Vila Economizadora
A Vila Economizadora, localizada no bairro da Luz, na região central de São Paulo, é um conjunto residencial operário, construído entre 1908 e 1915 pelo empreiteiro italiano Antônio Bocchini, em parceria com a Sociedade Mútua Economizadora Paulista.[1]
Vila Economizadora | |
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Vila Economizadora | |
Informações gerais | |
Arquiteto | Antônio Bocchini |
Construção | 1908 a 1915 |
Estado de conservação | SP |
Património nacional | |
Classificação | CONDEPHAAT / CONPRESP |
Data | 1980 / 1991 |
Geografia | |
País | [Brasil]] |
Cidade | São Paulo |
Coordenadas | 23° 32′ 11″ S, 46° 37′ 37″ O |
Localização em mapa dinâmico |
O espaço da Vila fica entre a Avenida do Estado e a Rua São Caetano (também conhecida como rua das noivas) e engloba cinco ruas: Rua Doutor Luiz Piza, Rua Professor Leôncio Gurgel, Rua Doutor Cláudio de Souza, Rua Economizadora e Rua Euricles Félix de Matos – e os nomes dados a cada uma das vias são os mesmos os sócios da companhia empréstimos que financiaram a construção.[2]
O local foi produzido em meio ao processo de industrialização da capital paulista e, além disso, conta não só o desenvolvimento acelerado das fábricas e seu crescimento, como também revela um pouco mais a história da classe trabalhadora, que é um dos elementos mais importantes dessa fase da cidade.[3]
Por isso, pouco mais de cem anos depois de sua inauguração, a Vila Economizadora compõe um conjunto de obras que formam a memória viva da história de São Paulo.
História
editarCom produção de café cada vez mais maior, em meados de 1890, a cidade de São Paulo passou a ser visada pelo mercado externo, que tinha interesse pelo produto. Dessa forma, a capital passou a investir mais em infraestrutura, produzindo não só café como também algodão, couro e açúcar, aproveitando as matérias-primas nacionais.[4]
Assim, as fábricas passaram a contribuir com a geração de lucros da cidade e o país começou a ser menos dependente das outras nações, tendo a necessidade de um número menor de produtos importados.[4]
A Vila Economizadora surge durante o fim do século XIX e início do século XX, quando esse processo de industrialização estava começando, resultando em um crescimento acelerado da cidade e uma expansão da classe trabalhadora – que era formada, principalmente, por imigrantes, mas também registrava a presença de brasileiros, ambos altamente interessados e atraídos pelas novas oportunidades de emprego e uma vida melhor.[4]
A vila era organizada em seis quadras com imóveis térreos, com fachadas ornamentadas construídas por mão de obra de imigrantes alemães e italianos. Na década de 70 foram desapropriadas doze casas, dando lugar a uma pequena praça.[5]
Com mão-de-obra garantida, principalmente pela vinda, em excesso, de estrangeiros, as indústrias começaram a se instalar perto das várzeas dos rios, por onde também passavam as linhas ferroviárias.[3]
Para facilitar o acesso às fábricas nas quais trabalhavam, os funcionários das indústrias passaram a ocupar bairros próximos e no entorno dessas estações de trem, em cortiços ou em áreas que seriam, mais tarde, especialmente construídas para eles: as vilas operárias.[3] [1]
As vilas surgiram, principalmente, do interesse de grupos de industriais e sociedades capitalistas de lucrar com esse movimento migratório para o centro da cidade. Assim, eles passaram a investir em conjuntos residenciais para essas famílias.[3] [1]
Esses conjuntos atraíram uma grande massa da classe trabalhadora, que não dispunha de recursos financeiros para financiar compra de casa própria. Assim, a preços baixos, os imóveis começaram a ser rapidamente alugados por operários de mão-de-obra qualificada, principalmente imigrantes italianos.[3] [1] [4]
Características Arquitetônicas
editarDistribuída em uma área de cerca de 14 mil m², a Vila Economizadora foi criada, originalmente, com 147 casas, sendo 127 residenciais e 20 comerciais. Mais tarde, doze dessas moradias foram desapropriadas e demolidas pela Prefeitura de São Paulo, restando 134 edificações - 117 casas e 17 armazéns.[1]
Afim de atender diferentes tipos de público e de necessidades, o planejamento inicial continha nove tipos de construções, nas quais as casas apresentavam de um a três quartos por unidade. Na conclusão do projeto, que foi assinado pelo arquiteto Giuseppe Sacchetti, oito tipos de residências foram criadas.[1]
Composta de imóveis térreos, as casas da vila apresentavam, sem exceções, porão, pé direito alto, paredes em alvenaria e cobertura de cerâmica, forros de madeira e instalações sanitárias externas.[1] [3]
Além disso, as construções seguem determinados padrões: as coberturas – telhados - são feitas de telhas de barro do tipo francesas e as fachadas são compostas por elementos decorativos em argamassa ou estuque, como cercaduras, guarda-pó, frisos e barras horizontais e verticais – que também estão presentes nas portas e janelas.[1] [3]
A pintura das casas também segue um critério - as paredes são pintadas de camurça, enquanto janelas e portas são marrom-avermelhadas. Os ornamentos e molduras das janelas apresentam cor branca, enquanto o barrado inferior da residência é cinza. [3]
Significado Histórico e Cultural
editarDe extrema importância para a história da cidade e do país, a Vila Economizadora ilustra e registra a construção das primeiras casas populares paulistas e o início da fase de industrialização, tornando-se memória viva da história da formação da cidade de São Paulo.[6]
Tombamento
editarPor isso, o patrimônio foi tombado em 1980 pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – e em 1991 pelo CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.[3] [2]
Estado Atual
editarConstruída com fins residenciais, a Vila Economizadora permanece realizando sua função original - servindo de moradia para habitantes da cidade de São Paulo.[2]
Entretanto, ao contrário da data da fundação, atualmente poucas lojas e armazéns são vistos no local.[2]
Conservação do bem cultural
editarEm 2009, um estudo realizado pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) identificou um grande número de obras no local, que estavam descaracterizando a vila. Por isso, em 2013, a Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo criou, através do DPH, uma "Cartilha de orientação aos moradores para reforma, restauro e conservação da Vila Economizadora", afim de conduzir a preservação do bem, realizando alterações dentro das normas da lei de tombamento.[3]
Desse modo, a fim de proteger as características do patrimônio, poucas modificações podem ser efetuadas pelos atuais moradores da vila.[3]
Como a Vila Economizadora é tombada pelo Patrimônio Histórico, é obrigatória a conservação e preservação do local. Para reformar ou intervir nas construções, é necessária um autorização do CONDEPHAAT, CONPRESP e da Subprefeitura da Sé.[3]
Galeria
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Imóveis com arquitetura padronizada
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Ao fundo, muro que separa a Vila Economizadora da Avenida do Estado
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Detalhes das casas
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Foto panorâmica da Vila Economizadora
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Detalhe decorativo da janela
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Entrada da Vila Economizadora
Referências
- ↑ a b c d e f g h Nabil Bonduki (2001). Os pioneiros da habitação social no Brasil - volume 01. [S.l.: s.n.] pp. 27–30
- ↑ a b c d {{citar web |url= http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bem-tombado/uso-original/infraestrutura-urbana/vila-economizadora |título= Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – Bens Tombados|obra=FAU |publicado= www.arquicultura.fau.usp.br>
- ↑ a b c d e f g h i j k l Departamento de Patrimônio Histórico (2013). Cartilha de orientação aos moradores para reforma, restauro e conservação da Vila Economizadora. [S.l.: s.n.] pp. 1–39
- ↑ a b c d {{citar web |url= http://www.prefeitura.sp.gov.br/portal/a_cidade/historia/index.php?p=4827 Arquivado março 22, 2012 no WebCite |título= Prefeitura de São Paulo – História da Cidade|obra=História da Cidade de São Paulo |publicado= www.prefeitura.sp.gov.br>
- ↑ http://www.arquicultura.fau.usp.br/index.php/encontre-o-bem-tombado/uso-original/infraestrutura-urbana/vila-economizadora
- ↑ Nestor Goulart Reis Filho (1982). O Guia dos bens tombados de São Paulo. [S.l.: s.n.] pp. 14–23