Castelo de Cola
O Castelo de Cola, também conhecido como Castro da Cola ou Cidade de Marrachique, localiza-se no Alentejo, na freguesia, cidade e município de Ourique, distrito de Beja, em Portugal.[1]
Castelo de Cola | |
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Castro da Cola, Portugal. | |
Informações gerais | |
Construção | Idade do Bronze |
Aberto ao público | |
Estado de conservação | Bom |
Património de Portugal | |
Classificação | Monumento Nacional [♦] |
DGPC | 70166 |
SIPA | 6438 |
Geografia | |
País | Portugal |
Localização | Ourique |
Coordenadas | 37° 34′ 44″ N, 8° 18′ 02″ O |
Localização em mapa dinâmico | |
[♦] ^ DL sem nome de 16-06-1910 |
Castelo de Cola | |
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Localização do castelo |
Localizado em posição dominante sobre um pequeno outeiro, existem poucas informações históricas sobre este importante sítio arqueológico. Os vestígios encontrados no local revelam uma longa ocupação humana, desde a pré-história até à Idade Moderna, passando pelos domínios romano e islâmico.
Junto ao Castro da Cola situa-se um santuário cristão, dedicado a Nossa Senhora da Cola.
Este sítio arqueológico encontra-se classificado como Monumento Nacional por Decreto publicado em 23 de Junho de 1910.[2] [3]
Descrição
editarLocalização e composição
editarAs ruínas e o Santuário do Castro da Cola situam-se numa colina rodeada em três lados por linhas de água, a Poente e a Norte por dois barrancos, e a Sul pelo Rio Mira.[4] Este local foi escolhido devido à facilidade de defesa, especialmente nas margens dos barrancos, que eram bastante altas.[4] O santuário inclui uma fonte igualmente dedicada à Senhora da Cola.[4]
José Leite de Vasconcelos descreveu as ruínas do Castro da Cola como uma série de aterros ou fortins, denominados de castelinhos pelos habitantes da região, existindo alguns aterros de grandes dimensões no topo da colina.[4] Encontrou igualmente um vão abobadado, cujas paredes estavam rebocadas e pintadas, tendo algumas partes do reboco sido transportadas para o Museu Etnológico.[4] Leite de Vasconcelos relatou ainda a presença de vestígios de um edifício a poente do Santuário, que era popularmente identificado como a capela antiga, e de outros fortins a alguma distância do santuário, conhecidos como os Castelinhos d'além da Terra do Azinhal.[4] Segundo uma análise das construções e o espólio encontrado no local, a fortaleza terá sido alvo de várias campanhas de construção ao longo da sua história.[5]
Espólio
editarNo sítio arqueológico foi descoberto um vasto conjunto de vestígios, correspondente a um diversificado leque de cronologias desde o Neolítico até à Idade Média, comprovando a sua longa ocupação humana.[6] Entre os materiais mais antigos encontram-se duas mós de forma côncava, e uma pedra de forma arredondada, que seria um percutor, e que tinha um sulco no seu diâmetro, provavelmente devido ao uso de uma tira de couro ou uma corda, que o prendiam a um cabo, tendo Leite de Vasconcelos calculado que estas peças seriam dos finais do período neolítico ou dos princípios do calcolítico.[4] Quanto à Idade do Ferro, destaca-se a presença de uma curta espada de antenas, várias urnas em cerâmica, e contas de colar de vidro, de tipologias fenícia ou púnica, e de ouro.[6] O conjunto da época romana inclui dois fragmentos de fustes de colunas em calcário, pedras aparelhadas, tijolos grossos, ímbrices e um gargalo ornamentado, encontrados por Leite de Vasconcelos em 1897,[6] além de pelo menos dois fragmentos de lucernas.[6] Finalmente, os materiais relativos à Idade Média concentram principalmente fragmentos de cerâmica, de cronologia islâmica,[5] sendo também deste período um conjunto de peças ligadas à tecelagem, como agulhas de fusos de fiação e cossoiros de chumbo.[6]
História
editarConstrução e período romano
editarSegundo o historiador José Leite de Vasconcelos, as ruínas da Cola pertenciam a um castro anterior ao período romano, talvez dos finais do Neolítico ou dos princípios do Calcolítico.[4] Segundo os vestígios encontrados no local, o sítio terá sido ocupado não só durante o calcolítico, mas também ao longo das idades do bronze e do ferro.[5] Esta longa fase de ocupação pode ser explicada principalmente devido à sua localização privilegiada, uma vez que se situava num ponto de fácil defesa, no alto de uma colina rodeada quase totalmente por linhas de água, e que ao mesmo tempo permitia a vigilância de uma das principais vias de comunicação na região, uma vez que estava sobranceiro ao Rio Mira.[5] Por outro lado, estava situado numa zona rica em minério de cobre e de terrenos férteis, e tinha comunicações fáceis devido à presença do rio.[5]
O castro foi depois utilizado durante o domínio romano, embora o reduzido conjunto de espólio relativo a este período não permita concluir se terá sido alvo de um processo de romanização.[6] Posteriormente, a povoação terá sido cristianizada.[4]
O período medieval
editarO antigo castro foi ocupado durante o período muçulmano, podendo ter sido um hisn ou pequeno castelo, fazendo parte de um conjunto de fortificações islâmicas, que protegia as fronteiras marítimas e terrestres.[5] Com efeito, durante esta época seria o centro de um sistema defensivo, que incluía uma fortificação principal e várias de importância secundária, além de uma zona residencial e áreas de necrópole.[6] Além do seu papel militar, também seria um importante polo comunitário, com uma economia baseada na pastorícia e agricultura, que eram os principais recursos na região.[6] Poderá igualmente ter sido um centro de tecelagem, devido ao vasto conjunto de espólio relativo a esta indústria que foi encontrado no local, e cujas peças produziam motivos decorativos de inspiração islâmica.[6]
O Castelo de Cola foi ocupado até ao século XV, tendo sido avançada a teoria que seria a capital do antigo concelho de Marachique, que faria parte da região dominada por Silves.[5] Com efeito, existem dois sítios nas proximidades com nomes semelhantes, Marchicão e Marchica, que podem permitir uma identificação do Castelo de Cola como Mardjiq, povoação que teria sido conquistada pelas forças de Almondir e ibne Uacir, antes de terem conquistado a cidade de Beja.[5]
Junto às ruínas foi construído o Santuário do Castro da Cola, dedicado a Nossa Senhora da Cola, ao qual se organizam regularmente romarias.[7] Segundo uma lenda popular, foi no local do santuário que surgiu uma imagem da Nossa Senhora da Cola.[4] Os habitantes construíram uma ermida noutro sítio, onde guardaram a imagem, embora ela voltasse sozinha para o local onde foi encontrada, e quando se fazia uma romaria para fazer regressar a imagem à nova ermida, estava aumentava tanto o seu peso durante o caminho que forçava os carregadores a voltarem para trás.[4] Segundo José Leite de Vasconcelos, esta lenda é semelhante a outras que tinha registado, algumas delas já muito antigas.[4] Uma outra lenda associada ao local é que durante o período mouro ouvia-se tocar um sino durante a manhã, no Dia de São João, dando à colina o nome popular de Fonte do Moinho do Sino ou Pego do Sino.[4] Uma terceira crença popular ligada à colina do Castro da Cola é de que as mulheres que escorregassem numa laje natural perto de um dos barrancos, denominada de pedra escorregadia teriam mais sucesso durante um parto.[4] Devido a esta lenda, era habitual ver-se os habitantes locais a escorregarem pela laje em dias de festa, tendo José Leite de Vasconcelos referido que já se tinha formado um grande sulco na pedra.[4] Segundo o investigador, lendas semelhantes a esta foram encontradas noutros pontos do território nacional e em França.[4]
Redescoberta
editarAs ruínas do Castro da Cola já são conhecidas pelos historiadores há cerca de meio milénio, tendo sido referidas por André de Resende, Manuel do Cenáculo, Gabriel Pereira e Estácio da Veiga.[4] Em 1897, o sítio foi investigado por José Leite de Vasconcelos, durante uma excursão à região do Baixo Alentejo.[4]
No seu livro Antiguidades Monumentaes do Algarve: Tempos Prehistoricos, publicada em 1891, Estácio da Veiga incluiu um texto de Gabriel de Pereira, da obra Notas de Archeologia de 1879, onde referiu que o sítio da Colla tinha sido visitado em 1573 por André de Resende e pelo rei D. Sebastião, e cerca de dois séculos depois por Frei Manuel do Cenáculo.[8] Este religioso elaborou um mapa que foi depois reproduzido por Estácio da Veiga, e descreveu o Castelo de Cola na sua obra Cuidados litterarios do prelado de Beja em graça do seu bispado, de 1791: «Uma legua de Castro para o Sul, em montanha difficil, no sitio de S. Pedro das Cabeças ha signaes de fortaleza... e d'outras, uma dos Reis, outra das Juntas; [...] A da Senhora da Colla tem mais de 800 passos em circuito, em uma iminencia impraticavel por todos os lados, ficando n'um delles a juncção de duas ribeiras (Odemira, Mariscão). Nos cabeços dos outeiros que a cercam por dois lados ha vestigios de fortins que eram uma especie de reductos, e atalaias, que avisavam, e dificultavam o passo, dispostos de quarto em quarto de legoa e menos. A idéia que hoje se póde formar d'aquelles restos, então mão propria os não sonda, e nós podermos avançar as excavações, é de juizo incerto a muitos respeitos: podem ser de romanos, mouros e porventura dos lusitanos velhos que viviam «more spartiano», como diz Strabão. As muralhas têem 12 palmos de largura, sem a liga vitruviana; em parte são formadas de lages sobrepostas seccamente. A fortaleza da Colla tem como no centro uma cisterna antiga: a cerca consiste em simples cortina da qual sae de espaço a espaço uma obra angular de mui pequena extensão, e talvez seriam seus bastiões. Ha mais dois espaços e intervallos divididos por dois antemuraes, sem obra alguma reintrante capaz de fazer enganos, mas tal qual lhes serviria em vez de revelim ou meia lua. Os pequenos corpos angulares póde ser que servissem para flanquearem as torres de arremesso. Não apparecem vestigios de ter havido torres, e eram escusadas, porque estando as fortalezas a cavaleiro, ganhavam quaesquer elevações de terra... na margem de uma das ribeiras estão por longo espaço as sepulturas; na encosta da montanha achámos seis sepulturas, e algumas de 25 palmos em quadro.»[5][8] Manuel do Cenáculo afirma que viu um capitel e várias lápides sepulcrais com caracteres fenícios ou turdetanos, e estoques longos em aço ou bronze já bastante calcinado, sem gume, com punhos pouco engrossados e com virotes chatos e engrossados.[8]
O arqueólogo Abel Viana foi o pioneiro no seu estudo sistematizado, com base nas lendas locais que referiam um tesouro da "moura encantada". As pesquisas arqueológicas que iniciou em 1958 foram suspensas pelo seu falecimento em 1964.[carece de fontes]
Em 30 de Janeiro de 2019, foi publicado o decreto-lei 22/2019, que transferiu as responsabilidades pela gestão e conservação de vários monumentos do governo para as autarquias locais, incluindo o Castro da Cola, que foi passado para o município de Ourique.[9] Em Abril de 2019, foi lançada a obra VII Cadernos Culturais d’Ourique, que inclui o artigo Marachique/Castro da Cola, no final do Período Islâmico: Reflexões sobre a sua Muṣallā, de António Rafael Carvalho.[10]
Ver também
editarBibliografia
editar- GOMES, Rosa Varela (2002). Silves (Xelb), uma cidade do Gharb Al-Andalus: território e cultura (PDF). Col: Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia. ISBN 972-8662-05-X. Consultado em 5 de Setembro de 2019 – via Direcção Geral do Património Cultural
Leitura recomendada
editar- VIANA, Abel (1958). «Castro de Nossa Senhora da Cola (Ourique)». Arquivo de Beja (15). Beja. p. 25-35
- VIANA, Abel (1959). «Notas históricas, arqueológicas e etnográficas do Baixo-Alentejo, 1- Castro de Nossa Senhora da Cola (Ourique)». Arquivo de Beja (16). Beja. p. 3-24
Referências
- ↑ Ficha na base de dados SIPA
- ↑ PORTUGAL. Decreto sem nome, de 16 de Junho de 1910. Ministério das Obras Publicas, Commercio e Industria - Direcção Geral das Obras Publicas e Minas, Publicado no Diário do Governo n.º 136, de 23 de Junho de 1910.
- ↑ Ficha na base de dados da DGPC
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n o p q r VASCONCELOS, José Leite de (1933). «Excursão pelo Baixo-Alentejo» (PDF). O Archeologo Português. Volume XXIX. Lisboa: Imprensa Nacional e Museu Etnológico do Dr. Leite de Vasconcellos. p. 243. Consultado em 5 de Setembro de 2019
- ↑ a b c d e f g h i GOMES, 2002:135-136
- ↑ a b c d e f g h i «Ourique: Município assume gestão do Castro da Cola.». Lidador Notícias. 24 de Março de 2022. Consultado em 4 de Setembro de 2023
- ↑ «Ourique celebra Senhora da Cola». Correio Alentejo. 7 de Setembro de 2018. Consultado em 17 de Agosto de 2019
- ↑ a b c VEIGA, Estácio da (1891). «Tempos Prehistoricos». Antiguidades Monumentaes do Algarve. p. 196-198. Consultado em 7 de Setembro de 2019 – via Internet Archive
- ↑ PORTUGAL. Decreto-Lei n.º 22/2019, de 30 de Janeiro de 2019. Presidência do Conselho de Ministros, Publicado no Diário do Governo n.º 21, Série I, de 30 de Janeiro de 2019.
- ↑ «VII Cadernos Culturais d'Ourique lançados a 27 de Abril». Sul Informação. 18 de Abril de 2019. Consultado em 17 de Agosto de 2019
Ligações externas
editar- Castelo de Cola na base de dados Ulysses da Direção-Geral do Património Cultural
- Castelo de Cola na base de dados SIPA da Direção-Geral do Património Cultural
- Castro da Cola na base de dados Portal do Arqueólogo da Direção-Geral do Património Cultural
- Percurso Pedestre "Circuito Arqueológico do Castro da Cola"
- «Página sobre o Castro da Cola, no sítio electrónico Wikimapia»
- «Página sobre o Castro da Cola, no sítio electrónico The Megalithic Portal» (em inglês)