Tia Pê
Tia Pê (batizada Francisca Lima do Espírito Santo, Vigia, 1915 - Vigia, 10 de junho de 1976), foi uma cantora, compositora e percussionista brasileira. É considerada uma das últimas "Tias" do carimbó de Vigia.[1]
Tia Pê | |
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Informações gerais | |
Nome completo | Francisca Lima do Espírito Santo |
Nascimento | 1915[1] |
Local de nascimento | Vigia, Pará |
País | Brasil |
Morte | 10 de junho de 1976 |
Local de morte | Vigia, Pará |
Nacionalidade | brasileiro |
Gênero(s) | Carimbó |
Biografia
editarTia Pê era filha de Manoel Juvenal Lima e Maria Odocia Lima. Em Vigia, onde nasceu e viveu, dedicava-se a vender doces em tabuleiro quando não estava se apresentando com seu conjunto de carimbó. Esta era uma atividade comumente exercida por mulheres negras, como ela, que desempenhavam trabalhos braçais e pouco valorizados pela sociedade local. O "Pê" era um apelido de infância, pois sendo analfabeta, quando lhe perguntavam o que estava escrito em determinado lugar, ela respondia apenas "pê".[1]
Tia Pê casou-se com Teodomiro Espírito Santo, com quem teve um filho, João Calandrino. Em 1955, foi residir numa área que posteriormente passou a fazer parte do bairro do Amparo. Ali, vivia numa casa que, como recorda o folclorista Vicente Salles em fins da década de 1960, era[1]
de barro socado, coberta de telhas, consta de um salão, medindo aproximadamente 20 metros quadrados e 3 metros de pé direito. É assoalhado. Nesse salão realizam-se os bailes e, todos os domingos, o carimbó. [...] Ao lado da casa há uma rústica construção, denominada "tenda", que serve para vender bebidas e comidas regionais, o mais é o terreno, em torno da casa, bastante amplo, arborizado com árvores frutíferas e plantas que, supomos, têm algum valor medicinal.
Em Amparo, Tia Pê começou a organizar festividades que, embora fossem de cunho religioso, não estavam oficialmente vinculadas à Igreja Católica. Uma das mais importantes era a de Nossa Senhora da Conceição, em dezembro, a qual no início do século XX era organizada pelo descendente de portugueses Manoel Elesbão de Barros. A festa durava oito dias e admitia apenas convidados pelo organizador. Elesbão deixou de promover o evento após a morte de um dos seus amigos, Leandro, que puxava a ladainha. Uma irmã de Elesbão ainda organizou a festividade depois disso, mas a iniciativa não durou três anos. Foi só então que a Tia Pê, que seria sobrinha de Elesbão, passou a organizar a festa, a qual assumiu um aspecto muito mais popular, deixando de atender somente convidados. Além disso, Tia Pê cantava o carimbó, dançava, e eventualmente até tocava percussão, o que a levou a fundar em 1962 o conjunto de carimbó Tia Pê.[1]
Tia Pê também organizava a Festa do Divino Espírito Santo em maio e dezembro, de 1958 até 1967. Originalmente, o evento ocorria apenas no centro de Vigia, mas ela o levou para o Amparo. Em 1968, deixou de organizar a festividade da Imaculada Conceição, e passou a dedicar-se à venda de doces (que comprava de terceiros para revender) e às apresentações de carimbó. Com seu conjunto, apresentou-se em várias cidades do interior do Pará e até mesmo na capital. Em 1974, no I Festival de Carimbó de Vigia, o conjunto conquistou o 3º lugar e Tia Pê foi homenageada ao receber um certificado de "Preservadora Cultural" das mãos do vice-reitor da Universidade Federal do Pará.[1]
Embora analfabeta, Tia Pê compunha suas músicas batucando na mesa, ao compasso do carimbó. As letras tinham que ser registradas por terceiros. Ao menos três composições foram registradas pelo cantor e compositor Ely Farias, em seu disco Carimbó, de 1970: "Maçariquinho", "Papagaio" e "Laranja Madura".[1]
Tia Pê faleceu em 10 de junho de 1976, tendo o sepultamento ocorrido no cemitério São Francisco, em Vigia. Sua morte recebeu destaque no jornal O Liberal, de Belém. Orlando Santos, sobrinho da cantora, deu seguimento à festividade de Nossa Senhora da Conceição, realizado por ela. Em 1978, o prefeito José Ildone batizou como "Escola Municipal de Ensino Fundamental Francisca do Espírito Santo - Tia Pê" uma escola de ensino fundamental no Amparo.[1]
Legado
editarA partir de 2000, um grupo de dança folclórica denominado "Dança Tia Pê" passou a apresentar-se com acompanhamento musical gravado, em Vigia e outras cidades da região. Além das apresentações de carimbó, o "Dança Tia Pê" também realizou um trabalho de pesquisa e de valorização das manifestações culturais, com visitações a comunidades tradicionais e quilombolas, e entrevistando pessoas envolvidas com a cultura do carimbó.[1]
Ainda na década de 2000, foi inaugurado em Vigia o Espaço Cultural Tia Pê. Em 2020, ao lado do espaço, erigiu-se um pequeno monumento em homenagem à Tia Pê, com três curimbós em concreto e uma placa resumindo a história da homenageada.[1]