1.º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino
O 1º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino (HS-1) é uma unidade da Marinha do Brasil que opera aeronaves SH-16 Seahawk, sediadas na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia e subordinadas ao Comando da Força Aeronaval. Seus helicópteros operam dos navios da Marinha de porte maior e podem detectar e atacar tanto submarinos quanto alvos de superfície usando seu radar, sonar, mísseis antinavio e torpedos. O esquadrão também tem funções secundárias de emprego geral, como o transporte de carga e tropas.
1.º Esquadrão de Helicópteros Antissubmarino | |
---|---|
País | Brasil |
Corporação | Marinha do Brasil |
Subordinação | Comando da Força Aeronaval[1] |
Denominação | “Guerreiro”[2] |
Sigla | HS-1 |
Criação | 28 de maio de 1965 |
Logística | |
Aeronaves | 6 SH-16 Seahawk[2] |
Sede | |
Guarnição | São Pedro da Aldeia, Rio de Janeiro |
O HS-1 foi criado em 1965 com seis helicópteros Sikorsky S-58 transferidos pela Força Aérea Brasileira. Ele passou a operar a bordo do porta-aviões Minas Gerais, cuja missão principal era a guerra antissubmarino. A partir de 1972, os S-58 foram substituídas pelo Sikorsky SH-3 Sea King; 16 desses helicópteros, de vários modelos, serviriam nas décadas seguintes. O esquadrão testou um míssil antinavio contra um alvo de superfície pela primeira vez em 1992. Os Sea King foram substituídos pelos atuais Seahawk em 2012.
Helicópteros
editarSikorsky S-58 (1965)
editarO esquadrão foi ativado em 1965 com seis helicópteros S-58 (SH-34J) transferidos da Força Aérea Brasileira (FAB), onde até então pertenciam ao 2.º Esquadrão do 1.º Grupo de Aviação Embarcada (2.º/1.º GAE). Este esquadrão era igualmente voltado à guerra antissubmarino,[3] assim como o próprio porta-aviões Minas Gerais (A-11).[4] A FAB organizou o 1.º GAE justamente para operar no Minas Gerais, mas os helicópteros foram recebidos em 1962, em plena disputa com a Marinha ao redor do problema da aviação embarcada, e só voaram de bases em terra.[3] A Marinha já planejava seus próprios esquadrões de helicópteros antissubmarino.[5]
A disputa corporativa foi encerrada por um decreto do presidente Castelo Branco em 1965. O monopólio da FAB sobre a aviação de asas fixas foi reafirmado, mas ela teve que reconhecer os helicópteros da Marinha, desativar o 2.º/1.º GAE e ceder os S-58.[6] Seus operadores na Marinha também herdaram da FAB os estoques de peças, a burocracia de controle e o conhecimento técnico recebido nas instruções nos Estados Unidos.[7][3] Dentro da Aviação Naval, eles seriam organizados no 1.º Grupo de Helicópteros Anti-Submarino,[8] mas somente o primeiro (HS-1), sediado na Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia, chegou a ser ativado na estrutura do Comando da Força Aeronaval.[5]
As seis aeronaves receberam as matrículas de N-3001 a N-3006[3] e o apelido de “baleias”.[7] Para os padrões da Aviação Naval naquele momento, eram helicópteros pesados e de manutenção complexa. Dotados de sonar, piloto automático e a capacidade de lançar torpedos acústicos, eram um avanço tecnológico,[9][7] embora já estivessem defasados ao final da década.[3]
O contínuo apoio da FAB não sanou totalmente as dificuldades materiais e de pessoal, de forma que oficiais e praças foram enviados para um período de treinamento na Marinha dos Estados Unidos em 1967. O esquadrão evoluiu, realizando o primeiro exercício com a esquadra, a bordo do Minas Gerais, em 1965, o primeiro lançamento de torpedo em 1967 e a primeira missão noturna embarcada em 1969. Entretanto, a capacidade de operação noturna do SH-34J era limitada.[3] A bordo do Minas Gerais, um helicóptero do HS-1 servia de guarda durante os pousos noturnos.[10] Dois helicópteros, o N-3003 e N-3005, foram perdidos em acidentes ao longo da carreira do SH-34J na Marinha.[3]
Sea King (1970)
editarPara substituir os “baleias”, a Marinha comprou seis unidades do SH-3D, da Sikorsky, recebidas entre 1970 e 1972 e designadas com as matrículas N-3007 a N-3012.[11] Os SH-34J permaneceram em serviço, em tarefas secundárias, até 1975.[12]
Os novos helicópteros mantinham a relativa qualidade das capacidades antissubmarino da Aviação Naval, ainda que limitadas em quantidade.[13] Dentro da Marinha, o HS-1 foi o pioneiro no voo por instrumentos, em 1975, e no reabastecimento em voo, em 1978.[1] Nas páginas da Revista Marítima Brasileira, o Sea King era considerado o “caçador-destruidor mais moderno já construído nos EUA”, e sua utilização na Guerra das Malvinas, em 1982, foi acompanhada de perto.[14]
Além das atividades antissubmarino, os Sea King serviam de helicópteros pesados, transportando, por exemplo, os fuzileiros navais. Isto desviava o HS-1 de suas funções principais, o que foi solucionado pela compra dos Super Puma para o 2.º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-2) em 1985.[15]
Quatro aeronaves do lote original (N-3007, N-3010, N-3011 e N-3012) estavam em operação em 1984, quando a Marinha recebeu outras quatro, de modelo AS-61D, da Agusta, com matrículas de N-3013 a N-3016. Os antigos foram enviados à Itália em 1986 para se adequarem ao novo padrão, capaz de lançar mísseis Exocet,[11] e portanto, de participar da guerra antissuperfície.[16] Esta capacidade foi testada pela primeira vez em 1992, contra o casco do contratorpedeiro Mato Grosso (CT-10). Três helicópteros haviam sido perdidos em acidentes até este ponto, o N-3009, N-3008 e N-3014.[11] Em meados dos anos 1990, quatro a seis Sea King operavam a bordo do Minas Gerais.[17]
A tendência na Aviação Naval era apenas a atualização dos modelos ou substituição por derivações.[18] Mais seis helicópteros de modelo SH-3H, originários da Marinha dos Estados Unidos, foram recebidos em 1996 e matriculados como o N-3017, N-3018, N-3019, N-3029, N-3030 e N-3031. Outros dois foram comprados somente como fornecedores de peças.[11] Ao todo, 16 Sea King serviram na Marinha do Brasil.[12]
Seahawk (2012)
editarDesde 2004 a Marinha buscou um sucessor ao Sea King, avaliando o Sikorsky S-70B Seahawk, AgustaWestland AW101, Eurocopter AS532SC, Kaman SH-2G Seasprite e Mil Mi-171. A lista foi reduzida aos dois primeiros, e o Seahawk foi escolhido devido ao custo excessivo do AW101.[19] O programa de reaparelhamento da Marinha previu a compra de até 25 unidades do Seahawk.[20] Apenas seis foram adquiridos de fato e recebidos a partir de 2012. No mesmo ano, os Sea King foram desativados,[21] encerrando 42 anos de serviço. A transição ao novo modelo foi complexa, e alguns oficiais e praças foram selecionados para fazer o curso oferecido pela Sikorsky.[22] O Seahawk foi designado SH-16 e recebeu as matrículas de N-3032 a N-3037.[23]
O Seahawk é um helicóptero multiemprego, e sua missão principal no HS-1 é definida como a “detecção, localização, acompanhamento e ataque” tanto de submarinos quanto de alvos de superfície.[21] Seu radar tem alcance de até 370 km, podendo detectar embarcações de grande porte no limite da zona econômica exclusiva. Seu sonar submerso é usado com o helicóptero pairando a 24 metros da água, escutando alvos a até 500 metros de profundidade e 27 quilômetros de distância. Os submarinos oponentes podem ser atacados com torpedos Mk 46, e os navios, com o míssil AGM-119B Penguin, capaz de afundar corvetas ou mesmo fragatas. O porte do helicóptero é grande,[24] e ele só pode embarcar no Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico, o Navio-Doca Multipropósito Bahia ou um dos Navios de Desembarque de Carros de Combate.[25]
O esquadrão também recebe missões de emprego geral, como o transporte de material e de tropas, evacuação aeromédica, busca e salvamento e espotagem de tiro.[21] O Seahawk não é tão capaz para essas missões quanto seu equivalente terrestre, o Black Hawk, diferenciando-se, por exemplo, por só ter porta de correr no lado direito. Ainda assim, ele pode guinchar cargas, lançar paraquedistas e realizar técnicas de rapel, fast rope e helocasting. Em São Pedro da Aldeia, o HS-1 reveza mensalmente com o HU-2 para manter um helicóptero pronto para decolar numa missão de transporte imprevista ou evacuação aeromédica.[24]
Referências
- ↑ a b «Esquadrão HS-1 completa 57 anos». Defesa Aérea & Naval. 28 de maio de 2022. Consultado em 12 de janeiro de 2023
- ↑ a b «Força Aeronaval, organização atual» (PDF). Revista Asas (Edição especial (105): Força Aeronaval da Marinha do Brasil). 2020. p. 40.
- ↑ a b c d e f g «Sikorsky S-58/HSS-1N / SH-34J Seabat». Poder Naval. Consultado em 8 de agosto de 2023
- ↑ Santos Jr, Luiz Antonio dos (2021). A aquisição do navio-aeródromo Minas Gerais: consequência de uma disputa corporativa (PDF) (Mestrado em Estudos Estratégicos). Universidade Federal Fluminense. p. 19.
- ↑ a b FGV Projetos (2016). 100 anos da Aviação Naval (PDF). Rio de Janeiro: FGV Projetos e ComForAerNav. p. 104.
- ↑ Cunha, Rudnei Dias da (7 de janeiro de 2021). «Grumman P-16 Tracker». História da Força Aérea Brasileira. Consultado em 11 de março de 2023
- ↑ Falconi, Paulo Gustavo (2009). Aviação naval brasileira: rivalidades e debates (PDF) (Doutorado em História). Universidade Estadual Paulista
- ↑ a b c d «S-61/Agusta-Sikorsky AS-61 Sea King». Poder Naval. Consultado em 8 de agosto de 2023
- ↑ Coelho, Emílio Reis. «A Aviação Naval nas páginas da Revista Marítima Brasileira (1970-1990) e as lições aprendidas com a Guerra das Falklands/Malvinas (1982)». Universidade Federal Fluminense. Revista Brasileira de Estudos Estratégicos. 14 (27)
- ↑ «Aerospatiale AS 332F1 Super Puma / Eurocopter AS 532 MK1 Cougar». Poder Naval. Consultado em 8 de agosto de 2023
- ↑ Ramos, Marcelo Maffei Martins (2015). «O Cinquentenário do Esquadrão HS-1». Revista da Aviação Naval. 46 (76). p. 40.
- ↑ Corless, Josh (1 de junho de 1999). «The Brazilian Navy blazes a trail in the South Atlantic». Jane's Information Group. Jane's Navy International. 104 (6)
- ↑ «Brazilian navy signs agreement for new Sikorsky Seahawks». Flight Global. 25 de junho de 2008. Consultado em 8 de agosto de 2023
- ↑ Lopes, Roberto (2014). As garras do cisne: o ambicioso plano da Marinha brasileira de se transformar na nona frota mais poderosa do mundo. Rio de Janeiro: Record. Livro II, capítulo 14.
- ↑ Ramos, O Cinquentenário do Esquadrão HS-1, p. 42.
- ↑ «SH-16 Seahawk da Marinha do Brasil lança míssil contra a ex-Corveta Jaceguai». Revista Força Aérea. 3 de julho de 2021. Consultado em 8 de agosto de 2023
- ↑ a b Leite, Humberto (2020). «Olhos, ouvidos e garras da esquadra» (PDF). Revista Asas (Edição especial (105): Força Aeronaval da Marinha do Brasil). Consultado em 22 de janeiro de 2023. p. 42-50.
- ↑ «Os navios da Marinha do Brasil e a Força Aeronaval» (PDF). Revista Asas (Edição especial (105): Força Aeronaval da Marinha do Brasil). 2020. p. 53.