Vendavais no estado de São Paulo em novembro de 2023
Os vendavais no estado de São Paulo em novembro de 2023 foram um evento meteorológico extremo e histórico que atingiu várias cidades da respectiva região na tarde do dia 3 de novembro de 2023, resultado de uma linha de instabilidade que se estendeu desde o litoral até o noroeste do estado.[1] No total, oito pessoas morreram em diferentes municípios e mais de quatro milhões ficaram sem luz na capital paulista, sendo esse considerado um dos maiores desastres da rede elétrica por onda de tempestades no Brasil.[2][3][4] Os efeitos desse fenômeno foram comparáveis aos provocados pelo ciclone bomba no sul do Brasil em 2020.[4][5] O evento foi documentado internacionalmente.[6][7]
Tipo | |
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Formação |
Ventos mais fortes |
151 km/h ( Santos) |
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Áreas afetadas | |
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Fatalidades |
8 |
Mortes
editarLogo após o vendaval, a primeira vítima fatal fora documentada em Osasco (SP). Segundo a Defesa Civil, duas árvores caíram sobre um muro na Avenida Luiz Rink. Um veículo foi atingido, matando um jovem de 21 anos que estava caminhando.[8][9]
A segunda havia sido confirmada em Santo André (SP), no ABC Paulista. Na ocasião, estruturas se soltaram do 18º andar de uma obra durante o vendaval, atingindo duas pessoas. Um homem (não especificado) não resistiu, e a outra vítima foi encaminhada para o Centro Hospitalar de Santo André com um deslocamento no ombro.[10][8]
Ainda no mesmo dia, a terceira vítima fatal fora confirmada em Limeira (SP), identificada como Davi da Silva Santos, pedreiro de 27 anos, morador do bairro Cecap.[11] Davi estava sobre um andaime enquanto trabalhava em uma obra na Avenida João Daniel dos Santos, no bairro Jardim Marajoara, quando parte do muro da obra desabou com a ventania, caindo em cima dele. O local fora isolado[12][13]
No dia seguinte à onda de tempestades, mais três fatalidades foram confirmadas na Grande São Paulo, elevando o número total em todo o estado para seis. No Jardim Helena, na Zona Leste da capital paulista, várias árvores caíram sobre diversos veículos na Avenida Eduardo Sabino de Oliveira. Na ocasião, duas pessoas não resistiram e outras cinco ficaram feridas.[14] Outra vítima fatal foi confirmada na Avenida Antônio Marques Figueira, na Vila Adelina, em Suzano (SP) onde os fortes ventos derrubaram um coqueiro sobre uma mulher de 42 anos, a qual sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.[15]
Em 5 de novembro, a sétima vítima fatal, um homem de 58 anos, fora confirmada na Ilhabela. Ele estava em uma embarcação com outros tripulantes. Em decorrência da forte intensidade do vento, o barco naufragou. Segundo a Defesa Civil estadual, outros dois tripulantes sofreram ferimentos e foram encaminhados ao serviço de saúde.[16][17][18][19] Em 7 de novembro, a oitava e última vítima (não especificada) fora confirmada em Ibiúna, na Região Metropolitana de Sorocaba. Ela estava internada durante todo o período, mas não resistiu aos ferimentos.[20][21][22]
Danos em diferentes regiões
editarGrande São Paulo
editarA Grande São Paulo foi bastante afetada pelos temporais que atingiram o estado homônimo. Os ventos chegaram a 103,7 km/h na região do aeroporto de Congonhas, por volta das 16h15,[23] o maior valor registrado pelo Centro de Gerenciamentos de Emergências (CGE) da Prefeitura de São Paulo desde 1995, quando esses dados começaram a ser computados na capital paulista.[24] Além disso, as rajadas de vento foram medidas em até 94,1 km/h na estação Santana/Tucuruvi (16h30), 71,7 km/h em Campo Limpo (16h10) e 68,6 km/h no Aeroporto de Guarulhos (16h40).[25]
O temporal causou diversos estragos na infraestrutura e na mobilidade da região metropolitana. Foram registradas centenas de quedas de árvores em vários pontos, sendo que houve registro de 346 quedas somente nos parques da cidade.[26] Muitos bairros ficaram sem energia elétrica por horas ou dias, afetando milhares de moradores e comerciantes.[27] Houve mais de mil chamados para quedas de árvores, dois para enchentes e pelo menos 46 para desabamentos/desmoronamentos.[28] No Autódromo de Interlagos, que estava sediando o treino classificatório de São Paulo de Fórmula 1, o teto de duas arquibancadas caiu e feriu seis torcedores, sendo que dois deles precisaram de atendimento médico.[29]
Avaré
editarEm Avaré, a prefeitura chegou a classificar o evento como um ciclone. A mesma informou que os ventos chegaram a 133 km/h na cidade.[30] A tempestade derrubou árvores e estruturas, destelhou casas e arquibancadas, e interrompeu o fornecimento de energia elétrica em diversos bairros.[31] Um barracão de provas no Parque de Exposições Fernando Cruz desabou e parte da cobertura do setor de arquibancada do Arenão foi arrancada.[30][32]
Baixada Santista
editarA Baixada Santista foi a região mais atingida pela linha de instabilidade. Em Santos, os ventos chegaram a 151 km/h, valor medido pela Praticagem de Santos.[33] Na Avenida Bartholomeu de Gusmão, a estrutura de um posto de gasolina tombou. Ademais, várias árvores caíram e a Santa Casa municipal sofreu um destelhamento significativo.[34]
Piracicaba
editarEm Piracicaba, o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) registrou rajadas de vento de até 73 km/h, valor também divulgado pelo Posto Meteorólogico da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" (Esalq).[35] Ao menos 20 árvores caíram na cidade e houve registro de destelhamentos, um deles no terminal de ônibus da Pauliceia.[36][35]
Sorocaba
editarEm Sorocaba, as rajadas de vento foram medidas em 91 km/h pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), porém o meteorologista Carlo Vilella estimou que o valor poderia ter chegado a mais de 100 km/h em algumas áreas.[37] No fim, a estimativa foi de 105 km/h, valor divulgado pela Defesa Civil.[38] Os principais estragos foram queda de árvores e postes de luz, destelhamentos de imóveis e interrupção generalizada no fornecimento de energia elétrica.[39]
O blecaute
editarUm dos impactos mais notáveis deixados pelas tempestades foi o apagão que afetou cerca de 1,4 milhão de endereços na cidade de São Paulo e na Região Metropolitana, após a queda de centenas de árvores sobre as fiações, além da derrubada de postes, transformadores e do rompimento de fios elétricos.[40][41] A falta de luz durou quase uma semana em alguns locais,[42] causando prejuízos bilionários para o comércio, a indústria e os moradores, que tiveram alimentos e remédios estragados.[27][43] De acordo com especialistas, o apagão em São Paulo só teve precedente no ciclone bomba que atingiu o Sul do Brasil no final de junho de 2020, quando mais de 4 milhões de clientes ficaram sem energia nos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.[4]
O apagão também prejudicou o funcionamento de serviços essenciais, como hospitais, escolas e transporte público.[44] O Parque Ibirapuera, onde estava sendo realizada a 35ª Bienal de São Paulo, ficou sem energia por dois dias.[45] Estudantes que fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) relataram atrasos de mais de uma hora para chegar ao local de prova.[44][46]
A concessionária Enel, responsável pelo fornecimento de energia na capital paulista, foi alvo de críticas e protestos por parte da população e das autoridades, que cobraram uma solução rápida e eficiente para o restabelecimento da rede elétrica.[47][48] O prefeito Ricardo Nunes ameaçou entrar na Justiça contra a empresa, caso ela não cumprisse o prazo de religar a energia de todos os clientes até o dia 7 de novembro.[45] A Enel descumpriu o prazo,[41][49] recebendo uma multa de R$12,7 milhões do Procon no dia 17 do mesmo mês.[50][51]
Ver também
editarReferências
- ↑ Climatempo (4 de novembro de 2023). «Ventos passam de 90 km/h em SP, RJ e MG | Climatempo». www.climatempo.com.br. Consultado em 3 de dezembro de 2023.
No começo da tarde de 3/11/23, as nuvens de temporal da linha de instabilidade estavam na divisa com o Paraná. Por volta das 4 horas da tarde já estavam na região da cidade de São Paulo.
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