo recorde brasileiro juvenil, conseguida na primeira tentativa. Foi o primeiro título mundial júnior do Brasil desde a vitória de Clodoaldo dos Santos em Lisboa em 1994 na corrida de 20 km, prova não mais existente.[3]

Em agosto de 2013, com um salto de 5,82m, 1 cm a menos que seu recorde sul-americano, superou o campeão mundial Raphael Holzdeppe e conquistou a medalha de ouro no Meeting de Leverkusen, na Alemanha.[6] Em fevereiro de 2016, no torneio indoor Istaf em Berlim, derrotou o campeão olímpico e recordista mundial Renaud Lavillenie vencendo a prova com a marca de 5,93 m, então novo recorde brasileiro e sul-americano.[7]'

Rio 2016

editar

A competição nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, os primeiros de sua carreira, incluía o francês Lavillenie, campeão olímpico em Londres 2012, recordista mundial e nº1 do ranking da modalidade, o canadense Shawn Barber, campeão mundial em Pequim 2015, o campeão norte-americano Sam Kendricks e o polonês Piotr Lisek, entre outros. Thiago chegou para a competição sob forte pressão psicológica. Lavillenie já havia se referido a ele como talentoso mas inconstante, sempre com altos e baixos, e suscetível a pressões nas grandes competições[8] – Thiago havia zerado sua prova no Pan de Toronto 2015, ficado apenas em 19º no Mundial de Pequim 2015 e acertado apenas um salto, saindo precocemente da competição, no Campeonato Mundial de Atletismo em Pista Coberta de 2016, em Portland, Estados Unidos, cinco meses antes das Olimpíadas.[9]

Na final no Estádio Olímpico, a marca de 5,75 já tinha retirado da competição vários concorrentes fortes, como Barber, quando o francês a saltou, na primeira tentativa, seu primeiro salto na final da competição. Braz precisou de duas tentativas mas também passou a marca. A marca seguinte, 5,85 m, viu a passagem de apenas três competidores, Braz, Lavillenie – novamente na primeira tentativa – e Kendricks, que ficou por ali.[10]

Em segunda tentativa, Thiago passou a marca de 5,93 m, seu recorde sul-americano e até então melhor marca, também ultrapassada pelo francês de primeira, enquanto o americano, que não a ultrapassou, ficava com a medalha de bronze. A prova agora se resumia a quem entre Braz e Lavillenie ficaria com a medalha de ouro, os dois únicos ainda restantes na competição. O francês, mais experiente e liderando a competição pelo menor número de tentativas para ultrapassar as marcas mesmo sofrendo com as vaias que lhe eram dirigidas pelo público torcedor do brasileiro, ultrapassou a marca seguinte, 5,98 m, novo recorde olímpico e marca nunca atingida antes por Thiago. Sem nada a perder, com ao menos a prata garantida, Braz arriscou tudo e pediu marca mais alta, desistindo de saltar esta altura, fazendo com que ela aumentasse para 6,03 metros. Até então, nunca em Jogos Olímpicos os seis metros haviam sido ultrapassados.[10]

Lavillenie, sob pressão e vaias do público, foi então obrigado a tentar saltar a nova marca, falhando na primeira tentativa, o mesmo acontecendo com Thiago, que saltou em seguida. O francês tentou pela segunda vez falhando novamente, mas até então liderava a competição, pois havia saltado 5,98 m e Braz não. Thiago então correu para a barra e ultrapassou a marca, dez centímetros mais alta do que sua melhor marca até então na carreira, e novo recorde olímpico. Pressionado, e agora em desvantagem, pois havia falhado na altura em duas tentativas enquanto Thiago a tinha superado na segunda, não restou ao francês outra alternativa senão pedir a marca seguinte, 6,08 m, que já havia superado antes e o único do mundo em atividade a fazê-lo, na tentativa de passá-la e obrigar Thiago a dar mais este salto para vencer. Com apenas uma chance, Lavillenie, vaiado pelo público que o pressionava na tentativa de desestabilizá-lo, errou o salto e Thiago Braz tornou-se o primeiro campeão olímpico do atletismo masculino brasileiro desde Joaquim Cruz em Los Angeles 1984.[10]

Tóquio 2020

editar

Após um ciclo olímpico muito abaixo do esperado, sem medalhas em Campeonatos Mundiais e mesmo em Jogos Pan-Americanos entre 2016 e 2020, Braz participa dos Jogos Olímpicos de Verão de 2020 em Tóquio novamente sem estar na condição de favorito. Nas eliminatórias da prova ele se classificou com alguma tranquilidade, errando dois saltos, mas chegou à marca de 5,75 m sem precisar da terceira e última tentativa em nenhuma marca. Na final, ele erra uma tentativa nas marcas de 5,70m e 5,80m, mas consegue passar na segunda vez e ultrapassa os 5,87m na primeira tentativa. Nesta altura da prova, Renaud Lavillenie, que competiu com os dois pés lesionados, ainda tinha chance de ultrapassar Braz e desistiu dos 5,87m passando a barra para 5,92m mas falhou nas tentativas e ficou sem medalha. Isto garantiu Braz no pódio, visto que sobravam na prova apenas ele, o sueco Armand Duplantis, que era o recordista mundial e favorito ao ouro, e o americano Christopher Nilsen, que saltou 5,97m, sua melhor marca pessoal, obtendo a prata. Braz errou três tentativas nos 5,92m e terminou com o bronze. Duplantis ultrapassou 6,02m na primeira tentativa e poderia ter tentado quebrar o recorde olímpico de Thiago Braz – 6.03m, da Rio 2016 – porém subiu a marca direto para 6,19m para tentar quebrar seu próprio recorde mundial de 6.18m, mas não teve sucesso. Braz terminou com o bronze, sua segunda medalha olímpica consecutiva.[11]

2022-24

editar

No Campeonato Mundial de Atletismo em Pista Coberta de 2022 em Belgrado, Sérvia, Braz conquistou sua primeira medalha em Campeonatos Mundiais, uma prata obtida com um salto de 5m95, um novo Recorde Sul-americano Indoor. O ouro foi para o sueco Duplantis, que quebrou o recorde mundial com 6m20 nesta prova.[12]

No Campeonato Mundial de Atletismo de 2022, Braz obteve a melhor posição da história do Brasil em Mundiais de pista aberta no salto com vara, terminando em 4º lugar com um salto de 5m87.[13]

Em 28 de julho de 2023 ele foi provisoriamente suspenso das competições pela Athletics Integrity Unit, após testar positivo para a substância ostarina, droga utilizada para o aumento de massa muscular. Caso confirmado o o doping, o atleta pode ser suspenso por até quatro anos das competições.[14] Esta é a mesma substância que causou em 2022 o banimento por quatro anos da jogadora brasileira de voleibol Tandara.[15]

Vida pessoal

editar

Thiago foi abandonado pelos pais quando tinha apenas dois anos de idade, sendo desde então criado por seus avós paternos Maria do Carmo e Orlando Braz (aos quais se refere como "pai e mãe")[16] com o apoio de um tio, o ex-atleta Fabiano Braz.[17][18][19] É casado desde 2014 com Ana Paula Oliveira, que também é atleta.[20]

Thiago foi treinado por Vitaly Petrov, o mais respeitado técnico de salto com vara do mundo, que tem no seu currículo o treinamento de Sergei Bubka, Yelena Isinbayeva e Fabiana Murer e hoje é treinado por por Elcio Miranda, seu técnico da época da base. Fabiana, recordista brasileira e sul-americana em salto com vara, é amiga e orienta o atleta desde que ele tinha quinze anos.[21]

Principais resultados

editar
Ano Competição Local Posição Notas
2009 Campeonato Sul-americano Junior   São Paulo 4,40 m
2010 I Jogos Olímpicos da Juventude   Singapura 5,05 m
Campeonato Sul-americano da Juventude   Medellín 5,10 m
2011 Campeonato Pan-americano Junior   Miramar 5,20 m
Campeonato Sul-americano Junior   Medellín 4,85 m
2012 Campeonato Mundial Júnior de Atletismo   Barcelona 5,55 m
2013 Campeonato Sul-Americano de Atletismo   Cartagena 5,83 m  
Campeonato Mundial de Atletismo   Moscou 14º (q) 5,40 m
Meeting de Leverkusen   Leverkusen 5,82 m
2016 Meeting Internacional Indoor ISTAF   Berlim 5,93 m  
Jogos Olímpicos de Verão de 2016   Rio de Janeiro 6,03 m  ,  
2019 Campeonato Mundial de Atletismo   Doha 5,70 m
Jogos Pan-Americanos   Lima 5,51 m
2021 Jogos Olímpicos de Verão de 2020   Tóquio 5,87 m  

Referências

  1. «Provisional Suspensions In Force | Athletics Integrity Unit». www.athleticsintegrity.org. Consultado em 1 de maio de 2024 
  2. «Thiago Braz, do salto com vara, é suspenso por doping». ESPN.com. 28 de julho de 2023. Consultado em 1 de maio de 2024 
  3. a b «Da Silva is the latest Petrov Pole Vault protégé to win a World title». IAAF. Consultado em 15 de julho de 2012 
  4. «Thiago Braz». BM&FBOVESPA Atletismo. Consultado em 15 de julho de 2012 
  5. Thiago Braz ganha 1 kg de ouro e agradece ‘patrocínio’ de Fabiana Murer
  6. «Thiago Braz bate campeão mundial e conquista o ouro no salto com vara». 29 de agosto de 2013. Consultado em 16 de agosto de 2016 
  7. «Salto com vara: Thiago Braz vence prova em Berlim e estabelece recorde». O Globo. Consultado em 4 de julho de 2016 
  8. «Campeão olímpico vê Braz irregular e pressionado em grandes competições». globoesporte. Consultado em 29 de agosto de 2016 
  9. «É ouro! Thiago Braz se reinventa no Rio e troca pressão por topo do pódio». globoesporte. Consultado em 29 de agosto de 2016 
  10. a b c «REPORT: MEN'S POLE VAULT FINAL – RIO 2016 OLYMPIC GAMES». IAAF. Consultado em 29 de agosto de 2016 
  11. Thiago Braz ressurge em Tóquio após ciclo de frustrações depois da Rio 2016
  12. Thiago Braz vence mais um Lavillenie, leva a prata no Mundial de Atletismo, e faz história
  13. Thiago Braz fica em 4º lugar no Mundial de Atletismo
  14. «Thiago Braz é suspenso após testar positivo em exame antidoping». ge. Consultado em 28 de julho de 2023 
  15. Carol Oliveira. «Tandara é condenada a quatro anos de suspensão por doping». ge. Consultado em 28 de julho de 2023 
  16. Redação (16 de agosto de 2016). «Thiago Braz: do abandono ao estrelato mundial». catacralivre.com.br. Consultado em 16 de agosto de 2016 
  17. «Thiago Braz foi abandonado pelos pais aos 2 anos: "perdoei"». Consultado em 17 de agosto de 2016 
  18. «Abandonado pela mãe, Thiago foi criado pelos avós e teve tio como "mentor" - UOL Olimpíadas». olimpiadas.uol.com.br. Consultado em 17 de agosto de 2016 
  19. «De garoto abandonado pela mãe a herói nacional: ouro de Thiago Braz será 'a imagem' da Rio 2016?». 16 de agosto de 2016. Consultado em 17 de agosto de 2016 
  20. Amanda Kestelman e Helena Rebello (13 de agosto de 2016). «Da dor do abandono à luta mental por medalha: conheça Thiago Braz». globoesporte.globo.com. Consultado em 16 de agosto de 2016 
  21. «Thiago Braz conquista o bronze no salto com vara, sua segunda medalha consecutiva numa Olimpíada». El Pais. Consultado em 11 de agosto de 2021 

Ligações externas

editar
Outros projetos Wikimedia também contêm material sobre Thiago Braz:
  Categoria no Commons
  Base de dados no Wikidata