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Tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro

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Atentado contra Jair Bolsonaro
 
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Jair Bolsonaro no momento em que é esfaqueado
Local Juiz de Fora, Minas Gerais
Coordenadas 21° 45′ 38,6″ S, 43° 20′ 49″ O
Data 6 de setembro de 2018
15:40 (UTC-3)
Tipo de ataque Tentativa de assassinato
Alvo(s) Jair Bolsonaro
Arma(s) Faca
Responsável(is) Adélio Bispo de Oliveira
Motivo O autor citou teorias de conspiração políticas e disse ter agido a mando de Deus.

Artigo original: Atentado contra Jair Bolsonaro

Em 6 de setembro de 2018, o então deputado federal Jair Bolsonaro sobreviveu a uma tentativa de assassinato durante um comício em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde promovia sua campanha eleitoral para a presidência do Brasil. Enquanto era carregado em meio a uma multidão de apoiadores na rua Batista de Oliveira, Adélio Bispo de Oliveira, natural de Montes Claros, desferiu um golpe de faca na região do abdômen de Bolsonaro. Imediatamente após o ataque, o candidato foi levado à Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, onde foi constatado que a facada havia causado três lesões no intestino delgado e uma lesão em uma veia do abdômen que gerou uma hemorragia. Bolsonaro foi submetido a seis cirurgias relacionadas ao ataque e teve que ser internado pelo menos nove vezes.[1]

Adélio Bispo foi preso em flagrante pela Polícia Militar. Após investigação, a polícia concluiu que Adélio agiu sozinho no crime, sem ser orientado por um mandante, afirmando ter cometido o crime "a mando de Deus". Em uma perícia médica, Adélio foi diagnosticado com transtorno delirante persistente tendo "alucinações de cunho religioso, persecutório e político que se manifestam frequentemente". Em 2019, sua prisão preventiva foi convertida em internação por tempo indeterminado na Penitenciária Federal de Campo Grande no Mato Grosso do Sul, sendo considerado inimputável por ter doença mental.[2]

Contexto

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Na época do incidente, o Brasil se encontrava em um cenário de guinada à direita, acompanhado pelo crescimento do antipetismo, que se intensificou após as Jornadas de Junho e a Operação Lava Jato. Esses eventos culminaram no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e na prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT).[3][4]

Nesse contexto, Jair Bolsonaro, militar reformado e então deputado federal, tornou-se candidato pelo Partido Social Liberal (PSL) para a eleição presidencial de 2018. Ele se apresentou como um candidato antissistema, anticorrupção e antipetista.[5][6] A eleição foi caracterizada por uma polarização entre Bolsonaro e Fernando Haddad, candidato do PT após a inegibilidade de Lula, determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral.[7][8][9] Entre 27 e 29 de agosto, Bolsonaro era rejeitado por 61% dos eleitores, enquanto que Haddad era rejeitado por 56%, de acordo com uma pesquisa XP/Ipespe.[10]

Ataque

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Em 19 de agosto de 2018, Adélio Bispo chegou a Juiz de Fora vindo de Florianópolis, Santa Catarina, com a intenção de encontrar um emprego. Ele se hospedou em uma pensão e trabalhou como garçom em um restaurante por quatro dias.[11][12][13] Adélio começou a planejar o atentado após saber da ida de Bolsonaro à cidade por meio um outdoor anunciando a presença do candidato.[12] Antes de cometer o ataque, ele fotografou os locais onde Bolsonaro estaria, como a Câmara Municipal de Juiz de Fora e a Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage.[14][15]:11

A programação da campanha presidencial de Jair Bolsonaro para o dia 6 de setembro previu sua chegada a Juiz de Fora às 11 horas. Bolsonaro visitaria o Hospital Ascomcer e participaria de um almoço com lideranças empresariais. Em seguida, faria um ato público em frente à Câmara Municipal da cidade, no Parque Halfeld, e depois iria para a Praça da Estação, onde realizaria seu comício. Assim como os outros candidatos, Bolsonaro era escoltado por agentes da Polícia Federal.[16]

Bolsonaro antes e depois da facada.
  Vídeo do atentado

Em 6 de setembro, Adélio Bispo acompanhou as movimentações de Bolsonaro durante seu ato de campanha, tendo acesso ao hotel onde seria realizado um almoço com empresários.[14] Ele carregava uma faca adquirida em Florianópolis, que estava envolta em um jornal e escondida dentro de uma jaqueta.[15]:12–13 A pretexto de fotografá-lo, segundo duas testemunhas, Adélio conseguiu alcançar o presidenciável durante a tarde, enquanto era carregado por apoiadores na Rua Halfeld, e o esfaqueou no abdômen.[17][15]:3–4 Bolsonaro se contorceu, gritou e inclinou o corpo sobre outras pessoas que o seguiam. Um homem tentou cobrir o ferimento com uma camiseta.[18] Segundo Bolsonaro, inicialmente ele sentiu "apenas uma pancada na boca do estômago" e que "[a] dor era insuportável. Parecia que tinha algo mais grave acontecendo".[19][20] Logo após isso, Adélio foi preso em flagrante por um policial à paisana e levado a um prédio na mesma rua, enquanto os apoiadores gritavam "vai morrer" para o autor, antes de ir à delegacia da Polícia Federal da cidade.[21][22]

Bolsonaro foi encaminhado à Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora por volta das 15h40 com "uma lesão por material perfurocortante na região do abdômen", além de pressão baixa por perda de sangue.[23] Ele passou por uma laparotomia exploratória, além de ser submetido a uma colostomia temporária.[24]

Adélio Bispo de Oliveira
Data de nascimento 6 de maio de 1978 (46 anos)
Local de nascimento Montes Claros, Minas Gerais
Nacionalidade(s) brasileiro
Crime(s) Tentativa de assassinato do presidenciável Jair Bolsonaro
Pena Julgado inimputável[25]
Situação Internado[25]

O responsável pela tentativa de homicídio foi preso em flagrante pela Polícia Federal e identificado como Adélio Bispo de Oliveira, com então 40 anos.[26] Adélio Bispo agiu sozinho e afirmou ter cometido o crime "a mando de Deus".[27][28][29] Uma perícia média na qual Adélio foi submetido em 2022 diz que ele possui transtorno delirante persistente e que apresenta "alucinações de cunho religioso, persecutório e político que se manifestam frequentemente".[30] Em julho de 2018, Adélio esteve no Clube e Escola de Tiro .38, em São José, na região da Grande Florianópolis, onde Carlos e Eduardo Bolsonaro são membros associados. Ele foi uma vez ao clube, onde treinou por menos de uma hora.[31]

Ao longo de sua vida, Adélio trabalhou em diversas cidades, incluindo Montes Claros, Uberaba, Santa Catarina e Curitiba, acumulando 39 empregos em 18 anos.[32] Ele trabalhou em uma fábrica de cosméticos, onde participou de manifestações após a falência da empresa, além de ter atuado em outros empregos como em farmácias e em um restaurante japonês.[32][33] No final da década de 1990, ingressou na Igreja da Fé de Uberaba, tornando-se obreiro em 1998, e, nos anos seguintes, tornou-se pastor em uma igreja missionária de Montes Claros.[33]

Um dia eu disse para ele que, já que ele queria mesmo ser candidato, que buscasse a direita, talvez o PSDB ou o MDB. Aí ele disse: "com esse povo, não". O negócio dele era realmente o PSOL, o PSTU. Ele foi criando uma aversão à direita. Sempre foi da mesma forma.

— Romildo Cândido em entrevista ao UOL[33]

Politicamente, Adélio se identificava com a esquerda e foi filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) de Uberaba entre 2007 e 2014.[34][35][15]:4 Segundo o pastor Romildo Cândido—que recebera Adélio na Igreja da Fé—, ele sonhava em ser candidato a deputado e chegou a cogitar uma candidatura pelo PSOL, mas ficou frustrado ao saber que a legenda decidiu lançar outro nome. Cândido já o recomendou que pleiteasse uma candidatura em um partido de direita, mas Adélio recusou a sugestão.[33] Em seu perfil no Facebook, constam críticas à classe política em geral, ao presidente Michel Temer, a Jair Bolsonaro e teorias da conspiração contra a maçonaria.[36]

Adélio teve diversas passagens pela polícia. Em 2013, foram registrados dois boletins de ocorrência contra ele em Santa Catarina: um por invasão a um canteiro de obras e outro por furto.[37] Na mesma época, Oliveira respondia a um processo pelo crime de lesão corporal, conforme informações da polícia mineira.[38] Além disso, no mesmo ano, ele voltou a Montes Claros e foi acusado de arrombar um barracão no terreno de parentes, onde se refugiou por três meses.[37]

Investigação

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Referências

  1. «Nove internações e seis cirurgias: o estado de saúde de Bolsonaro cinco anos após facada» . O Globo. 6 de setembro de 2023. Consultado em 20 de julho de 2024 
  2. Bomfim, Camila; Matoso, Filipe; Oliveira, Mariana (14 de junho de 2019). «Juiz diz que Adélio Bispo é 'isento de pena' e converte prisão em internação por tempo indeterminado». g1. Consultado em 20 de julho de 2024 
  3. Odilla, Fernanda. «Eleições 2018: por que especialistas veem 'onda conservadora' na América Latina após disputa no Brasil». BBC News Brasil. Consultado em 19 de outubro de 2024 
  4. Delgado, Malu. «Qual é o peso do antipetismo. E as dúvidas em relação a ele». Nexo Jornal. Consultado em 19 de outubro de 2024 
  5. Lopes, Monalisa Soares; Albuquerque, Grazielle; Bezerra, Gabriella Maria Lima (13 de novembro de 2020). «"2018, a batalha final": Lava Jato e Bolsonaro em uma campanha anticorrupção e antissistema». Civitas - Revista de Ciências Sociais (3): 377–389. ISSN 1984-7289. doi:10.15448/1984-7289.2020.3.37248. Consultado em 19 de outubro de 2024 
  6. Boldrine, Ângela (7 de março de 2018). «Jair Bolsonaro se filia ao PSL para disputar o Planalto» . Folha de S.Paulo. Consultado em 20 de julho de 2024 
  7. Benites, Afonso (1 de setembro de 2018). «TSE barra candidatura de Lula, mas libera programa só com Haddad na TV». El País. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  8. «Brasil no caminho da polarização entre Bolsonaro e Haddad». UOL Notícias. 19 de setembro de 2018. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  9. Struck, Jean-Philip (1 de outubro de 2018). «Campanha entra na reta final mais polarizada – DW – 01/10/2018». DW Brasil. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  10. Mortari, Marcos (31 de agosto de 2018). «Bolsonaro vê rejeição chegar a 61% e risco de "voto útil" contrário crescer, mostra XP/Ipespe». InfoMoney. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  11. Ferraz, Ian (28 de setembro de 2018). «Adélio Bispo premeditou e agiu só no ataque a Bolsonaro, conclui PF». Metrópoles. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  12. a b Valente, Rubens (22 de setembro de 2018). «PF descarta depósitos suspeitos a agressor de Bolsonaro e reforça versão de que atuou sozinho» . Folha de S.Paulo. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  13. Pase, Nathália (28 de setembro de 2018). «PF afirma que motivação de atentado a Bolsonaro foi inconformismo político». Poder360. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  14. a b Zuba, Fernando; Freitas, Raquel (28 de setembro de 2018). «Agressor de Bolsonaro agiu sozinho no momento do crime e por motivação política, conclui PF». G1. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  15. a b c d Fernandes, Rodrigo Morais (28 de setembro de 2018). «Relatório Conclusivo da Prisão em Flagrante» (PDF). Polícia Federal. Consultado em 18 de janeiro de 2025 – via O Estado de S. Paulo 
  16. «Bolsonaro visita Juiz de Fora na véspera do feriado». Tribuna de Minas. 3 de setembro de 2018 
  17. «Bolsonaro leva facada durante ato de campanha em Juiz de Fora». Folha de S.Paulo. 6 de setembro de 2018. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  18. «Candidato à Presidência pelo PSL, Jair Bolsonaro é esfaqueado em Juiz de Fora». G1. 7 de setembro de 2018. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  19. Borges, Liliana (6 de setembro de 2018). «Bolsonaro já falou após esfaqueamento: "Nunca fiz mal a ninguém"». PÚBLICO. Consultado em 8 de janeiro de 2025 
  20. «Vídeo mostra Bolsonaro em hospital após cirurgia; assista». G1. 7 de setembro de 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2025 
  21. Shalders, André (6 de setembro de 2018). «Suspeito de ataque a Bolsonaro foi preso por PM de folga e à paisana que acompanhava comício, diz BO». BBC News Brasil. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  22. Cristini, Flávia; Amaral, Carlos (6 de setembro de 2018). «Polícia Militar confirma identidade do suspeito de atentado a Jair Bolsonaro e diz que homem confessou o crime». G1. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  23. «Jair Bolsonaro leva facada durante ato de campanha em Juiz de Fora». G1. 6 de setembro de 2018. Consultado em 5 de janeiro de 2025 
  24. Sobrinho, Wanderley Preite (6 de setembro de 2018). «Complexa, cirurgia em Bolsonaro deve tirá-lo da campanha de 1º turno». UOL Eleições 2018. Consultado em 8 de janeiro de 2025 
  25. a b Camila Bomfim, Filipe Matoso e Mariana Oliveira (14 de junho de 2019). «Juiz diz que Adélio Bispo é 'isento de pena' e converte prisão em internação por tempo indeterminado». G1. Consultado em 14 de junho de 2019 
  26. «Advogado diz que Adélio agiu por motivação religiosa e política». Jornal Tribuna de Minas. 7 de setembro de 2018. Consultado em 7 de setembro de 2018 
  27. Amaral, Carlos (6 de setembro de 2018). «Suspeito disse que atentado contra Bolsonaro foi 'a mando de Deus', segundo boletim de ocorrência». G1. Consultado em 13 de janeiro de 2025 
  28. Veloso, Victor (11 de junho de 2024). «PF conclui que Adélio Bispo agiu sozinho ao esfaquear Bolsonaro». CBN. Consultado em 13 de janeiro de 2025 
  29. Talento, Aguirre; Coutinho, Mateus; Borges, Stella (11 de junho de 2024). «Adélio teve advogado suspeito de elo com PCC, mas agiu sozinho em facada». UOL. Consultado em 13 de janeiro de 2025 
  30. Barros, Renata (25 de agosto de 2022). «Adélio Bispo, autor de facada em Bolsonaro, tem transtorno delirante e é perigoso para a sociedade, diz laudo». g1. Consultado em 20 de julho de 2024 
  31. «Agressor esteve em clube de tiro que filhos de Bolsonaro frequentam». G1. 7 de setembro de 2018. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  32. a b Molin, Giorgio Dal (28 de setembro de 2018). «Agressor de Bolsonaro teve 39 empregos em 18 anos». Gazeta do Povo. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  33. a b c d de Andrade, Hanrrikson (13 de setembro de 2018). «Vendedor de livros, pastor e quase candidato: o passado de Adélio Bispo». UOL. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
  34. «O que se sabe sobre o suspeito de esfaquear Jair Bolsonaro». G1. 6 de setembro de 2018. Consultado em 18 de janeiro de 2025 
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  38. «Quem é o autor do ataque a Bolsonaro». El País Brasil. 7 de setembro de 2018. Consultado em 18 de janeiro de 2025