Tropeirismo no Paraná
O tropeirismo no Paraná refere-se à colonização tropeira na região dos Campos Gerais, em consequência do Caminho das Tropas, onde fundaram cidades e deixaram um legado cultural e econômico.[1][2][3][4]
História
editarA descoberta das minas de ouro de Minas Gerais teve como uma de suas consequências a grande demanda de gado equino e vacum. Recorreu-se então aos muares xucros da região missioneira do sul,[5] tocados pela estrada Viamão-Sorocaba, aberta em 1731.[6] Segundo Brasil Pinheiro Machado, a construção dessa estrada foi "acontecimento relevante na história paranaense".[5] Desligou Curitiba do ciclo litorâneo,[5] distanciando-a socialmente de Paranaguá e incorporando-a ao sistema histórico das guerras de fronteira,[5] dando-lhe oportunidade de uma marcha para o sul, para o norte e para oeste,[5] de maneira que Curitiba passa a significar o caráter de toda a região que será a futura província".[5]
No Paraná os tropeiros foram importantes na ocupação do segundo planalto. Os tropeiros muitas vezes precisavam pernoitar em pontos do percurso esperando a chuva estiar, ou nível dos rios abaixarem; isso gerava a necessidade de estoque de alimentos, disponibilidade de ferramentas e materiais para acampamento. O fluxo constante de pessoas ao longo da rota somado à esses acampamentos criava oportunidade para estabelecer comércio, nucleando pontos de urbanização.
Inaugurava-se assim o ciclo das tropas na história paranaense, que se estendeu até a década de 1870,[7] quando começou a era do transporte ferroviário.[5] Numerosos habitantes dedicaram-se ao rendoso negócio de comprar muares no sul, inverná-los em seus campos e revendê-los nas feiras de Sorocaba.[5] Foi essencialmente com a disseminação das fazendas de criação e invernagem que se fez a ocupação do território. Com base na propriedade das pastagens e no trabalho de escravos negros e índios, estabelecem-se as famílias que detêm o poder regional.[5] Graças às tropas que se estabeleciam ao torno de alguns rios, surgiram municípios como Lapa,[8] Ponta Grossa[9], Castro,[10] Piraí do Sul e Jaguariaíva.[11]
Cultura
editarEm 1986 uma pesquisa considerou o tropeirismo como patrimônio cultural do estado do Paraná e nos últimos anos o tema apareceu associado a diferentes iniciativas.[12] Foram realizados eventos em diferentes cidades do Paraná, e dos estados do sul do país, para discutir o tema, a montagem de museus, ou setores em museus locais, a organização de grupos como os “Clubes dos Tropeiros”, o fomento a publicação bibliográfica e de outros tipos de publicações.[12]
Como objeto de atenção das políticas públicas de patrimônio, o tropeirismo adquiriu centralidade em meados dos anos 80 do século XX.[12] A Coordenadoria do Patrimônio Cultural da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, juntamente com outras instituições municipais, estaduais e federais, decidiu, em 1986, mapear as influências”do tropeirismo em alguns municípios.[12] A intenção era a salvaguarda da memória dessa atividade por meio do registro, também, dos bens materiais (na época, as casas de fazenda) associados ao tema.[12] Em 2006, o tropeirismo é retomado pela política de patrimônio. Uma pesquisa, patrocinada pelo IPHAN, apresenta-o sob a perspectiva do patrimônio imaterial.[12]
Os museus, ou casas de cultura, também se destacam na salvaguarda da memória do tropeirismo.[12] O Museu do Tropeiro, criado em 1977 em Castro, é considerado o mais importante do gênero no país.[12] Conta com um acervo de mais de mil peças, documentos e objetos históricos que retratam a vida do tropeiro.[12] Outros museus apresentam setores específicos relacionados ao tema, como é o caso do Museu Histórico Municipal Desembargador Edmundo Mercer Júnior, em Tibagi e da Casa Vermelha, em Lapa.[12]
Há ainda os clubes dos tropeiros, de Rio Negro e da Lapa, que têm, por objetivo, pesquisar o ciclo do tropeirismo e a sua influência na formação da cultura brasileira, resgatar a história dos tropeiros, além de promover atividades relativas ao tema.[12]
Diversos municípios possuem outros espaços culturais destinados ao tema tropeirismo. São parques, praças e monumentos, que buscam reunir festividades, memória e tradição.[13][14][15][16][17] Curitiba conta com o Parque dos Tropeiros, criado em 1994 em homenagem aos tropeiros.[18] Monumentos também se fazem presente na Lapa, Campo Largo, Ponta Grossa,[19] Telêmaco Borba, Piraí do Sul[20][21] e Jaguariaíva.
No município da Lapa, o dia do tropeiro foi instituído, através da Lei Municipal n° 353 de 1966, sendo festejado no dia 26 de abril.[12] Em 2004, Nossa Senhora das Brotas foi conclamada padroeira da Rota dos Tropeiros.[22][4] No Paraná, ficou instituída pela Lei n° 14356 de 2004 a primeira semana do mês de outubro como sendo a “Semana do Tropeiro” e, o dia 5 de outubro, o "Dia do Tropeiro".[12] Em 2019, por iniciativa de Lei, foi alterado no âmbito do estado do Paraná o Dia do Tropeiro que passou a ser no dia 26 de abril e a última semana do mês de abril como a semana do tropeiro.[23][24] Em 2008 em Piraí do Sul o dia 15 de novembro foi escolhido para comemorar o dia do tropeiro no município, entretanto a partir de uma proposta a data foi alterada em 2018 para o ser comemorada todo o primeiro domingo do mês de julho.[25][26][27] Em 2014 foi instituído em Jaguariaíva o dia municipal do tropeiro, que passou a ser comemorado em 12 de maio.[28][29][30][31] Em 2014 Curitiba instituiu o Dia da Memória Tropeira.[32][33]
O tropeirismo também está presente em muitos símbolos dos municípios do Paraná, como nos brasões municipais, bandeiras e hinos. No brasão de armas da Lapa há dois homens de cada lado do escudo representando os tropeiros.[34] O tropeiro também está presente nos brasões de Campo Largo,[35][36] Piraí do Sul[37] e Jaguariaíva,[38] assim como em suas respectivas bandeiras. Também está presente no brasão do Santuário Diocesano do Senhor Bom Jesus da Pedra Fria da cidade de Jaguariaíva.[39]
Turismo
editarMuitos municípios do Paraná foram formados basicamente pelo movimento tropeiro. Atualmente no estado mais de 100 municípios possuem algum tipo de ligação com o Tropeirismo.[12] No entanto, para caracterizar geograficamente esta importante rota, foram selecionados os municípios com maior ligação histórica para então viabilizar um produto turístico. Foi criada então a Rota dos Tropeiros, uma rota turística com municípios localizados na Região Metropolitana de Curitiba e Campos Gerais. O roteiro inclui Rio Negro, Campo do Tenente, Lapa, Porto Amazonas, Balsa Nova, Campo Largo, Palmeira, Ponta Grossa, Carambeí, Castro, Tibagi, Telêmaco Borba, Piraí do Sul, Arapoti, Jaguariaíva e Sengés.[12][4]
Ver também
editarReferências
- ↑ Carlos Zatti (2007). «Campeiros Do Paraná Tradicional». Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ Carlos Zatti (2009). «O Paraná de Bombachas». Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ Carlos Zatti (2010). «O Paraná e o Paranismo». Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ a b c Viaje Paraná (2019). «Campos Gerais». Secretaria de Comunicação Social do Paraná. Consultado em 23 de janeiro de 2020
- ↑ a b c d e f g h i «Paraná: História». Nova Enciclopédia Barsa volume 11 ed. São Paulo: Encyclopædia Britannica do Brasil Publicações Ltda. 1998. p. 137
- ↑ «Tropeiros de integração». Revista Viamão. 2008. Consultado em 19 de agosto de 2010. Cópia arquivada em 15 de fevereiro de 2009
- ↑ «História do Paraná». Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Consultado em 17 de janeiro de 2010
- ↑ A história da Lapa segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- ↑ A história de Ponta Grossa segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
- ↑ «História de Castro». Prefeitura Municipal de Castro. Consultado em 19 de agosto de 2018
- ↑ Alves, Leonardo Marcondes. "Give us this day our daily bread: The moral order of Pentecostal peasants in South Brazil." Master Thesis in Cultural Anthropology, Uppsala University. (2018).
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- ↑ «Tropeiros de TB realizam fogueira em homenagem a Santo Antônio». Prefeitura Municipal de Telêmaco Borba. 9 de junho de 2009. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Tropeiros de TB prestam homenagem a Santinha em Tibagi». Prefeitura Municipal de Telêmaco Borba. 31 de julho de 2009. Consultado em 24 de janeiro de 2020
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- ↑ «Projeto resgata a história do Tropeirismo em Carambeí». A Rede. 7 de agosto de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «I Romaria Tropeira pela Rota do Rosário chega a Arapoti». Rota do Rosário. 20 de janeiro de 2020. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ Magaléa Mazziotti (25 de março de 2015). «Visto de longe, o Parque dos Tropeiros, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), segue exuberante». Tribuna do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020
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- ↑ «Rota dos Tropeiros» (php). rotadostropeiros.com.br. Consultado em 23 de janeiro de 2020
- ↑ «Lei 19992, 13 de novembro de 2019 - Altera o art. 1º da Lei nº 14.356, de 7 de abril de 2014, que institui, no âmbito do Estado do Paraná, a Semana e o Dia do Tropeiro.». Diário Oficial do Estado nº 10564. 13 de novembro de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Tropeada de Guarapuava à Lapa é recebida com emoções e enaltece mudança do Dia do Tropeiro no Paraná». Assembleia Legislativa do Estado do Paraná. 2 de dezembro de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Vereador propõe alteração na data de comemoração do 'Dia do Tropeiro'». Correio dos Campos. 7 de junho de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Lei da Câmara Número: 2231 - Altera a Lei Municipal nº 1.645/2008, que institui como data oficial do município, o DIA DO TROPEIRO em Piraí do Sul.». Câmara Municipal de Piraí do Sul. 7 de agosto de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Lei da Câmara Número: 2231 - Altera a Lei Municipal nº 1.645/2008, que institui como data oficial do município, o DIA DO TROPEIRO em Piraí do Sul.» (PDF). CMPS - Câmara Municipal de Piraí do Sul. 7 de agosto de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Origens de Jaguariaíva são lembradas na comemoração do Dia Municipal do Tropeiro». Correio dos Campos. 15 de maio de 2017. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Campus realiza o I Dia do Tropeiro no IFPR». IFPR Campus Jaguariaíva. 16 de maio de 2018. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Dia do Tropeiro é comemorado com resgate cultural e confraternização típica». Prefeitura Municipal de Jaguariaíva. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Jaguariaíva promove V dia do Tropeiro nesta sexta-feira». Folha Extra. 9 de maio de 2019. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Bernardi propõe a instituição do Dia da Memória Tropeira». Câmara Municipal de Curitiba. 1 de abril de 2014. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Cultura tropeira recebe apoio da Câmara Municipal de Curitiba». Câmara Municipal de Curitiba. 10 de abril de 2014. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Bandeira da Lapa». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Brasão de Campo Largo». Secretaria da Educação do Paraná. 2007. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Bandeira de Campo Largo». Secretaria da Educação do Paraná. 2007. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Símbolos». Prefeitura Municipal de Piraí do Sul. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ «Brasão do município de Jaguariaíva». Secretaria da Educação do Paraná. Consultado em 24 de janeiro de 2020
- ↑ Rafael Pomim (22 de agosto de 2016). «Santuário Do Senhor Bom Jesus Da Pedra Fria Lança Seu Brasão Oficial». Diocese de Jacarezinho. Consultado em 24 de janeiro de 2020