Arte marajoara

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A arte marajoara é uma cerâmica fruto do trabalho dos povos indígenas do período de ocupação "marajoara" na ilha brasileira de Marajó situada na foz do rio Amazonas (estado do Pará),[1][2] durante o período pré-colonial brasileiro de 400 a 1400 d.C.,[2][3] sendo assim chamada de cerâmica marajoara,[2] pois existem sucessivas fases de ocupações na região, cada uma com uma cerâmica característica. Segundo Samuel Lopes, gerente da Escola de Artes e Ofícios de Pará de Minas, esta arte representa a origem da cerâmica no Brasil.[3]

Urna funerária decorada em relevo, c. 400-1000 d.C., coleção Henry Law.

A fase marajoara é a quarta fase de ocupação da ilha; sucessivamente as fases de ocupação são: Ananatuba (a mais antiga), Mangueiras, Formigas, Marajoara e, a Aruã. Destas cinco fases, a Fase Marajoara, período de uma elaborada civilização amazônida pré-cabralina,[4][5][6] é a que apresenta a cerâmica mais elaborada, sendo reconhecida por sua sofisticação.[7]

Em 1871, a cerâmica marajoara foi descoberta quando dois pesquisadores visitavam a Ilha de Marajó, o geólogo canadense-americano Charles Frederick Hartt (1840-1878) e naturalista Domingos Soares Ferreira Penna (fundador do Museu Paraense Emílio Goeldi em 1866).[3] Hartt impressionou-se tanto com o que viu que publicou um artigo em uma revista científica, revelando ao mundo a então desconhecida cultura marajoara.[8]

Os estudos no Marajó sobre tal cerâmica e o povo que a confeccionou ganharam impulso a partir do fim da década de 1940, quando chegou à ilha o casal de pesquisadores americanos Betty Meggers e Clifford Evans.[3] Embora muitos estudos sobre a cerâmica já houvessem sido publicados até então, as pesquisas no local só ganharam força a partir desta data. Alguns arqueólogos encontraram objetos de cerâmica em bom estado de conservação, realizados com destreza, tendo em conta as formas esguias e curvilíneas perfeitamente moldadas, e delicadamente decorados e pintados.

Tais objetos da fase marajoara, através de pesquisas, descobriu-se que os indígenas marajoaras levantavam suas casas sobre morros artificiais, estrutura elevada chamada Teso,[9] construídos para proteger-sem de inundações. Escavando esses morros, os arqueólogos encontraram vasos, vasilhas, urnas, tigelas e outras peças de cerâmica, feitas com argila cozida na região marginal. Os objetos que mais chamaram a atenção foram encontrados em sepultamentos. Que podem ser encontradas nos acervos de museus da região e até internacionais.[2]

Acervos

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Peças podem ser encontradas nos acrevos de museus da região e inclusive internacionais, como: Museu do Marajó,,Museu Emílio Goeldi, Museu Histórico Nacional (RJ), Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral, Museu Americano de História Natural (Nova York).[2]

Porém, entre os mais significativos espólios de cerâmica da região, o Museu do Marajó, criado em 1972, reúne peças de uso cotidiano e de costumes, relacionando-se com o aspecto cívico-religioso da civilização. O museu foi criado com o intuito de promover e dar a conhecer ao público a cultura e a arte de uma civilização já remota.

Saber tradicional

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O saber tradicional é um produto histórico resultado do modo de vida de uma comunidade tradicional e o relacionamento com a biodiversidade que está inserida (intelecto coletivo ou intelecto cultural).[10] Este saber se reconstrói na transmissão entre as gerações e, que geralmente é feita por via oral, possui uma vísivel e imediata aplicação prática na sociedade.[10]

A cerâmica

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Urna funerária marajoara, c. 1000-1250 d.C., Museu Americano de História Natural.

Os índígenas do Marajó confeccionavam objetos utilitários, mas também decorativos. Entre os vários objetos encontrados pelos pesquisadores encontram-se vasilhas, potes, urnas funerárias, brinquedos, estatuetas, vasos, pratos e tangas. A igaçaba, por exemplo, era uma espécie de pote de barro ou uma talha grande para a água, que servia para conservar alimentos e outros. Hoje existem várias cópias das igaçabas de Marajó.

Todos apresentam uma grande diversidade de formas e padrões de decoração, sendo um dos mais conhecidos o das urnas globulares que apresentam decoração pintada e modelada representando figuras antropomorfas (primatas). Outros tipos de urnas combinam pintura, o uso de incisões e excisões e modelados que representam figuram antropomórficas e zoomórficas. Outros vasos foram decorados com pintura de motivos geométricos, podendo ser citados neste caso formas mais simplificadas como por exemplo as tigelas, e outros apresentando formas mais complexas como vasos de base dupla, urnas funerárias, estatuetas, pratos, tangas e tigelas em pedestais.[11]

A cerâmica marajoara é geralmente caracterizada pelo uso de pintura vermelha ou preta sobre fundo branco.[12] Aplicando técnicas que combinavam cores, que eram extraídas de elementos da natureza, como: urucum; caulim; jenipapo; carvão, e; fuligem.[2]

Uma das técnicas mais utilizadas para ornamentação desta cerâmica é a do champlevé ou campo elevado, onde são conseguidos desenhos em relevo por meio de decalque de desenhos sobre uma superfície alisada e escavando em seguida a área sem marcação.[8]

Entre os motivos de decoração mais comuns encontrados nesta cerâmica estão animais da fauna amazônica, como serpentes e macacos, a figura humana e figuras antropozoomórficas. Tendo em vista o aumento a sua resistência do produto final eram agregados antiplásticos ou tempero na argila, dentre os quais cinzas de cascalho e de ossos e concha. Antiplástico ou tempero são termos que se utiliza para designar os elementos, como por exemplo, cacos, conchas moídas, cascas de árvores queimadas e piladas, espículas de esponjas, areia, etc. que são acrescentados na argila para torná-la mais resistente evitando que se quebre durante o processo de fabricação de um artefato.[13]

 
Urna funerária produzida na ilha do Marajó entre os séculos 5 e 15 d.C. Atualmente está no MASP.

Depois de modelada, a peça era pintada, caso o autor o pretendesse, com vários pigmentos, existindo uma abundância de vermelho em todo o conjunto encontrado, e somente depois cozidas numa fogueira a céu aberto. Após a queima da cerâmica, esta era envernizada, propiciando à peça um aspecto lustroso. São conhecidas cerca de quinze técnicas de acabamento das peças, revelando um dos mais complexos e sofisticados estilos cerâmicos da América Latina pré-colonial.

Os artefatos mais elaborados eram destinados ao uso funerário ou ritual. Os artefatos encontrados que demonstram uso cotidiano apresentam decoração menos rebuscada.

No período de transcisão entre os séculos XIX e XX, a cerâmica marajoara foi utilizada em diferentes e específicos propósitos, de objeto científico à inspiração para a arte brasileira, passando pela arte decorativa.[14] Assim intelectuais e artistas elaboraram uma gama de (re)significações do legado cerâmico dos antigos índígenas do Marajó.[14]

É dificultado o resgate de peças de cerâmica marajoara pelas inundações periódicas e até pelos numerosos roubos e saques do material, frequentemente contrabandeado para território exterior ao brasileiro.

Comercialização

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Atualmente, peças baseadas na arte marajoara são usados como objetos decorativos e vendidos em feiras de artesanato e comércios locais.[2]

Referências

  1. «2. Arte em Cerâmica Marajoara». Prefeitura da Estância Turística de Olímpia-SP. Consultado em 26 de abril de 2023 
  2. a b c d e f g «Cerâmica Marajoara: Arte que resiste ao tempo!». Portal Amazônia. Consultado em 26 de abril de 2023 
  3. a b c d «Artistas expõem releitura da cerâmica marajoara na Escola de Artes – Prefeitura de Pará de Minas». Consultado em 26 de abril de 2023 
  4. Roosevelt, Anna Curtenius. (1991). Moundbuilders of the Amazon : geophysical archaeology on Marajo Island, Brazil. [S.l.]: Academic Press. OCLC 318175173 
  5. «IstoÉ Amazônia» 
  6. «Teso dos Bichos e a complexa civilização que habitou a Ilha de Marajó». Mega Curioso. No Zebra Network (NZN). 19 de janeiro de 2022. Consultado em 21 de janeiro de 2022 
  7. Betty Meggers e Clifford Evans. "Uma interpretação das culturas de Marajó". Belém, Pará: Intituto de Antropologia e Etnologia do Pará, 1954.
  8. a b Aurélio M. G. de Abreu. "Civilizações que o mundo esqueceu". São Paulo: Hemus, 1990. ISBN 8528902455.
  9. «Teso dos Bichos e a complexa civilização que habitou a Ilha de Marajó». Mega Curioso. No Zebra Network (NZN). 19 de janeiro de 2022. Consultado em 21 de janeiro de 2022 
  10. a b Costa, Nivia Maria Vieira Costa; Melo, Lana Gabriela Guimarães; Costa, Norma Cristina Vieira (10 de fevereiro de 2018). «A Etnofísica da Carpintaria Naval em Bragança - Pará - Brasil». Amazônica - Revista de Antropologia (1): 414–436. ISSN 2176-0675. doi:10.18542/amazonica.v9i1.5497. Consultado em 26 de julho de 2023. Resumo divulgativo 
  11. Eduardo Góes Neves. "Brasil Tupi- Beleza, Rigor e Dignidade: A cultura material Tupi no tempo e no espaço". São Paulo: Caixa Econômica Federal, 2004.
  12. Nelson Aguilar. "Mostra do Redescobrimento: Arqueologia". São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2000.
  13. Eduardo Góes Neves. "Os índios antes de Cabral: Arqueologia e História Indígena no Brasil". In Aracy Lopes da Silva. A temática indígena na escola. São Paulo: Mari, 1995:171-193.
  14. a b SILVA NETO, João Augusto da. Na seara das cousas indígenas: cerâmica marajoara, arte nacional e representação pictórica do índio no trânsito Belém - Rio de Janeiro (1871-1929). Col: Pós-Graduação em História Social da Amazônia. [S.l.]: Universidade Federal do Pará (UFPA) 

Veja também

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Ligações externas

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