Tukumã Pataxó
Tukumã Pataxó (aldeia Pataxó, Bahia, 2000?) é um chefe de cozinha, comunicador e influenciador digital da etnia Pataxó. É ambientalista e luta pelos direitos dos povos indígenas.[1]
Tukumã Pataxó | |
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Nascimento | 2000 (25 anos) Porto Seguro |
Cidadania | Brasil |
Ocupação | influenciador, cozinheiro, comunicador, ambientalista |
Biografia
editarWilliam Pataxó nasceu na aldeia Coroa Vermelha, que se localiza próxima à cidade de Porto Seguro, na Bahia; local onde chegaram as primeiras caravelas europeias, por isso sendo também um dos primeiros povos indígenas a serem dizimados por eles.[2] Quando ele tinha 4 anos de idade, o idioma patxohã voltou a ser ensinado nas escolas da aldeia e seu pai lhe deu seu novo nome: Tukumã, que significa “semente”. (Há muitos anos, os indígenas haviam sido proibidos de falar sua língua tradicional e mesmo os anciãos tinham medo de usá-la.)[3] Tukumã estudou nessa escola trilíngue (português, inglês e Patxohã), que aprendeu a preservar sua cultura, sua língua e suas tradições.[4]
É membro de uma família composta por lideranças indígenas.[1] Seu avô era cacique, tendo passado a liderança para seu tio-avô (hoje pajé da aldeia). Sua avó atuou diretamente pela demarcação do território de sua aldeia. Seu pai atuou na Fundação Nacional do Índio (Funai) e foi membro da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).[3] Por estar desde a infância em contato direto com caciques, pajés e toda a comunidade, ele diz que aprendeu muito, e sua atuação digital hoje é continuidade da luta pelos direitos indígenas inciada de seus antecessores.[1][3][5]
Desde criança, sempre quis ser protagonista, mas não se via no conteúdo publicado pelos veículos de comunicação, por isso, hoje tem muito orgulho por que as crianças indígenas o vêem como referência e inspiração.[1][6]
Carreira e ativismo
editarFez faculdade de Gastronomia na Universidade Federal da Bahia, em Salvador, onde ouviu comentários e perguntas estereotipados: você é indígena “de verdade”? Você faz a dança da chuva? Você não anda pelado?[3][4] Apesar de ter criado suas redes sociais em 2015,[7] apenas nesse momento ele começou a usá-las para reagir.[6] Seu primeiro vídeo a viralizar (1 milhão de visualizações) foi filmado com seis amigos indígenas e os mostrava trocando as roupas "de branco" por vestimentas e pinturas corporais tradicionais de seus povos. Os vídeos curtos parecidos com esquetes humorísticos são os que mais possuem visualizações, onde ele traz respostas a comentários em suas redes sociais: É possível se tornar indígena? É verdade que os indígenas não gostam de tomar banho?[3]
“As pessoas falam que a gente não é indígena por estarmos de roupa. Se estamos caracterizados, as pessoas dizem que é fantasia e falam: ‘você não é índio de verdade porque não está na mata’."[5]
Em seu instagram, publica conteúdo sobre a cultura e os saberes do povo Pataxó para mais de 280 mil seguidores. Além disso, comunica sobre as questões ambientais que atingem o mundo na atualidade: trata de questões ambientais, do aquecimento global, de consumo consciente e da necessidade de relações mais amigáveis com a natureza.[1][6][8][9][10][11][12]
"O relatório Povos indígenas e comunidades tradicionais e a governança florestal, lançado pela ONU em 2021, revela o cuidado e preservação que nós, povos indígenas, temos: 45% das florestas intactas da bacia amazônica estão em territórios indígenas. Brasil, Bolívia e Colômbia evitaram a emissão de 40 a 60 toneladas de CO2. Esses dados revelam o protagonismo dos povos indígenas e a nossa relação com o meio ambiente. Nós estamos aqui para mostrar o quanto somos importantes para o mundo."[1]
É diretor de comunicação da Associação de Jovens Indígenas Pataxó (AJIP) e colabora com o coletivo de comunicadores indígenas chamado "Mídia Índia".[1][3] Foi o responsável por filmar e fotografar as marchas contra o “marco temporal das terras indígenas” em Brasília e as plenárias para transmitir o conteúdo nas redes sociais para quem não pode estar presente.[3]
Em 2021, visitou aldeias indígenas brasileiras para gravar vídeos para compor um documentário sobre as consequências da Covid-19. Além disso, aproveitou para ministrar oficinas de audiovisual e falar sobre a importância de ter mais indígenas na Internet para comunicar sobre sua cultura sob sua própria perspectiva.[3] No mesmo ano, estreou o programa de podcast “Papo de Parente”, na Globoplay, em parceria com Célia Xakriabá e Cristian Wariu.[13][14] Cada episódio contou com convidados e convidadas indígenas e não-indígenas, que eram convidados a enviar perguntas sobre curiosidades dos mundos indígenas no Brasil para os apresentadores.[15]
Em 2022, publicou uma série de vídeos em suas redes sociais tratando da cerâmica tradicional dos povos indígenas Tukano e Baniwa, da região do Rio Negro, que são parte Sistema Agrícola Tradicional do Rio Negro, bem imaterial reconhecido como patrimônio cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A ação fez parte de uma campanha em conjunto com o Instituto Socioambiental (ISA) e a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn).[4] No mesmo ano, palestrou no TEDxGovernadorValadares, falando de alguns dos desafios de ser indígena.[14]
Já representou o Brasil e os povos originários em eventos em vários países, como França, Bélgica, Estados Unidos e Suécia.[9][12] É parte do projeto Digital Favela, que reúne 6.500 criadores de conteúdo, tendo auxiliado o criador, Guilherme Pierri, a escolher os influenciadores indígenas que fariam parte do projeto. A proposta é dialogar com empresas (já são mais de 250) que queiram valorizar as culturas indígenas e não apenas usar sua imagem como um diferencial.[16]
Vida pessoal
editarTukumã Pataxó é casado com Samela Sateré Mawé, também influenciadora indígena. Casaram-se em 1º de agosto de 2023, em um dos eventos tradicionais mais importantes dos Pataxó, sendo a edição do evento que mais teve pessoas participando.[2][17][18] Foi o primeiro casamento indígena com emissão de um certificado de casamento tradicional indígena por um cartório, sendo, portanto, reconhecida como uma união legítima frente ao Estado brasileiro.[2]
Como parte do ritual tradicional de casamento, cada um dos noivos precisa provar que é capaz de cumprir suas funções familiares. O noive precisa provar que é capaz de proteger a família, por isso:[2]
Na versão atual da festa, [no dia do casamento,] o noivo tem que fazer uma caçada na mata e trazer um animal para alimentar a futura família. Se não conseguir a caça, será impedido de se casar. Após a caçada, ele precisa carregar uma tora com o mesmo peso da noiva por uma longa distância [para demonstrar que tem disposição física e capacidade de cuidar da família].
Tukumã Pataxó também irá passar pelos rituais de casamento de sua esposa.[2]
Prêmio
editar- 2021 - Prêmio Sim à Igualdade Racial, na categoria "Representatividade em Novos Formatos"[3][10][19]
Links
editarReferências
- ↑ a b c d e f g Garcia, Caetano (3 de novembro de 2022). «Akatu entrevista: Tukumã Pataxó e o protagonismo indígena». Instituto Akatu. Consultado em 16 de dezembro de 2023
- ↑ a b c d e Zandonadi, Viviane (4 de agosto de 2023). «Sob a proteção ancestral: cenas de um casamento tradicional indígena». SUMAÚMA. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b c d e f g h i «[esquina] Um influencer indígena». revista piauí. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b c «Comunicador indígena, Tukumã Pataxó publica série sobre cerâmicas do Rio Negro; assista | Instituto Socioambiental». socioambiental.org. 27 de junho de 2022. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b «O protagonismo e ativismo indígena nas redes sociais». Fundação Telefônica Vivo. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b c «Tukumã Pataxó usa as redes sociais para mostrar ao Brasil quem é seu povo de verdade». GQ. 1 de fevereiro de 2022. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ «Plataforma conecta marcas a influenciadores da periferia e de territórios indígenas». Top of Mind. 25 de outubro de 2022. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ «O Instagram como ferramenta de disseminação sobre a cultura alimentar dos povos indígenas: Um estudo de caso o Tukumã Pataxó | CELACC USP». celacc.eca.usp.br. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b «Conheça 3 perfis de criadores de conteúdo indígena para seguir hoje». Estadão. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b «@tukuma_pataxo -- Quem estamos seguindo». Gama Revista. 20 de setembro de 2021. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ AE (19 de abril de 2023). «Conheça três perfis de criadores de conteúdo indígena». Correio do Povo. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b estadaoconteudo. «Conheça 3 perfis de criadores de conteúdo indígena para seguir hoje». Terra. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ «Célia Xakriabá, Tukumã Pataxó e Cristian Wariu lançam programa de podcast "Papo de Parente"». Rede NINJA. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ a b Pataxó, Tukumã (6 de janeiro de 2023), Desafios de ser indígena, consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ «Vozes originárias em movimento». Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ «Plataforma conecta marcas a influenciadores da periferia e de territórios indígenas». Top of Mind. 25 de outubro de 2022. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ Nicolau, Analice (3 de agosto de 2023). «Cantor Xamã visita comunidade indígena Pataxó em Porto Seguro para casamento de amigos». Jornal de Brasília. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ «BA: Atividade promove engajamento para segurança do paciente no Hospital Regional Costa do Cacau». POVOS INDÍGENAS :: O 1º do Brasil!. Consultado em 17 de dezembro de 2023
- ↑ «Prêmio Sim a Igualdade Racial 2021». Prêmio Sim à Igualdade Racial 2023. Consultado em 1 de junho de 2023