Valdomiro Silveira
Valdomiro Silveira (Senhor Bom Jesus da Cachoeira, 11 de novembro de 1873 – Santos, 3 de junho de 1941) foi um escritor brasileiro, que se dedicou a representar, do ponto de vista literário, o caboclo/caipira, buscando retratar os seus costumes, o seu modo de vida, em obras como Os caboclos, a sua mais conhecida narrativa.[1]
Valdomiro Silveira | |
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Nascimento | 11 de novembro de 1873 Cachoeira Paulista |
Morte | 3 de junho de 1941 (67 anos) Santos |
Cidadania | Brasil |
Progenitores |
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Filho(a)(s) | Meroveu Silveira, Isa Silveira Leal |
Irmão(ã)(s) | Alarico da Silveira, Agenor Silveira |
Alma mater | |
Ocupação | escritor |
Parte da crítica literária considera-o como o precursor do regionalismo,[2] uma vez que foi um dos primeiros autores a dar voz ao dialeto caipira, [3][4][5] num tempo em que o país se voltava contra o seu interior e, por extensão, ao seu habitante, ao seu linguajar, às suas tradições, considerando-os retrógrados e fonte de atraso nacional.[6] Neste sentido, as publicações do autor constituem importante documento de uma época, de uma linguagem, de um modus vivendi sobre os quais se debruçam pesquisadores para analisar o seu universo literário.[7]
Alfredo Bosi parece colocar em pé de igualdade Valdomiro Silveira e Afonso Arinos e, em sua História Concisa da Literatura Brasileira, afirma: “Arinos temperava a transcrição da linguagem mineira com um sensível comprazimento de prosa clássica; já em Valdomiro da Silveira predomina o gosto pela fala regional em si mesma (...).”[8][9]
Frequentemente, estudos acadêmicos põem em diálogo a obra de Valdomiro Silveira com clássicos da nossa literatura como Guimarães Rosa, visto que boa parte da crítica pondera que o universo roseano tenha se inspirado especialmente na oralidade de autores como Valdomiro Silveira e João Simões Lopes Neto.[10]
Biografia
editarFilho de João Batista da Silveira, promotor público, e Cristina da Silveira, o escritor passou sua infância e adolescência em Casa Branca, interior paulista, onde o pai exercia a sua profissão. Era o segundo dos oito filhos do casal. Ainda em Casa Branca, teria dado início à escrita dos primeiros contos regionais.
Formou-se em Direito na Faculdade de Direito de São Paulo. Em 1895, depois de concluir a faculdade, tornou-se promotor público e passou a atuar em Santa Cruz do Rio Pardo. Em 1905, transferiu-se para Santos, dedicando-se à advocacia, ao jornalismo e às letras. Em Santa Cruz do Rio Pardo, principiou a trabalhar as primeiras narrativas, sendo que boa parte de sua obra foi, inicialmente, publicada em jornais como A Semana, Revista do Brasil, Gazeta de Notícias e O Estado de S. Paulo. O seu primeiro conto, “Rabicho”, foi publicado aos 21 anos de idade, pelo jornal Diário Popular (São Paulo).[11]
Valdomiro da Silveira também foi deputado estadual [12], vice-presidente da Constituinte Paulista [13] e Secretário de Educação do Estado de São Paulo. Também foi membro da Academia Santista de Letras [14] e da Academia Paulista de Letras.[15] [16]
Casou-se em 1905 com Maria Isabel Quartim de Moraes. Tinha, então, já três filhos da primeira união e teve ainda mais três: Isa Silveira Leal, escritora, jornalista e novelista de rádio e televisão; Belkis, Valdo e Miroel Silveira, bacharel em Direito, crítico literário e contista, inclusive, premiado pela Academia Brasileira de Letras. Valdomiro Silveira é tio-avô da escritora Dinah Silveira de Queiróz, ocupante da cadeira número sete da Academia Brasileira de Letras.
Obras
editarO autor deixou os livros de contos Os Caboclos (1920), Nas serras e nas furnas (1931), Mixuangos (1937), Leréias (1945, póstumo), além de várias narrativas ainda inéditas. Embora a diversidade cultural brasileira já tivesse sido tratada pelos autores românticos como José de Alencar, Visconde de Taunay, Bernardo Guimarães, com Valdomiro da Silveira, o tipo humano ganha notoriedade, substituindo-se a pintura dos painéis regionais com a dita “cor local”.
Em Os caboclos, uma coletânea com 24 contos, há histórias como “Camunhengue”, que conta a trajetória de um homem que contrai lepra e, aos poucos, vai sendo expurgado do convívio familiar e social; “Os curiangos” traz a história do coveiro que, diante de uma onda sucessiva de mortes, vê o corpo inerte da mulher amada – a metáfora do voo dos curiangos ganha destaque no desenlace da narrativa. Há também contos com uma nota humorística como “Por mexericos” e “Valentia”, que representam duas sátiras à bravura. [17] [18]
Leréias [19], obra póstuma, que seria a produção literária preferida do autor, foi levada ao palco pelo ator Jandir Ferrari em 2018, sob o nome de “Lereias”, monólogo encenado na Cidade das Artes, Rio de Janeiro. [20] [21]
Os contos de Leréias trazem a voz do caboclo, em histórias “contadas por eles mesmos” – havendo, ao final do livro, um glossário para facilitar o entendimento do leitor urbano, não afeito ao vocabulário caipira.[22]
O acervo do escritor encontra-se no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo, [23] como é o caso de "Mucufos". [24]
Referências
- ↑ ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ACERVO HISTÓRICO. “Leis & Letras”. Disponível em https://www.al.sp.gov.br/repositorio/bibliotecaDigital/506_arquivo.pdf 03 de fevereiro de 2019
- ↑ “Valdomiro Silveira e a literatura caipira”. Cultura. Estadão. Disponível em https://cultura.estadao.com.br/noticias/artes,valdomiro-silveira-e-a-literatura-caipira,55852 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ SILVEIRA, Célia Regina da. “A epopeia caipira em Valdomiro Silveira”. Jornal O Lince Disponível em http://www.jornalolince.com.br/2009/dez/pages/valdomiro-silveira-www.jornalolince.com.br-edicao030.pdf 03 de fevereiro de 2019
- ↑ LEITE, Sylvia H.T. de A. “Valdomiro Silveira e o regionalismo na literatura brasileira”. Itinerários, 1998. Disponível em https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/107509/ISSN0103-815X-1998-13-67-73.pdf?sequence=1&isAllowed=y 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ SILVEIRA, Celia Regina da. “La généalogie de la nationalité : le caipira sous la plume de Valdomiro Silveira » Caravelle, 2012. Disponível em https://journals.openedition.org/caravelle/413 3 de fevereiro de 2019.
- ↑ NAXARA, Marcia Regina Capelari. Estrangeiro em sua própria terra: representações do trabalhador nacional – 1870/1920. 1991, 246p. Dissertação. (Mestrado em História). Universidade de Campinas, 1991.
- ↑ MOREIRA, Wilton Cardoso. “Literatura e variedade caipira: Os Caboclos de Valdomiro Silveira”. Revista Linguasagem. Disponível em http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao04/04_019.php 3 de fevereiro de 2019
- ↑ BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 32.ed. São Paulo: Cultrix, 1995.
- ↑ ALVES, Regina Celia dos Santos. "Dois modos de ler o sertão: Afonso Arinos e Valdomiro Silveira". Topus. Disponível em http://www.revistatopus.com.br/en/enviados/2016549369.pdf 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ SPERBER, Suzy Frankl. “Amor, medo e salvação: Aproximações entre Valdomiro Silveira e Guimarães Rosa”. Revista ieb. Disponível em http://www.revistas.usp.br/rieb/article/view/73089 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ «Valdomiro Silveira». UOL. 23 de setembro de 2019. Consultado em 4 de fevereiro de 2019
- ↑ FGV CPDOC. Chapa única Por São Paulo Unido. Disponível em http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/chapa-unica-por-sao-paulo-unido 3 de fevereiro de 2019
- ↑ ACERVO HISTÓRICO DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO. A Revolução de 1932 sob o olhar do parlamento paulista. Disponível em https://www.al.sp.gov.br/acervo-historico/publicacoes/Informativos/informativo_0007.pdf 3 de fevereiro de 2019
- ↑ ACADEMIA SANTISTA DE LETRAS. "Patronos". Disponível em http://www.academiasantistadeletras.com.br/patronos.html 3 de fevereiro de 2019.
- ↑ "O 'caipira' na Academia Paulista de Letras". Agência FAPESP. Disponível em http://agencia.fapesp.br/o-caipira-na-academia-paulista-de-letras/21830/ 3 de fevereiro de 2019.
- ↑ ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS. "Discurso de posse: Acadêmico José de Souza Martins." Disponível em http://www.academiapaulistadeletras.org.br/discursos.asp?materia=932 3 de fevereiro de 2019.
- ↑ PEREIRA, Helcius Batista. “O caipira sob o olhar da elite paulistana das primeiras décadas do século XX”. Língua e Literatura. Disponível em http://www.periodicos.usp.br/linguaeliteratura/article/view/97577 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ MACHADO, Regina M.A. “No espelho das águas do Paraíba”. Histórica. Disponível em http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao32/materia05/texto05.pdf 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ YATSUDA, Enid. A Ficção Movediça: (Uma Leitura de Lereias, de Valdomiro Silveira). 1983, 172p. Dissertação. (Mestrado em Letras). Instituto de Estudos da Linguagem. Universidade Estadual de Campinas, 1983.
- ↑ “’Leréias’, solo inspirado em livro de Valdomiro Silveira, faz curtíssima temporada na Cidade das Artes”. Rio Encena. Disponível em http://rioencena.com.br/lereias-solo-inspirado-em-livro-de-valdomiro-silveira-faz-curtissima-temporada-na-cidade-das-artes/ 03 de fevereiro de 2019
- ↑ “Se não fosse Valdomiro Silveira, não existiria Guimarães Rosa”. Fundação Cidade das Artes. Disponível em http://cidadedasartes.rio.rj.gov.br/programacao/interna/898 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ AZEVEDO, Milton M. “Vernacular Brazilian Portuguese as a Literary Medium in Valdomiro Silveiraʼs Leréias.” OUKA. Disponível em https://ir.library.osaka-u.ac.jp/repo/ouka/all/11729/riwl_001_003.pdf 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ INSTITUTO DE ESTUDOS BRASILEIROS. “Valdomiro Silveira”. Disponível em http://www.ieb.usp.br/valdomiro-silveira/ 03 de fevereiro de 2019.
- ↑ BARBOSA, Alexandre de Oliveira. 2007, 237p. Edição anotada de ‘Mucufos’, coletânea de contos inéditos de Valdomiro Silveira. Dissertação. (Mestrado em Letras). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Universidade de São Paulo. 2007
Ligações externas
editar- BARBOSA, Alexandre de Oliveira. 2007, 237p. Edição anotada de ‘Mucufos’, coletânea de contos inéditos de Valdomiro Silveira. Dissertação. (Mestrado em Letras). Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Universidade de São Paulo. 2007 https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8149/tde-03122007-100857/publico/TESE_ALEXANDRE_OLIVEIRA_BARBOSA.pdf .
- SILVEIRA, Valdomiro. Os caboclos. .pdf disponível gratuitamente mediante cadastro em https://eduerj.com/produto/os-caboclos/ .