Umbandaime
Umbandaime é um termo criado justamente para designar a prática do sincretismo de Umbanda e Santo-daime[1]
O termo Umbandaime surgiu entre as décadas de 1980 e 1990, após a mãe de santo conhecida como Baixinha, do Rio de Janeiro, entrar em contato com os rituais do Santo Daime. Essa aproximação possibilitou a fusão entre a Umbanda, uma religião brasileira de raízes afro-brasileiras e influências indígenas e cristãs, e o Santo Daime, que é um movimento espiritual amazônico fundado por Raimundo Irineu Serra, ou Mestre Irineu, e baseado no uso ritualístico da ayahuasca, também conhecida como Daime.
A origem do Santo Daime remonta às tradições xamânicas da Amazônia, onde a bebida ayahuasca era utilizada para estados alterados de consciência e conexão espiritual. No entanto, ao ser reinterpretada e ritualizada por Mestre Irineu e depois expandida por Padrinho Sebastião Mota, essa prática ganhou elementos cristãos, espíritas e caboclos, transformando-se em um sistema religioso particular, que se espalhou pelo Brasil e outros países.
A origem do Santo Daime remonta às tradições xamânicas da Amazônia, onde a bebida ayahuasca era utilizada para estados alterados de consciência e conexão espiritual. No entanto, ao ser reinterpretada e ritualizada por Mestre Irineu e depois expandida por Padrinho Sebastião Mota, essa prática ganhou elementos cristãos, espíritas e caboclos, transformando-se em um sistema religioso particular, que se espalhou pelo Brasil e outros países.
Principais Características e Rituais
editarO Umbandaime é uma prática espiritual sincrética relativamente recente, surgindo na década de 1980 a partir do encontro entre a Umbanda, religião brasileira de raízes afro-brasileiras, e o Santo Daime, uma doutrina baseada no uso ritual da ayahuasca. Esse termo foi adotado após uma série de integrações espirituais e litúrgicas realizadas por membros de ambas as religiões, e a prática se consolidou entre aqueles que buscavam unir as práticas da Umbanda com o uso da bebida sagrada do Santo Daime em rituais de incorporação e cura.[2]
Enquanto a Umbanda tem suas raízes no culto aos Orixás, na interação com entidades espirituais e na prática mediúnica, o Santo Daime, fundado pelo Mestre Irineu, é tradicionalmente uma doutrina de inspiração espírita e cristã. Sob a liderança do Mestre Irineu e, posteriormente, de seu sucessor Padrinho Sebastião, o Santo Daime começou a incorporar práticas mediúnicas. Entre as práticas iniciais no Daime, destacam-se os rituais de "mesa branca", ou "mesa aberta", que permitiam manifestações mediúnicas dentro de um contexto controlado e formal. No entanto, ao longo do tempo, algumas igrejas do Santo Daime, inspiradas pela madrinha Baixinha, passaram a incluir elementos mais diretos das giras de Umbanda, estabelecendo uma linha que se popularizou como Umbandaime.[3]
Os rituais de Umbandaime mesclam a estrutura das giras de Umbanda com o consumo ritualístico do Daime, diferentemente dos rituais de Santo Daime, que geralmente acontecem em sessões sentadas e organizadas ao redor de uma mesa. Durante uma gira de Umbandaime, os participantes vestem roupas brancas e o ritual se desenrola com danças em roda, onde médiuns incorporam entidades e movimentam-se em círculo.[4]
Há variações na prática da gira de Umbandaime: uma delas é o estilo "gira parada", onde médiuns se posicionam ao redor do espaço ritual e avançam ao centro conforme incorporam entidades. Já na "gira dançada", os participantes se movimentam em círculos, o que pode ser desafiador para médiuns em desenvolvimento, pois exige maior habilidade para diferenciar o momento em que estão sob a influência de uma entidade espiritual daquele em que apenas interagem com a música e o ambiente. Essa fusão ritualística proporciona uma atmosfera onde as vibrações de Umbanda e os cânticos do Santo Daime coexistem, dando forma a um ritual singular.[4]
Estrutura e Principais Características
editarA prática do Umbandaime preserva elementos centrais tanto da Umbanda quanto do Santo Daime. Diferentemente da tradição daimista, onde as entidades espirituais podem se manifestar de maneira simultânea durante os trabalhos, o Umbandaime geralmente estrutura as giras em torno de uma entidade ou linha espiritual específica. Isso é semelhante ao que ocorre na Umbanda, onde há giras distintas para Caboclos, Pretos Velhos, Exus e Crianças, e cada sessão é dedicada ao desenvolvimento mediúnico específico dos participantes.[2]
Esses rituais, realizados em grupos ou "giras", reúnem os participantes em círculo, geralmente vestidos de branco, e podem seguir uma estrutura tradicional de canto, incorporação e dança. Nas giras mais tradicionais, os participantes podem se conectar com os guias espirituais ao som dos hinos ou "pontos", que invocam as energias das entidades. Em alguns casos, a bebida sacramental do Daime é consumida para facilitar a incorporação das entidades, um dos aspectos que difere do uso exclusivo do Daime como prática de expansão espiritual nas doutrinas ortodoxas.[2]
Controvérsias e Desafios no Umbandaime
editarA prática do Umbandaime também levanta debates dentro e fora das comunidades do Santo Daime e da Umbanda. Igrejas mais ortodoxas do Santo Daime, por exemplo, resistem à integração de elementos da Umbanda e não reconhecem oficialmente o Umbandaime como parte de sua tradição. Além disso, surgiram linhas independentes e grupos "universalistas" que, sem a devida formação mediúnica ou doutrinária, misturam práticas espirituais diversas com o uso do Daime, cobrando contribuições e oferecendo sessões públicas sem o rigor e a orientação necessários para esse tipo de trabalho espiritual. Essa falta de estrutura pode gerar riscos para participantes, especialmente para aqueles que têm mediunidade recém-descoberta ou pouco desenvolvida.[4]
O Umbandaime defende que, embora as práticas possam ser acessíveis a todos, a condução dos rituais requer preparação e disciplina, exigindo do dirigente um compromisso com o equilíbrio e a segurança energética dos participantes. Esses aspectos são reforçados pelo valor de caridade espiritual e pelo rigor ritualístico presentes tanto na Umbanda quanto no Santo Daime.[4]
A dificuldade de instituir casas de Umbandaime está profundamente ligada à seriedade e à complexidade que essa prática exige. Para abrir uma casa, não basta apenas se autodenominar um "padrinho" ou "madrinha"; é necessário ter formação, conhecimento mediúnico e uma conexão profunda com as tradições da Umbanda e do Santo Daime. Isso implica um comprometimento com o aprendizado e a prática espiritual, além de uma ética que respeite a história e os fundamentos dessas religiões.[4]
Essa necessidade de formação se torna ainda mais crítica diante da crescente disseminação da ayahuasca e da autodenominação de pessoas como "xamãs". Muitos que se apresentam dessa forma podem não ter o treinamento adequado ou o conhecimento necessário para conduzir rituais de forma segura e respeitosa. O verdadeiro xamã é alguém que passou por um processo de iniciação e aprendizado, frequentemente sob a orientação de outros que já possuem experiência e respeito dentro da tradição.[4]
A situação se complica quando surgem grupos que misturam práticas sem um conhecimento profundo, muitas vezes motivados por interesses financeiros ou modismos. Isso não só prejudica a reputação das práticas espirituais legítimas, como também pode representar um risco para aqueles que buscam apoio espiritual sem a devida preparação ou conhecimento. Assim, é essencial distinguir entre aqueles que realmente se dedicaram ao aprendizado e à prática séria, e aqueles que utilizam títulos sem o devido respaldo ou responsabilidade.[4]
Essa diferença é crucial para a preservação da integridade das tradições, e as comunidades precisam ser mais críticas quanto a quem está liderando seus rituais e ensinamentos. É fundamental que aqueles que desejam se envolver nesse tipo de trabalho busquem formação e orientação adequadas para garantir que suas práticas estejam alinhadas com os valores e princípios das tradições que estão representando.[4]
Importância dos Dirigentes e Lideranças em Casas de Umbandaime
editarA dificuldade de encontrar casas que se identificam abertamente como Umbandaime pode ser, portanto, um reflexo das exigências de conhecimento e compromisso que esse papel demanda, bem como dos desafios que surgem de uma sociedade que nem sempre aceita ou compreende essas práticas espirituais. A responsabilidade não está apenas em liderar rituais, mas em entender e manter a integridade do trabalho espiritual que está sendo realizado.[4]
Uma questão pertinente sobre essa questão está na diferença entre ser chamado de "xamã" e "pai/mãe de santo".[4]
A primeira pode ser uma identidade mais acessível, enquanto assumir a posição de pai ou mãe de santo implica uma responsabilidade maior e um compromisso com uma tradição mais estruturada e complexa. Essa responsabilidade é um fator limitante para muitas pessoas que poderiam considerar abrir uma casa de Umbandaime.[4]
O papel do pai ou mãe de santo requer um conhecimento profundo não apenas sobre a mediunidade e os rituais, mas também sobre os aspectos espirituais e as forças que estão em jogo durante essas práticas. Isso é especialmente importante em um contexto de Umbandaime, onde as práticas incluem a incorporação de diferentes entidades e a conexão com o Santo Daime, o que pode abrir as portas para uma variedade de interações espirituais.[4]
Além disso, a Umbanda e o Santo Daime enfrentam um estigma e um ataque espiritual que podem tornar ainda mais difícil a aceitação e a manutenção de casas que praticam Umbandaime. A necessidade de proteção espiritual, como a atuação de Exus, é um reflexo do desafio que essas casas enfrentam em um ambiente muitas vezes hostil. Portanto, o conhecimento e a preparação são fundamentais para lidar com as complexidades e as potenciais repercussões de se abrir uma casa que trabalha com essas energias e práticas[4]
A segurança espiritual em uma casa de Umbandaime é um aspecto crucial para o sucesso e a proteção dos trabalhos realizados. A figura do dirigente é central nesse contexto, pois ele é responsável por determinar qual Exu deve estar na porta, atuando como um guardião e proporcionando uma proteção espiritual a todos os participantes. O dirigente pode escolher usar seu próprio Exu ou outro que considere adequado, criando um "contrato de trabalho" que pode evoluir ao longo do tempo.[4]
Além disso, o uso de velas é uma prática fundamental dentro da Umbanda. As velas atuam como conectores entre os mundos espiritual e físico, e acendê-las é um ato que deve ser feito com concentração e intenção. Quando alguém acende uma vela para um Exu ou para uma entidade como o Mestre Irineu, isso não é apenas um ritual, mas um pedido que é enviado ao plano espiritual, conectando a energia da vela à intenção do praticante. Essa conexão é vital, pois a vela representa a luz que guia e ilumina o caminho durante os rituais, sendo um ponto focal que ajuda a manter a concentração de todos os participantes.[4]
A importância da vela na Umbanda e no Santo Daime se deve à sua simplicidade e à profundidade de significado que carrega; ela não só serve como um símbolo de fé e devoção, mas também como um meio tangível de comunicação espiritual.[4]
Consagração Umbandaime no Brasil
editarOs centros espirituais que oferecem a consagração de ayahuasca no Brasil, especialmente sob a vertente do Umbandaime, estão se expandindo rapidamente, misturando rituais de Umbanda com a tradição do Santo Daime.[5]
Esses centros são espaços onde as pessoas podem participar de giras, vivências xamânicas e retiros espirituais, todos focados na expansão da consciência. A estrutura dos eventos é cuidadosamente planejada, incluindo momentos de doação à comunidade e atividades que promovem o bem-estar coletivo, como almoços beneficentes e festas culturais.
Algumas instituições de referência em Umbandaime no Brasil
editarUmbandaime Matriz: apresenta um acervo que compõe uma coletânea de cânticos (pontos e hinos) e mensagens, que expressam um estudo de 20 anos dentro da prática do sincretismo entre a Linha de Umbanda e a Doutrina do Santo Daime, seguida pela corrente de fiéis vinculada ao Céu do Mapiá. O acervo compõe o caderno de textos e os áudios.
Quilombo Caminho das Pedras: localizado em Ibiúna, São Paulo, é um espaço que oferece cerimônias de consagração da Ayahuasca, unindo práticas xamânicas e tradições de matriz africana. Sob a liderança do Sacerdote José Naguá, o quilombo se dedica a promover um ambiente inclusivo e seguro, onde pessoas de todas as origens, especialmente da comunidade negra e afrodescendente, podem se reunir para práticas espirituais.
Referências
- ↑ O Dia (10 de junho de 2017). «Umbandaime: religião cresce no Rio e tem até dissidência». Consultado em 9 de novembro de 2018
- ↑ a b c Caminho das Pedras, Quilombo. «Umbandaime». Quilombo Caminho das Pedras Ayahuasca. Consultado em 2 de novembro de 2024
- ↑ Church, Celestial Heart. «Umbandaime». Celestial Heart Church. Consultado em 2 de novembro de 2024
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p «Umbandaime». Grimório Xamã. 15 de janeiro de 2017. Consultado em 2 de novembro de 2024
- ↑ Momento Brasil, Revista (20 de março de 2010). «Umbandaime, a nova religião». Gente e Opinião. Consultado em 2 de novembro de 2024