Vananda (em armênio: Վանանդ; romaniz.: Vanand) ou Vandi (em georgiano: ვანდი) foi um gavar (cantão) da província de Airarate, na Armênia.[1]

Armênia em 150. Airarate situa-se mais ao centro

Geografia

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Vananda estava situado na metade norte do vale do Acuriã, entre Acuriã e Ciro Superior. É possível que, de início, fizesse parte do cantão de Bassiana, visto que os romanos não conheciam o topônimo, ainda que conhecessem bem a geografia da zona na qual estava situado, e por vezes é referido como Bassiana Superior. Englobava área de 4 725 quilômetros quadrados.[2] Para Moisés de Corene, seu nome deve ter se originado dos hunos onogures que ali parcialmente se assentaram desde o século V, mas o nome já é citado antes do período, o que torna a etimologia improcedente.[3]

História

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Efígie do xainxá Isdigerdes II (r. 438–457) em seu dracma

Durante os séculos IX e VIII a.C., o território do futuro cantão era ocupado pelos taocos. Se sabe que sob Menua (r. 810–786 a.C.) e Arguisti I (r. 786–764 a.C.) de Urartu, os urártios atacaram o seu rei Utupursi. Quatro séculos depois, em 401-400 a.C., Xenofonte dá indícios de que ainda povoavam ali. É a última menção a eles como povo e depois, ao que parece, migraram ao norte, ocupando os territórios de Taique (Tao) e Javaquécia, situadas a norte e noroeste de Vananda, respectivamente. Essa migração deve ter ocorrido devido à expansão da Armênia sob a dinastia orôntida.[4] Desde o século IV, Vananda foi um Estado principesco, cuja família devia ser um ramo da família Ordúnio, que governava Bassiana. É igualmente possível que a família também fosse um ramo cadete da família Camsaracano, cujo ramo principal governava Arsarúnia e os seus ramos cadetes governavam Abélia, Aunúnia, Gabélia. Sendo assim, descendiam da dinastia arsácida reinante (r. 54–428).[2] Quiçá a região já foi evangelizada por Gregório, o Iluminador. A Lista Militar (Զորնամակ, Zōrnamak), o documento que indica a quantidade de cavaleiros que cada uma das família nobres devia ceder ao exército real em caso de convocação, afirma que podiam arregimentar mil cavaleiros.[5][6]

No século IV, Fausto, o Bizantino menciona os príncipes Artabano e Orodes. Desde 387, com a Paz de Acilisena selada entre o imperador Teodósio I (r. 378–395) e o xainxá Sapor III (r. 383–388), Vananda pertenceu à Armênia sob domínio do Império Sassânida. Segundo Moisés de Corene, pouco após ascender, o rei cliente dos persas Cosroes IV (r. 387–389) enfrentou a revolta dos príncipe de Vananda, que foram derrotados e massacrados pelo aspetes Isaque I.[7] Ao mesmo tempo, Ársaces III (r. 378–387), rei-cliente dos romanos, invadiu a Armênia a partir de Vananda com o intuito de depor Cosroes, mas foi derrotado.[8] Em 420, quando Sapor IV (r. 415–420) soube da morte de seu pai e foi a Ctesifonte, a capital sassânida, os príncipe de Vananda se mostraram heroicos e corajosos na luta contra bandos persas que invadiram o país.[9] Lázaro de Farpe menciona o bispo Gade,[10] bem como os príncipes Tatul e Verém, que lutaram com Vardanes II (450–451) na insurreição contra o xainxá Isdigerdes II (r. 438–457),[11] e Ateguém, que lutou com Vaanes I na insurreição contra o xainxá Perozes I (r. 459–484).[12] Príncipes de Vananda também assinaram os atos do Primeiro (505) e Segundo Concílio de Dúbio (555).[13]

 
Efígie do imperador Maurício (r. 582–602) em seu Soldo

Em cerca de 575, o marzobã Glones Mirranes e o príncipe Filipe de Siunique atacaram a vila de Utmus, em Vananda, mas foram derrotados.[14] Em 579, provavelmente confrontando os generais bizantinos Curs e João Mistacão, o marzobã Varaz Vezur fez o mesmo movimento, sendo inicialmente repelido, mas então venceu.[15] Em 591, com a nova divisão da fronteira na Armênia entre os Impérios Bizantino e Sassânida no rescaldo da guerra iniciada em 572, o imperador Maurício (r. 582–602) recebeu Vananda do xainxá Cosroes II (r. 590–628), que foi incluída na província da Armênia Inferior, que corresponde, grosso modo, à extinta província armênia de Airarate.[16] Por sua localização, na rota comercial norte entre o Planalto Iraniano, a Anatólia e o mar Negro, prosperaria na Idade Média.[17] Na década de 640, quando o imperador Constante II (r. 641–668) conduziu expedições militares no Oriente para impedir o avanço do Califado Ortodoxo, se encontrou com os príncipes de Vananda para coordenar os esforços.[18]

No fim, a região foi anexada no Emirado da Armênia. No século VIII, passou à família Bagratúnio. Em 962, o rei Asócio III (r. 951–977) cedeu Vananda ao seu irmão Musel I, que fundou um reino independente.[17] Em 1064, Cacício abdicou em favor do Império Bizantino e entregou a sua capital Cars, que no ano seguinte foi conquistada pelo Império Seljúcida antes de ser tomada pelo Reino da Geórgia e integrar o distrito de Cari (Kari). No século XIII, foi tomada pelo Império Mongol antes de deixar de existir como entidade separada. Brevemente pertenceu aos senhores turcomanos e então caiu sob controle do Império Otomano.[19]

Referências

  1. Hewsen 2001, p. 103, 204.
  2. a b Hewsen 2001, p. 204.
  3. Hewsen 2001, p. 110, nota 21.
  4. Hewsen 2001, p. 206.
  5. Fausto, o Bizantino 1989, p. 500.
  6. Toumanoff 1963, p. 240.
  7. Moisés de Corene 1978, p. 306-307.
  8. Moisés de Corene 1978, p. 308.
  9. Moisés de Corene 1978, p. 326.
  10. Lázaro de Farpe 1985, p. 73.
  11. Lázaro de Farpe 1985, p. 128, 252.
  12. Lázaro de Farpe 1985, p. 302.
  13. Toumanoff 1963, p. 215, nota 247; 250.
  14. Grousset 1973, p. 245.
  15. Greatrex 2002, p. 162; 289.
  16. Hewsen 2001, p. 212.
  17. a b Hewsen 2001, p. 148; 214.
  18. Sebeos 1999, p. 137.
  19. Hewsen 2001, p. 214.

Bibliografia

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  • Lázaro de Farpe (1985). Bedrosian, Robert, ed. History of the Armenians. Nova Iorque: Fontes da Tradição Armênia 
  • Fausto, o Bizantino (1989). Garsoïan, Nina, ed. The Epic Histories Attributed to Pʻawstos Buzand: (Buzandaran Patmutʻiwnkʻ). Cambrígia, Massachussetes: Departamento de Línguas e Civilizações Próximo Orientais, Universidade de Harvarde 
  • Greatrex, Geoffrey; Lieu, Samuel N. C. (2002). The Roman Eastern Frontier and the Persian Wars (Part II, 363–630 AD). Londres: Routledge. ISBN 0-415-14687-9 
  • Grousset, René (1973) [1947]. Histoire de l'Arménie: des origines à 1071. Paris: Payot 
  • Hewsen, Robert H. (2001). Armenia: A historical Atlas. Chicago e Londres: Imprensa da Universidade de Chicago. ISBN 0-226-33228-4 
  • Moisés de Corene (1978). History of the Armenians. Traduzido por Thomspon, Robert W. Cambrígia, Massachussetes: Imprensa da Universidade de Harvarde 
  • Sebeos (1999). The Armenian History Attributed to Sebeos. Traduzido por Thomson, R. W. Liverpul: Imprensa da Universidade de Liverpul. ISBN 0853235643 
  • Toumanoff, Cyril (1963). Studies in Christian Caucasian History. Washington: Imprensa da Universidade de Georgetown