Wikipédia:Correio da Wikipédia/18-06-2013/Entrevista
Entrevista
O Império Bizantino em destaqueOs leitores mais assíduos da página principal da Wikipédia poderão já ter notado certos padrões nos temas que mais frequentemente aparecem na secção "Artigo em destaque". Um dos temas frequentes é o Império Bizantino, o império milenar que sucedeu ao Império Romano, com capital em Constantinopla. O "Correio da Wikipédia" foi falar com cinco dos principais editores, Pedrassani, Jbribeiro1 (José Luiz), Stegop, Renato de carvalho ferreira (Renato) e Polyethylen, que se dedicam ao melhoramento dos artigos deste tema, do grupo informal de que fazem parte, e um pouco sobre o processo pelo qual um artigo atinge qualidade suficiente para ser destacado na página principal. Como surgiu a ideia de criar um grupo que trabalhasse no destaque de artigos sobre o império bizantino?Pedrassani: Que eu saiba, não houve a criação formal de um grupo, salvo participarem do Wikipédia:Projetos/História e sociedade. Não conheço pessoalmente os outros editores, mas logo percebi a excelência de suas contribuições e a boa disposição em ouvir opiniões dos outros. Já há muito tempo contribuo com os artigos do Império Romano e foi lá que encontrei Renato a fazer uma reestruturação em Reino de Roma, Fundação de Roma e Rômulo e Remo. Fui um crítico muito rigoroso de suas contribuições até me certificar que não era apenas um turista a desfazer artigos que deram tanto trabalho para ficar em condições razoáveis. Ele provou ser um editor incansável e detalhista. Quanto a Jbribeiro1, vi algum artigo do Império Bizantino criado por ele e, por gostar e estudar o assunto, fiz uma revisão. Stegop e Polyethylen eu "conheço" de centenas de edições em muitos artigos, sempre melhorando a qualidade. José Luiz: Em linha com o Pedrassani, nunca houve uma criação "formal" de um grupo. Em algum momento, chegámos inclusive a discutir a vantagem de não haver muita burocracia. O interessante é que minha aproximação ao tema se deu de uma forma inversa: meu interesse principal é a história medieval da religião (basicamente até o século XV, no máximo) e escrevia muito sobre as intermináveis controvérsias religiosas da época (cheguei a destacar Cláusula filioque e Controvérsia da circuncisão, por ex.). Só que era um parto pra conseguir destacar um artigo, pois não havia o "entorno", artigos de suporte sobre os imperadores, imperatrizes, lugares, batalhas, patriarcas, autores históricos e ficavam muitas e muitas ligações vermelhas. E foi "azulando" diversas listas sobre o tema (Patrologia Graeca, as listas de patriarcas de Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e Alexandria, e dúzias de cidades bizantinas, califas e sultões principalmente) que encontrei o Stegop, o único que conheço pessoalmente. O Rena é incansável no trabalho de categorização e "ligação" entre os artigos, além de criar muitos novos. E o Pedrassani e o Poly dispensam apresentações, ajudando muito o "grupo bizantino" com revisões rigorosas e ajudando onde há intersecção com os temas preferidos deles. Stegop: Não há qualquer tipo de grupo formal, apenas um conjunto de pessoas que se interessa pelo assunto e que, como é bastante comum quando se trata de trabalho voluntário que não envolve qualquer tipo de fancruft doentio, e que envolve pessoas cujo interesse principal e praticamente é produzir (ou, no meu caso, mais traduzir do que exatamente produzir) conteúdo de qualidade, se conseguem coordenar de forma espontânea, apesar de na maior parte do tempo cada um trabalhar para seu lado. Eu pessoalmente só recentemente comecei a participar no Projeto História e Sociedade. O Zé Luiz resumiu bem o perfil de cada um de nós, se bem que o empenho do Renato não se fica pelo trabalho de "estruturação", pois ele também tem criado e expandido inúmeros artigos. Como o Zé Luiz, eu "caí" no tema do Império Bizantino quase por acaso, por ter resolvido dedicar-me à Turquia em geral. Depois de ter levado a destaque Alanya (graças ao facto do artigo da EN ser excelente), ingenuamente aceitei o repto do Chronus, com quem até então só tinha tido conflitos, de levar a Turquia a destaque, convencendo-me que o trabalho já feito já era meio caminho andado (santa ingenuidade optimista!). Seguiu-se Istambul... E como os dois temas que me interessam mais são geografia e história, era inevitável que fosse parar aos bizantinos, ainda para mais depois de me ter apercebido da qualidade e quantidade impressionante dos conteúdos sobre esse tema na EN. Foi assim que surgiu o meu primeiro "artigo bizantino" destacado do grupo, as guerras bizantino-árabes. Na prática, quando decidi que as "guerras" estavam em condições de destaque, não só porque a tradução estava acabada, mas também porque também já tinha criado os artigos mais essenciais de "suporte", tinha pelo menos 5 artigos fortemente candidatos para destaque e 4 para AB (se juntar os criados a propósito da história da Turquia, relacionados com Istambul e duas biografias de muçulmanos ligados às guerras com os bizantinos esse número sobe para 12, e possivelmente haverá ainda uns quantos que com alguns ajustes poderão ser facilmente eleitos AB). Possivelmente, depois de tanto tempo passado em assuntos turco-bizantinos, se continuasse sozinho perderia grande parte do interesse nesses temas, pelo menos durante algum tempo. E de certa forma, fi-lo, virando-me para o Norte de África e para a revisão dos excelentes artigos em que o Renato trabalhou ao longo de meses: a Civilização Minoica e o Antigo Egito. Mas entretanto o vírus, até então latente na sua forma religiosa, já tinha atacado fortemente o Zé Luiz e quando dei por mim, ele e o Renato, que depois de ter elevado a destaque os minoicos e os egípcios, também apanhou a virose, já tinham criado e ampliado mais artigos de bizantinices do que eu alguma vez teria conseguido em anos. O Pedrassani e o Polythelen não são menos importantes no grupo: apesar de serem menos profícuos em termos de "quantidade de conteúdo bruto", as as suas revisões, a atenção aos detalhes, os ajustes de redação, na melhoria da referenciação ou clarificação "daqueles detalhes" muitas vezes faz a diferença entre um texto muito bom e um texto sofrível. Renato: como todos disseram nós nunca, e vale frisar isso, pretendemos criar um grupo formal para trabalhar com assuntos do Império Bizantino. Na prática o que facilitou o aparecimento desta comunhão informal foi que os gostos individuais de cada um acabam por congregar-se mutuamente de maneira a sempre serem complementares, e isto gerou o tamanho estardalhaço, se assim posso dizer, que hoje é o tópico Império Bizantino. É mais que comum que nós acabemos a azular uns os trabalhos dos outros sempre visando, inconscientemente, melhorar e explorar ainda mais o tópico. Agora quanto ao meu contato com eles acho que eu de longe fui, como gosto de me intitular, o contravertido do "grupo". Com exceção do Zé que o contactei pela primeira vez ao elogiá-lo sobre seu destaque de um anexo sobre os patriarcas ortodoxos (e não posso deixar de informar que há outro no forno dos patriarcas de Constantinopla de 1054 a 1453), todos os demais foram por "puxões de orelhas" se assim posso dizer. O Stegop lembro que foi com um artigo sobre o Império Bizantino, o Bizâncio sob a dinastia teodosiana, que naquela altura foi devido a falta de conteúdo suficiente para criar este artigo. Daquele ponto em diante, considerando que ele foi o primeiro editor que eu abri um diálogo contínuo, tivemos grande momentos de parceria fora o mundo bizantino (com a Civilização Minoica e o Antigo Egito como ele bem disse) e é neste contexto, de certo modo, que os demais se encaixam. Com o Polyethylen lembro que foi porque acidentalmente, por estarmos trabalhando juntos na revisão do Antigo Egito, acabei revertendo uma edição dele e desde aquele momento, ao notar seus conhecimentos em arquitetura, volte e meia dou uma fugidinha do meu aconchego e tiro algumas dúvidas com ele. E por fim temos o Pedrassani. No caso dele foi um pouco diferente, se assim posso dizer. Como alguns editores notaram tenho interesses vivazes pelos temas que versam sobre a Antiguidade, dentre os quais a Roma Antiga. Ao editar dois artigos, o Reino de Roma (agora destacado após longo trabalho de parceria minha e dele) e o Fundação de Roma (que será destacado em breve também por parceria com ele)[nota 1], num ponto onde eu era novato e cometia erros hoje consideráveis como sacrilégios, se assim também posso dizer, fui questionado, não necessariamente advertido, sobre os motivos da minha edição e após uma discussão civilizada (que pretendo explicar melhor abaixo) começamos a nos corresponder e agora nos conluiamos como todos bem sabem. Uma coisa que é digna de ser lembrada e que eu particularmente sempre explicito quando falo do "grupo bizantino" é a civilidade de nossas discussões. Por mais que chegamos a ponto de discordar uns dos outros, sempre resolvemos nossas diferenças com boas conversas e até o momento, e tenho certeza que isto continuará a ser realidade, nunca tivemos nenhum tipo de desentendimento. Sempre pensamos além de nossas próprias convicções e tentamos nos desnudar de todo pré-conceito que possamos ter para que nosso rendimento editorial não seja afetado e, talvez em nível de crítica, posso dizer que isto é algo que não ocorre na Wikipédia no geral. Polyethylen: Não há qualquer grupo formal, e ainda bem. Grupos formais na wikipédia tendem a ter poucos resultados práticos e nunca passar de uma cartilha de intenções que nunca são concretizadas. Não temos páginas de discussões bonitas, não temos "listas de tarefas", não temos discussões intermináveis sobre "o que fazer primeiro", não temos "barras de progresso", mas em contrapartida há uma quantidade de trabalho avassaladora para mostrar e um dos temas melhor desenvolvidos em língua portuguesa. Eu actuo apenas na criação de artigos acessórios (os chamados "azulamentos") e na revisão de texto e conteúdo, em particular antes do destaque propriamente dito e quando me chamam para essa função, mas o que faz com que o grupo funcione de forma exemplar é que cada um tem diferentes valências nas diferentes etapas de edição, fazendo com que haja um controlo de qualidade muito grande do início ao fim do processo. Quanto do material presente nos artigos é tradução de artigos de outras línguas? E que tipo de material de referência usam para complementar as traduções?Pedrassani: Para mim, os artigos do Império Bizantino são uma "safra recente". Nos artigos do Império Romano e história da Itália, escrevi alguns com bibliografia variada (há uma lista em minha PU) e complementei com informações da Wiki italiana e inglesa. Nos do Império Bizantino, tenho atuado principalmente em revisão. Quando necessário, faço pesquisa na internet e na bibliografia que citei acima e, em geral, leio os artigos das Wiki EN e IT. Devo dizer que alguns dos nossos estão bem melhores do que aqueles. José Luiz: no meu caso, sim (perdi as contas de quantos artigos do Konstantinos eu traduzi, por ex.). Mas já tenho em casa quase todas as obras patrísticas e as principais obras de referência sobre o cristianismo primitivo. Sempre olho a dewiki e frwiki, mas fujo da eswiki e da itwiki, que quase nunca tem fontes nos artigos sobre estes temas. Stegop: A quase totalidade do material em que trabalhei resulta de tradução, esmagadoramente da EN. Temos a sorte que a equipa "bizantina" da EN é extraordinária em termos de qualidade. Tudo quanto é tema bizantino tende a ter muito boa cobertura na EN, e é comum até os temas menos relevantes terem bons artigos, tanto em termos de redação, como de referenciação e de abrangência. No entanto, tento sempre verificar as fontes, o que muitas vezes dá origem a que a tradução fique, senão melhor que o original, pelo menos com mais conteúdo e com alguns detalhes melhor explicados. E não é assim tão raro detetar pequenas incoerências nos textos originais que também requerem mais estudo que pode não se cingir às fontes do artigo original. Principalmente nos artigos em que me empenho mais ou naqueles cujo artigo que serve de base à tradução me parece mais pobre ou é sobre um assunto que conheço pior, tento também ler os artigos da FR, ES, CA, IT e até à DE, apesar de ser uma nulidade em alemão (e em catalão e italiano também, mas sempre vou percebendo um pouco mais). A consulta de outras wikis, principalmente quando são fracas em termos de fontes, tem que ser sempre feita com muito cuidado. É curioso que não é tão raro como isso ocorrerem duas situações opostas em que essa consulta é útil. Uma é quando o conteúdo é pobre mas lá descobrimos uma ou mais fontes que podem resolver o nosso problema, seja diretamente, quando é fiável e rica de informação, seja porque nessas fontes encontramos outras ou pistas (nomeadamente palavras-chaves para googlar) para procurar outras. No entanto, até mesmo um artigo de outra wiki mal referenciado ou um qualquer site menos fiável por vezes se revelam úteis para nos aproximarmos de uma visão mais clara da situação que andamos a investigar, pois ajuda-nos a descobrir mais factos, mesmo que não intimamente relacionados com o que procuramos, que nos ajudam a encontrar boas fontes; e por vezes até as informações que depois constatamos que estão erradas podem ajudar nesse processo. Renato: Usualmente eu incorporo informações da en., que tem um qualidade acima do padrão devido às edições do Konstantinos, e em alguns casos da it., fr., de. (que sou muito mais ou menos diga-se de passagem) e es. No geral, mais do que só traduzir, tento sempre fazer buscas complementares no google books ou no próprio Google ou então, dependendo do caso, consulto bibliografia caseira (que sobre o Império Bizantino tenho apenas do livro do Kazhdan, que por si só já quebra uma árvore toda). Polyethylen: Cada grande trabalho tem quase sempre início com uma tradução de um artigo de qualidade da wikipédia inglesa. Obviamente que fazemos sempre uma revisão de conteúdo e até reorganização do texto, o que acaba por oferecer ao leitor um resultado até superior ao original, mas a maior fatia do tempo investido está na criação ou expansão de um número infindável de pequenos a médios artigos complementares, muitas vezes tendo de os reescrever por completo para atingirem a qualidade que achamos aceitável. Pessoalmente, nunca utilizo sites de história para verificar as informações, porque por mais que pareçam fiáveis, quase nunca o são. Fontes que não citam fontes são de evitar. Para consultas de referência há a Enciclopédia Britannica. para temas detalhados há sempre livros de qualidade disponíveis através do google books, e tenho ainda acesso a várias bases de dados de artigos científicos caso seja preciso. Para os temas de arte consulto sobretudo o Early Christian & Byzantine Art de John Lowden. Qual foi o primeiro artigo do tema que elevaram a destaque? Quantos artigos são agora destacados?Pedrassani: Especificamente do Império Bizantino, não sei... Não foi algo planejado. Creio que um tema de interesse comum uniu editores capazes, dedicados e, não menos importante, dispostos a trabalhar em equipe e com respeito mútuo. José Luiz: até agora, temos 16 artigos destacados, 32 artigos bons e 2 anexos destacados. A lista completa está, por enquanto, aqui. Respondendo a sua primeira pergunta, o primeiro foi, provavelmente, Alanya, numa época que era dificílimo destacar artigos sobre o tema. Em seguida, o Stegop continuou na linha geográfica (Istambul, Guerras bizantino-árabes) enquanto eu vinha pela outra ponta (Gregório de Nazianzo, Teodoro Estudita e os dois anexos). O marco foi, a meu ver, Guerras bizantino-árabes, perto do Natal de 2011, quando passamos a colaborar mais num "foco único". Stegop: eu não incluiria Alanya, Turquia e Istambul. Ou seja, pelas minhas contas, há 13 artigos destacados. Criei uma versão do quadro do Zé ordenado por datas. Renato: difícil dizer, mas pelo que vi no quadro do Stegop foi Gregório de Nazianzo do Zé. Quais são os planos imediatos em relação aos artigos do tema? Quantos artigos destacados veremos sobre o tema no futuro próximo?Pedrassani: Penso que poderíamos listar em Wikipédia:Projetos/História e sociedade o que já foi destacado e o que demanda nosso trabalho. Mas é uma sugestão que faço agora. José Luiz: subscrevo o Pedrassani. Stegop: Dada a natureza ad-hoc do grupo, ao que sei não há planos. Mas dada a vastidão do tema, é provável que continuem a aparecer propostas de destaque e ainda mais de AB's. Se fôssemos um grupo organizado já deveríamos ter levado a destaque o "artigo principal" Império Bizantino. Também seria interessante levar um tópico a destaque, mas creio que os critérios atuais tornam isso impossível na prática para temas um pouco mais vastos e este é vastíssimo. Renato: subscrevo o que todos disseram e só posso complementar que está nos meus planos reservar uma porção das minhas férias para não necessariamente destacar o Império Bizantino, mas ao menos deixá-lo mais estruturado já que ele, mesmo após várias reformas, está aquém da qualidade dos artigos individuais. Além disso separei uma lista de artigos bons e destacados que há na en. para trabalhar em breve, mas isto não saberia dizer ao certo quando. Polyethylen: precisamente devido à inexistência de uma organização formal, não há planos de conjunto. Cada um tem um plano próprio, começa a trabalhar nele, e isso invariavelmente vai cativar e chamar a atenção dos restantes. Pessoalmente, gostava de trabalhar no artigo sobre a História do Império Bizantino e expandir o artigo de arte bizantina para um eventual destaque. Acham possível no panorama actual da Wikipédia portuguesa, que o "grupo bizantino" possa gerar grupos semelhantes em outros assuntos?Pedrassani: No panorama atual, penso que é possível, porém não é fácil. Eu gasto muito tempo a combater vandalismos, creio que os demais também. E quanto mais artigos são criados, mais há para vigiar. Vejo que anônimos vandalizam várias vezes e recebem avisos suaves que apenas os estimulam a continuar vandalizando. Eu vigio quase 3000 artigos e outros no grupo ainda mais. As contribuições aproveitáveis de anônimos são menos de 1%, portanto uma produtividade baixíssima. Especificamente neste grupo, meu desejo é que passe a destacar também os artigos relacionados na predefinição Roma Antiga. José Luiz: talvez com a criação de um projeto ativo, sim. Meu sonho é termos algo similar ao en:Wikipedia:WikiProject Military history por aqui. Pode parecer piada, mas só este projeto tem meta (92.5% completa!) de ter 750 artigos destacados e 5 000 (!!) artigos bons. No limite, pelo exemplo de como voluntários podem se organizar sem cobranças mútuas e com muito respeito e admiração pelo trabalho do colega. Agora, de fato, é muito tempo perdido em vandalismos. No caso específico de temas bizantinos, o que me lembro de edições úteis de IPs são correções ortográficas ou editores de outras wikis dando "tapas" deslogados (mudando imagem, arrumando interwikis etc.). Não compensa em nada o tempo que eles me tiram e que poderia estar sendo bem aproveitado. Stegop: Gerar diretamente não creio; pelo exemplo, talvez. Mas não é fácil que aconteça e sou muito cético em relação à eficácia de organizar um projeto formal. Numa das partes mais interessantes da interessantíssima obra do Eric S. Raymond, A Catedral e o Bazar, ele refere que única forma eficaz para que um projeto (ele fala de software, mas aplica-se perfeitamente a outros campos) cumprir prazos é não haver prazos. Generalizando, creio que aqui se passa o mesmo quando passamos de um modelo aparentemente anárquico, em que cada um vai fazendo o que lhe dá na real gana quando lhe vem à cabeça fazê-lo, sem ter quaisquer deveres ou compromissos (a que ele chama "bazar"), para o modelo a que ele chama "catedral". Logo que um trabalho se torna um "dever", seja qual for o tema, corre-se risco elevado de surgir o desinteresse, pois dever dificilmente se conjuga com prazer. Com tanto (imenso!) para fazer, os únicos ingredientes para o sucesso de um "grupo" é muito trabalho, empenho na qualidade e interesse genuíno e desprendido pelo tema, onde não haja lugar para coisas como bairrismo, fancruft, parcialidade, vaidade (do tipo, por exemplo, de concursos, ainda que não declarados de quem cria mais artigos), ou de certas agendas políticas ou profissionais, mesmo que motivadas por intenções a priori não tão condenáveis como isso, que conduzem a peso indevido de certos subtemas que podem deitar a perder a qualidade do resto dos artigos. Estou ciente que há temas onde estes fatores negativos são muito mais difíceis de evitar do que em algo tão intrinsecamente distante como o Império Bizantino, mas até aqui existem riscos semelhantes — por exemplo, se a lusofonia tivesse muito mais muçulmanos, não me admiraria de ver surgir conflitos a propósito de parcialidade de alguns artigos por alegadamente muitas vezes omitirem a visão muçulmana da história. Um dos problemas fulcrais, como em muitas outras áreas do projeto, é a falta de massa crítica de gente interessada, com disponibilidade e competência, para quem editar um artigo seja um pouco mais do que adicionar um par de frases ou fontes. Por outro lado, suspeito que haverá muitos temas em que se podem colocar problemas relacionados com conflitos. Estes tendem a ser relativamente fáceis de resolver e podem até ser benéficos pelas discussões esclarecedoras que geram quando só há gente interessada em trabalhar, mas podem ser complicados e desanimadores quando há alguém que está interessada sobretudo em impor a sua opinião sobre aquele trechozinho que quer ver no artigo, apesar da sua contribuição líquida ser irrelevante. Renato: Outra coisa difícil de dizer, mas é possível. Acho que neste caso a grande barreira para a implementação efetiva de grupos similares a este só seria possíveis desde que se fizesse um "pente fino" em quem está editando os artigos, seja quem forem. Vemos diariamente que muitos editores competentes, pelo pouco tempo que lhes sobra, se reservam a trabalhar em ajustes gerais enquanto que a criação e ampliação efetiva dos artigos fica a cargo, perdoem dizer mas é minha opinião, de amadores que mais estão preocupados em começar guerras de edição e defender com unhas e dentes seus textos, ao invés de melhorar efetivamente alguma coisa. Além disso temos o ponto que muitos assuntos já são por natureza muito vastos e, de maneira bem evidente, há muitos que preferem continuar criando artigos novos, às vezes inacreditavelmente sem fonte alguma, enquanto artigos mais antigos, que não são lá aquelas coisas, ficam ao relento esperando uma alma caridosa fazer alguma coisa para tirá-lo da agonia. Polyethylen: Penso que sim, desde que sejam reunidas certas condições. A primeira, como já referiram, é dar aos editores de qualidade do projeto mais tempo livre e um ambiente estável para que se possam preocupar com o conteúdo. Vandalismo continuará sempre a existir, mas é relativamente fácil e rápido de lidar com isso. O que é inadmissível é o proteccionismo e a tolerância que se dá a todo o tipo de trolls e fanáticos que desviam os recursos para discussões inúteis. Não se pode ter um ambiente de trabalho tranquilo e saudável quando todos os dias há ataques aos princípios mais elementares do projeto. A segunda condição é que haja capacidade de trabalhar em conjunto, e isso implica não só ter conhecimento sobre o assunto para evitar discussões desnecessárias, como também saber perceber quando não temos razão. É isto que vai ditar ou não o sucesso de um grupo. Se editores quiserem juntar a este grupo, o que podem fazer?Pedrassani: Toda contribuição é bem-vinda. Mas vejo pelas contribuições desse grupo que todos já estudaram o assunto fora e antes de contribuir. Penso que editores novos que queiram iniciar-se no assunto deveriam começar opinando nas páginas de discussão. Vigiar contribuições de anônimos e se necessário reverter também seria uma contribuição valiosa. José Luiz: é um tema super delicado e que, sem a organização já citada, torna a entrada de novatos no tema algo bem difícil, justamente por que - informalmente - temos entre nós um "padrão de qualidade" não declarado. Alongando um pouco, é comum que novatos não façam o que eu, por falta de nome melhor, chamo de "trabalho acessório": (i) tentar manter as ligações no máximo possível, mesmo que existam ligações vermelhas; (ii) azular o artigo criando os artigos de suporte; (iii) não criar mínimos que "disfarçam" a ausência de um artigo que preste; (iv) ao criar o artigo novo, pesquisar o que já existe e fazer as ligações e redirects adequados; (v) buscar imagens; (vi) categorizar direitinho; (vii) NUNCA usar tradução automática; (viii) verificar as fontes sempre que possível. Esse padrão, que a existência de um projeto pode ajudar a "declarar", é fundamental para que nos sintamos "tranquilos" com a contribuição do novato. Stegop: Pouco mais tenho a acrescentar ao que escreveram o Pedrassani e o Zé Luiz. A palavra-chave é *trabalho*. À exceção de casos — que também os há — de gente que tem dificuldades em escrever minimamente bem, ou que é muito trapalhão mesmo não sendo novato (traduções feitas em cima do joelho, criação em série de artigos mínimos por dá cá aquela palha, etc.), alguém que se empenhe neste ou noutro tema que não tenha "donos" rapidamente encontra o "seu espaço" e pode dar o seu contributo. Renato: Desde que outros editores estejam interessados em trabalhar no assunto de maneira íntegra e coerente com o padrão de quem já faz o serviço acho que tudo é possível. Como já disse várias vezes, à medida que o assunto se expande, dado que somos poucos, a manutenção torna-se enfadonha e talvez até quase impossível, ou pelo menos deficitária. É sempre bom contarmos com novos braços e novas cabeças para ajudar no progresso! Polyethylen: Nada, além de demonstrar trabalho e competência nesse trabalho e preocupar-se com a existência de artigos fiáveis e completos, e não "texto a metro" só para ter visibilidade. Se alguém faz um trabalho competente e de qualidade, não tarda a ser convocado para ajudar em outros artigos porque é assim que o grupo funciona. Notas
![]() 18 de junho + ComentarDê a sua opinião Para seguir os comentários, adicione a página à sua lista de vigiados. Caso o seu comentário não seja mostrado, tente recarregar o conteúdo.
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