Bipartidarismo
O bipartidarismo é uma situação política em que apenas dois partidos dividem o poder, ou constitucionalmente ou de facto, sucedendo-se em vitórias eleitorais em que um deles conquista o governo do país e o outro ocupa o segundo lugar nas preferências de voto, passando a ser a oposição oficial e institucionalizada.
Esta situação depende de estes dois partidos atraírem quase exclusivamente a atenção da mídia e da opinião pública, passando os demais partidos despercebidos pela maior parte da população.
Existem graus sobre o bipartidarismo, sendo alguns sistemas políticos mais bipartidaristas que outros. Em geral, em certa medida, a maioria dos sistemas favorecem este fenômeno, embora alguns sejam organizados, desde a raiz, de forma a provocar a polarização do eleitorado.
História
editarO bipartidarismo tradicional nasce após Revolução Francesa. Com maior ou menor êxito, foram sendo implantados intermitentemente na Europa parlamentos bipartidaristas nos quais se apresentaram sempre dois blocos opostos: conservadores e liberais. Os primeiros tentavam sempre conservar os privilégios da nobreza e da aristocracia, enquanto os segundos pretendiam equiparar os direitos da burguesia. Houve vários momentos assim, por exemplo, na Inglaterra, na Espanha e no Brasil.
Em todos esses sistemas, o povo — ainda analfabeto em larga medida — permaneceu incapaz de influenciar no poder político. Com o advento do marxismo, o bipartidarismo foi rompido na maioria das democracias europeias, já que uma terceira força social, a massa operária ou proletariado, passou a exigir representação. O sufrágio feminino, na virada do século XIX para o XX, também contribuiu para desagregar ainda mais o mapa político europeu. A tendência em quase todos os países era a de modernizar seus sistemas para levar em conta a nova realidade social e, sobretudo, para evitar que houvesse mais revoluções proletárias.
Contudo o espectro político, mesmo numa pluripartidarismo, tende a encaminhar-se para uma partidocracia.
Sistemas bipartidários
editarBrasil
editarHistoricamente, o Brasil teve um sistema bipartidário durante a maior parte de sua ditadura militar (1964-1985), entre 1966 e 1979, quando havia apenas a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Oficialmente, o Ato Institucional Número Dois (AI-2), decretado em 1965, permitia a fundação de outros partidos políticos, mas criava pré-requisitos (como a exigência de 20 senadores e 120 deputados federais para se fundar um novo partido), o que na prática impedia a existência de mais do que duas agremiações.
Assim, em 1966 os partidos extintos no ano anterior (UDN, PSD, PTB, PSB, PSP, entre outros) foram obrigados a se reorganizar em dois grupos: um alinhado com o regime militar (a ARENA) e outro na oposição consentida (o MDB). Como os políticos mais à esquerda e nacionalistas haviam sido cassados com os decretos do AI-1 e AI-2, logo após o golpe, sobraram apenas os considerados mais "dóceis" aos olhos do regime. Os políticos conservadores (a maioria da UDN, mas também alguns do PSD) formaram a ARENA, enquanto os de centro-esquerda e liberal-democratas se juntaram ao MDB.
As eleições sob o bipartidarismo foram rigorosamente controladas, para dificultar a vitória da oposição e garantir a maioria absoluta da ARENA no Senado e na Câmara dos Deputados. Em 1966, a ARENA elegeu 19 dos 22 governadores elegíveis (além de quatro nomeados diretamente pelo presidente da República). O controle se ampliou com a entrada em vigor do Pacote de Abril, em 1977, quando o regime, com receio de sofrer uma derrota eleitoral e perder a maioria no Congresso Nacional, criou a figura do "senador biônico" (nomeado pelo governo, sem a realização de eleições).
Uma anedota comum na época do bipartidarismo era dizer que no Brasil havia "o partido do sim" (o MDB) e o "partido do sim, senhor" (a ARENA). A piada sugeria que não havia oposição de fato, apenas uma posição de consentimento e outra de submissão.
O bipartidarismo foi extinto pela Lei nº 6 767 de 20 de dezembro de 1979.[1] Em 1985, os partidos autodenominados socialistas e comunistas foram novamente legalizados.
Em 1966, foi instituído o sistema de sublegenda, que permitia aos partidos terem mais de um candidato em eleições majoritárias.[2] Inspirado na Ley de Lemas, de países como o Uruguai, os votos dos menos votados eram transferidos depois ao mais votado do mesmo partido, o que permitia a eleição do menos escolhido no geral. O instituto foi uma forma de mitigar o artificialismo e heterogeneidade entre as correntes partidárias no pós-bipartidarismo, presente principalmente na ARENA. Foi revogado em 1986.
Reino Unido
editarClaramente bipartidarista no início, com conservadores (tories) e liberais (whigs) alternando-se no poder, no final do século XIX surgiram os trabalhistas como terceira força política. Pouco a pouco, ganharam relevância até o ponto de, nas últimas décadas, terem se alternado no poder com os conservadores. Por outro lado, atualmente o sistema britânico, ainda que bastante alterado desde então, mantém suas instituições essencialmente quase intactas. A Câmara dos Lordes e a Câmara dos Comuns, por exemplo, continuam sendo iguais na organização e estética que séculos antes. Na realidade, as mudanças nunca haviam sido nos fundamentos do sistema, apenas retoques para adaptar-se aos tempos. No século XIX o bipartidarismo inglês formava respectivamente o partido liberal e conservador. No século XX o bipartidarismo foi mantido seguindo a tradição política, existido apenas dois partidos políticos de peso no parlamento inglês: o partido trabalhista e o partido conservador.[3]
Estados Unidos
editarSe o sistema partidário britânico é um bipartidarismo clássico monárquico já que respeita e se submete formalmente à instituição da coroa, o sistema norte-americano é um típico exemplo de bipartidarismo presidencialista com essência republicana. Este sistema permanece ainda mais intacto em relação a como foi criado pelos fundadores dos EUA (founding fathers). De fato, a evolução do sistema foi a de acentuar este bipartidarismo já que cada vez são necessárias maiores somas de dinheiro para poder fazer política. Na atualidade só existem dois grandes partidos, conhecidos como Partido Democrata e Partido Republicano que obtenham um respaldo superior a 5% (necessário para obter a subvenção eleitoral do tesouro público). A situação se fez patente nas eleições do ano 2000, quando o candidato Ralph Nader prejudicou Al Gore contra seu adversário George W. Bush.[4][5][6] O povo reivindica um terceiro partido, mais entre democratas do que republicanos e critica a corrupção da cobertura das primárias dos 2 partidos.[7][8][9][10]
Ver também
editarReferências
- ↑ «Lei nº 6.767 de 20 de dezembro de 1979». Câmara dos Deputados do Brasil. Consultado em 15 de outubro de 2021
- ↑ Ato Complementar nº 26, de 29 de Novembro de 1966. Dispõe sôbre o registro de candidatos em sublegendas.
- ↑ SERRA, José et al. Parlamentarismo ou Presidencialismo? República ou Monarquia? São Paulo: Contexto 1993.
- ↑ Democracy and the Policy Preferences of Wealthy Americans
- ↑ College-Educated Republicans Most Skeptical of Global Warming
- ↑ McMurtry, J. (2002), Value Wars: The Global Market versus the Life Economy, 262pp. London: Pluto Press
- ↑ Exclusive: Half of Americans think presidential nominating system 'rigged' - poll
- ↑ Trust in Federal Gov't on Domestic Matters Edges to New Low
- ↑ Americans Renew Call for Third Party
- ↑ Democratic, Republican Identification Near Historical Lows
Ligações externas
editar- Ato Complementar 4(lei que estabeleceu o Bipartidarismo no Brasil, 1965)