Cassandra Rios

escritora brasileira
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Cassandra Rios, pseudônimo de Odette Pérez Ríos[1][3] (São Paulo, 3 de outubro de 1932São Paulo, 8 de março de 2002), foi uma escritora brasileira. Escrevia ficção, mistério e principalmente sobre homossexualidade feminina e erotismo, sendo a primeira escritora a tratar do tema, quebrando um grande tabu nacional. Cassandra Rios acabou sendo perseguida e ameaçada pela ditadura militar, mas não parou jamais de escrever.[4]

Cassandra Rios
Nome completo Odette Pérez Ríos[1]
Pseudônimo(s) Cassandra Rios
Nascimento 3 de outubro de 1932
São Paulo, SP
Morte 8 de março de 2002 (69 anos)
São Paulo, SP
Nacionalidade brasileira
Ocupação escritora
Magnum opus A volúpia do pecado
Religião católica[2]

Biografia

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Odette Pérez Ríos nasceu e cresceu em uma família de classe média alta do bairro de Perdizes, na cidade de São Paulo, em 3 de outubro de 1932. Filha dos imigrantes espanhóis Graciano Fernández Ríos e Damiana Pérez Ríos, ambos naturais da vila da Gudiña, província de Ourense, na Galiza.[1][2]

Ninguém foi mais perseguida pelos censores da ditadura militar brasileira do que Cassandra Rios, escritora recordista em vetos durante o regime, com 36 dos seus 50 livros publicados censurados durante a vida - fora algumas edições clandestinas.[5]

Em 1948, aos 16 anos, publicou seu primeiro livro: A Volúpia do Pecado, uma história de amor entre duas adolescentes, se tornando a primeira autora do país de romances eróticos voltados ao universo da homossexualidade feminina.[5]

Na época, após ter sido rejeitado por todas as editoras de São Paulo, A Volúpia do Pecado foi publicado pela própria Odette com dinheiro emprestado por sua mãe. Sob o pseudônimo de Cassandra Rios, em homenagem a sacerdotisa grega que profetizou o episódio do "cavalo de Troia", o livro de estreia fez tanto sucesso que chegou a ser reeditado nove vezes em pouco mais de dez anos.[5]

Até que, em 1962, foi proibido e tirado de circulação por ofender os valores familiares. Entre 1964 a 1985, anos da ditadura, outras três dezenas de livros da escritora foram proibidos. Ficou conhecida como a "escritora maldita", pela ditadura, devido aos conteúdos publicados, a sua sexualidade em uma época conservadora - a escritora era publicamente lésbica - e a sua popularidade com as classes ricas e pobres incomodaram muito os que estavam no poder.[5]

"A sociedade rotula o homossexual como cachaça de macumba, não como uísque", brincou a escritora em 2001, pouco antes de morrer, ao lembrar da sua trajetória.[5]

Durante sua carreira Cassandra escreveu mais de quarenta romances que lidam com o tema da homossexualidade.[4]

Em 1986 foi convidada a se candidatar a deputada estadual pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) durante um programa de rádio em que entrevistava Adhemar de Barros. Aceitou e candidatou-se com o número 12169, porém não foi eleita.[2][5]

Tornou-se, em 1970, a primeira escritora brasileira a atingir a marca de um milhão de exemplares vendidos, sendo que 36 dessas obras foram censuradas durante a ditadura militar.[5]

Apesar da perseguição recorde, Cassandra Rios se tornou a primeira escritora brasileira a vender 1 milhão de exemplares, meta alcançada em 1970. Foi, ainda, o primeiro caso conhecido de uma escritora nacional a viver exclusivamente da venda de seus livros, nunca tendo exercido outra profissão.[5]

Mesmo censurada, Cassandra era persistente, continuava escrevendo. No final, a própria censura ajudou a transformá-la em um mito. Mais que um xingamento, a fama de escritora maldita se transformou em um rótulo lucrativo para as editoras. Foi uma das pioneiras na profissionalização do escritor no país.[5]

Ainda que fosse um sucesso de vendas entre os anos 1950 a 1980, e de popularidade, Cassandra foi perseguida e tirada de circulação com tanta ferocidade pelos militares que até hoje é difícil encontrar seus mais de 50 livros em livrarias e sebos.[5]

Com os direitos autorais que recebia de seus livros, a escritora mantinha um padrão de vida elevado: Tinha seu próprio apartamento no Centro de São Paulo, uma casa em Interlagos, na Zona Sul de São Paulo, uma chácara em Embu das Artes e alguns carros, além de sua própria livraria.[5]

Com a perseguição dos censores, Cassandra foi à falência em 1976, ano em que 14 obras da escritora foram censuradas em apenas seis meses. Ela perdeu quase tudo e teve de fechar a livraria temporariamente.[5]

Para sobreviver, Cassandra passou a escrever artigos para revistas e jornais, e criou um pseudônimo: Oliver Rivers, para conseguir publicar livros e equilibrar as contas.[5]

Com seu pseudônimo masculino, Odette conseguia passar pela censura e vender os livros, igualmente eróticos. Isso comprova que a perseguição era contra a pessoa Cassandra, e não só contra sua literatura. A escritora, enquanto assinava seu pseudônimo feminino, Cassandra, foi levada com frequência pelo DOPS para depor, a cada vez que um livro seu era publicado, onde a maioria deles foram queimados. Aqueles que conseguiam comprar as obras proibidas de Cassandra liam os livros com receio de serem descobertos.[5]

"Escondiam meus livros debaixo do colchão, meu nome virou palavrão!", contou a escritora em uma entrevista dada em 2001 à revista TPM.[5]

A vida de Cassandra Rios se tornou ainda mais difícil a partir de 1968, com a promulgação do Ato Institucional número 5 (AI-5), que oficializou a censura no país.[5]

O endurecimento da censura pelo AI-5 trouxe diversas consequências para Cassandra Rios - para além da falência. Em uma entrevista à revista Realidade, em março de 1970, a escritora revelou que a censura lhe causava abalo emocional e decepção.[5]

Mesmo escrevendo, com o tempo a escritora passou a ter medo dos militares, se tornando muito reclusa. A perseguição da ditadura a deixou muito mais reservada.[5]

Enraivecida com a censura de suas obras e com o rótulo de pornográfica - Cassandra não gostava desse estereótipo -, a escritora publicou A Santa Vaca, em 1978, uma espécie de resposta à perseguição e difamação causada pelos militares.[5]

"Escrevi A Santa Vaca de raiva", disse a autora quando questionada se o objetivo do título do livro, que conta as fantasias eróticas por trás de uma jovem considerada boa moça, era chocar. "De tanto me perseguirem, resolvi fazer pornografia, então fiz esse livro. Na introdução, está a minha intenção: Mostrar a força da mulher ao ser chamada de prostituta", contou Cassandra Rios em entrevistas. Este livro lhe concedeu a alcunha de"A escritora mais proibida do Brasil."[5]

Porém, além de não se considerar pornográfica, Cassandra não conseguia entender por que o erotismo era algo a ser combatido pelos ditadores. "Pornografia é a intenção deliberada de chocar. É o sexo pelo sexo. Nos meus livros, o sexo só acontece em função do amor, para realizá-lo plenamente e sem preconceitos", esclareceu a escritora na entrevista à revista Realidade.[5]

Nos anos 1990, a escritora ganhou um programa na Rádio Bandeirantes. Durante uma entrevista ao vivo com o ex-governador paulista Adhemar de Barros, Cassandra foi convidada pelo político a concorrer às eleições de 1986, eleições que marcaram o fim da ditadura. Ela aceitou o convite e se candidatou a deputada estadual por São Paulo pelo PDT, mas não foi eleita.[5]

Vida Pessoal

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Casou-se na igreja aos 18 anos, com seu melhor amigo gay. A união, contudo, era de fachada, pois ela queria sair de casa sem contar aos pais sobre sua sexualidade. Após ficar viúva, decidiu assumir publicamente sua homossexualidade para a família e os amigos, e passou a viver sozinha. Manteve relacionamentos estáveis com mulheres anônimas e famosas, mas não quis casar-se.

Em entrevistas, revelou: "Sou uma criatura simples, comum, cheia de problemas, tristezas e amarguras. A vida de escritora tem sido muito dura para mim."

Falecimento

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Cassandra Rios faleceu em decorrência de um câncer colorretal, no ano de 2002, aos 69 anos, no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março. Ela vivia sozinha em seu apartamento.[6]

Romances
  • 1948 - Volúpia do Pecado
  • 1948 - Carne em delírio
  • 1949 - Eudemônia
  • 1951 - O gamo e a gazela
  • 1952 - O bruxo espanhol
  • 1952 - A lua escondida
  • 1952 - A sarjeta
  • 1952 - A paranoica
  • 1954 - Minha metempsicose
  • 1956 - As vedettes
  • 1956 - A madrasta - Copacabana posto 6
  • 1956 - Georgette
  • 1961 - Tara
  • 1962 - A borboleta branca
  • 1962 - Muros altos
  • 1962 - A noite tem mais luzes
  • 1963 - A breve história de Fábia
  • 1965 - Uma mulher diferente
  • 1965 - Macária
  • 1965 - Tessa, a gata
  • 1965 - A serpente e a flor
  • 1965 - Um escorpião na balança
  • 1965 - Veneno
  • 1971 - Canção das ninfas
  • 1971 - As mulheres do cabelo de metal
  • 1971 - Mutreta
  • 1973 - Nicoleta Ninfeta
  • 1975 - Marcella
  • 1975 - As Traças
  • 1977 - Anastácia
  • 1978 - Uma aventura dentro da noite
  • 1978 /1979 - A santa vaca
  • 1978/1979 - Patuá
  • 1978/1979 - Maria Padilha
  • 1979 - O gigolô (como Oliver Rivers)
  • 1979 - Prazer de pecar
  • 1980 - Marcellina
  • 1981 - Eu sou uma lésbica
  • 1997 - Entre o reino de Deus e o reino do Diabo
Autobiografias
  • 1977 - Censura - minha luta, meu amor
  • 2000 - MezzAmaro - flores e cassis
Póstumos
  • 2005 Crime de honra
Livros sem data de publicação

A piranha sagrada; O pantanal da vida; Carla Naja; Cabeleiras ao vento; Os cabelos de Nereide Sargitarius; Mala Raça; Antídoto; A hóstia do diabo; O office-boy; A casa das almas; Fria; Mulher de rua; Na tela das pálpebras dos meus olhos; Brasil no meu bolso; Orgástica; Motéis, hotéis e bibocas; Telefona para mim; Último desejo; A profecia de Pavlova; Mãe de santo; O livro negro de Bonifácia; Gatas da noite; Marieta; Valéria, a freira nua; Mônica, a Insaciável (como Oliver Rivers); A raposa vermelha.

Documentário

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Em 2013 estreou o documentário Cassandra Rios: a Safo de Perdizes, direção de Hanna, o filme traz depoimentos de pessoas que participaram da vida da autora de alguma forma, como a sobrinha Liz Rios, a atriz Nicole Puzzi, a escritora Lúcia Facco, o editor Maxim Behar, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/SP, Dr. Martim Sampaio, entre outras personalidades.[7] Nicole Puzzi estrelou em dois longas-metragens extraídos de livros de Cassandra, Ariella (1980) e Tessa, a Gata (1982).[8]

Referências

  1. a b c «Talão do registro de nascimento de Odette Rios emitido pelo Ofício de Registro Civil de Perdizes (Livro 14, folha 153v, termo nº. 3105» 
  2. a b c Kyara Maria de Almeida Vieira. «Tese de doutorado "Onde estão as respostas para as minhas perguntas"?: Cassandra Rios – a construção do nome e a vida escrita enquanto tragédia de folhetim (1955 – 2001)"» (PDF). 2014. Consultado em 31 de março de 2019 
  3. Marcelo Rubens Paiva, Literatura de Cassandra Rios educou uma geração, Folha.com, 16/03/2002
  4. a b Deneval Siqueira de Azevedo Filho; Rita Maria de Abreu Maia. Livros e ideias: ensaios sem fronteiras. Arte & Ciência; 2004. ISBN 978-85-7473-131-5. p. 185.
  5. a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v Fernando Lima, Trip Editora e Propaganda SA. Tpm. Trip Editora e Propaganda SA; 2001. ISSN 15194035. p. 11.
  6. Estadão.com, Morre em SP a escritora Cassandra Rios, 8 de Março de 2002
  7. Catraca Livre, Filme estreia no Cine Livraria Cultura e tem entrada gratuita; assista ao teaser, 9 de outubro de 2013
  8. Miguel Barbieri Jr., Documentário registra a vida e a carreira de escritora lésbica,Veja Sâo Paulo, 08/11/2013

Ligações externas

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