Usuário(a):Renegados - Moderna I/Testes
Esta é uma página de testes de Renegados - Moderna I, uma subpágina da principal. Serve como um local de testes e espaço de desenvolvimento, desta feita não é um artigo enciclopédico. Para uma página de testes sua, crie uma aqui. Como editar: Tutorial • Guia de edição • Livro de estilo • Referência rápida Como criar uma página: Guia passo a passo • Como criar • Verificabilidade • Critérios de notoriedade |
Renegado
editarO termo renegado[1] aplica-se a pessoas que tenham abjurado (renunciado) às suas crenças, ideais ou opiniões. Em muitos contextos está associado à renúncia a uma religião (apostasia ou conversão), partido ou ideologia política. De forma mais genérica, pode aplicar-se a quem tenha sido repelido, desprezado, execrado ou amaldiçoado.[2]
Os renegados são uma das consequências da luta entre os habitantes de ambas as margens do Mediterrâneo durante o século XV para XVIII. No contexto de guerras religiosas, os renegados eram aqueles que, dentre diversas circunstâncias como por exemplo o sequestro, abdicaram de sua fé. Ao serem sequestrados pelos muçulmanos, duas opções se apresentavam aos cristãos: manter-se firmes em sua fé e aguardar a oportunidade de regressar à sua terra (seja através da alforria quanto da fuga), ou abrir mão do cristianismo e passar a professar a fé de seus inimigos. Eram assim chamados de renegados, e essa prática era considerada como uma traição grave ao reino de Deus[3]. Entretanto, um muçulmano que se converteu e depois abdicou de sua fé também pode ser considerado renegado.[4]
No contexto das conversões religiosas na Península Ibérica medieval o termo é também frequentemente usado como sinónimo de muladi[5], elche[6] e tornadiço[7] (ver a secção "outros renegados religiosos").
Renegados na Barbária
editar[editar | editar código-fonte] No contexto da história da Idade Moderna do Ocidente, o termo por vezes designa especificamente os europeus que viveram nos estados muçulmanos da Barbaria (noroeste de África) e que renunciaram ao cristianismo.
Muita dessa gente abandonou as suas terras à força, por terem sido feitos cativos de piratas da Barbaria durante os ataques que estes levavam a cabo nas costas europeias, sendo depois vendidos como escravos. Era frequente que esses escravos fossem libertados ou tivessem uma vida menos dura caso se convertessem ao Islão e muitos deles chegaram a ter posições de destaque entre os que os tinham capturado ou que eram seus amos[8]. O escritor francês do século XVII Germain Moüette foi capturado por corsários de Salé e vendido como escravo em Outubro de 1670, quando era apenas um jovem. Não se tem muitas informações sobre sua vida antes da captura, mas acredita-se que ele fosse filho de um cobrador de impostos, e tivesse uma boa educação, pois escreveu bem sobre suas experiências. Moüette[9]e passou mais de uma década como escravo antes de ser resgatado e retornar à França, onde publicaria o livro "Relation de la captivé du Sr. Mouette dans les royaumes de Fez et de Maroc" que relata como foi sua vida como escravo e descreve os detalhes das cidades de Fez, Marrakech e Salé, onde ele viveu como escravo por anos e relatou que a mulher de um dos seus amos lhe prometeu a mão da sua sobrinha se ele abjurasse a sua fé cristã, o que ele recusou.[10]
Houve também renegados que eram aventureiros que procuravam a sua sorte ao serviço de piratas muçulmanos ou como mercenários. Muitos dos comandantes e grande parte das tripulações dos navios dos piratas da Barbaria eram renegados, ou seja, europeus originalmente cristãos. Na República de Salé, um estado pirata que durou algumas décadas no século XVII, onde estavam baseados os Sale Rovers, os renegados tiveram grande relevância, controlando uma parte importante das operações de pirataria.
O mais célebre renegado de Salé foi o holandês Jan Janszoon, conhecido pelo seu nome em árabe de Murad Reis, o Novo, John Barber ou Capitão John. Janszoon[11] nasceu em 1575 em Haarlem, na Holanda. Atuou como corsário na Guerra dos Oitenta Anos contra a Espanha. A princípio, navegava sob a bandeira holandesa, mas depois expandiu suas atividades para o norte da África, onde atacava navios de diversas nações fingindo ser um capitão otomano. Foi capturado por piratas da Barbaria em 1618 e levado para Argel, onde rapidamente se tornou um comandante pirata. Mudou-se depois para Salé, onde foi nomeado grande almirante e governador do sultão marroquino.
Outro renegado célebre foi Yuder Paxá, foi um eunuco que desempenhou seu papel com dedicação, utilizando seus esforços para fazer com que os jovens cativos renunciassem à fé cristã. Para se converter desta forma, ele passou doze anos numa casa de campo, provavelmente sendo instruído no Islã. Yuder nasceu na região de Almeria no seio duma família mourisca, no sul de Espanha, tendo sido capturado por piratas em criança e levado para Marrocos, onde foi subindo na escala social. Pela sua atuação na Batalha de Alcácer-Quibir (1578), foi nomeado alcaide (governador) de Marraquexe e em 1590 foi o comandante da tropas do sultão saadiano Amade Almançor que conquistaram o Império Songai, no Mali.
Outros renegados religiosos
editar[editar | editar código-fonte] Na Península Ibérica, durante o período islâmico houve populações locais hispano-visigodos — os chamados muladis — que abandonaram o cristianismo e se converteram ao islamismo no século VIII. Nos séculos XIV e XV houve muitos cristãos, muitos deles ex-cativos, — os chamados elches — que se converteram igualmente ao islamismo. Na mesma altura existiram também os tornadiços, o inverso dos elches, isto é, muçulmanos que se converteram ao cristianismo. Durante as perseguições religiosas do final do século XV e do século XVI, muitos muçulmanos e judeus converteram-se ao cristianismo, muitas vezes à força, sendo chamados de cristãos-novos. Como um exemplo, através de um decreto o rei, D. Manuel impôs a conversão forçada de judeus e mouros livres do reino, sob risco de pena de morte e confisco de suas propriedades[12] .Por vezes os cristãos-novos de origem judaica eram também chamados marranos, um termo depreciativo que geralmente se associa a judeus supostamente convertidos ao cristianismo que continuavam a professar o judaísmo secretamente.[13]
O termo renegado foi também usado para designar os huguenotes (calvinistas franceses) nos séculos XVI e XVII e os independentistas dos Países Baixos que se rebelaram contra Filipe II de Espanha em 1581.
Ademais, com o início da presença europeia no Oriente no final do século XV, os portugueses partiram assim para a Índia. Alguns dos portugueses que têm-se registros instalaram-se em Goa durante os séculos XVI e XVII[14]. Muitos deles foram considerados renegados, e por essa razão há registros inquisitoriais que podem ser consultados.[15]
Estes renegados portugueses são aqueles filhos de pais também portugueses e cristãos-velhos, porém, em algum momento, acabaram tornando-se muçulmanos. Muitos tornavam-se renegados para garantir sua sobrevivência, já que a maioria sofria ameaças tanto das autoridades portuguesas quanto islâmicas[16]. Alguns destes renegados eram beneficiados ao tornarem-se mouros, já que obtinham recursos materiais, como lotes de terra. Além disso, também podiam receber a moxara que era um tipo de pensão recebida em troca de serviços prestados[17].
Com isso, percebe-se que muitos destes renegados portugueses, de certa maneira, manejavam suas imagens de acordo com a situação em que encontravam-se, ou seja, admitiam a aparência muçulmana ou cristã (através de vestimentas, por exemplo). E assim, tinham acesso às comunidades de ambas as crenças e, provavelmente, sabiam comunicar-se com os membros de cada identidade, facilitando o acesso aos meios para sua segurança e subsistência[18].
No fim das contas, os renegados acabavam sendo suspeitos tanto para o Islã, quanto para Portugal, por conta de suas “identidades fluidas”[19] e suas “personas”[20] que variavam conforme o contexto com que se deparavam.
Referências
editar- ↑ S, A. «Priberam Informática, Renegados». Dicionário Priberam. Consultado em 3 de Setembro de 2021
- ↑ Porto Editora. «renegado». www.infopedia.pt. Consultado em 30 de julho de 2021
- ↑ DRUMOND BRAGA,, Isabel (2015). Sabores e segredos: receituários conventuais portugueses da Época Moderna. [S.l.]: Imprensa da Universidade de Coimbra
- ↑ JABER FILHO, Hélio Elias. «Em busca dos corsários magrebinos do Atlântico: entre a cruz e a crescente no Santo Ofício de Lisboa (1580-1680)». Consultado em 30 de agosto de 2024
- ↑ S, A. «Priberam Informática. muladi». Dicionário Priberam. Consultado em 3 de setembro de 2021
- ↑ S, A. «Priberam Informática. elche». Dicionário Priberam. Consultado em 03 de setembro de 2021 Verifique data em:
|acessodata=
(ajuda) - ↑ S, A. «Priberam Informática. tornadiço». Dicionário Priberam. Consultado em 3 de setembro de 2021
- ↑ MAZIANE, Leila (2007) Salé et ses corsaires, 1666-1727: un port de course marocain au XVII siécle (em francês). [S.I.] UNiversité de Rouen Havre. ISNB 9782841332823. p. 96-99 Consultado em 30 de maio de 2012
- ↑ NICHOLS, ADAM (05 de Fevereiro de 2024,). «A RELAÇÃO DE GERMAIN MOÜETTE – PARTE 1». Corsais e Captives. Consultado em 01 de Setembro de 2024. Verifique data em:
|acessodata=, |data=
(ajuda) - ↑ MOUETTE, Germain (1683). Relation de la captivé du Sr. Mouette dans les royaumes de Fez et de Maroc, oú il a demeuré pendant onze ans (em francês). [S.I]: Jean Cochart. p. 27 Consultado em 30 de maio de 2012
- ↑ PEIXOTO, Mansur (17 de julho de 2020.). «Jan Janszoon: O Pirata holandês que fundou uma República independente no Marrocos». História Islâmica. Consultado em 01 de Setembro de 2024 Verifique data em:
|acessodata=, |data=
(ajuda) - ↑ RIBAS, Rogério de Oliveira. Filhos de mafoma: mouriscos, criptoislamismo e inquisição no Portugal Quinhentista. Eduff, 2021. p. 82,81
- ↑ NOVINSKY, Anita. "Ser marrano em Minas colonial." Revista Brasileira de História 21 (2001): p.161. https://www.scielo.br/j/rbh/a/m9BHw96SxvjbjZwVbkvfpqr/?lang=pt
- ↑ NOGUEIRA, Eduardo Borges de Carvalho. Homens Profanos: fluidez identitária entre renegados “portugueses” na Índia (C.1540-1612). Pol. Hist. Soc., Vitória da Conquista, v.20, n. 1, jan.-jun, 2021. p.28. ISSN 2236-8094.
- ↑ NOGUEIRA, Eduardo Borges de Carvalho. Homens Profanos: fluidez identitária entre renegados “portugueses” na Índia (C.1540-1612). Pol. Hist. Soc., Vitória da Conquista, v.20, n. 1, jan.-jun, 2021. p.24. ISSN 2236-8094.
- ↑ NOGUEIRA, Eduardo Borges de Carvalho. Homens Profanos: fluidez identitária entre renegados “portugueses” na Índia (C.1540-1612). Pol. Hist. Soc., Vitória da Conquista, v.20, n. 1, jan.-jun, 2021. p.28. ISSN 2236-8094.
- ↑ NOGUEIRA, Eduardo Borges de Carvalho. Homens Profanos: fluidez identitária entre renegados “portugueses” na Índia (C.1540-1612). Pol. Hist. Soc., Vitória da Conquista, v.20, n. 1, jan.-jun, 2021. p.32. ISSN 2236-8094.
- ↑ NOGUEIRA, Eduardo Borges de Carvalho. Homens Profanos: fluidez identitária entre renegados “portugueses” na Índia (C.1540-1612). Pol. Hist. Soc., Vitória da Conquista, v.20, n. 1, jan.-jun, 2021. p.33. ISSN 2236-8094.
- ↑ NOGUEIRA, Eduardo Borges de Carvalho. Homens Profanos: fluidez identitária entre renegados “portugueses” na Índia (C.1540-1612). Pol. Hist. Soc., Vitória da Conquista, v.20, n. 1, jan.-jun, 2021. p.38. ISSN 2236-8094.
- ↑ NOGUEIRA, Eduardo Borges de Carvalho. Homens Profanos: fluidez identitária entre renegados “portugueses” na Índia (C.1540-1612). Pol. Hist. Soc., Vitória da Conquista, v.20, n. 1, jan.-jun, 2021. p.43. ISSN 2236-8094.
Outras referências
editar- BANASSAR, Bartolomé; Bennassar, Lucile (1989). Les chrétiens d'Allah : I´historie extraordinaire des renégats XVIIe siécles ( em francês). [S.I]: Librairie Académique Perrin. 493 páginas. ISNB 9782202007218. Consultadp em 13 de junho de 2012
- SCHWARTZ, Stuart B. Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico. Companhia das Letras, 2009.