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Escravo ou escravizado? (24mai2023)
Tenho visto recentemente uma série de alterações passando o termo "escravo" para "escravizado" (exemplo). Existe alguma norma específica para este caso? Ambos os termos são dicionarizados e têm uso corrente em língua portuguesa. Porém, existe determinada corrente, muito particular da academia brasileira, que defende o uso de "escravizado" como eufemismo. Não sei como proceder nesses casos, e estou revertendo sempre que vejo. Ertrinken 21h01min de 24 de maio de 2023 (UTC)
- O termo a meu ver tem aplicações distintas... Um é o substantivo do qual o outro é derivado após a verbalização. Por exemplo:
Luiz Gama foi escravizado pelo pai. Tornou-se escravo de uma família paulista... Luiz Gama disse: "o escravo que mata o seu senhor pratica um ato de legítima defesa".
A subversão linguística, como reportou, deve ser revertida. André Koehne (discussão) 20h27min de 28 de maio de 2023 (UTC)- PS: vamos cada vez mais ver esse tipo de coisa, tanto à esquerda (como nesse caso), como à direita (como em Luz del Fuego (canção) e no da própria homenageada, onde os termos "feminista" e "feminismo" foi removido, e a ação até mascarada com a inserção de "referência"...)
Acredito que num discurso ou texto autoral, no mundo "real", onde se procura agradar as plateias/seguidores, é plausível digam/escrevam "saúdo todas e todos" ou "todes", "todxs". Aqui "todos" serão todos mesmo, e não por machismo: a Wikipédia não pode se dobrar a achismos, modismos e outros ismos, he, he... André Koehne (discussão) 20h55min de 28 de maio de 2023 (UTC)- @André Koehne e Ertrinken: Em relação ao "todes", essa questão já está razoavelmente pacificada em WP:LEBIO.
Em relação ao escravo/escravizado, ambas as grafias são tecnicamente válidas, mas nós podemos usar os precedentes de americano/estadunidense: * Vale aquele que foi colocado inicialmente no artigo, per WP:ORT;* Se o editor expandiu substancialmente o artigo, ele terá a discricionariedade de alterar para a grafia de preferência;* Se o editor apenas editou o artigo para alterar a variante, a edição pode ser desfeita per WP:STATUSQUO.━ ALBERTOLEONCIO Who, me? 22h25min de 28 de maio de 2023 (UTC)
- @André Koehne e Ertrinken: Em relação ao "todes", essa questão já está razoavelmente pacificada em WP:LEBIO.
- PS: vamos cada vez mais ver esse tipo de coisa, tanto à esquerda (como nesse caso), como à direita (como em Luz del Fuego (canção) e no da própria homenageada, onde os termos "feminista" e "feminismo" foi removido, e a ação até mascarada com a inserção de "referência"...)
Pergunta Alguém dos senhores é negro? Eu não sou, mas, como brancos, lhes devemos ao menos respeito. Dizer que "os navios traziam escravos" é dizer que "escravo" é sua condição de existência, como se tivessem nascido assim, ao contrário de escravizado, que carrega o sufixo -ado, dotado de significado de alteração, de mudança de condição. A escravidão é uma chaga desumana, não podemos relativizá-la. YANGUASdiz!-fiz 21h50min de 29 de maio de 2023 (UTC)
- @Yanguas: Honestamente? Eu estava tentando pensar de forma razoável e seguir a linha dos precedentes mas, desde ontem, quanto mais eu penso mais eu me arrependo de ter escrito o comentário acima. Gosto de "tentar" formar consensos e não tomar muito partido sobre questões políticas, mas não vai ser o caso dessa vez.
- Não há como achar que é minimamente correto rotular uma biografia, um ser humano, como um escravo, reduzindo totalmente sua existência à um rótulo por causa da condição que lhe foi imposta dos modos mais horríveis já praticados pelo homem. Não há como coadunar com isso.
- Perdão pelo vacilo. ━ ALBERTOLEONCIO Who, me? 22h39min de 29 de maio de 2023 (UTC)
- @Yanguas, devemos respeito a qualquer pessoa... independentemente de tudo... mas sobre o dizer "os navios traziam escravos", eram de factos escravos... esses humanos que iam enjaulados e/ou acorrentados nos navios eram, de facto, escravos, foram comprados como escravos ou capturados e feitos escravos e, a partir do momento que meteram os pés no navio, eram de facto escravos... eram propriedade de algo ou alguém... a condição da existência deles, naquele momento em específico na história, era a condição de um escravo... então sim, os navios traziam escravos, que outrora eram gente livre, tendo sido vendidos a (ou capturados por) quem navegava o tal navio... Spartacus também foi escravo, mas ficou conhecido como um gladiador que liderou uma revolta... Toussaint Louverture foi escravo, mas ficou conhecido como general e revolucionário... não vejo onde possa estar a falta de respeito... Luís Almeida "Tuga1143 00h25min de 30 de maio de 2023 (UTC)
Comentário Eu pensei em não participar em primeiro momento da discussão, até por ter entrado acidentalmente em uma GE com a proponente da discussão justamente pelo uso do termo. Atualmente, com todo respeito aos colegas que opinaram, mas o escravismo no novo mundo é bem diferente do escravismo do mundo antigo, um dos melhores trabalhos sobre este assunto é do historiador Robin Blackburn, A Construção do Escravismo no Novo Mundo. 1492-1800 que aponta as diferenças do modelo e é razão do porque não é correto tentar avaliar a condição dos escravizados neste período histórico com a escravidão nos "moldes antigos". Fazendo uma sumúla bem rápida: Na escravidão do mundo antigo, você é vendido porque você é escravo. Escravidão do Novo Mundo: Você é escravizado para ser vendido. A lógica aqui é que em tese, a primeira situação, a escravidão era resultado de guerras e confrontos, as vidas não eram caçadas para serem escravizados, eram resultados de conflitos, pessoas eram escravizadas no lugar de serem mortas, e podiam ou não ser vendidas. No contexto da escravidão no Novo Mundo, em especial na África, seja em Angola, Congo e outros lugares onde pessoas foram alvos de colonos escravizadores, elas eram pegas para se vender. O escravo portanto entra na lógica do capítalismo, como uma mercadoria, movimentando um comércio pelo Atlântico. O termo "escravo" portanto tem uma lógica desumanizadora para os individuos. Essa é a razão do porque o termo "escravizado" é preferido pela historiografia brasileira atualmente, pois tira das vitímas o termo desumanizante e aplica a ela uma condição de temporalidade (ou seja, que elas ainda são humanas, mas estão subjugadas a escravidão).
Falando agora não mais como historiador, e sim wikipedista, não tenho nada contra per si o termo "escravo" pelo uso comum estabelecido visto que várias fontes válidas ainda fazem uso deles em diversos artigos, mas advogo que a historiografia brasileira esta dando preferência por "escravizado" justamente por causa da busca de resgatar a história dos escravizados e no respeito mínimo a dignidade humana, remover deles uma alcunha desumanizadora. E isso se reflete nas fontes que serão potencialmente usadas para referenciar artigos sobre a história da escravidão no Brasil, fazendo que seja importante que o projeto se atentar a possibilidade de dar preferência a uma versão conforme as fontes acrescentadas. Aos meus olhos, os dois termos são válidos quando amparados por fontes. Se a maioria das fontes usa um termo, se dará preferência ao termo das fontes em questão. Se for feita uma alteração em qualquer artigo entre um dos dois termos, deverá ser revertida caso não tenha WP:V. Se no artigo tiver fontes que advogam por ambos os termos, pode se colocar um entre parenteses ou colocar nota de rodapé a respeito do uso atual do termo. Enfim, é um debate ainda em aberto dentro da historiografia, mas sem consenso.--DarkWerewolf auuu... quê? 02h18min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @DarkWerewolf, concordo. No final do dia, o que importa aqui é o que diz a fonte, e é isso que deve inserido no artigo, independentemente do que achamos. É a fonte que acaba por determinar o que escrevemos no artigo... Luís Almeida "Tuga1143 09h27min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @Tuga1143: exato. Todavia, o que aponto é que a tendencia ao falar das vitímas do tráfico negreiro será esta, e as fontes mais recentes e fiáveis sobre o assunto vão dar preferência ao termo "escravizado" na historiografia brasileira, e se não me engano na angolana também. Pode ser que em outras fontes lusofónas, o termo "escravo" ainda resida, mas temos que considerar o papel de nossa enciclopédia de informar com o devido respeito que a ciência em questão está disposta a dar aos indíviduos, não por questão que isso "ofende" pessoas (até porque, não somos censurados) mas para evitar anacronismos e simplificações falhas. Podemos estar temporalmente longe dos escravos do mundo antigo, mas o tráfico negreiro é uma realidade histórico bem mais recente, com várias pessoas descedentes dos escravizados inseridos em sociedades sofrendo diretamente os efeitos deixados pelo escravismo. Portanto, creio não ser uma questão "ideológica", apenas respeito a dignidade humana que dignifica o debate. Esta fonte aqui, por exemplo, ajuda a entender o problema dos termos, e como ambos são passíveis de uso, mas que precisam ser observados dentro de seu contexto de forma correta, sem reduzir nem gerar peso indevido. DarkWerewolf auuu... quê? 17h48min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @DarkWerewolf compreendo o que quer dizer, mas não concordo consigo nesse ponto. Dignidade humana à parte, na minha sincera opinião, acho que simplesmente devemos inserir o que está na fonte, seja "escravizado" ou "escravo". Quem quiser se sentir ofendido que se sinta, mas isso não muda o que a fonte X diz... O termos ou os termos podem ser explicados à vontade, no texto ou através de uma nota, caso a pessoa que escreve o artigo ache pertinente, mas na minha opinião o que está na fonte é o que está na fonte, seja "escravizado" ou "escravo"... Luís Almeida "Tuga1143 19h13min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @Tuga1143: Citação: mas não concordo consigo nesse ponto não entendi porque não concorda, porque eu nenhum momento eu tentei passar por cima do argumento "o que a fonte diz". O que falei foi mostrar a tendencia e o porque por trás dela e Citação: se sentir ofendido que se sinta vai direto contra o que coloquei em Citação: (até porque, não somos censurados). O ponto aqui é anacronismos e simplificações falhas. E isso deve ser medido pela competência editorial de quem vai editar os verbetes. Se a pessoa não inserir fontes, seja usando o termo "escravo" ou "escravizado", ela tem que ser revertida. O problema é quando tem artigos que já usam um termo ou outro mas sem ter cobertura de qualquer fonte! Eu entrei em uma GE acidentalmente justamente ao tentar colocar uma referência para o termo e atualmente, per WP:STATUSQUO, este artigo está piorado pois o parágrafo que busquei referenciar está sem fonte, mesmo com a fonte advogando de forma clara pelo termo. E infelizmente, eu não vou mexer pra resolver por respeitar a proteção que foi colocada, per WP:ENVOLVIDO. DarkWerewolf auuu... quê? 19h24min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @DarkWerewolf Eu não concordei com uma frase sua, mas sigo a sua linha de pensamento e concordo consigo: se é o que está na fonte e ainda por cima a frase/parágrafo não tem fonte, então qualquer um pode ir a adicionar a fonte e alterar o texto de modo a que seja reflexo da própria fonte. E sim, no assunto da GE eu concordo totalmente... não percebi nem um pouco o motivo de o terem revertido. Isso é uma das coisas que gostaria de ver aqui explicada... não sabia que agora uma pessoa vai inserir uma fonte, altera o termo X para um termo semelhante seguindo o que a fonte providencia, e acaba revertido numa GE... e é como você diz, a info continua sem fontes, sem verificabilidade... mas quando você apresentou uma, é revertido... Enfim, vamos ver se alguém diz alguma coisa. Luís Almeida "Tuga1143 22h14min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @Tuga1143: Citação: mas não concordo consigo nesse ponto não entendi porque não concorda, porque eu nenhum momento eu tentei passar por cima do argumento "o que a fonte diz". O que falei foi mostrar a tendencia e o porque por trás dela e Citação: se sentir ofendido que se sinta vai direto contra o que coloquei em Citação: (até porque, não somos censurados). O ponto aqui é anacronismos e simplificações falhas. E isso deve ser medido pela competência editorial de quem vai editar os verbetes. Se a pessoa não inserir fontes, seja usando o termo "escravo" ou "escravizado", ela tem que ser revertida. O problema é quando tem artigos que já usam um termo ou outro mas sem ter cobertura de qualquer fonte! Eu entrei em uma GE acidentalmente justamente ao tentar colocar uma referência para o termo e atualmente, per WP:STATUSQUO, este artigo está piorado pois o parágrafo que busquei referenciar está sem fonte, mesmo com a fonte advogando de forma clara pelo termo. E infelizmente, eu não vou mexer pra resolver por respeitar a proteção que foi colocada, per WP:ENVOLVIDO. DarkWerewolf auuu... quê? 19h24min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @DarkWerewolf compreendo o que quer dizer, mas não concordo consigo nesse ponto. Dignidade humana à parte, na minha sincera opinião, acho que simplesmente devemos inserir o que está na fonte, seja "escravizado" ou "escravo". Quem quiser se sentir ofendido que se sinta, mas isso não muda o que a fonte X diz... O termos ou os termos podem ser explicados à vontade, no texto ou através de uma nota, caso a pessoa que escreve o artigo ache pertinente, mas na minha opinião o que está na fonte é o que está na fonte, seja "escravizado" ou "escravo"... Luís Almeida "Tuga1143 19h13min de 30 de maio de 2023 (UTC)
- @Tuga1143: exato. Todavia, o que aponto é que a tendencia ao falar das vitímas do tráfico negreiro será esta, e as fontes mais recentes e fiáveis sobre o assunto vão dar preferência ao termo "escravizado" na historiografia brasileira, e se não me engano na angolana também. Pode ser que em outras fontes lusofónas, o termo "escravo" ainda resida, mas temos que considerar o papel de nossa enciclopédia de informar com o devido respeito que a ciência em questão está disposta a dar aos indíviduos, não por questão que isso "ofende" pessoas (até porque, não somos censurados) mas para evitar anacronismos e simplificações falhas. Podemos estar temporalmente longe dos escravos do mundo antigo, mas o tráfico negreiro é uma realidade histórico bem mais recente, com várias pessoas descedentes dos escravizados inseridos em sociedades sofrendo diretamente os efeitos deixados pelo escravismo. Portanto, creio não ser uma questão "ideológica", apenas respeito a dignidade humana que dignifica o debate. Esta fonte aqui, por exemplo, ajuda a entender o problema dos termos, e como ambos são passíveis de uso, mas que precisam ser observados dentro de seu contexto de forma correta, sem reduzir nem gerar peso indevido. DarkWerewolf auuu... quê? 17h48min de 30 de maio de 2023 (UTC)